Be Your Boy

O Pulo do Gato


Desespero, medo, terror... o pequeno Orihara já nem conseguia diferenciar os três, que eram como veneno correndo por suas veias, rasgando tudo o que encontravam pelo caminho. Estava em meio a um enorme furacão de emoções e, apesar de essas três serem muito relevantes, havia apenas uma coisa que Izaya sentia mais que elas.

Ódio.

Sentia ódio de si mesmo, por não conseguir nem raciocinar direito e simplesmente sair correndo com um gigantesco macaco atrás de si...

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Sentia ódio do seu estado físico, que aumentava a dificuldade de cada movimento que fazia e era, definitivamente, um enorme obstáculo...

Sentia ódio de sua insegurança, que havia impedido que ele fosse trabalhar com Shizuo naquele dia – quem sabe, se ele estivesse lá apoiando o loiro, isso não teria acontecido.

Ódio de suas pernas, que queimavam e seus pulmões que pareciam ser dilacerados a cada respiração; Izaya estava chegando ao seu limite, e não estava nem um pouco perto de seu destino.

Seus passos começaram a falhar e ele podia ouvir o homem-macaco se aproximando cada vez mais; sua visão foi ficando borrada e logo ele estava caído no chão, tentando se levantar enquanto lutava contra algumas lágrimas.

Ele precisava salvar Shizuo.

Conseguiu levantar-se a tempo de olhar para trás e ver o homem lançando-se furiosamente contra ele.

Fechou os olhos instintivamente, e pôde ouvir um grunhido um tanto violento do homem, que por algum motivo não lhe havia acertado. Ao abrir os olhos, viu o homem-macaco jogado contra um canteiro de flores, desmaiado.

Ouviu o relinchar de um cavalo e suspirou pesadamente, olhando para a rua onde viu Celty digitando rapidamente em seu celular. “- Izaya! O que está fazendo aqui sozinho, a essa hora? Quer morrer?!”

- Isso não importa agora, Shizu-chan está em perigo! - , disse em meio a ofegos; o pequeno estava exausto.

“- O que houve com ele?” - , perguntou a Dullahan, eufórica.

- Ele foi seqüestrado e levado... Pra um galpão no distrito norte, eu acho. – Quando finalmente conseguiu recuperar seu fôlego, olhou a motoqueira negra com um brilho determinado nos olhos. – Pode me levar lá? Por favor!

Celty estava sem palavras; nunca havia visto Izaya daquela maneira e quase sentia pena dele; devia estar correndo a um longo tempo – teve sorte de ter um homem lento correndo atrás de si.

A Dullahan acenou positivo com a cabeça e gesticulou para que Izaya subisse na moto. Com um pouco de ajuda, ele conseguiu, e Celty materializou um capacete para o pequeno.

Até onde a Sturlunson sabia, havia apenas três galpões no distrito norte, e dois deles eram ocupados e usados como depósitos – restava então apenas um. Acelerando, ela corria pela estrada ainda mais rápido que de costume.

Conforme foram se aproximando, Celty diminuiu a velocidade e logo o veículo parou de mover-se. Os dois desceram da moto e foram até a enorme porta do galpão, que estava fechada e era definitivamente pesada demais para que Izaya a abrisse, deixando então que a Dullahan o fizesse... depois de dar uma surra nos dois guardas vestidos de gorilas.

Assim que ela terminou o “serviço”, os dois deram alguns passos adentro e avistaram algumas pessoas com fantasias de animais e havia, de fato, um jacaré.

Mais atrás, no fundo do galpão, Izaya podia ver a silhueta machucada de Shizuo. Mal parou para pensar no real estado do loiro; apenas saiu correndo em direção a ele. – SHIZU-CHAN!

Um dos homens se posicionou em sua frente e Izaya o atropelou, sendo jogado ao chão pelo peso superior do coala que então lhe olhava. – Nem mais um passo, moleque! – Segurou o Orihara pela camisa e jogou-o de volta para a entrada; Celty segurou-o prevenindo sua queda.

- Shizu-chan! Shizu-chan, você está bem?! - , gritava o menino-gato. Não se importava com o fato de que Shizuo com certeza não estava bem; queria ter certeza de que o loiro estava vivo, consciente. Ouviu um grunhido baixo, doído, vindo de Shizuo e suspirou aliviado. – Monstros! Por que fizeram isso com ele?!

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- HÁ! Por quê? Você quer um motivo?! Olha aqui o nosso motivo! - , gritou o homem-jacaré enquanto tirava sua máscara, revelando dentes faltando e um olho roxo. Depois dele, foi a vez do coala, que tinha a marca da mão de Shizuo em seu estômago; cada dedo propriamente em seu lugar.

O flamingo fez Izaya e Celty arrepiarem-se de horror; tinha a marca exata de um poste impressa em seu traseiro. Eles preferiam não saber como aquilo aconteceu, apesar de parecer bastante óbvio.

- O monstro aqui é ele! Nós vamos ter que carregar esses hematomas por sei lá quanto tempo, e é tudo culpa dele!

- E aí vocês vão matá-lo?! - , rugiu Izaya.

- É lógico.

Izaya sentiu vontade de estapear a própria face – esse tipo de vingança era clássico: “Fulano de Tal fez tal coisa pra mim, vou matá-lo e cortar as bolas dele fora.”. O jovem suspirou. – Não tem outro jeito? - , perguntou.

- HÁ! Nem pensar! E é melhor você ir embora daqui senão eu mato todo mundo! – Os outros seqüestradores olharam assustados para o chefe jacaré. – Seus imbecis, não é de vocês que estou falando! Minha nossa, não existem mais capangas como antigamente...

O homem enfiou a mão em um dos bolsos e tirou um revólver preto-fosco, apontando-o para a cabeça de Shizuo que mal parecia estar acordado. – Agora já chega! Vou matar esse desgraçado e acabar com isso tudo!

- ESPERA! - , gritou Izaya. – Deixe ele ir! Eu posso te dar dinheiro, quanto você quer? – Àquela altura, o Orihara estava suando gelado. Precisava negociar ou o homem atiraria.

- Dinheiro? Dinheiro? Pra que raios eu vou querer dinheiro?! Olha só pra minha cara, eu não posso nem dar dois passos na rua que as pessoas tiram foto e me tratam como animal de circo!

O coala acenou com a cabeça em positivo, concordando com o chefe. – E além do mais, a gente gastou um tempão investigando esse cara!

Foi a vez de o flamingo concordar. – Isso! E a minha mãezinha teve um puta trabalho pra costurar essas fantasias, pra que ninguém nos reconhecesse enquanto trazíamos esse maldito pra cá!

Izaya estava ficando com ainda mais medo e sentia o canto de seus olhos queimando com lágrimas; os homens pareciam não querer ceder. – Olha, eu conheço um médico muito bom que pode deixar vocês novinhos em folha! Mas vocês têm que soltar ele primeiro. - , disse apontando Shizuo, tremendo um pouco.

O homem-jacaré parecia irado com Izaya. O olhar no rosto dele era feito de puro ódio, e piorou quando ele ouviu a sirene de alguns carros de polícia chegando perto. – Seu moleque! Agora eu vou ter que matar todo mundo! – Apontou a arma para o Orihara. – E vou começar por você.

Quando Shizuo ouviu o “clique” da arma sendo destravada, sentiu seu corpo todo queimar com adrenalina; não podia deixar que Izaya se machucasse por causa dele, nunca se perdoaria se isso acontecesse.

Com as últimas parcelas de energia que lhe restavam, o Heiwajima arrebentou as correntes que o seguravam e lançou-se até o homem-jacaré, dando-lhe um soco tão forte nas costas que o bandido foi lançado até a entrada do galpão, acertando um carro de polícia que havia acabado de chegar.

O loiro caiu no chão, exausto e com o corpo dolorido, e logo sentiu uma mão calorosa tocando seu ombro. – Shizu-chan! Agüenta firme! - , gritava Izaya em meio a soluços chorosos.

A situação de Shizuo era pior do que ele esperava – o homem estava com machucados pelo corpo inteiro e estar vivo era um milagre. Com certeza havia sido espancado várias vezes e mal conseguia abrir um dos olhos, que tinha um corte profundo que sangrava junto a outro corte que ficava em sua testa.

- Shizu-chan... Shizu-chan, fala comigo! - , exasperava. – Você não pode morrer agora! Ruruka-chan e Chocora-chan estão esperando a gente em casa!

O loiro deu um sorriso fraco. – Ah... Mas, se eu morrer... Vai ser o seu sonho se tornando realidade, não é? - , perguntou com uma voz quebradiça e quase inaudível. – Você deveria ficar feliz.

- Seu idiota, nunca mais diga isso! – Izaya abraçou o corpo gelado do loiro com toda a força que possuía. – Eu não permito que você morra, entendeu?! Eu não permito! - , gritava. – Eu te amo e não permito que você morra até eu dar um jeito nisso! Eu te amo! Ouviu? EU TE AMO!

Depois daquilo, Izaya não conseguiu falar mais nada; seu choro estava incontrolável e seus soluços impediam qualquer tentativa de fala. Sentiu um dos braços de Shizuo dando a volta em seu pequeno corpo, num semi-abraço. – Obrigado. - , disse o loiro antes de perder a consciência; seu braço escorregando até o chão.

Izaya sentiu seu corpo sendo afastado do de Shizuo; havia alguns paramédicos que estavam se aproximando e, olhando para cima, o Orihara pôde ver que Tom segurava seu braço.

Mordeu seu lábio inferior até que ele sangrasse, tentando segurar o choro. Shizuo estava sendo levado de maca até uma ambulância, e os bandidos já estavam num dos carros de polícia que então deram partida.

Izaya ouviu a sirene da ambulância sendo ligada e, a partir daquele momento, ele pôde apenas rezar pelo bem estar de Shizuo.

-

No hospital, estava sendo uma correria sem fim. Médicos correndo pra lá e pra cá, enfermeiras entrando toda hora no quarto de UTI onde Shizuo estava com pacotes de sangue e saindo de lá com as mãos vazias, prontas para pegar mais.

As coisas estavam indo de mal a pior dentro daquele quarto. Shizuo estava com inúmeras fraturas pelo corpo, ossos quebrados, cortes profundos e, alguns deles, em pontos vitais – causa principal de sua massiva perda de sangue.

Os médicos faziam todo o possível para estancar o sangramento – faziam pressão sobre alguns lugares enquanto davam ponto noutros, usavam soluções anestésicas para diminuir a dor que o loiro com certeza estava sentindo e tentavam colocar os ossos quebrados de volta no lugar.

Ainda naquele quarto de UTI, um dos médicos se preparava para operar o olho de Shizuo, que estava com um terrível corte que começava desde sua sobrancelha e descia até a bochecha pálida. Eles não podiam ficar movimentando o corpo machucado de Shizuo, então teriam que fazer o possível e o impossível com o que tinham.

Enquanto a mini-cirurgia era realizada, os médicos terminavam de dar pontos nos cortes profundos e começavam a limpar os demais machucados para que não inflamassem.

Mesmo após todos os procedimentos para fecharem os ferimentos e enfaixá-los com ataduras, havia o risco de Shizuo não agüentar. Ele havia perdido sangue demais e, mesmo com o transplante que haviam feito, ele estava muito debilitado.

Um dos médicos aproximou-se da sala de espera, onde estavam Izaya, Tom, Celty e Shinra, que havia chegado há poucos minutos. – Como ele está? - , perguntou o segundo, preocupado. O médico coçou as costas de sua cabeça, olhando algumas anotações em sua prancheta.

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- Nós conseguimos cuidar dos ferimentos, mas o estado dele ainda é instável. Não sabemos se ele vai sobreviver.

Izaya cerrou seus punhos com força; estava emputecido, mas, acima de tudo, preocupado. Estava sentado um pouco longe dos outros, mas ouviu as palavras do médico.

Saiu da cadeira onde estava e andou pelos corredores do hospital cabisbaixo, sem vida. Saiu do local e foi até o jardim, sentando-se em uma das muretas baixas; segurou suas pernas contra seu peito e descansou sua cabeça em seus joelhos.

Estava se sentindo tão mal que quase não conseguia respirar; choro já não era uma opção pois seus olhos ardiam tanto que seus canais lacrimais nem ousavam produzir mais lágrimas.

- Deus... O Senhor não gosta muito de mim, né? Eu sei que... Estou mais pra demônio que anjo, mas... Cuida do Shizu-chan. Por favor.

Aquela porção de fé dentro de Izaya ia se esvaindo com cada respiração. Shizuo talvez morresse naquele hospital, e não havia nada que Izaya podia fazer; torcia para que Deus gostasse dele o suficiente para atender àquele pedido, pois os médicos já haviam feito tudo o que era humanamente possível.

Fechou seus olhos; estava cansado. Queria sumir dali e não precisar lidar com nada daquilo, mas sabia que aquele sentimento de culpa o seguiria por onde fosse. Ele não tinha escapatória, este era um peso que ele teria que carregar.

Poucos minutos depois, Shinra apareceu em frente à Izaya e parecia um tanto nervoso. – Ah... Eu tenho uma notícia boa e uma notícia ruim. Qual você quer primeiro?

- A notícia boa.

- Shizuo não vai morrer.

Izaya suspirou aliviado, antes que uma onda de dúvida o alcançasse. – Mas, se ele não tem mais perigo de vida... Qual a notícia ruim?

- ...Ele está em coma.