Os quatro desceram as escadas para o primeiro andar, em silêncio. De lá, entraram na segunda porta à direita. Não deram direto em uma sala, mas sim em um novo corredor, com muitas portas ao longo. Ele descia com uma escadinha, estando assim, quase no subsolo. Abriram a quinta, à esquerda.

Pôde-se ver uma sala mediana, de tamanho semelhante a uma sala de estar comum. Nela havia em um canto algumas poltronas verdes de tecido aveludado, em um círculo, com uma grande mesa de centro no meio de madeira maciça. Um tapete estilo persa, em tons de cinza, bege e branco, forrava esse espaço circular.

Na parede tinham algumas prateleiras, cheias de livros variados. Cadeiras avulsas de espaldar alto estavam encostadas à parede do fundo, onde, em cima, havia uma janelinha larga perto do teto. Do lado de fora, esta ficava muito próxima do chão.

O visconde entrou na frente e indicou as poltronas, fechando a porta logo depois dos outros rapazes passarem. Antes de se sentar, fechou bem a janelinha, de modo a não deixar um único som escapar.

Akita e Hayato se aproximaram receosos das poltronas, mas se acomodaram do mesmo jeito, um do lado do outro. Takeshi sentou-se confortavelmente duas poltronas depois, afundando a cabeça no braço.

— Então, vamos começar falando de mim? — propôs Theo, sentando-se próximo ao sobrinho.

Um resmungo ininteligível por parte de Takeshi o incentivou a continuar:

— Então, como apenas Hideki não me conhece, creio que vá que ajudar na explicação, Raiden.

Hayato assentiu.

— Muito bem — disse Theo, pensando sobre como começar. — Sabe, esse lugar, assim como todos os outros, esconde muitas coisas. E os nobres não são exceção.

Takeshi ouvia tudo em silêncio, já ciente da situação. Akita gravava cada sílaba na mente, de modo que poderia repetir as frases com exatidão mais tarde.

— Muitas pessoas andam na sombra da sociedade, no submundo — prosseguiu o visconde. — Por exemplo, assim como Hayato, também sou um mercenário. E essa é a função da família Khan. As outras famílias nobres têm outros trabalhos, embora os baronetes e barões sejam geralmente de suporte.

O visconde parou uns momentos, imaginando que palavras usaria a seguir. Mas Hayato tomou sua vez.

— Lembra que eu lhe disse que o conhecia melhor do que conheço os outros nobres? — lembrou o albino. — É apenas porque estamos no mesmo ramo. Por exemplo, a família de condes e condessas Tsugumi. É bem antiga, e se especializa em assassinato, seja ele qual for. Mas, apesar disso, não conheço ninguém de lá.

Akita apenas assentiu, indicando que entendera.

— Ah, sim! Acabei de me lembrar! — disse Hayato de repente. — Mais cedo recebemos um convite de festa de um marquês chamado Mountbatten.

Ele tirou do bolso interno o envelope branco de antes, estendendo-o ao visconde. Theo não apanhou imediatamente. Foi apenas uns segundos depois, de modo hesitante, que segurou o papel.

— Mountbatten, você disse? — perguntou o visconde.

— Sim, o conhece? — falou Hayato.

— Eles vendem pessoas para o mercado negro. Quase ninguém sabe disso, descobri a muito custo. — Theo levantou o olhar do envelope para os rapazes. — E eles lucram principalmente com jovens garotos, sadios e bonitos. Não desconfiam o motivo de terem lhes entregado o convite?

Akita virou a cabeça para o lado, sem querer dando a entender claramente que ele não entendia. Mas Hayato, assim como 99,9% das pessoas, entendeu o que o visconde quis dizer, estreitando os olhos.

— Algum motivo em especial para essa inimizade exagerada? — perguntou o albino, observando Theo abrir o envelope e parar no meio dessa ação. — Acha que não notei o desprezo com que os descreveu?

O visconde virou os olhos para Takeshi, que no momento estava dormindo profundamente. Francamente, dormindo parecia até mesmo indefeso — o que com certeza não era quando acordado.

— Quando ele tinha sete anos, tentaram raptá-lo, no meio de uma festa de aniversário — contou Theo. — Na verdade conseguiram sequestrá-lo, encontrei-o semanas depois em uma casa ao leste de Immolare, completamente desmemoriado. Até mesmo agora existem falhas grandes em sua memória.

O olhar de Akita demorou-se em Takeshi por uns momentos, pensativo.

— Nós vamos para a tal festa, ou baile, não é, Hayato? — disse ele.

Hayato não conseguiu deixar de se surpreender.

— Você quer ir? — perguntou, certo de que ouvira errado.

— Fiquei intrigado com essa coisa toda — falou Akita, mirando o tapete. — Quero saber aonde isso vai nos levar. Quando é?

— Dia 28 — respondeu Theo, verificando no convite. — Vão querer o meu auxílio?

O visconde não soube de imediato. Hayato puxou de volta o convite e ele e Akita juntaram as cabeças para lê-lo. Estava tudo escrito: a data, a hora, o local, a vestimenta a ser usada...

O albino pensou por uns instantes, então disse:

— Se o Akita concordar com o meu plano, lhe pediremos um favor...