Infelizmente Juntos

Naquela noite de neve...


—Haruko, juro que vou mandá-lo para o inferno se não me contar onde está a minha filha!—Esbravejou, apoiando o pé em cima da cabeça do homem, e a afundando cada vez mais para dentro da neve.

Ichiro pressionou ainda mais a cabeça de Haruko contra a neve, sem nem ao menos alterar a expressão facial enquanto ouvia os protestos de dor que vinham do homem.

—Onde a minha filha está?—Indagou o ruivo, sem tom de voz era firme e cruel, mas ao mesmo tempo era com uma notável fúria contida, como um vulcão em prestes a entrar em erupção.

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O outro homem se contorceu na nave e gritou algo, mas a sua voz era abafada contra neve, se tornando um som abafado, doloroso e acima de tudo, incompreensível.

O Haruno não estava satisfeito e enquanto diabolicamente estreitava o olhar sobre seu oponente, se preparando para torturá-lo até que os ossos de seu rosto virassem migalhas se fosse preciso... De repente um som agudo e baixo chamou a sua atenção. Era o som de um soluço infantil e choroso e quando Ichiro levantou seu olhar, tentando encontrar a origem do som ele a avistou. Do alto de uma centenária arvore estava Sakura, com as mãos e pés amarrados.

A rosada tinha finas lágrimas escorrendo por seu rosto corado, e o medo era facilmente lido em seus olhinhos esmeraldinos, mas o que realmente chamou a atenção do ninja foi a tonalidade escarlate que tomava conta de parte do cabelo rosado da Haruno, aquilo visivelmente era sangue. Ignorando seu oponente literalmente aos seus pés, o homem deu quatro ou cinco passos em direção a arvore, mas logo, uma figura corpulenta e com vestes maltrapilhas e negras surgiu ao lado de Sakura, se assemelhando até mesmo a um morcego.

—Fico feliz ao ver que você, Ichiro Haruno o Demônio Vermelho, aceitou o nosso humilde convite.

Ichiro franziu o cenho, se lembrando daquele tom de voz, mas ao mesmo tempo se repreendendo por achar que tal pessoa ainda estivesse viva.

—Ora ora, que desfeita!— Exclamou o outro, em uma falsa indignação, parecia se divertir com a confusão de Ichiro. —Não acredito que já se esqueceu de seu irmão mais velho! Sou eu, Hayato Haruno.

Por alguns instantes, tudo pareceu parar, a neve parou de cair, o vento parou de soprar e o pobre ruivo parecia perplexo demais até mesmo para respirar.

O ninja permaneceu ali, como se tivesse congelado, seus olhos arregalados e focados na figura que se autodenominava seu irmão. Sakura havia parado de chorar, ou pelo menos tentara parar de chorar com objetivo de entender o que se passava ali. As coisas não faziam sentido para rosada, se aquele homem era irmão de seu pai, consequentemente e infelizmente era seu tio, mas seu pai nunca citou sobre a existência de algum outro irmão além de sua tia Ayako.

A risada ironicamente e diabólica de Hayato tirou Ichiro de seus devaneios e o ruivo voltou a encara-lo com uma fúria quatro vezes maior do que antes, se possível.

—Mentiroso. — Murmurou entre dentes e o outro sorriu maleficamente. —Isso é impossível.

—Sou eu meu querido maninho. Naquela noite você não conseguiu matar seu próprio irmão, me deixou para morrer queimado, ou pelo menos achou que eu fosse morrer assim... Foi um covarde.

Por mais que quisesse retrucar e desmentir aquela fala, Ichiro sabia que era verdade, se lembrava daquela noite, a pior da sua vida e sabia que o seu erro do passado viera cobrar seu preço no presente.

—Você não é meu irmão!— Gritou, dominado pela cólera. — Um traidor desgraçado como você não merece carregar a honra do meu clã!

—Honra, sabedoria, dever e humildade. —O outro repetiu com tédio e desdém os quatro pilares que constituíam e guiavam os Harunos, respeitado e seguido ao máximo pelo clã.

Aquelas quatro palavras eram algo bem mais profundo que um lema ou código de conduta, era um estilo de vida, um credo. Profundamente ofendido e colérico, o ruivo respondeu:

—Você nunca soube o significado dessas palavras! Nunca foi honrado o suficiente para saber o seu devido lugar, nunca teve a sabedoria o suficiente para enxergar além da sua ganância e seu dever nunca foi levado em consideração, sempre atrás de seus deveres carnais e materiais. E humildade... Você nem se deu ao trabalho de vivenciar tal palavra, sempre foi cego pela sua arrogância estúpida e ego inflamado, tão inflamado que custou tudo o que você tinha!

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—E o que eu tinha?!— Berrou Hayato, assustando a menina, que voltou a choramingar, mas nenhum dos dois homens a olhou. —Eu era um simples Haruno! Eu era um nada como você é hoje! Eu sempre enxerguei o meu lugar e o meu lugar era como líder do clã!

—Você ainda continua imundo por seus pecados do passado... —Murmurou o ruivo, indignado. —Você tinha uma família, tinha a mim, Ayako e tinha o papai.

A face do renegado se contorceu em uma careta bem mais feia do que a habitual, em um misto de ódio e nojo.

—Não me fale daquele velhaco maldito!—Disparou, interrompendo a fala do Haruno.

—Ele foi o melhor líder que o clã já teve, e o mais sábio e por sua sabedoria ele conseguiu prever o monstro que você viraria no futuro. Você o próprio filho dele, o matou, o matou por causa de um maldito título!— Berrou, sua face se contorcendo em ódio, ódio que alimentava a ansiedade de seu irmão mais velho.

—Você também foi outra decepção para mim... Depois que o velhaco finalmente morreu, nem me matar você conseguiu, piedoso demais para matar aquele matou seu amado pai e depois ainda renunciou a liderança do clã que eu tanto lutei para conseguir, para ficar com aquela vadia da sua mulher. Ayako é uma desgraça como líder, sempre tão neutra e piedosa, afinal, é uma mulher! Como colocaram uma mulher na liderança como?! É por isso que o clã Haruno perdeu toda sua glória, todo seu temor que causava em outros clãs, perdeu toda a essência da guerra.

—Vou matá-lo por isso!— Gritou o ninja, seu grito ecoando por toda floresta e mal sabia ele que era isso que Hayato queria tanto ouvir.

Ichiro deu um passo para frente e automaticamente seu irmão tirou uma kunai de dentro da roupa e pousou perigosamente próximo do pescoço da criança, em um aviso claro que Hayato fez questão de frisar com uma animação macabra quase palpável:

—Dê mais um passo Ichiro e minha sobrinha não terá mais cabeça.

A garotinha nem respirava, achando que qualquer movimentação que pudesse fazer seria fatal.

—Sabe... —O mais velho começou a falar de forma casual, como se não estivesse em uma situação tão inadequada para uma conversa qualquer. — Durante todos esses anos que se passaram, eu comecei há pesquisar um pouco mais sobre você e acabei encontrando alguns amiguinhos seus...

Assim que o traidor acabou a frase, os galhos foram ocupados por vários homens, homens de diversas alturas e características, diferentes num todo, mas juntos num diabólico objetivo: Matar Ichiro Haruno. O alvo sabia que aquele sangue de antes que o guiara o levaria direto para uma armadilha, mas nunca passou pela sua cabeça que a armadilha se consistia em juntar todos os seus inimigos para um acerto de contas enquanto tinham sua filha como refém.

O ruivo passou seus olhos pelos galhos das arvores próximas, reconhecendo cada um dos homens que estavam ali, empoleirados, a espera da hora certa para poder atacar. Todos foram derrotados em batalhas e sobreviveram da fúria do Haruno, mas agora anos haviam se passado e a força deles poderia ter mudado, porém, a única coisa que se manteve intacta em cada um era a chama da maldade que brilhava em seus olhos.

—Olha que ironia maninho, você é o Demônio Vermelho e nós somos o Hyakki Yako, vamos ver quem vai para o inferno primeiro.

E assim a luta começou, o primeiro a atacar foi Haruko, ele usava uma gigantesca Fuuma Shuriken e tentou realizar um ataque direto e previsível, uma tolice, talvez guiado pelo ansiedade e pressa ou vingança pelo nariz quebrado. Mesmo assim, Ichiro tomou cuidado, afinal, estava desarmado e não seria tão idiota a ponto de subestimar um inimigo. Após algumas evasivas, o oponente jogou a arma contra o ruivo que com sua precisão, conseguiu pegá-la no ar e rebatê-la, e poucos segundos depois a Fuuma Shuriken se tingiu de vermelho e o homem caiu já morto no chão.

Antes que o Haruno pudesse pensar em alguma estratégia, dois outros inimigos saltaram até ele, um usava uma grande e aparentemente pesada espada que carregava sem esforço, e outro tinha cerca de quatro pergaminhos em suas mãos, e outras dezenas em suas costas e roupas. Quem atacou primeiro foi o homem da espada, que parecia estar bem confiante da própria força e infelizmente estava correto disso. Ichiro teve dificuldade de se desviar de seus golpes e os outros homens vibraram em coro quando sangue foi tirado de Ichiro, mesmo com o corte sendo pequeno e mas profundo.

Sakura gritou e ao ver o pai ser ferido e Hayato apertou ainda mais a kunai contra o pescoço da rosada, quase a cortando. O ruivo sabia que seu tempo estava contado e ele não tinha tempo a perder para pensar em alguma estratégia e coisas racionais, ele deveria lutar, seguir seus instintos e era isso que faria. O homem da espada tinha um sorriso arrogante nos lábios e manejou a espada para fazer um próximo golpe,de súbito o inimigo gritou e saiu correndo em direção do Haruno que colocou dois dedos na ferida, os cobrindo de sangue e com uma rapidez sobre-humana ele desenhou um símbolo desconhecido no chão e gritou:

—Fuyuki! ( arvore de inverno)

De súbito o chão tremeu e rachou, e num piscar de olhos, uma gigantesca arvore cresceu ali, sob os pés de Ichiro que não aprecia temer pela altura, era tão grossa que ninguém conseguiria abraçá-la, e tão alta quanto um prédio. Tudo aconteceu muito rápido e antes que algo pudesse acontecer, a ameaçadora espada se enterrou no maciço tronco da arvore. Ao ver que seu plano havia dado certo, o ruivo sorriu cruelmente e saltando da arvore que invocara, pousou atrás do homem que recebendo um único golpe, teve o pescoço destroçado brutalmente.

Um silêncio surpreso se ergueu e até o renegado Haruno pareceu surpreso, afinal, a força dos Harunos estava presente nas técnicas que envolviam a primavera e não o inverno. Um rugido feroz chamou a atenção de Ichigo que olhou frustrado para a quimera que o segundo oponente havia acabado de invocar, o ruivo já havia até se esquecido da existência dele. A quimera tinha cerca de quatro metros, um corpo e cabeça de leão com uma cabeça de serpente anexada ao corpo, sendo o rabo do corpo do leão, e a mesma também sibilava de forma mortal.

A fera se aproximou do Haruno, o rondando.Uma espuma branca e gosmenta escorria por seus afiados dentes e os olhos negros da quimera faiscavam com desejo de ver sangue, de rasgar a pele e dilacerar músculos. Ichiro não sabia o que deveria fazer, nunca havia lutado contra uma fera daquelas antes. O monstro se aproximava perigosamente de seu alvo, e o Haruno olhou ao redor, procurando por qualquer coisa que pudesse ajudá-lo, pois lutar de mãos nuas não seria muito produtivo agora.

O ninja fixou seus olhar na espada enfiada na arvore, encarando-a como se fosse sua salvação e sem hesitar, ele tentou tirá-la de lá, mas ironicamente o jutsu se voltou contra ele, já que agora a espada não se soltava de dentro da arvore. O animal soltou um som rouco e grave, como se estivesse se divertindo com a tentativa inútil de seu oponente de tirar a espada. Ichiro não estava disposto a desistir, não agora e fazendo uma careta enquanto fazia força.

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Sua face mudava de cor em um degrade quase cômico, entre roxo e vermelho. A quimera se aproximava cada vez mais e quando o monstro soltou um rosnado de fúria, pronto para dar o bote, o ruivo forçou a espada para si, só que as coisas saíram fora do planejado e a espada se quebrou ao meio, deixando-a com a ponta irregular e felizmente mais cortante que antes. Mesmo com a arma, o Haruno não pareceu intimidar a quimera que depois de esperar por mais alguns segundos partiu para o ataque com um rosnado feroz.

O ninja tentou levantar a espada, mas seus braços tremiam e a arma era pesada e difícil de ser manejada e ao usá-la para contratacar, o golpe não foi muito bem sucedido, já que a arma acabou por ser batida no focinho do animal, como se fosse um desengonçado taco de baseball, mas que felizmente serviu para deixar a fera desnorteada. Novamente, a gravidade puxou a espada para o chão, só que dessa vez, o homem não conseguiu reerguê-la de jeito nenhum.

Infelizmente o monstro se recuperou do “golpe” e se aproveitando da fraqueza de seu inimigo, o atacou com sua brutal pata o prendendo contra o chão. Apesar de ser uma fera, a quimera gostava de brincar com suas vítimas antes de matá-las e para se deliciar com o sofrimento de seu oponente, pressionou a pata para baixo, prendendo Ichiro contra neve. A enorme pata de leão ocupava seu tórax inteiro e a pressão ali exercida não deixava que o ar entrasse em seus pulmões, estralando e deslocando uma de suas costelas, era certo que se aquilo continuasse por mais algum tempo, o coração de Ichiro iria ser esmagado pelas suas próprias costelas.

Desesperado, ele olhou para os lados e fazendo selos desconhecidos com os dedos, ele gritou com o pouco fôlego que lhe restara:

—Hideki!— (Maravilhosa árvore)

Por alguns segundos nada aconteceu e o Haruno amaldiçoou Hayato com todas as suas forças. A fera soltou novamente a sua risada que parecia uma mistura bizarra entre um rosnado e um sibilo.

Então, de súbito o som de madeira estralando e se partindo foi ouvida, e enquanto todos ali ficaram se questionando o que seria aquilo, o ruivo sentia como se aquilo fosse música para seus ouvidos. Um grito foi ouvido e todos, aterrorizados viram os galhos e raízes da grandiosa arvore agarrarem o pé do homem que tinha os pergaminhos. Os galhos pareciam vivos e incontroláveis, e enquanto o homem cortavam-nos, duas novas ramificações cresciam em seu lugar.

Após seu mestre ter sido morto asfixiado pelas raízes da arvore, a quimera ia receber o mesmo destino, mas não seria com a mesma facilidade. O monstro sibilava e rugia, dilacerando como podia os galhos e raízes, mas logo a força da mãe natureza foi mais forte e com um rugido doloroso, a fera virou uma fumaça negra, deixando este mundo. Um silêncio quase espectral reinou e o ninja olhou desafiadoramente para seu irmão que em estado de cólera gritou:

—Matem-no!

O grito que se assemelhava ao de um exército foi ouvido, e os outros homens que não haviam se juntado á luta resolveram fazer a sua vingança. A luta era complicada, afinal era um contra dezenas, mas felizmente, nenhum deles lutavam em conjunto, era cada um por si, eram desorganizados, cegados pelo ódio e sede de morte. Logo, a neve se tornou um mar de sangue e corpos e mais corpos se acumulavam no chão, mas mesmo assim ainda faltavam uma quantidade considerável de inimigo para um Ichiro que começava a ficar cansado.

O ruivo pôs a mão em um de seus inúmeros cortes e começou a fazer selos com as mãos que eram desconhecidos pelos outros, eram técnicas exclusivas do clã Haruno.

—Toyoharu!

Logo depois uma nuvem branca e densa surgiu, e os inimigos recuaram um pouco, surpresos e cogitando a ideia de quem o Haruno havia fugido. Mas eles estavam completamente enganados, aquilo era uma invocação, invocação de um espírito chamado Toyoharu que significa “Primavera rica”.

Ele era muito alto, mais ou menos da altura da quimera e parecia uma espécie de elfo, usando um porrete de madeira como arma e tinha um grito de guerra extremamente agudo que deixava seus inimigos atordoados. Alguns minutos depois, a clareira estava banhada em sangue e o silêncio reinava. Ichiro estava ofegante e ferido, mas a chama de ódio em seu olhar continuava intacta enquanto encarava Hayato, o mesmo tinha uma expressão presunçosa na face, como se ele não estivesse surpreso com os feitos do irmão mais novo.

Já Sakura, oh pobrezinha rosada, estava chocada demais para chorar, seus olhos estavam fixos em seu pai, mas a Haruno parecia não enxergá-lo, seus sentidos sendo alterados e nauseados pelo metálico cheiro de sangue que invadia suas narinas.

—Só sobramos nós dois... —Murmurou Hayato. —Vamos terminar o que ficou inacabado naquela noite.

O homem pulou do alto da arvore, pousando suavemente no chão com a Haruno nos ombros, mas logo a jogou no chão sem o menor cuidado, como se não passasse de um saco de batatas. Hayato fez selos semelhantes aos de Ichiro e colocou as palmas das mãos contra o chão e disse:

—Pode não parecer, mas eu ainda sei alguns truques do meu antigo clã.

Mais uma nuvem branca subiu e outro espírito da natureza surgiu. O ruivo rapidamente a reconheceu, era Chiharu a “Mil primaveras”. Esse espírito era um dos mais lindos que existia, era a figura de uma mulher de cerca de quatro ou cinco metros de altura, seu cabelo era trançado em flores e seu vestido feito de folhas verdes, sua expressão facial nunca mudava, apesar das pessoas terem opiniões diferentes sobre sua expressão, desde serenidade até frieza.

Ichiro recuou ao ver que Chiharu tirou de suas costas uma espada semelhante a uma ninjaken das costas, estava fora dos planos do ruivo lutar com um espírito, mas felizmente agora o Haruno tinha armamento que “gentilmente” seus inimigos lhe deram. E assim, Chiharu partiu para o ataque, mas o ninja o aparou com uma foice, mas a inimiga era bem mais forte que ele e sem ter outra alternativa, Ichiro jogou uma bomba de fumaça, se aproveitando para subir em uma arvore e enquanto Chiharu estava de guarda baixa, o ruivo lançou em seu braço, dois selos explosivos que depois de pouquíssimos segundos, explodiram o braço do espírito, que soltou um guincho de dor enquanto seu membro se desfazia em flores secas de outono.

Irada, Chiharu, cortou a arvore onde seu oponente estava e o ninja fez quase o impossível para não acabar sendo esmagado, mas foi lançado para longe com o impacto da queda da alta arvore. Ele tentou se levantar, mas sentiu a ponta fria da lâmina em sua nuca. Aquele era o fim? O som das palmas secas foram ouvidas, Hayato parecia se divertir vendo tanta carnificina.

—Não o mate, quero ter esse prazer para mim. —Declarou e Chiharu desapareceu, deixando para trás somente o cheiro primaveril no ar.

Ichiro se levantou do chão um pouco cambaleante e pegou a foice que usara. Seu irmão se aproximou, tirando uma katana da bainha, parecia arrogantemente confiante, afinal, o ruivo já estava cansado e ferido, aquilo seria uma batalha fácil. Sem nem ao menos falar nenhuma ameaça ou algo assim, a luta começou, com uma violência implacável e sem igual. Golpes rápidos, precisos, sangue e dor marcaram aquela batalha, mas nenhum falava, nenhum soltava nenhum sinal de dor, nenhum fraquejava.

E poucos minutos depois, Hayato se encontrava tão cansado e ferido quanto o mais novo. O mais velho estava cansado de lutar, queria logo ver o sopro da vida se esvair do corpo de seu irmão mais novo e assim, começou uma nova invocação, uma invocação que usaria todo seu chakra restante. Ichiro se sentou em posição de lótus e começou a fazer selos para também sua última invocação.

—Haruhiro!— Gritou o mais velho e o espírito da Primavera Universal se fez presente com sua áurea ameaçadora e imponente, o melhor espírito para batalha.

Mesmo assim, o ruivo não se moveu, franzindo mais o cenho, se concentrando ainda mais em sua própria invocação que começava a dar sinais de que estava começando.

—O que está esperando?!—Berrou Hayato pata Haruhiro. —Ataque-o!

O espírito não sabia o que fazer, estava indeciso entre obedecer seu mestre ou se manter ali, cauteloso. Estava sentindo uma áurea estranha e poderosa ao redor do humano sentado, e um pressentimento ruim se instalou em Haruhiro, mas ele não poderia desacatar seu mestre.

O espírito, correu mesmo contra sua vontade até o Haruno, mas não chegou a ir muito longe, já que o chão tremeu violentamente e o fez cair. Uma graciosa e irregular arvore nasceu atrás de Ichiro. O som suave de uma harpa encheu o ar e para espanto de Hayato o chão coberto neve, sangue e corpos foram coberto for uma grama verdejante e flores delicadas. Em um dos galhos mais baixos e mais firmes da arvore, uma figura feminina apareceu.

Parecia não ter mais que seus dezesseis anos de idade e seu rosto angelical dava a impressão dela ter menos ainda. Seu cabelo rosado se estendia por suas costas e seus olhinhos azuis pareciam inocentes demais para aquela batalha.

—Yoshie... —Murmurou Hayato, reconhecendo o espírito, que não via há mais de décadas.

Ele estava perplexo, a única pessoa que conseguia invocar era seu falecido pai,já que enquanto Hahuhiro era o melhor espírito para batalhar, Yoshie era o melhor espírito para matar. Haruhiro permaneceu no chão, com medo, sim, todos os espíritos temiam a delicada Yoshie. De súbito, o Haruno abriu os olhos com força e disse:

—Vale sereno! Cerejeira.

Ao ouvir aquilo, a garota sorriu com meiguice e começou a dedilhar seus dedos na harpa e enquanto som percorria a clareira, flores de cerejeira nasciam dos galhos da arvore e automaticamente eram levadas por um vento inexistente e rodopiavam em torno de todos, formando um paredão de pétalas hipnóticas e fatais.

—É impossível você ter dominado essa técnica!—Gritou Hayato, desesperado, mas o ninja nem lhe deu ouvidos, mantendo-se concentrado porque até para ele, era difícil dominar Yoshie.

A parede de flores começaram a girar cada vez mais rápido e o cheiro inebriante de flores de cerejeira invadiu os pulmões de Hayato. Como uma droga, o cheiro começou a deixá-lo tonto e sua visão ficou turva, e Haruhiro desapareceu em uma fumaça branca. Pouco tempo depois aquele odor começou a queimar em suas narinas e peito e num ato desesperado, o mais velho começou a se arranhar, tentando rasgar o próprio peito e respirar ar.

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—Morra. —Sussurrou Ichiro e as pétalas pararam de rodar, algumas se tornaram como dardos venenosos e se fincaram no corpo de Hayato, e as delicadas pétalas de cerejeira se tingiram de vermelho.

Yoshie continuava com um sorriso sapeca no rosto, como se fosse pura demais para entender que havia acabado de matar alguém, afinal, seu poder estava no perfume das flores de cerejeira, que drogavam seu oponente, o deixando completamente vulnerável, afinal não era à toa que Yoshie significava “Vale perfumado” . Enquanto procurava por mais inimigos, seus olhos azuis se encontraram aos de Sakura e o espírito riu com diversão (embora nenhum som saísse de seus lábios) ao ver a cor do cabelo da menina e depois de acenar simpaticamente para a criança, desapareceu em uma explosão de pétalas de flores diversas.

O silêncio se estendeu no ar, e Ichiro fitou a rosada e lhe dirigiu um sorriso caloroso, no qual a menina nunca teve conta de quanta força o ruivo fez para sorrir. De repente, o Haruno caiu violentamente contra neve, não tendo controle mais sobre seu corpo. Desesperada, a menina engatinhou pelo chão, já que ainda estava amarrada.

—Papai... —Soluçou a garotinha quando se aproximou o bastante para que a acariciasse.

—Shhhh... —Murmurou o homem, acariciando a face da criança, molhada por lágrimas. —Como eu desejaria que você não tivesse visto isso... Toda essa luta, essa violência, esse sangue... —Falou desgostoso.

—Papai não se esforce tanto. —Suplicou. — Daqui a pouco vai chegar alguma ajuda e vai ficar tudo bem.

Antes mesmo que a menina pudesse completar a frase, ele negou com a cabeça, já sabendo de seu trágico destino.

—Não vai dar tempo.

—Vai sim!—Exclamou.

—Sakura você é uma menina esperta, já deve saber que o papai vai...

—Não! Eu não vou deixar!— Ela gritou, as lágrimas voltando a escorrer por seu rosto.

—Não temos controle sobre isso minha pequena... As pessoas morrem para outras viverem, eu morrerei para você viver, e nunca vou me arrepender disso.

—Por favor, papai... Por favor... Eu preciso de você aqui. Não morra por favor papai...

Uma lágrima solitária rolou pela face de Ichiro.

—Você não sabe o quanto eu queria viver mais meu amor, só para te ver crescer... Para te ver virar uma mulher linda e esperta como sua mãe. Queria poder te levar para escola e te ver virar uma ninja excelente assim como o papai. Queria poder espantar os garotos de você e te guiar não somente até o altar, mas pela vida toda... —A essa altura ambos choravam compulsivamente, mas mesmo assim, o ruivo continuou a falar e em meio às lágrimas, um sorriso nostálgico iluminou sua face. — Mas os momentos que eu passei com você e sua mãe foram os melhores da minha vida, lembro-me de quando sua mãe falou que estava grávida de você, e quando eu te vi pela primeira vez, achei que meu coração fosse explodir de tanta felicidade. Lembro-me de quando você me chamou de papai e todas as vezes que brincamos, e seus aniversários... Lembro-me que fui o homem mais feliz do mundo quando estive com você e sua mãe. Eu te amo.

—Eu também te amo, papai. — Sussurrou Sakura abraçando o pai como podia.

—Você vai mais do que minha própria vida, minha pequena flor.

Alguns minutos se passaram e logo o abraço de Ichiro foi perdendo o calor e a firmeza e quando a carícia do ruivo parou, a dura realidade cruel atingiu a criança de apenas cinco anos. Um grito ecoou por toda aquela clareira, não era um grito de vitória ou derrota, muito menos um grito de guerra e sim um grito de dor, da dor dilacerante da perda.

Poucas horas depois, o próprio Fugaku Uchiha, que comandava as buscas, encontrou os dois, e quando os viu, ficou paralisado por alguns instantes, perplexo com a cena. Pois em meio aquela cena de guerra, com corpos, sangue e neve a grama se estendia pelo chão como se fosse primavera, com flores multicoloridas que serviram de leito para o corajoso Haruno. Seu corpo inerte sendo abraçado por uma delicada e pequena criança, que a principio o Uchiha julgou também estar morta, mas para seu alivio constatou que ela estava só dormindo.

O moreno se aproximou e pegou a menininha no colo, que acabou acordando. Fugaku esperava que Sakura esperneasse ou gritasse, mas ao contrário, a rosada apenas se a aconchegou melhor no colo do Uchiha que a carregava, o surpreendendo. Ela não abriu a boca, nem sequer o olhou, fitando o corpo do pai até que não fosse mais visível em meio as arvores. Os olhos da menina não brilhavam com a mesma inocência e sua expressão era vazia, como se fosse uma boneca inanimada.

Aquilo alcançou até mesmo o duro coração do moreno.

Depois que o pai não pode mais ser visto, Sakura se aconchegou novamente no colo de Fugaku, se virando para frente e por mais que lágrimas escorressem por sua face agora, ela sabia que seu pai não estava mais naquele corpo, aquilo era só uma casca vazia.

Seu papai agora era uma estrela no céu.

Seu guia.

Sua luz.

Sua estrela.