Capítulo 5 :

No corredor principal do andar de cima, haviam seis portas dispostas frente a frente, sendo três de cada lado e, entre elas, um sem número de quinquilharias empoeiradas, presas às paredes descascadas. O cheiro forte de mofo fazia os olhos arderem e pinicava a garganta. Sem falar na falta de luz. Isso realmente era desagradável. Como se não bastassem o armamento e as mochilas, teriam que se preocupar com as lanternas também, visto que, apesar da lua cheia, a luz que entrava pelas vidraças não era suficiente para clarear adequadamente o ambiente.

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Mary verificou uma planta que retirou da mochila e apontou o cômodo certo.

Sam girou a maçaneta, mas a porta estava trancada. Provavelmente, desde o dia fatídico da traição.

Dean adiantou-se e, quando estava prestes a golpear a madeira com o ombro, foi impedido pelo irmão.

_O que você pensa que está fazendo? – Samuel apertou os olhos num tom ameaçador, mais que questionador.

_Tentando botar a porta a baixo, o que mais?

_ Vê se se enxerga, meu irmão. Está querendo partir o ombro? Você faz idéia do que seja, um monte de pinos enfiados nos seus ossos, nessa idade, faz?

_ Rapazes, rapazes... Será que permitiriam a uma novata, totalmente inexperiente e desprotegida aspirante à caçadora tentar uma coisinha aqui, hein?

_ O que você vai fazer, filha?

_ Oh, nada tão drástico ou...- a jovem forçou a madeira para cima e girou a maçaneta outra vez _ violento, mas...- os três ouviram o clique da fechadura cedendo _ Bastante eficiente.

Os irmãos observavam, de braços cruzados, a jovem caçadora demonstrar, efetivamente, que era muito bem capaz de cuidar de si e de situações um tanto complicadas. E foi com um constrangimento sem igual que perceberam o brilho no olhar da garota ao destrancar da porta.

_ Senhores, por favor... – Mary indicou a passagem para seus parentes.

_ Nossa, esse lugar fede!

_E fede mais que o resto da casa, Dean!

_ E estaria assim tão fedorento por terem deixado algo, digamos... apodrecer em algum lugar? Pai...

_ Fique quieta aí mesmo, Mary. Dean?

_ Já vi, Sammy. Está com você?

_Sim. Vou passá-la com cuidado, muito cuidado...

_ Certo, irmãozinho. Não queremos chamar a atenção, não é mesmo?

Sam retirou a espingarda de cano serrado da mochila, cuidadosamente e passou-a ao irmão. Retirou também o frasco com o líquido combustível e, cautelosamente, desenhou um círculo de fogo ao redor da imagem que se formara diante deles, no meio do quarto. Dean retirou o isqueiro do bolso e ateou fogo ao círculo no chão, prendendo o espírito do capitão, que esbravejava incansavelmente e se contorcia de ódio.

_ Rapazes, essa, pra mim é nova. Um espírito aprisionado num círculo de fogo? – Mary estava curiosa e um tantinho assustada com a ferocidade da assombração à sua frente.

_ Pois é, minha filha, o fogo, em centenas de religiões é sinônimo de limpeza e purificação...

_ E como o nosso amiguinho desencarnado ali não teve lá um passado muito limpo, arriscamos.- o outro concluiu.

_ E agora? – Mary estava curiosa.

_Agora, faremos um ritual com sândalo e outras coisinhas pra mandar o nosso amigo aqui e o resto do povo pro lugar deles.

.

_ Oh, que espertos...- a moça beijou a face dos dois homens, eufórica _ Vamos nessa, então.

_ Pronto, Sam?

Samuel Winchester já sabia de cor e salteado todas as palavras em latim do ritual de purificação. Iniciou a “limpeza” da casa. Durante a sessão, as coisas ficaram meio complicadas porque os espíritos das pessoas assassinadas pelo capitão, que também estavam presos àquela casa, começaram a se manifestar, arremessando todo tipo de coisas sobre os Winchester. Dean e Mary protegiam-se da ventania, das descargas elétricas e de tudo que lhes voava em cima da melhor maneira que podiam, além de protegerem a Sam, para que este pudesse concluir o trabalho.

Depois de alguns minutos de confusão, os espíritos se acalmaram e se esvaíram em nuvens de poeira, assim como o nervoso capitão. Silêncio.

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Os três Winchester permaneceram na casa por mais algum tempo, verificando se tudo estava em ordem.

_ Acho que não temos mais nada a fazer aqui, pessoal – Dean sentenciou.

_Concordo plenamente, tio. – a moça ajeitava o cabelo que havia ficado despenteado com a ventania.

_ Vamos logo para casa, antes que sua mãe dê pela nossa falta. – Sam puxou a filha pela mão _ Ela morreria de susto se soubesse o que aconteceu aqui – foi descendo as escadas.

_ Não seja tão dramático, papai. – a jovem sorriu e piscou para o tio que a seguia.

_ Ah, minha querida, isso é praticamente impossível. – Dean sacudiu a cabeça, descendo a escadaria _ Sam Winchester e o drama são unha e carne.

_ Não exagera, Dean. – Sam continuou arrastando os outros dois em direção à porta da frente.

_ Eu estou exagerando? Há! Você precisava ver, Mary, quando éramos mais jovens, aquele olhar de cachorro sem dono que seu pai usava pra dar mais dramaticidade ao trabalho...impagável!

_ Cala a boca, Dean...

Mary se divertia com a discussão entre seu pai e o tio. Sempre que eles começavam com aquela implicância gratuita, era diversão, na certa.

Quando a família estava a alguns passos da porta, uma rajada de vento passou por eles. Os dois homens trocaram olhares sugestivos e ficaram imóveis quando a grande porta de madeira bateu sozinha, com violência.

_ Está sentindo, Sammy?

_Ozônio.- Dean farejou o ar _ Parece que ainda não terminamos por aqui, mano.

_ Certo...- Mary estava com o EMF apitando nas mãos _ Achoque sobrou alguém.

_ Fiquem atentos – Samuel recomendou, engatilhando a espingarda de balotes de sal.

Um silêncio sepulcral preencheu o espaço do casarão. Uma névoa espessa desceu pela escadaria, tornando o ar rarefeito e dificultando a respiração. Os Winchester sabiam perfeitamente que aquela era a calmaria antes da tempestade.

_Sam, o que nós estamos esquecendo?

_Sei lá. Nada, eu acho.

_ Você fez o ritual direito, não é?- o mais velho questionou, franzindo o cenho _ Quero dizer, disse as palavras certas, não disse?

_É claro que sim, Dean! Já repeti aquilo tantas vezes que sou capaz de recitar de trás pra frente.

_Então, por que diabos ainda tem um espírito nessa casa, posso saber?

_ Talvez, porque o espírito que está aqui, não esteja preso ao capitão...- Mary procurava algo na mochila _ Talvez porque o espírito esteja preso à outra coisa...- a jovem caçadora apanhou o acelerador de combustível e um caixa de fósforos e saiu correndo escada acima _ Esperem só um instante.

Quando Mary desapareceu no alto da escadaria, a casa inteira começou a tremer e os soluços de uma mulher eram ouvidos, cada vez mais intensamente. A impressão era de que a própria casa chorava e sofria. Não era muito fácil manter-se de pé com toda aquela turbulência.

No andar de cima, apoiando-se como podia, Mary chegou ao quarto do casal. Atravessou o cômodo aos trancos e barrancos até que alcançou a cama. Derrubou sobre o colchão todo o conteúdo da lata e ateou fogo.

Lá embaixo, no hall, Sam e Dean observavam a imagem da senhora Wenright, em seu vestido preto, com um olhar triste e distante, amargurado, queimar por inteiro.

-o-o-o-o-o-o-

Sábado – 2 :00 pm

_ Grande festa, Sarah - Dean beijou o rosto da cunhada

_ Obrigada, querido. Volte sempre.

_ Ah, ele voltará...-Sam abraçou o irmão _ Basta você oferecer comida grátis.

_ Dêem um beijo nas meninas por mim - Johnny abraçou e beijou os tios e, em seguida, depositou a bagagem no banco traseiro.

_ Obrigada, por tudo, Dean. – Sarah atirou um beijo para os dois homens à bordo do velho Impala.

_Tudo bem – Dean acenou de volta _ E, Sammy, vê se dá um tempo pra Mary. Vocês precisam se entender, cara.

_ Está certo, mano - Sam sorriu _ Não se preocupe. Ela prometeu que não vai mais caçar...sozinha.

_ Ótimo. Se precisar de ajuda, é só chamar – piscou para o irmão caçula _ pronto pra ir, garoto? – Voltou-se ao filho.

_ Sim, senhor!

O ronco do motor encheu a rua. O som do rock clássico era ouvido do lado de fora. O Chevy preto desapareceu na curva.

FIM

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.