Corpus Inversion

Sumiço - Capítulo Quatro.


Sirius Black

– Black, pelo amor de Merlin, o que pensa que está fazendo? – McKinnon perguntou enquanto me observava caminhar de um lado ao outro da sala sentindo como se meus nervos fossem cordas de um piano, esticadas quase até a ruptura.

– Andando? – murmurei de forma jocosa sem nem voltar meus olhos para ela.

Sentia-me tão nervoso. Que merda toda era aquela, pelo amor de Merlin? As emoções pareciam estar à flor da pele e parecia que eu estava prestes a explodir a qualquer minuto.

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McKinnon bufou, finalmente chamando minha atenção para ela.

– Sério? – seu tom de voz era sarcástico enquanto rolava os olhos – Porque para mim parece que você está trotando – comentou então, fazendo-me estacar.

– O que quis dizer com isto? – indaguei sem muita paciência para seus comentários.

– Quero dizer que agora você é uma mulher – McKinnon falou e eu me preparei para responder, mas então ela continuou interrompendo-me. – Não negue – estreitei os olhos. – E, sendo assim, você precisa se comportar como uma mulher. Não pode sair andando como se tivesse uma vassoura no meio do...

– Já entendi McKinnon – concordei enquanto sentia meu rosto esquentar absurdamente.

Foi então que algo surgiu em minha mente e virei-me um pouco furioso demais na direção de Evans que estava olhando para o nada de forma pensativa.

– Evans – chamei-a. Lily ergueu os olhos para mim e arqueou uma sobrancelha.

Meu Merlin eu sou muito lindo, modéstia à parte, pensei.

– Que é? – ela (eu) perguntou, encarando-me com os olhos desfocados, como se não estivesse mesmo ali.

– Você também precisa começar a agir como um homem! – falei um pouco alto demais e então ela arqueou uma sobrancelha, finalmente prestando atenção. – Não quero que as pessoas comecem a pensar que eu sou gay! – ralhei, encarando-a com um olhar ameaçador.

– Você sabe que agora entendo o porquê de vocês terem medo de mim – Evans comentou em meio a um suspiro, passando as mãos pelos (meus) cabelos e encolhendo os ombros. – É quase como se pudesse matar apenas com o olhar.

Sorri em escarnio.

– Deixe de fugir do assunto – resmunguei rispidamente.

– Tudo bem Black vou agir feito o idiota que você é – ela disse e eu revirei os olhos, sem nem me dar o trabalho de responder. – Mas só se você não ficar sujando a minha imagem – adicionou e eu sorri em consentimento.

– Eu faço as coisas bem feitas Evans – falei e então estiquei minha mão em sua direção para selar nosso acordo.

O problema era que jamais passara por minha mente o quão difícil seria ter de me passar por uma mulher.

Lily Evans

– Argh – reclamei comigo mesma enquanto caminhava rapidamente para a Sala Comunal da Grifinória sentindo-me completamente confusa.

O que eu iria fazer? Como é que, pelas calças de Merlin, eu iria ser homem? Como é que os homens agiam, afinal de contas? ISSO para não falar nos malditos “Marotos”.

Como é que eu iria lidar com eles?

Cheguei em frente ao quadro da Mulher Gorda, os pensamentos fervilhando em minha mente enquanto tudo o que queria que aquilo fosse um pesadelo e que eu acordasse em poucos segundos.

Claro que isso não aconteceu.

– Ósculo – falei naquela maldita voz masculina. Lene e Sirius tinham ficado para atrás para “despistar”, pois, afinal de contas, Sirius Black não andava com Marlene McKinnon e Lily Evans

Mais uma coisa que tinha sobrado para que eu concertasse. Teria de arranjar uma boa desculpa para o que tinha acontecido mais cedo na sala comunal.

Grande merda.

Precisava encontrar meu livro de inversões – u-r-g-e-n-t-e-m-e-n-t-e! – que, se Merlin fosse bonzinho, ainda estaria em algum lugar na Sala Comunal.

–-X—

A primeira coisa que entendi com tudo aquilo? Merlin era um cara mau. Um cara mau para caramba!

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Porque depois de mais de meia hora vasculhando todos os cantos da maldita sala comunal, não conseguira achar nenhum maldito resquício daquela porcaria de livro.

O único ponto positivo era que tudo ainda estava vazio, afinal ainda era muito cedo. Os garotos deveriam ter voltado a dormir, pois nenhum deles estava por ali. O que eu agradeci a Merlin internamente. Não que isso mudasse meu conceito sobre Merlin ser o filho do cara lá de baixo. O livro não podia ter criado pernas e saído andando.

Alguém deveria tê-lo pegado.

– Mas quem? – resmunguei para mim mesma enquanto lançava meu último olhar de desistência pela sala.

– Sirius? – ouvi a voz de alguém chamar, mas não dei importância. Continuei tentando imaginar quem seria o ser abençoado que tivera a audácia de roubar o meu livro. – Sirius? – e então alguém tocou em meu ombro, fazendo-me pular e soltar um grito de histeria.

Ao virar para saber quem fora que me assustara deparei-me com James Potter encarando-me como se um chifre de unicórnio tivesse brotado em minha testa.

Então eu lembrei que ele não estava falando comigo. Ele estava falando com Sirius. E naquele momento, eu era Sirius.

M-a-r-a-v-i-l-h-a!

– O-oi – forcei minha voz a parecer natural enquanto sorria para o garoto. Preciso confessar que foi algo bastante difícil levando em conta o fato de que na maior parte do tempo eu adoraria quebrar o pescoço dele.

Porque Black? Porque tinha de ser o maldito do melhor amigo do Potter?

– Nossa cara essa sua reação foi realmente... – Potter começou a falar e arqueou uma sobrancelha. – E depois dizem que o veado sou eu – bufou.

Arqueei uma sobrancelha tentando parecer o mais ‘macho’ possível.

Homens não soltam gritinhos Lily, eles viram e dão um soco na cara de quem os assustou, disse a mim mesma enquanto formulava uma resposta para o Potter.

– Cale a boca – foi a coisa mais inteligente que consegui dizer.

Ele riu. Babaca.

– Então, vai me contar o que foi que aconteceu aqui esta manhã? – o garoto perguntou sentando-se em uma poltrona enquanto encarava-me de forma indagativa.

Aquela, com toda a certeza, era uma das cenas mais... Inusitadas de toda minha vida. Depois de ser um homem, é claro.

Mas conversar amigavelmente com o energúmeno do Potter não era uma coisa que eu recomendaria logo pela manhã. O cara conseguia me irritar pelo simples fato de estar respirando.

Isso deveria ser algum tipo de recorde!

Seja homem Lily! Deixe de frescuras!

Respirei fundo e sentei-me na poltrona à sua frente tentando parecer macho ao sentar. Como é que se sentava parecendo macho, afinal?

Não fazia ideia, mas esperava que fosse do jeito que eu estava fazendo.

Encarei Potter.

– Hum – comecei tentando pensar em uma boa desculpa. – Eu tive um sonho... Ruim – falei então, tentando não parecer gay demais. A expressão de Potter indicava que eu não estava tendo sucesso. – Ele envolvia algo como eu me transformar em uma mulher – meu tom era jocoso. – A culpa era mi... da Evans no sonho, então eu quis ir atrás dela. Quando desci as escadas ainda meio sonambulo adivinha com quem eu encontrei? – comecei a me deixar levar pelas ideias malucas que apareciam em minha mente, agradecendo à Merlin por tudo aquilo que havia acontecido comigo ser tão absurdo que eu poderia fingir ser um pesadelo. – Sim, a Evans! Ela e a sua mania de acordar cedo acabou tropeçando em cima de mim – dei de ombros. – E então foi todo o escândalo que vocês presenciaram – concluí no que eu pensei ser uma desculpa bastante plausível.

Potter voltou a me encarar como se eu tivesse um chifre, mas parecia ter engolido a história.

– Tá, mas isso não explica que história foi aquela com a McKinnon. Você disse um monte de coisas sem sentido algum (pelo menos não para mim, já que McKinnon pareceu entender)... Do que estava falando, afinal?

Minha garganta secou. O que eu iria fizer?

– Acredito que isso não seja da sua conta, Potter – precisei me controlar muito para não gritar novamente quando a voz de Lene soou atrás de mim.

– Acredito que escutar conversa dos outros é muito feio McKinnon – Potter respondeu a ela no mesmo tom, uma de suas sobrancelhas arqueadas.

– Vá se ferrar – Lene respondeu em sua postura habitual de mau humor matinal.

Percebi a expressão de diversão na minha cara, ou melhor, na de Sirius, enquanto observava a cena um pouco atrás da Lene.

– Só se a Lily for junto – Potter piscou para a Lily/Sirius e eu senti náuseas.

– Cala a boca – eu falei sem pensar fazendo com que todos voltassem sua atenção para mim. Merda.

– Como é que é? – Potter perguntou me encarando ainda mais estranho.

– Eu... – olhei para Lene em busca de saída, mas ela simplesmente deu de ombros. Grande amiga! – Vocês estão me dando dores de cabeça – falei e ouvi Lily/Sirius bufar.

– Cara, você está muito gay hoje – Potter resmungou e o olhar assassino de Sirius (que no caso era o meu, mas então não era mais) piscou em minha direção.

– Então eu estou parecido com você, James – eu disse e me senti completamente estranha ao pronunciar o primeiro nome do Potter.

Vi a risada das duas garotas (ou uma garota e meia) e Potter bufou.

– Vá à merda – ele resmungou em meio a um bufo, levantando-se e dando as costas para nós, murmurando qualquer coisa sobre ‘depois conversamos’.

– Ele é sempre um amor assim? – perguntei ironicamente a Sirius assim que Potter sumiu pelas escadas dos dormitórios.

– É pior – Sirius sorriu marotamente e eu estranhei completamente a expressão vinda de meu rosto (que no momento era o rosto de Sirius... Argh! Que complicação!).

– Que maravilha Black, maravilha! – resmunguei e olhei mais uma vez para a sala, lembrando-me de meu fracasso. – Temos um problema – falei.

– Você quis dizer ‘temos MAIS um problema’, certo? – Sirius revirou os olhos.

– Eu não encontrei o livro – disse aos dois fazendo-os me encararem de forma completamente incrédula.

– O quê?! – ambos perguntaram com o mesmo tom de voz completamente chocado.

– Vasculhei toda a sala, não achei nada – disse. – Alguém pegou, é a única explicação.

– Grande merda Evans, grande, grande merda – Sirius resmungou e se atirou na poltrona em que Potter estava sentado alguns minutos atrás.

A sorte, definitivamente, não estava em nosso favor.