Remember December

Vigésimo Terceiro Capítulo.


Nunca pensei que passaria por uma situação como aquela em toda a minha vida. O medo extremo preenchia cada célula do meu corpo e claro, eu não podia deixar de pensar que tudo era culpa minha. Se eu não tivesse sido tão estúpida e vindo atrás de James, aquele pesadelo não estaria acontecendo.

Mas agora era tarde demais, e um Edward mais do que furioso apontava uma arma para James, que ao mesmo tempo que James apontava o revólver de Riley na sua direção. Quis gritar para que ele saísse dali, que não se arriscasse por mim. Afinal, a culpa era minha por ter uma arma apontada para o peito da pessoa que eu mais amava. Que Edward fosse embora com Amanda. Quem deveria sofrer as consequências era, exclusivamente, eu.

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— Ora essa, agora a festa está completa! — James sorriu de forma irônica e abriu o braço que não estava segurando a arma, como se estivesse gostando de tudo aquilo.

— Largue a arma, King. Não me faça atirar.

— Edward, não. — sussurrei, alarmada. Aquilo pareceu chamar a atenção de James para mim novamente. Como se tivesse acabado de descobrir algo muito importante, James sorriu. Ele alternava a mira do revolver entre Edward e eu. Eu me encolhi por reflexo.

Parecia que toda raiva de James havia sido transportada para Edward, que segurava firmemente sua arma com as duas mãos. Eu começava a ouvir a movimentação a nossa volta, ao que parecia, a polícia estava aqui também — viera junto com Edward, com certeza — porém se matinha a espreita, não invadindo o local para não causar uma reação energética em James.

Essa reação resumia-se a ele puxar o gatilho, atingindo Edward ou a mim.

— Protegendo a sua garota. Que atitude nobre, Edward. — ainda encarando Edward, James lentamente veio para mais perto de mim e então me manteve na mira da arma. Os músculos do braço de Edward contraíram-se e ele deu mais alguns passos na nossa direção. — Sabe de uma coisa, Edward? Acho que o comando foi dito pela pessoa errada, e agora, eu recomendo a você largar a arma.

Ele usou a outra mão para destravar o revolver com um pequeno clic.

De repente, quebrando toda a tensão que pairava no local, houve um gemido de dor. A voz era masculina, mas não vinha de Edward ou James. Surgiu então, do corredor que dava acesso ao quarto de Riley, Amanda, que veio correndo e só parou quando viu a cena que estava acontecendo naquela parte mais ampla do galpão. O par de olhos verdes e infantis se arregalou.

— Papai!

— Amanda, saia daqui, querida. — Edward respondeu entredentes, os olhos igualmente verdes agora não paravam quietos, em alerta, ele observava freneticamente os três rostos que estavam ali.

Incrivelmente, a voz de James tornou-se mais aveludada e gentil ao falar com Amanda.

— O que faz aqui, filha? Você deveria estar com o sr. Biers, não é? Papai está ocupado agora. — seu tom de voz foi igual ao de Edward no meu sonho ao perguntar: O que faz acordada tão cedo?

Era como se ele não conseguisse ver que Amanda não estava chamando por ele.

— Eu já disse, não sou sua filha, e meu nome não é Sophie! — respondeu Amanda corajosamente.

Se a situação não fosse tão trágica, eu teria sorrido.

— Como você não consegue ver? — balbuciou Edward. — Não consegue ver que essa não é Sophie? Não consegue identificar que Amanda não é ela, apesar da semelhança?

Inacreditavelmente, Edward se abaixou para deixar sua arma no chão.

— Agora eu vejo. Você se culpou todos esses anos pela morte de sua família, aposto que quis poder voltar no tempo e impedir aquele acidente. Sente tanta a falta dela que ficou desesperado para encontrar uma substituta, na esperança que a dor da perda diminuísse, nem que fosse só uma parte dela. E quando viu Amanda, quis tê-la para si porque não só na aparência, mas também no jeito, lembrava-lhe Sophie. Mas as coisas não saíram do jeito que você esperava, você não só não contava comigo e Bella também lutando pela guarda de Amanda, como também não percebeu que seu passado poderia por barreiras nos seus planos. E quando você perdeu o caso, não suportou a ideia de perder quem amava novamente, por isso sequestrou Amanda.

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Eu tinha certeza que estava de boca aberta — escancarada. Levei alguns segundos para absorver as palavras de Edward, era possível que ele tenha chegado àquela conclusão sobre James agora, enquanto tudo acontecia? Inclinei a cabeça e encontrei James em silêncio, com a respiração irregular, corpo trêmulo e...

Ele estava chorando?

— Eu...

James foi interrompido pela chegada de Riley no local, ele mancava um pouco, o que me fez imaginar como e com o que a pequena Amanda bateu em sua perna. Ainda concentrado no dever que lhe fora imposto, ele tentou alcançar Amanda. Ela começou a choramingar, com medo.

E foi quando o som do tiro explodiu, deixando-nos surdos por alguns milésimos de segundo. Riley desabou no chão, a mão apertando a coxa direita, onde fora baleado. No canto e quase imperceptível, estava o policial que atirara em Riley.

Aconteceu tudo muito rápido, eliminando todas as nossas possíveis chances de defesa. Amanda gritou e correu para os braços de Edward. Este, estava pronto para pegá-la, mas antes que Amanda chegasse até ele, James, ao ver Amanda ficar cada vez mais distante dele, agiu mais rápido do que qualquer um de nós.

A arma, já destravada, disparou, acertando em cheio o ombro de Edward.

— NÃO! — gritei. Arrastando-me no começo e depois correndo, atravessei tudo e todos, me jogando ao lado de Edward. — Não, não, não!

— Bella... — gemeu ele em resposta. O rosto de anjo contorceu-se em dor no momento que Edward tentou levantar o braço para me tocar.

— Shh, shh, fique quieto, ok? Não se mova, ai meu Deus... — eu disse entre as lágrimas e soluços. Meus olhos foram atraídos pela poça de sangue que só fazia aumentar em seu ombro, manchando de um vermelho escarlate na camisa branca que ele usava. — Socorro! — gritei sobre o ombro. — Você vai ficar bem, vai ficar bem, os paramédicos já estão vindo. — eu dizia para Edward, tentando tranquiliza-lo, mas parecia que eu estava tentando me acalmar com aquelas palavras. Um soluço escapou por minha garganta no momento em que eu me atrevi a pensar que Edward não ficaria bem.

Eles estava perdendo tanto sangue! Eu arranquei meu casaco do corpo, colocando-o em cima do ferimento de Edward para estancar o sangue. Eu sussurrava “sinto muito” toda vez que ele choramingava de dor, sabia que não só estava pedindo o seu perdão por pressionar contra o machucado, causando-lhe mais dor, mas por ter colocado a vida dele, de Amanda e até mesmo a minha em risco no momento que decidi vir atrás de James sozinha e sem ter lhe falado nada.

Talvez pelo meu desespero, me pareceu uma eternidade até que os paramédicos chagassem até nós, colocando Edward em uma maca e levando-o para uma das ambulâncias estacionadas do lado de fora, mas a verdade é que não haviam se passado nem um minuto. Eu tremia completamente no momento em que olhei em volta, um outro grupo de paramédicos atendia Riley, que ainda gemia de dor. Amanda estava no colo de uma policial, que tentava fazer ela parar de chorar.

Meu olhar caiu sobre James no momento em que dois policiais o agarravam por trás, imobilizando-o e arrancando a arma de suas mãos.

— Veja só o que você fez! — gritei para ele, revoltada. — Você atirou nele! Se algo grave acontecer à Edward, eu juro por Deus que você irá me pagar, seu desgraçado!

— Eu... Eu não queria... — respirou James, o olhar completamente perdido, sem foco. — Mas ele ia levá-la, estava tentando tirar ela de mim....

Se possível, eu via tudo em vermelho, cheia de raiva até o último fio de cabelo enquanto caminhava na direção de James. Não sabia o que pretendia fazer exatamente, mas socá-lo até a morte me parecia uma ideia tentadora.

Mas nada disso aconteceu porque, saindo de algum lugar, Kevin me alcançou e pôs os braços a minha volta, segurando meu corpo com tanta força que foi impossível eu dar mais um passo sequer. Ele ficou em silêncio, esperando que eu parasse de me debater e gritar palavras hostis para James. Minha raiva só diminuiu quando James saiu de meu campo de visão, acompanhado por dois policiais e algemado. A raiva foi substituída de uma maneira assustadoramente rápida pela tristeza e dor.

O velho buraco em meu peito, que há muito não dava sinal de vida, expandiu-se de forma quase bruta assim que meus pensamentos voltaram a se concentrar em Edward. Parecia que eu tinha voltado no tempo, de uma maneira indesejada e cruel, uma vez que eu estava de novo nos braços acolhedores de Kevin, chorando feito um bebê, sendo assombrada pelo pensamento da perda. Perda pela primeira vez, quando ele me deixou e foi para a Flórida com Tanya e agora, perda... Não era exatamente uma perda, eu não podia ter certeza, mas se mais alguma coisa acontecesse a Edward, eu não iria me perdoar, não conseguiria, nunca.

— Mamãe! — a voz chorosa de Amanda conseguiu penetrar a barreira de dor que me cercava.

Kevin me soltou para que eu pudesse pegá-la no colo, abraçando-a com todas as forças que ainda me restavam.

— Shh, está tudo bem, não chore, aquele homem não irá mais nos incomodar, ouviu? — eu disse, distribuindo beijos pelo seu rosto e cabelo.

— Mas o papai...

— Ele vai ficar bem, confie em mim. Vai ficar bem, ele é forte, não é? — Amanda assentiu antes de enterrar o rosto em meu ombro. — Ele vai ficar bem.

Eu me agarrei àquelas palavras.