Apenas Amigos

Capítulo um


Nunca, jamais, nem mesmo por um segundo, seja idiota o suficiente para amar seu melhor amigo.


Agora se você já se vê completamente apaixonada, junte-se ao clube. Acredite, não é nada legal você estar ao lado daquele que deveria ser somente seu amigo, e olhá-lo com outros olhos. Ouvir todos seus problemas, desde familiares a um desentendimento com um colega. Até aí tudo bem.

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Só que esses não são os únicos problemas que você tem que escutar. Como uma boa amiga sua obrigação é ouvir todos, sejam quais forem os seus problemas, e quando são amorosos? E acreditem, eles na maioria das vezes são, então você é obrigada a colocar toda sua vocação de teatro para fora, e interpretar lindamente o papel da melhor amiga compreensiva, que só quer ajudar.


E era isso que eu estava fazendo agora. Parece que a nova namorada de James havia dados motivos suficientes para que ele estivesse com uma cara nada amigável no celular. Ele me viu de relance, e eu peguei um papel sulfite rapidamente.

"O que aconteceu?"

Mostrei o papel para que ele pudesse ler, da mesma forma que fazíamos sempre. Nossas janelas eram frente a frente, e só o jardim nos separava.

Ele fez uma careta, e me pediu para esperar enquanto gritava no telefone. Parece bem assustador certo? Mas é uma coisa típica, pelo menos uma vez por semana eu assisto à sessão de gritaria James x Caroline. Quando ele finalmente desligou o celular, me deu uma resposta curta, que se explicou por si mesma.

"Caroline aconteceu."

Dei um sorriso triste, e ele pareceu não perceber o real sentimento que se passava dentro de mim. Engolindo o choro por ver James chateado por aquela garota, e ter de ser a pessoa a quem ele não sente nada mais que amizade, fiz o que qualquer melhor amigo faria. Esqueci da minha dor para cuidar da dele.

"Que tal uma sessão de filmes, doces e pipoca?"

Ele sorriu, e não demorou muito a escrever de volta:

"Eu escolho o filme."

"Certo, mas não pense que não vai pagar por isso Sr. Potter, os doces e a pipoca são seus!"

Ele sorriu, aquele sorriso que me faria fazer qualquer coisa.

"Isso é tão injusto, Lily."

Sorri maleficamente de volta para ele. Com o tempo me tornei uma atriz perfeita, acho que deveria realmente profissionalizar isso.

"É a vida Potter. Te vejo em 15 minutos"

Desci às escadas e vi mamãe lavando a louça do jantar. Eu precisava arrumar a sala, e escolher uma pilha de filmes para tentar influenciar na escolha de James. O quê? Não sou obrigada a assistir terror! Se bem que a ideia de algum zumbi aparecendo na tela me assustaria, e seria a desculpa perfeita para cair nos braços do meu melhor amigo. Mas eu sei que não faria isso, por mais que a ideia fosse tentadora.

– Mamãe... – comecei a dizer da sala. Ela ainda estava terminando com a louça.

– Já sei, James está vindo.

Logo a campainha tocou, a tempo perfeito de estar tudo organizado. Minha mãe era um amor, e pelo fato de conhecer James desde antes dele se conhecer como dizia ela, ele tinha passagem livre para aparecer em casa a qualquer momento. Fui abrir a porta e por um segundo me deixei maravilhar com a visão do garoto.

Seus cabelos negros estavam adoravelmente bagunçados que combinavam perfeitamente com seu tom de pele alvo e olhos castanhos esverdeados. Para completar o pacote perfeição, um short jeans e uma camisa preta gola V. James deu um sorriso torto, e eu me contive para não expressar a quão maravilhada ficava com seu sorriso. Injustiça era ter as minhas pernas bambas e borboletas no estômago toda a vez que James Potter sorria.

– Por favor, me diga que nós não vamos assistir nada sangrento essa noite. - eu disse suplicante e ele riu.

– Mas é claro que vamos! Lily, te conheço muito bem e sei que nesse momento há uma pilha dos seus filmes preferidos sobre à mesa, que você por acaso deixou para facilitar minha vida. Mas eu sou mais esperto, e trouxe de casa. Agora se a pilha não estiver lá... Quem sabe podemos ver outra coisa?

Fiz uma careta, e deixei entrar. Droga de garoto que me conhecia perfeitamente bem.

– James, você é cruel. – falei bufando enquanto ele sorria marotamente para o que encontrou sobre a mesa.

O moreno tirou a bolsa das costas, e despejou uma quantidade enorme de doces.

– O que você disse? – ele perguntou ao ver a minha expressão com a barra de chocolate crocante que eu tanto amava.

– Que você é o melhor amigo do mundo!

Nós dois rimos, e ele me passou três pacotes de pipoca para estourar no microondas.

– Eu me pergunto aonde eu arrumei uma amiga tão falsa assim - disse ele tentando soar bravo, falhando miseravelmente.

– Você sabe que não viveria sem mim.

– Claro, claro. Vou te prender no porão por umas semanas, para experimentar, o que acha?

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Sempre o mesmo James, por fora ele nunca dava a entender que estava chateado, mas eu sabia que ali dentro em algum lugar havia mágoa pela namorada.

– Sentiria tanto a minha falta que em menos de algumas horas voltaria se ajoelhando e pedindo desculpas.

Fui até a cozinha com ele no meu encalço, e coloquei o primeiro pacotinho de pipocas para estourar.

– Não sonhe tão alto, Lily. – ele respondeu se se encostando à bancada.

Eu mostrei a língua para ele, e o idiota tratou de apertar as minhas bochechas.

– Você parece uma criança de sete anos! – o acusei.

– Olha quem fala! – ele riu fingindo indignação.

– Eu sou a pessoa mais madura que eu conheço – disse.

– Acho que você não conhece muitas pessoas, ou anda estudando secretamente no jardim de infância. – ele fingiu estar lamentando por mim.

Reagi instantemente pegando a primeira coisa que vi por perto – um pano de prato –, e acertando perfeitamente o meu alvo, seu rosto.

– Você me paga, Lily Evans – disse caminhando em minha direção.

– É, porque eu estou com tanto medo! – brinquei correndo na direção contrária da dele.


Para a minha surpresa, James pegou a barra de chocolate e deu um sorriso maligno.

– Não pense nisso, James Potter!

Ele me olhou desafiadoramente e correu para a sala. Preciso ainda dizer que nós dois somos duas crianças juntos? Corri disparada atrás dele, e ele riu levantando o chocolate no ar.

Adorava como as coisas com James sempre fluíam assim, simples e natural, não brigávamos por mais de um segundo, e sempre nos divertíamos um com o outro, ninguém pode me culpar por estar apaixonada por ele, certo?


– Me devolve! – fiz cara de choro.

Ele riu mais ainda.

– De todas as pessoas que você pode usar essa carinha eu sou a que menos caí nela.

Aumentei meu bico e cruzei os braços.

– Desistiu tão fácil? Tsc, tsc, perdedora.

Pulei em cima dele com toda minha força, o jogando no chão e pegando o chocolate.

– Derrubado por uma garota menor que você? Tsc tsc, perdedor. – falei fazendo referência a sua última frase, apenas para provocar.

Acontece que por ter me jogado em cima do seu corpo com tanta força, eu estava sobre ele agora. Corei violentamente e saí de cima dele, que bagunçou os cabelos negros e sorriu.

– Você devia participar de alguma luta livre, Lily.

– Engraçadinho.

Dei um tapa de leve nos seus ombros e o puxei pela camisa até a cozinha novamente, protegendo com a minha vida a barra de chocolate.

– Vamos, trate de fazer alguma coisa e leve os copos e doces.

– Mandona - resmungou baixinho.

– O que você disse James?

– Madonna, tem um filme da Madonna na minha casa... - ele passou a mão pelos cabelos novamente.

– Claro que tem - ergui uma sobrancelha para demonstrar desconfiança.

Ele riu e foi fazer o que mandei.

– O Massacre da Serra Elétrica? Você só pode estar brincando comigo! – exclamei abismada, acompanhando seu olhar cínico. Eu estava com os dois potes de pipocas em mãos, e a única coisa que consegui falar ameaçadoramente foi:

– Nem pensar!

– Mas Lily...

– Não.

– O filme é muito bom e...

– Não.

– Premonição? Que tal?

– Eu fico me perguntando da onde arranjei um melhor amigo tão sanguinário assim.

– Eu prefiro evitar os pensamentos de como eu fui feito.

Dei risada, e fui pegar um dos filmes da minha pilha.

– Anjos e Demônios que tal? Todo mundo fica feliz, tem suspense e o velho e bom sangue que você tanto aprecia.

– Vai adiantar eu discutir com você? – perguntou ele com esperança.

– Não. – respondi sorrindo.

– Eu que sou cruel depois... Anjos e Demônios, certo.

Durante o filme tudo ocorreu normalmente. Eu, James, cobertas e pipoca e doces. Mas logo que os créditos começaram a passar o senti ficar tenso ao meu lado, e sabia exatamente o porquê: Caroline.

– James?

– Sim, Lily, eu te deixo escolher o próximo.

– Não é isso.

– O que é então?

– Você está bem?

Ele me olhou com aquela cara que só eu podia entender: já havia passado, mas ainda doía. Eu o puxei para deitar no meu colo e comecei a acariciar seus cabelos negros.

– Eu sei, eu sei, é complicado. – falei antes que ele dissesse algo.

– Eu só não aguento mais essas brigas, Lily. - Ele disse frustrado.

– Conversa com ela, diz que você tá bem com isso.

– Isso é meio gay Lily, e você conhece ela, ela provavelmente vai rir e ignorar.

– Tente ao menos, James - revirei os olhos.

– Certo, acredita que hoje ela estava reclamando de você, Lil? De você? Não tem o menor sentido toda essa paranoia dela, sabe que somos amigos, mesmo antes de eu a conhecer.

Eu olhei imediatamente para outro lugar. O medo de que ele visse a confissão do que eu sentia nos meus olhos foi maior, e eu mal pude encará-lo quando respondi:

– Ela é sua namorada, é normal que esteja com ciúmes.


– Não de você, não me importa que ela seja ou não minha namorada, se ela continuar a insistir nisso não vai demorar muito para eu me cansar.


Prendi um suspiro, as vezes é tão difícil esconder.


– Amanhã é um novo dia, e você pode resolver isso do jeito certo. E me aproveitando da sua fragilidade, por favor, por favor, vamos assistir Cartas para Julieta!

James me olhou de lado e toda a sua tristeza parecia ter sumido. Ele fez uma careta pelo nome do filme, e revirou os olhos.

– Você sabe, às vezes essa sua carinha funciona.

Eu peguei um travesseiro e taquei na sua cara, e nós dois caímos na risada mais uma vez.