Opostos

Vivendo com a saudade


- O que? Como assim aceitou? – pergunta Cecília ainda meio surpresa.

- Aceitou Cissa. Disse que seria o melhor pra gente agora.

- E você, não fez nada, não disse nada?

- Claro que eu falei, disse que não queria ir, mas não posso fazer nada. Ela é minha mãe e querendo ou não ainda dependo dela.

Cecília começa a chorar e isso acorda Fabiana, que se assusta ao ver a amiga daquele jeito.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

- Princesa, pelo amor de Deus, não chora. – dizia Murilo com a voz embargada do outro lado da linha.

- Não chora? Como não vou chorar Murilo? – dizia chorando ainda mais alto.

- Cissa, calma. O que aconteceu? – perguntava Fabiana ao abraçar a amiga.

Cecília não disse nada, apenas chorava. Largou o celular e correu para o banheiro, onde se trancou.

- Que barulho foi esse? Cissa? Pelo amor de Deus Cecília, fala comigo. – dizia Murilo do outro lado.

- Alô Murilo, é a Fabi. O que aconteceu?

- Cadê a Cecília Fabiana?

- Se trancou no banheiro. Será que pelo amor de Deus você pode me explicar o que está acontecendo?

Murilo diz a decisão tomada pela mãe. Fabiana nota que ele também aparenta estar chorando, mas não sabe o que dizer naquele momento.

- Por favor, Fabiana, cuida dela pra mim. Tenho medo que ela faça alguma besteira.

- Vou cuidar não se preocupa. Mas e você? Vai ficar bem?

- Não tem como eu ficar bem sabendo que ela está desse jeito. Mas tenho que me virar né? Preciso pensar em alguma coisa, mas juro Fabiana, não sei o que fazer.

Enquanto fala com Murilo, Fabiana pode ouvir os soluços da amiga vindo do banheiro.

- Murilo, tenho que desligar agora. A Cissa está mal e precisa de mim. Mas qualquer coisa me liga ok?

- Valeu Fabiana. Cuida dela por mim, por favor.

- Já estou fazendo isso. Se cuida você também.

Fabiana desliga o celular e vai até o banheiro, tentando convencer Cecília a abrir a porta. Após insistir um pouco, Cecília cede. Sai do banheiro com os olhos vermelhos e inchados de tanto chorar.

- Não quero que ele vá Fabi, não posso ficar sem ele, não posso. – diz abraçada a amiga que procura palavras para consola - lá.

A mãe de Cecília acorda e vai ver o que houve para a filha estar daquele jeito. Fabiana conta tudo, já que Cecília não para de chorar.

Nada que a mãe ou a amiga digam consegue tranqüilizar Cecília. Ela apenas consegue dormir quando perdeu as forças depois de tanto chorar.

Aquela foi uma semana complicada para ambos. No dia de partir Murilo foi se despedir de Cecília, mas ela não o atendeu. Achou que se o visse seria ainda pior. Aquilo doeu e muito em Murilo, mas no fundo ele achou que assim também fosse melhor.

Os dois estavam destruídos por dentro.

Cecília não se alimentava não saia do quarto. Aquela situação começou a preocupar sua mãe.

- Filha, pelo amor de Deus, você tem que comer alguma coisa, se não vai acabar desmaiando de fome.

- To sem fome mãe. E se eu desmaiar é melhor, ao menos paro de pensar nele.

- Cecília, pelo amor de Deus...

- Por favor, mãe, me deixa sozinha.

- Filha...

- Por favor, mãe.

Com Murilo não era diferente. Ele parecia ser muito mais forte que Cecília, mas era apenas uma casca vazia. Não sorria mais e mal falava com a mãe. Apenas ficava trancado em seu novo quarto ouvindo música no volume máximo e lembrando de Cecília, pensando em como ela estaria sem ele.

Enquanto pensava, viu que sua mãe entrou no quarto e falou algo com ele, mas devido ao som alto dos fones não prestou a menor atenção, apenas fechou os olhos e continuou a pensar.

Aquilo irritou sua mãe, que lhe puxou os fones em um só movimento.

- Chega Murilo, está na hora disso parar não acha?

- Isso o que? Eu parar de pensar na minha namorada, na garota que eu amo e que graças a você estou longe agora?

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

- Ah Murilo, me poupe! Você é novo, tem uma vida inteira pela frente, logo vai conhecer outra garota.

- Não quero conhecer outra garota, já tenho a minha garota. Minha Cecília.

- Sua Cecília que se quer se despediu de você.

- A culpa não foi dela. Ela fez aquilo pra se machucar menos, pra ver se doía menos.

- Logo vocês vão seguir com a vida, isso vai passar. Coisa de adolescente.

- Não vai passar. Meu pai passou pra você? Porque pra mim não passou. Aliás, se ele estivesse aqui isso não teria acontecido, não teria que ter largado minha namorada, meu emprego e meus amigos pra vir pra cá.

- Não Murilo, não complica mais as coisas pra mim, por favor.

- Complicar pra você mãe? O que complicou pra você? Cai na real, desde que meu pai morreu você só pensa em você, em mais ninguém.

- Você não sabe o que está falando. Desde que seu pai morreu, eu vivo pra você moleque.

- Vive mãe? Tem certeza? Você sabe pelas coisas que passei? Sabe que eu quase me droguei? Sabe que eu enchia a cara em baladas e catava a menina que passasse na minha frente? Sabe quantas noites eu chorei querendo meu pai comigo? Quantas noites eu queria desabafar com a senhora e dizer à falta que ele me fazia?

A mãe de Murilo apenas escutava as palavras cuspidas pelo filho e cada uma delas vinha como uma lâmina afiada sobre ela.

- Eu só voltei a me sentir vivo novamente depois que a Cecília apareceu na minha vida. Só depois que ela apareceu que eu pude rir de novo, ser eu mesmo sabe? Não, a senhora não sabe, aliás, acho que se quer sabe quem é você mesma mãe. Quando meu pai morreu a senhora morreu junto.

- Seu pai era tudo pra mim Murilo, seu pai era a minha vida. Você não entende.

- Entendo sim mãe e como entendo. Meu pai era sua vida e tiraram ele de você de uma maneira bem estúpida. Olha como é a vida mãe, olha como as coisas se repetem.

- Do que você está falando menino? – pergunta sua mãe confusa.

- Do que estou falando? Tem certeza que a senhora não sabe? Pois muito bem, eu explico. A Cecília é a minha vida mãe, do mesmo jeito que meu pai era pra você. É com ela que quero construir a minha família, família que me espelhei no meu pai pra fazer. E do mesmo jeito estúpido que tiraram meu pai da senhora, a senhora tirou a Cecília de mim mãe.

Murilo falava com uma raiva que até então sua mãe nunca tinha visto nele. Mas podia ver que ali não existia apenas raiva ou revolta de um adolescente. Naquelas palavras havia dor, mágoa.

- Faz um favor mãe? Sai. Quero ficar sozinho.

- Filho, eu...

- Sai mãe. Por favor... – disse sem olhar para ela que sai em seguida.

Murilo não consegue segurar as lágrimas. Anda de um lado pro outro do quarto. Está completamente fora de si. Passa as mãos pelo cabelo, rosto e não para de chorar. Ele não ficava daquele jeito desde a notícia da morte do pai.

Abre sua mochila e de lá tira uma foto de Cecília. Enquanto a olha, lembra da primeira vez que a viu. Foi na sala de aula. Lembra de quando começaram a conversar e das aulas que ela começou a dar pra ele. Das partidas de xadrez que ela sempre perdia, das apostas que fizeram e deram origem ao primeiro beijo deles.

Murilo chorava com as lembranças. Seu peito doía demais.

Por várias vezes chegou a pegar o telefone e discar o número dela, mas na hora faltava coragem pra completar a ligação. Sabia que isso a faria sofrer e ele mais ainda. Um ouvir a voz do outro, mas não poderem se ver se tocar, se beijar...

Tentou colocar uma música para se distrair. (“Dear God” – Avenged Sevenfold. http://www.youtube.com/watch?v=vcwiut5Th6U)

A cada refrão uma nova lágrima se formava.

Eles estavam mais conectados do que podiam imaginar.

Cecília ouvia a mesma música enquanto chorava em sua cama. Ao mesmo tempo em que queria esquecer Murilo, queria estar com tudo que a fizesse lembrar dele, entre essas coisas, as músicas que ele baixou para ela quando ela perdeu a aposta que fizeram.

As músicas traziam tantas lembranças a ela... Lembrou do show que foi com ele. Do acampamento de férias, até das brigas por motivos bobos. Da primeira vez deles, de como ele foi carinhoso e cuidadoso com ela.

Também por várias vezes pensou em ligar pra ele, nem que fosse apenas para ouvir sua voz e desligar em seguida, mas seu coração já doía demais só em pensar que ele não estaria no portão a esperando quando desligasse o celular.

Chorava enquanto acariciava uma foto dele.

- Volta pra mim bêbê. Por favor, volta pra mim.

Enquanto ela chorava trancada no quarto, seus amigos estavam na sala, conversando com sua mãe.

- Como ela está dona Lia? – pergunta Fabiana.

- Mal Fabi. Nem parece a minha Cissa. Não quer comer, sair e nem falar com ninguém. Nunca vi minha filha desse jeito.

- Se nós estamos sentindo falta do Murilo, quem dirá ela. – diz Luis.

- Queria tanto poder fazer alguma coisa pra ajudar meus amigos. Sei que mesmo longe os dois estão sofrendo da mesma maneira.

- A senhora não tem o endereço dele, nada? – pergunta Luis.

- Infelizmente não. Se eu tivesse acho que eu mesma teria ido atrás dele e o trazido de volta. Me parte o coração ver minha filha como está.

- Será que o telefone dele mudou? – pergunta Fabiana.

- Não sei dizer. Desde o dia que ele veio se despedir e a Cecília não o atendeu eles não se falaram. Pelo menos não que eu saiba.

- Posso falar com ela?

- Claro que pode Fabiana, mas acho que vai ser inútil. Ela não quer falar com ninguém.

- Quero tentar mesmo assim. – diz Fabiana indo até o quarto da amiga.

Ela bate na porta e fala com Cecília, mas a amiga apenas grita de lá que não quer ver ninguém. Ela ainda insiste mais algumas vezes, mas acaba indo embora.

- Vou pra casa dona Lia, mas, por favor, qualquer coisa me liga e eu venho correndo.

- Pode deixar Fabiana. Muito obrigada por tudo.

Fabiana e Luis estão indo embora e conversando no caminho sobre a situação dos amigos.

- To com uma raiva da mãe do Murilo! – diz Fabiana.

- E adianta Fabi? Ter raiva dela vai trazer o Murilo?

- Não, mas poxa, porque ela teve que aceitar essa transferência? Porque não ficou quieta onde estava? Olha como minha amiga está Luis.

- Eu sei Fabi. O Murilo também deve estar péssimo e ainda por cima sozinho, sem amigos. E se não bastasse, o natal está chegando.

- Duvido que um deles queira comemorar natal. – diz Fabiana triste.

Enquanto conversam e andam pela rua, encontram Mateus, que pára para falar com eles.

- Oi gente, tudo bem?

- Na verdade não Mateus. – diz Fabiana.

- Bem que percebi que a cara de vocês não é das melhores. O que aconteceu?

- A Cecília não está nada bem. Desde que o Murilo teve que se mudar com a mãe ela não come direito, não sai do quarto e não quer falar com ninguém. Não quis nem falar com a Fabi hoje. – diz Luis.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

- Nossa, ela está mal mesmo.

- Muito Mateus e o pior é que eu não posso fazer nada pra ajudar a minha amiga. Te juro que se eu pudesse ia atrás do Murilo e o trazia de volta.

- E onde ele está morando com a mãe afinal?

- Foram pra Santa Catarina, ela agora trabalha no hospital de lá. – diz Luis.

- Lembro que pouco antes de eu sair lá da papelaria pra ir pro meu serviço novo, ele disse que ia ter que se demitir. A cara dele não estava nada boa no dia.

- Foi por causa disso. A mãe dele aceitou mudar de cidade e ele não tinha onde ficar e como se manter sozinho.

Mateus parece pensativo enquanto ouvia a explicação de Fabiana.

- Espera. Então se ele tivesse onde ficar, pelo menos até poder se manter sozinho, não teria ido?

- Claro que não. Ele é louco pela Cecília, jamais teria ido embora se tivesse outro jeito pra contornar essa situação toda. – explica Fabiana.

- Certo – diz Mateus meio distante – Gente, preciso ir agora. A Patrícia está com desejo de comer cupuaçu e depois de procurar como um louco por aqui, finalmente achei. – diz mostrando uma sacola que carregava.

- Ta bom, vai lá. Manda um beijão pra ela. – diz Fabiana.

- Pode deixar, mando sim. – diz ao se despedir e seguir para a casa da noiva.

Segue o caminho pensativo. Coloca-se no lugar de Murilo. Ele já não se imaginava sem Patrícia e ficou mal só de pensar em ter que se separar dela. O tempo que passou longe dela, mesmo sem ter certeza ainda do que sentia foi ruim, quem dirá para Murilo, que não escondia de ninguém o amor que tinha por Cecília. Mateus também pensou nela. Não podia imaginar o estado em que ela estaria, trancada e chorando no quarto, sem querer ver ninguém.

Lembrou dos conselhos que recebeu de Murilo e da força que ele lhe deu pra conseguir um emprego quando ninguém o queria contratar. Também lembrou da alegria de Patrícia com o chá de bêbê que Cecília organizou. Eles os ajudaram e muito, mesmo depois de tudo o que Mateus havia aprontado com eles.

- Planeta terra chamando Mateus! – dizia Patrícia estalando os dedos na frente dele.

- Ah? Oi Paty, desculpa, estava viajando aqui.

- Percebi. Abri à porta pra você que entrou parecendo um zumbi. Está tudo bem?

- Está sim. Paty... Se você pudesse fazer alguma coisa pra ajudar alguém que te ajudou muito quando você precisou, um amigo. Você ajudaria?

- Com certeza. A gratidão é um dos sentimentos mais bonitos que existe, ao menos eu acho.

- Obrigado – diz dando um selinho em Patrícia – Era isso que precisava ouvir.