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- Eu também estava com saudades, chata. – Ele respondeu, me apertando mais forte. – Mas então? Qual é a novidade? – Ele me soltou e eu pude encarar seus olhos cor de mel.

- Vamos andar? – Pedi. Ele assentiu e começamos a caminhar pela calçada. - Andy. Você se lembra da minha mãe?

- Acho que sim. – Ele franziu a testa e estreitou os olhos. – Não é aquela que foi te buscar quando morávamos ali perto do Chinatown?

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- Ela mesma. – Respondi um pouco aflita.

- Mas o que tem uma coisa com a outra?

- Então... – Respirei fundo e o fitei. – Ela apareceu agora pouco no meu apartamento. – Eu concluí, fazendo-o arregalar os olhos.

- Como assim? Apareceu? Do nada?

- É... Eu não to sabendo de nada, meu pai não avisou que ela ia bater na porta de casa hoje. – Eu abaixei a cabeça e pensei no que ela tinha dito... – Apolo. - Chamei.

- Oi pequena

- Ela disse que seria minha nova professora de educação física. – Eu desabafei.

- Sua mãe? – Ele me olhou com um sorriso brincalhão nos lábios. – Tá falando sério mesmo?

Eu balancei a cabeça e chutei uma pedra do caminho.

- O que aconteceu com o professor anterior? – Ele perguntou.

“Eu o fiz pedir demissão” Eu pensei em dizer, mas... Não queria perdê-lo. Em vez disso, limitei-me a balançar a cabeça negativamente.

- Não sei. – Menti. -Sabe Andy, eu mudei muito desde o tempo em que nós éramos vizinhos.

- Para melhor? – Ele sorriu. Fazendo-me ficar desconfortável.

- Acho que não... Eu... Ah, sei lá. Virei uma menina qualquer.

- Não diz isso não. – Ele me olhou solidariamente. – Você sempre vai ser especial.

- Só você pensa isso. – Respondi.

- Duvido. – Então ele parou e me olhou.

- Que foi? – Eu sentia minhas bochechas começarem a ficar vermelhas.

- Você não mudou nada. – Ele sorriu e passou um braço pelo meu ombro. – Ainda é a menininha mais chata do mundo.

Revirei os olhos e sorri, enlaçando sua cintura com meu braço.

- E você continua o Apolo irritante de sempre.

- Por que você ainda insiste em me chamar de Apolo? – Ele perguntou, olhando para mim.

- Porque sempre que eu te vejo, lembro da peça de teatro que você fez. – Eu contei, fazendo-o corar.

- Nossa. Você ainda lembra daquilo? – Pude perceber suas bochechas ficando vermelhas.

- Eu vou te lembrar daquilo até você morrer, aí então eu entalho na sua lápide: “Aqui jaz Andrew. O Apolo contemporâneo! P.S: Eu me lembro de você usando uma túnica grega!”

- Você é muito malvada, sabia? – Ele disse em uma tentativa fracassada de simular um choro. – Jenny. Que tal a gente voltar agora? Minha mãe já deve ter achado algum defeito no apartamento.

- Ah, não! – Fiz biquinho. – Eu não quero voltar pra casa. Aquela vagabunda vai estar lá, sentada no meu sofá e rindo com o meu pai. – Eu fechei a cara instantaneamente.

- É só você ignorar. Se tranca no quarto e coloca a música bem alta. – Ele deu de ombros. – Isso costuma funcionar comigo.

Suspirei.

- Porque ela tinha que aparecer justo agora? – Perguntei frustrada.

- Porque ela viu que você ficou linda e inteligente. Agora ela quer se gabar sobre ter uma filha maravilhosa.

Aquilo fez meu estômago revirar. Maravilhosa? Inteligente? Eu?

- Vamos. Vamos voltar. – Ele me puxou e demos meia volta. Ele me fazia caminhar até o lugar que eu menos queria estar.

*

- Jenny? – Eu ouvi a voz do meu pai assim que abri a porta. – Aonde você foi?

- Reencontrar um velho amigo. – Respondi enquanto fechava a porta. Ele estava sozinho. – Ela foi embora? – Minha voz tinha uma pontinha de esperança.

- Não. – E a mesma pontinha de esperança foi dilacerada à zero. – Foi ao banheiro.

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Arregalei os olhos na mesma hora:

- O QUE? Como você deixou? Ela vai mexer nas minhas coisas! – Admito que surtei um pouco. Mas o que eu podia fazer? Ter uma pessoa que você definitivamente não gosta na sua casa, a ponto de mexer nas suas coisas, não é legal!

- Jennifer! Ela não é uma estranha! – Meu pai disse, provavelmente espantado pelo meu tom de voz.

- Mas é claro que é! – Retruquei.

- Ela é sua mãe! – E de novo, ele voltou com isso.

- Já te falei pai! Será que você nunca vai entender? Eu não a vejo assim! Ela não significa nada para mim! NADA! – Eu gritava com ele, pouco me importando se a mulher estaria ouvindo. – Aliás, eu nem sei o porquê de ela estar aqui! Qual o motivo disso tudo?

- Eu só queria que você tivesse uma família normal. Pai e mãe, juntos. Queria te fazer feliz. – Meu pai agora tinha abaixado muito o tom de voz.

- Quer me fazer feliz, pai? – Eu perguntei, ainda falando alto. – Então tire aquela vagabunda daqui! – Me virei e dei de cara com a mulher. Não queria ver o rosto dela, muito menos saber o que achava das minhas palavras.
Passei direto, esbarrando contra o ombro nela.

Tranquei-me no quarto e fiz o que Andrew tinha me recomendado. Coloquei minha música preferida no último volume e deitei na cama.

- E o pior, é que essa merda toda está só começando. – Falei, jogando meu travesseiro longe.

Fechei meus olhos com força e me segurei para não quebrar alguma coisa. Minha vontade era de formar um terremoto e deixar o prédio cair, salvar meu pai e deixar a mulher aqui. Caindo com a construção.

Estava vendo as possibilidades de conseguir jogá-la da janela, quando meu celular começou a tocar.

- Alô? – Eu disse, praticamente gritando por causa da música. A outra pessoa falou alguma coisa, mas não consegui entender direito o quê. Fui até o rádio e abaixei o som. – Alô? – Repeti.

- Alô? – Uma voz feminina ecoou do outro lado da linha.

- Piper?

- Jenny! Preciso te contar! – Ela se agitou, quando ouviu minha voz. – Você estava certa!

- Que? – Perguntei, não estava entendo nada do que ela estava falando. – Eu estava certa? Sobre o que?

- Sobre o novo professor. – Ela esclareceu. - Aquele lá não é o professor de Educação Física. É o nosso novo professor de português.

- Espera um momento... De português? – E perguntei. – O que houve com a senhora Lee?

- Ela se aposentou. – Piper começou a rir. – Ah, fala sério, Jenny! Aquela lá não aguentava nem a si mesma! Quanto mais uma sala com quase 40 alunos!

- Piper, como você é má! – Eu sorri.

- Ah. Você me ama. – Ela respondeu.

- Hey. Também preciso te falar uma coisa. – Eu disse.

- O que?

- Eu sei quem é... – Hesitei um pouco. – Quem é que vai nos dar Educação Física.

- A é? – Piper se animou. – Quem?

- Marg... – Suspirei. – Minha mãe.