Espiando O Futuro

Capítulo Oito


Ela estava bêbada e achava que estava vendo coisas ao abrir à porta do seu quarto e dar de cara com um moleque ruivo, jogado na cama, apagado e babando em seu travesseiro. No momento ele deveria ser apenas um fantasma ou uma miragem ou uma alucinação de alcoólatras.

Ela jogou a bolsa no canto da cama, cambaleando ao fazer o seu caminho até a suíte, tirando a roupa suada e cheirando a cachaça, largando-a no meio do quarto e ficando nua antes de alcançar a porta do banheiro.

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Ao parar lá, desfazendo o nó em seu rabo de cavalo e deixando seu cabelo ficar solto sobre seus ombros, ela virou-se para encarar o ser deitado roncando em sua cama:

-É bom que... – ela bocejou e soluçou ao mesmo tempo – Que tu não esteja aí quando eu sair do banho! – em resposta, ela ouviu o ronco de um porco.

Dando de ombros entrou no banheiro trancando a porta e preparando-se para dormir na banheira, ficar enrugada da água quente e tirar aquela ressaca antes de seu casamento tão almejado.

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E nada como um bom e longo banho, e uma soneca básica, para acabar com o porre, mesmo que de uma super-heroína. Afinal de contas, mesmo que quisesse, não poderia ficar com enxaqueca no dia seguinte, se arrumando desde a hora do almoço para a cerimônia de casamento as oito horas da noite, e a festa as nove e meia.

Seus cabelos loiros cumpridos estavam escorrendo pelas suas costas nuas enquanto ela soltava a tampa do ralo e ainda via algumas coisas rodando, mas já estava muito melhor e até havia esquecido de sua alucinação quando entrou no banho. Enrolou o cabelo na toalha e depois pegou a outra no armário da pia, enxugando-se e visualizando-se no espelho.

A maquiagem toda borrada, manchas grossas de rímel pareciam olheiras e a sombra espelhada alcançava a linha das sobrancelhas. Ela parecia um urso Panda, mesmo, e a risada foi incontrolável – fazia tempo que ela não se divertia tanto com suas amigas dessa forma (talvez desde a festa de despedida de Dinah...) e valeu a pena, mesmo sua mente estando bem longe o tempo inteiro, em Star City onde seu noivo dava a despedida de solteiro da década...

Ela pegou o algodão e o creme, limpando toda a maquiagem antes de ir dormir, seus olhos tons de avelã amendoados estavam um pouco vermelhos, mas de cansaço e um bocejo seguiu sua expressão exausta, alertando-a de tudo. Então ela tirou a toalha molhada do cabelo e deixou que ele secasse naturalmente, penteando-o e prendendo-o no topo de sua cabeça com o primeiro acessório que ela achou a sua frente na pia. Escovou os dentes e desligou as luzes, entrando no quarto escuro.

Suspirou fundo, relaxando as vistas e tentando se acostumar com a visão noturna, preparando-se para pisar nas roupas e sapatos jogadas desordenadamente no chão, estrategicamente para serem pisados. Deu risada pensando nisso, mas não contava com um ronco profundo e repentino, assustando-a e fazendo-a entrar em posição de luta em instantes. A toalha começou a escorregar por seu corpo e o ronco continuou cada vez mais forte e mais alto – se o adversário estava em sono profundo ela teria tempo de, pelo menos, colocar um short e uma blusa.

Então correu e fez tudo silenciosamente, achando o primeiro pijama que viu pela frente, e correndo para pegar a faca largada na gaveta do criado-mudo. Preparou-se para atacar ou, pelo menos, assustar o infeliz sabe lá Deus quem era...

ARTEMIS, SUA IDIOTA! ISSO NÃO ERA UMA ALUCINAÇÃO! Lembrou-se espalmando a testa rapidamente e voltando para a pose aterrorizante. Melhor dar uma investida e acertar o travesseiro...

Calculou e após estar em frente à cama, atacou, mirando no travesseiro bem perto do nariz do cara, rapaz... Moleque?! Mas o fio da faca nunca se encostou ao travesseiro de penas de ganso...

A mão dela foi parada no meio do caminho por uma mão forte e quente, segurando seu pulso. Ártemis arregalou os olhos e preparou-se para socá-lo com a mão livre, mas antes de poder atacá-lo novamente o jovem abriu os olhos arregalados e agarrou a outra mão em movimento, rapidamente, alertando-a novamente.

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A loira não sabia o que fazer e não ia fica parada esperando que ele continuasse qualquer coisa em mente – depois de ser criada na Liga das Sombras, ingressar na Justiça Jovem e virar heroína regularizada da Liga da Justiça, é normal que fique meio paranóica com pessoas estranhas em sua cama, catando cada um de seus ataques, ainda mais ela cheia de inimigos pelo mundo e o Monte Justiça não sendo lá o lugar mais seguro para ela estar.

O jovem parece começar a empurrá-la, mas a arqueira foi mais rápida e se jogou sobre o rapaz, travando suas pernas e recuperando o controle das mãos, travando as dele com a mão livre e parando a faca a um milímetro de distancia de sua garganta branca.

-Argh...! – ele rangeu os dentes e Ártemis estreitou os olhos para melhorar a visão, tentando ver a cara do individuo.

E quando ela viu, não acreditou em seus próprios olhos. Olhos esmeralda encarando-a, assustados e lindos, chamavam atenção no quarto apagado; sardas vermelhas espelhadas por suas bochechas e seu nariz, arrebitado e redondo; e finalmente os cabelos vermelhos como chamas, arrepiados e bagunçados. Mas tinha algo de errado com aquela cara... Ela era jovem demais...

-... - ela engoliu em seco enquanto o menino ainda se recuperava do susto e tentava se mexer embaixo da heroína, que ainda não conseguia enxergar na escuridão do quarto – Wally...?

-x-

-Wally?! – ela suspirou mais alto e o rapaz arregalou os olhos.

-Sai... De cima... De mim! – ele respondeu entre arquejos temendo respirar fundo demais para deter sua garganta de alcançar o fio mortal da faca da arqueira.

Num reflexo, Ártemis atirou a faca para fora da cama, e se debruçou até o abajur na cômoda, esmagando ainda mais o rapaz, e quando a luz alcançou a cara do ruivo, Ártemis viu o passado se repetir a sua frente...

-x-

-O WALLY É UM BOM COMPANHEIRO! O WALLY É UM BOM COMPANHEIRO... – Dick dizia abraçado ao melhor amigo, cambaleando e carregando-o junto com Kaldur que era o que estava em melhor estado da turma – NINGUÉM PODE NEGAR!

Wally assentiu com a cabeça, já não entendendo mais nada e nem sentindo o gosto do que tomava mais, apenas virando o resto da cachaça. As dançarinas brincavam com os super-heróis e algumas tentavam chegar perto de Clark Kent, mas ele negava e as afastava, por mais bêbado que ele estivesse. O Caçador Marciano ao lado dele estava com dificuldades para manter a cor negra dele... Ou será que ele estava verde por causa do enjôo?

É. Essa era a situação dos homens e Roy Harper era a sensação da mulherada, divertindo-se com cada uma que rebolava em seu colo, atrás de si e beijava seu pescoço.

-HEY! – Dick berrou para as mulheres, chamando a atenção delas e as três que se divertiam com o arqueiro olharam-no curiosas – VOCÊS TÃO NO CARA ERRADO! – e o ex-Garoto Prodígio apontou para o melhor amigo arrastado pelos ombros – ESSE AQUI É O NOIVO!

Elas realizaram e cada uma deu um beijo no pescoço de Roy, despedindo-se do mulherengo e indo para cima do jovem bêbado. Após ficar sozinho, Roy juntou-se a Superboy, que estava apagado no chão, babando uma poça de saliva, com a camisa rasgada, quase nu, e com marcas de beijos e chupões por todo o corpo.

-Acho que alguém vai levar uma bronca de uma Marciana... – Kaldur pensou vendo o ruivo de 27 anos caindo perto do clone – E uma ninja vai, certamente, acabar com ele.

-Babs vai atropelar meu... ... – Dick pensou bem e riu maliciosamente, apesar de pressentir a dor. Resolveu não usar palavras indecentes com o respeitoso Kaldur (mas o Atlantis tinha entendido a piadinha) - e Ártemis vai matar o Wally. – Dick adicionou apontando um dado acusativo para Kaldur. As bochechas do moreno um pouco vermelhas enquanto as do jovem de olhos azuis permitia o calor espalhar-se pela face inteira, concentrando-se nas maçãs do rosto. Wally nem se fala, suas sardas ajudavam muito – Não pensa que tu vai escapar também não, Kaldur, amigão! – Dick foi lá e abraçou o moreno, dando um cascudo em seu coro cabeludo loiro claro após deixar Wally aos cuidados das dançarinas – No final, Rachel vai sugar sua alma! – lembrou-se de Ravena e Kaldur engoliu em seco.

-Oras! Foi apenas uma despedida de solteiro... – ele respondeu inocentemente – Duvido que ela não tenha feito nada na da Ártemis.

Enquanto os amigos conversavam, certo velocista era atacado pelas senhoritas, largado numa cadeira enquanto elas se revezavam, passando a mão nele e em partes de seu corpo que tinham uma etiqueta com o nome da noiva escrita em negrito (obviamente, figurativamente falando) e isso o limitava, que, por sua vez, limitava as senhoritas abusadas.

-Nananananão, mocinhas! – Wally dizia deixando a mão delas de lado, tentando tomar conta de si mesmo – Eu shou um homem complometido!

-Comprometimento não é algo muito legal... – uma delas sussurrou em seu ouvido, mordendo sua orelha e fazendo-o se arrepiar por inteiro.

-Não é nada divertido... – a outra arranhava suas costas e ele se arrepiava por inteiro.

-E é tão... Monótono... – a outra avisou esfregando-se de costas para Wally, indo para cima e para baixo.

Wally respirou fundo, sentindo algo ficando animado demais e vendo a imagem de seu assassinato no dia seguinte nas manchetes de jornais:

Noiva mata noivo por despedida de solteiro levada a sério.

E começou a pensar apenas nela, recitando seu nome como um mantra e, logo mais, vendo-a na parede de suas pálpebras, quase caindo de sono. Seus cabelos loiros longos dançando até sua cintura fina, as pernas longas e definidas caminhando até si, o balançar sensual de seus quadris enquanto ela fazia seu caminho até ele; seus olhos matadores, amendoados e chamativos. Seus cílios gigantes e aquele olhar sedutor emanando dos orbes de avelã. A sobrancelha esquerda levemente arqueada e um sorriso maldoso nos lábios carnudos rosados que amava...

Talvez a pressão fora demais para o super-herói, pois assim que abriu os olhos para ver se aquilo tudo já havia terminado, deparou-se com um decote absurdo a sua frente de uma das dançarinas, sentindo o sangue inteiro subir-lhe a cabeça e...

-AH! – elas gritaram quando a cabeça do rapaz foi para trás da intensidade da hemorragia nasal explodindo do rapaz, apagando-o em seguida.

Dick e Kaldur olharam o alvoroço junto com mais alguns membros da Liga, mas os outros apenas riram e voltaram a fazer o que eles sempre faziam em despedidas de solteiro: bebendo e dançando com as mulheres com pouca roupa. Os ex-membros da Justiça Jovem negaram com a cabeça, não achando mais graça nenhuma e resolveram por dar a festa encerrada.

Não seria bom o noivo estar com enxaqueca ou seqüelas de hemorragia nasal no dia seguinte – além de eles terem de carregar Conner e Roy para a mansão Queen, bem longe do centro de Star City.

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-Agora seria uma boa hora para pedir ajuda pro Lanterna Verde... – Dick comentou e Kaldur apontou para Hal Jordan do outro lado do salão, bebendo junto de Questão e agarrando uma das dançarinas, derrubando todo o conteúdo do copo de chope sobre si e sobre ela – Pensando melhor, acho que quem precisa de ajuda é ele...

-Que, infelizmente, não virá de nós... – Kaldur completou, guiando-o até Wally e ajudando a recompor o ruivo desmaiado e pedindo mil desculpas para a dançarina manchada de sangue do velocista.

-x-

Ela foi aos poucos liberando os braços do menino e relaxando suas pernas sobre as dele, posicionando seus joelhos nas laterais de seu corpo. Ele massageou as mãos enquanto fechava os olhos com força, à luz machucando as íris esmeraldas. Espanto descrevia a face da arqueira e preocupação começou a tomar seu coração.

Aquele era Wally West, o velocista, o irritante garoto que ela brigava todo santo dia num passado não tão distante assim. Que vestia o manto de Kid Flash e andava por aí cantando qualquer rabo de saia que se manifestava no ambiente, e, só para irritá-la, chamava-a de substituta e de Deusa da Simpatia, quando ironizava.

Ela engoliu em seco, pousando uma mão carinhosa sobre sua bochecha e permitindo que sua cabeça viajasse por milhares de hipóteses do porque ele estar assim, novinho, na véspera do casamento.

Lágrimas tomaram seus olhos e ela abaixou a face, escondendo-a antes que o adolescente a olhasse.

Maldito menino bruxo!