Corpus Inversion

Dois lados - Capítulo Vinte e Quatro.


Sirius Black

No que, com toda certeza do universo deveria ser o sonho mais absurdamente insano e totalmente idiota que já existira, eu, por conta de um feitiço executado totalmente sem querer, tinha trocado de corpo com a Evans. Como decorrência deste fato, além de, é claro, me tornar uma mulher – P-O-R-M-E-R-L-I-N –, acabei metido em mais confusões do que jamais poderia imaginar – e, pensando bem, isto era realmente muita coisa, afinal de contas eu era um Maroto! Lá (e por lá me referia ao sonho perturbadoramente ridículo – por que TINHA de ser um sonho), além de Lily e eu termos começado a brigar e fazer apostas idiotas para ver quem acabava com a reputação do outro primeiro também tinha o fato de que – e, por Merlin, que tipo de sonhos eram aqueles? –, tinha saído com James para um encontro – quem, diabos, iria a um encontro com o melhor amigo? -, também tinha sido beijado por ele.

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Que diabos? Quero dizer, que merda de sonhos eram aqueles? E por que, por Merlin, pareciam tão assustadoramente reais?

A sensação de não possuir nada no meio das pernas era quase tangível e eu tinha certeza de que aquele, com certeza, fora o sonho mais terrível que já tivera. Ah, Merlin, meu siriustick não! Mas, o que era ainda pior – se é que poderiam existir coisas piores do que não possuir um siriustick, obviamente – era a sensação, terrível sensação, da lembrança dos – ai, Merlin, não acredito que realmente pensei nisso – lábios de James sobre os meus, que parecia ter sido tão perturbadora-terrível-tenebrosa-insuportável-nojenta e real. Real demais para apenas um sonho.

Não que eu sonhasse com os beijos do James de forma recorrente, obviamente. Aliás, ECA! Mas não me lembrava de ter sonhado com tanta riqueza de detalhes como aquilo antes. Quero dizer, quem, diabos, sonhava em beijar o melhor amigo em high-definition? Eu não!

Mas, aparentemente, era exatamente o que tinha feito. Ou, e eu realmente não estava muito feliz em pensar naquela possibilidade, tinha sido realmente verdade.

Uma vontade incontrolável de rir me atingiu. Por Merlin, só podia estar delirando, por favor.

Mas, independente de ser um sonho (pesadelo), ou não, – e COM CERTEZA deveria ser, por que, meu Merlin... – me lembraria de nunca, jamais, se em algum momento de minha maravilhosa existência trocasse de corpo com a Evans, iria chamar James para sair.

Isso para não falar no horror que deveria ser ter de dormir no mesmo quarto que várias garotas – dentre elas, McKinnon – e não poder fazer absolutamente nada.

E menstruar.

Ah, diabos, tinha de ser um pesadelo!

Ignorei o horror daquilo para focar em outra coisa: McKinnon. Ao pensar nela outra lembrança preencheu minha mente, forte e também terrivelmente real: Lily e eu trocando um beijo para tentar desfazer o tal do feitiço de inversão e James nos encontrando no exato momento em que o fazíamos.

Merlin, imagine o que seria de mim se uma coisa daquelas realmente acontecesse? Por que não poderia... Não.

– O que está acontecendo? – a inconfundível voz de James soou em meus ouvidos, um pouco longe. Forcei meus olhos a abrirem e franzi o cenho ao perceber que estava na Ala Hospitalar.

– Ah, ele acordou – Madame Pomfrey, saindo-se sabe lá de onde, aproximou-se com um copo com um líquido âmbar nas mãos. – Tome aqui, deve ajudar com a dor de cabeça – ela disse.

Ao ouvir aquilo senti um fisgão particularmente forte em minha cabeça, fazendo-me gemer de dor: aparentemente a dor de cabeça que não tinha me dado conta que estava sentindo até então.

Peguei o copo que ela me oferecia e tomei um bom gole, sentando-me na cama, ainda sem entender, enquanto observava o local.

Albus Dumbledore estava ali, sentado na cama em frente à minha, encarando-me de forma divertida. Professora McGonagall estava ao seu lado – o que gerou um alarme em minha mente, sabe-se Merlin por que – e, mais perto da porta, James, Remus, Meadowes e McKinnon encontravam-se, todos olhando para mim de olhos arregalados.

Um movimento captado pelo canto de meu olho atraiu minha atenção, desviando-me dos olhares assombrados e, ao virar para a esquerda, deparei-me com Lily Evans.

Ela estava totalmente pálida contra seus cabelos ruivos, os olhos fechados e grandes olheiras roxas abaixo deles, assim como marcas de hematomas em seus braços destapados. Parecia doente e fraca.

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Como se soubesse que eu a encarava – e como se lhe custasse muito –, Lily abriu os olhos verdes, franzindo o cenho da mesma forma que eu ao observar o teto da Ala Hospitalar. E então, arrancando exclamações de surpresa de todos, sentou-se de supetão, a respiração acelerada enquanto seus olhos encontravam com os meus.

– Não... – ela negou com a cabeça, sua voz incrivelmente rouca e sua expressão de incredulidade. Suas íris estavam tão dilatadas que seus olhos pareciam negros. Estava horrorizada. – Não pode ser verdade... – ela sussurrou a última parte, encarando-me como se buscasse respostas. Desesperada.

– Lily... Você está bem? – Marlene parecia estar se aproximando e sua voz era preocupada, mas eu não liguei. Eu estava muito ocupado encarando Evans para dar atenção.

Os olhos da garota eram um misto de medo e incredulidade e eu senti um peso cair em meu estômago ao vê-la daquele jeito.

O “quê” não poderia ser verdade? Não poderia, poderia?

– O que aconteceu? Por que estamos aqui? – Lily, ainda sem desviar os olhos horrorizados dos meus, perguntou.

– Você não lembra? – McKinnon perguntou e, finalmente, desviei meu olhar para ela.

Ela olhava para Lily de forma confusa e hesitante.

Você não lembra? Foi o que perguntara. Lembra-se do quê?

– Me lembro do quê? – Lily, ecoando meus pensamentos, perguntou.

Marlene, parecendo não acreditar, lançou um olhar para os outros três à porta da sala. Todos pareciam em expectativa. Todos menos James.

James parecia... Bem, ele parecia furioso. Extremamente furioso.

Senti-me gelar.

– Não. – Falei sentindo-me amedrontado. – Não pode ser, pode? – olhei para Marlene e seu olhar encontrou com o meu.

Ignorando o fato de aquele contato ter causado certo rebuliço em meu estômago, encarei-a firmemente em busca de respostas. Parecendo perceber que Lily e eu estávamos no que deveria ser a famosa “fase de negação”, Marlene suspirou.

– Ah, Sirius – Marlene meneou a cabeça de forma resignada. – Foi sim.

– Ah, Morgana! – Lily exclamou praticamente aos berros. – Não! NÃO, NÃO! – ela disse e então, contrariando sua obvia fraqueza, ergueu-se da cama de um salto. – Ah.

Por um momento Lily se desequilibrou com seu rosto esverdeando levemente. Madame Pomfrey imediatamente empurrou-a para a cama, colocando um copo em suas mãos com o mesmo líquido que eu tinha bebido.

– Pare de ser idiota – Madame Pomfrey resmungou enquanto praticamente empurrava o copo goela abaixo de Lily. – Você não está em condições de se levantar, ora!

Lily, depois de ter tomado todo o conteúdo do copo, afastou-se da enfermeira e voltou a me encarar, seus olhos arregalados enquanto meneava a cabeça.

– Eu não acredito que isso aconteceu – ela murmurou.

Abri e fechei a boca sem conseguir encontrar palavras para falar.

O meu pesadelo, então, fora verdade.

Eu realmente tinha trocado de corpo com a Lily. Tinha feito apostas idiotas e tinha mesmo me metido em tantas confusões que nem mesmo conseguia lembrar.

Mas o que era realmente, realmente pior de tudo aquilo, era James.

Voltei-me na direção da saída, onde ele se encontrava com Remus e Dorcas. Por um momento nos encaramos e então ele desviou o olhar, seus punhos cerrados enquanto parecia respirar fundo.

Ah, Merlin, que merda eu tinha feito? Ou, melhor: que merda eu não tinha feito?

– Bem, senhores. – Dumbledore, assustando-me, falou. Tinha até esquecido que ele também estava ali. – Imagino que deve estar sendo muito estranho tudo isto para vocês, afinal estão desacordados há dois dias e....

Dois dias? – Lily interrompeu encarando o diretor sem conseguir acreditar. Eu não deveria estar muito diferente.

– Dois dias, senhorita Evans – Dumbledore assentiu e sorriu levemente. – Como ia dizendo, sei que devem estar sentindo-se fracos e, decididamente, não devem estar muito inclinados a dar explicações... – e olhou de mim para Lily de forma perscrutadora. – Mas queremos saber o porquê de terem sido encontrados no corredor do segundo andar desmaiados e com vestes trocadas, assim como com inconfundíveis sinais de um feitiço de inversão ainda sobre suas correntes sanguíneas.

Mais uma vez abri e fechei a boca com intenção de falar alguma coisa, mas nada saiu. Parecia como se minha língua tivesse sido roubada. E eu também sentia o olhar frio de James sobre mim, me fazendo sentir como uma ameba nojenta.

Lily não parecia muito propensa a falar também.

– Devo lembrar-lhes que feitiços de inversão são terminantemente proibidos em humanos e que, como diretora da casa de vocês, posso lhes punir caso não me deem uma boa explicação sobre o que realmente aconteceu – McGonagall lançou um olhar professoral daqueles que somente ela era capaz de dar para eu e Lily.

Novamente abri minha boca para falar, mas então Lily, me lançando um olhar não identificado, me interrompeu antes que começasse.

– Diretor... Professora, a culpa, bem... A culpa foi minha – ela falou e suas bochechas ficaram naquele tom extravagante de vermelho que somente ela era capaz. Por um momento fiquei feliz em saber que aquele tom agora somente apareceria em suas bochechas. Não mais nas minhas.

Oh, Merlin, obrigada!

Mas, voltando para o que realmente interessava: senti-me chocado ao ouvir Lily Evans, a monitora certinha e chata dizer, na frente do diretor e da diretora da nossa casa, que ela tinha descumprido uma regra punível com expulsão.

– Não! – falei antes que mais alguém o fizesse. – Não! Lily, isso não é verdade – falei. – A culpa na verdade foi minha, diretor – voltei-me para Dumbledore. – Se não fosse por minha causa nada disso teria acontecido.

– Sirius, isso não é verdade! – Lily voltou a me interromper, suas bochechas avermelhando mais ainda quando, ignorando os protestos de Madame Pomfrey, erguia-se novamente da cama. – É claro que a culpa é minha, ora, eu é quem estava lendo aquele maldito livro quando...

– Mas se eu não tivesse te estressado, nada disso teria acontecido! – falei e voltei-me para o diretor. – Professor, o que aconteceu foi o seguinte:

– Eu estava lendo a porcaria de um livro numa festa do time do quadribol, como a grande nerd que eu sou – Lily falou rapidamente e eu lancei um olhar mortal para ela.

– E eu, como um idiota, vi que Lily estava lendo e decidi que aquele não era um comportamento adequado para se ter em uma festa daquelas...

– De fato – Dumbledore meneou a cabeça enquanto nos observava com curiosidade.

– É bom saber que pelo menos a senhorita Evans tem suas prioridades bastante definidas – McGonagall lançou-me um olhar de penitência. Senti-me corar e quis me bater: será que aquele comportamento seria herdado por mim apesar de ter mudado definitivamente de corpo? Ah, Merlin, quanta crueldade...

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– E então... – continuei tentando lembrar aquela noite... Maldita noite...

– E então Sirius tentou colocar um pouco de juízo em minha mente – Lily interrompeu-me mais uma vez, falando o que eu achei bastante razoável para ela, sendo que, na verdade, a frase poderia ter sido formada como “ficou me provocando e irritando enquanto tentava me fazer parar de ler”.

Inacreditavelmente ela parecia estar me defendendo.

– Estava mais para irritar a Lily, diretor... – interrompi-a.

– E então, como eu estava lendo um livro muito interessante sobre inversões... – Lily me ignorou.

– E como eu a interrompi...

– Acabei me estressando um pouquinho...

– Você nunca se estressa um pouquinho, Lily – rolei os olhos, mesmo que aquele não fosse o momento para piadinhas.

– Bem, tudo bem – ela rolou os olhos para mim de forma muito própria. – Eu me estressei um pouco mais do que o necessário.

– E aí, totalmente sem querer, ela acabou pronunciando o feitiço e, bem, quando acordei no dia seguinte estava de camisola e no dormitório feminino – finalizei.

– E eu com uma dor de cabeça descomunal e no meio da maior bagunça do universo, vulgo dormitório masculino – Lily acrescentou.

– Ei! Foi aquela vez que você acordou gritando e perguntando o que tinha no meio de suas pernas? – Remus então interrompeu, olhando para uma Lily extremamente corada e envergonhada que apenas assentiu. Longe do que poderia imaginar, ele parecia estar apenas muito curioso e nada furioso. James, por outro lado, franziu o cenho como se estivesse se concentrando em alguma coisa. – E, ah... Eu encontrei um livro de inversões no meio da festa naquele dia.

– Era o meu – Lily disse. – Fiquei procurando ele por semanas até descobrir que estava na cama ao meu lado – sorriu brevemente.

Remus assentiu antes soltar uma exclamação de completa incredulidade, virando-se para Dorcas como se a visse pela primeira vez.

– Você... Não... Lily... Não? – balbuciou então, parecendo completamente confuso e incrédulo, tudo ao mesmo tempo.

– Quê...?

– NÃO! – Lily bradou, assustando-me. – Não, Dorcas e eu nunca... Nunca... Eca! – ela fez uma expressão de nojo, enfatizando o que com certeza deveria significar “Dorcas e eu nunca nos beijamos”.

Remus pareceu ficar aliviado com a confissão, porém, meu olhar recaiu – mais uma vez – sobre James que parecia estar ligando um mais um e chegando finalmente à resposta ao seu problema.

Erguendo os olhos e olhando de Lily para mim em fúria, imediatamente soube o que estava por vir:

– NÃO. ACREDITO. NISSO! – praticamente berrou, assustando até mesmo McGonagall e Dumbledore que encaravam tudo com muito interesse. – Não! – e então deu alguns passos para frente de forma violenta, suas intenções muito claras: bater em alguma coisa. Ou, melhor, em alguém.

– James... – comecei a falar, sentindo-me tremer. Ah, não. Ah, não...

– Não me venha com James, Black! Eu não estou conseguindo acreditar! Você não pode... Não... – e deu mais alguns passos, mas, McGonagall parecendo perceber o que estava por vir, interviu e meteu-se em frente a ele.

– Senhor Potter, seria bom se o senhor fosse...

– A senhora não está entendendo, Professora – e então desviou-se dela, parando-se alguns passos de distância de minha cama. – Sirius Black, além de me esconder o que estava acontecendo por semanas... Ele... Ele... Ah – balançou a cabeça, passando as mãos pelos cabelos como se quisesse arrancá-los.

– Ja... Potter – Lily o chamou então, fazendo-o voltar-se para ela de forma assombrada, como se a visse pela primeira vez. – Escute, o Sirius não tem culpa. Eu quem pediu para ele não contar nada – ela falou e eu estava prestes a interrompê-la, mas seu olhar me calou. – Não queria dizer... Bem, não queria que ninguém soubesse que eu estava no corpo dele... Dormindo... Bem, dormindo no quarto de vocês – e respirou fundo. – Não queria que ele contasse para ninguém por que achei que descobriríamos a solução rapidamente, achei que... Bem, pensei que poderia resolver – ela falou.

– Olha, Evans – James soou frio e percebi Lily se encolher. Por um momento aquilo me irritou, afinal ela não tinha culpa de ele estar tão furioso... – Estou pouco me importando para o que você queria ou deixa de querer – rolou os olhos de forma cínica e então se voltou para mim mais uma vez. – O que me importa realmente é o fato de Sirius nem uma única vez ter tentado me contar! Ah, não! Ele deveria estar achando tudo muito divertido, não deveria? Afinal até me chamou para sair sabendo que... Sabendo que eu iria – as palavras pareciam doer para sair da boca de James, mas seus olhos ferviam sobre mim. – E eu... – fechou os olhos com força. – Sirius! Você me deixou te... Merda! – Madama Pomfrey e McGonagall pareciam indignadas com o palavrão, mas James nem se importou. – Você me deixou eu te beijar!

– Oh, mas que coisa mais... – Dumbledore murmurou, mas eu não estava prestando atenção.

– Eu não te deixei me beijar! – reclamei, sentando-me mais ereto na cama, sentindo meu lado explosivo começar a aflorar. – Você que estava tão absurdamente focado e afoito que não conseguiu se controlar e me beijou!

James não conseguia acreditar no que eu tinha dito.

– Afoito?! Eu esperei três anos! Três malditos anos para Evans aceitar sair comigo e quando ela aceita descubro que foi você! – ele bradou então, ouvi Lily exclamar qualquer coisa incoerente.

– Mas...

– Não quero saber! – James então suspirou. – Eu pensei que você fosse meu amigo! – ele disse e senti toda minha irritação esvair. Sua expressão era de traição. – E você não teve a capacidade de me contar o que estava acontecendo... Eu confiava em você, Sirius – disse e então deu as costas, saindo da sala a passos largos e furiosos, batendo a porta ao passar.

Remus, Dorcas, Marlene, McGonagall, Pomfrey e Dumbledore olhavam para a saída de forma impressionada enquanto Lily tinha a expressão de alguém prestes a chorar – e dizia isto por conhecer seu rosto tão bem quanto o meu próprio naqueles tempos (afinal fora meu por um longo tempo) – e eu, bem, não fazia ideia de como deveria estar. Talvez assustado? Magoado? Temeroso? Decepcionado? Ou uma mistura de todos? Não tinha muita ideia.

– Bem, isto foi interessante – Dumbledore por fim comentou como se aquela tivesse sido apenas uma dissertação sobre o tempo e não o discurso de um fim de amizade.

Soltei um muxoxo um tanto alto querendo mais do que tudo fechar os olhos e descobrir que tudo aquilo fora mesmo um pesadelo. Mas, como sempre nos últimos dias: a sorte não estava à meu favor.

Quando é que estaria, era a questão.

– Bem, Sr. Black, Srtª Evans – McGonagall chamou, fazendo-nos encará-la. – Suponho que ainda nos devam algumas quantas explicações...

– Ora, Minerva – Dumbledore a interrompeu, erguendo-se da cama. – Acho que eles já foram castigados o suficiente – ele disse, fazendo com que a professora o encarasse abismada.

– Mas, Dumbledore, este feitiço não é o tipo de coisa que possamos ignorar! Ele nem mesmo é ensinado no curso para os N.I.E.M.s por ser considerado perigoso e altamente difícil... Uma atividade assim teria de ser bastante analisada! Isto para não falar nos efeitos colaterais que eles podem vir a ter depois de toda esta transformação e...

– Depois – Dumbledore mais uma vez a interrompeu. – Deixe-os descansar a mente um pouco. Acredito que devam estar sentindo uma necessidade de auto avaliação depois de tudo isto, para não falar em matar as saudades do corpo... – E sorriu de forma apreciativa. – Deve ter sido uma experiência e tanto, acredito eu... Contudo, vou deixar o interrogatório para depois – e, ajeitando os oclinhos de meia lua, sorriu mais uma vez e direcionou-se à saída. – Seria bom deixa-los à sós – ele disse, encarando cada um dos visitantes. – Madame Pomfrey ainda tem uma boa quantidade de exames a fazer, agora que eles acordaram – concluiu e saiu.

– Nós voltaremos – Marlene disse, olhando de mim para Lily de forma preocupada. – Bem, fiquem bem – ela falou e então saiu não sem antes lançar um olhar um tanto estranho em minha direção. Senti-me estranhamente triste com sua saída, mas então Remus se aproximou, atraindo minha atenção.

– Sirius, eu não vou te julgar – ele disse de maneira concisa. – Sei como é difícil, às vezes, revelarmos alguns segredos – falou e então, franzindo o cenho lançou um olhar de interrogação à Lily que apenas suspirou e disse:

– Está tudo bem, Remie – seu olhar era de confiança e eu entendi: estavam falando sobre o probleminha peludo de Remus. Ele deveria saber que não fora eu quem estivera presente na última Lua Cheia.

– Obrigado – ele disse e parecia estranhamente aliviado. – Eu vou tentar falar com o James, Sirius – ele disse e estendeu a mão para apertar meu ombro. – Mas não pensem que vão se livrar de minhas perguntas – e sorriu levemente da forma calmante que somente ele era capaz de fazer.

Por que é que James não poderia ter reagido da mesma forma?

– E eu vou pedir alguns periódicos para minha mãe, Lily – Dorcas disse então. – Trarei para você lê-los enquanto estiver aqui – e sorriu levemente também, esperando Remus para sair da sala.

Quando McGonagall, após lançar um olhar perscrutador sobre Lily e eu, finalmente saiu da sala, Madame Pomfrey fez mais uma série de check-ups em nós dois e correu para sua sala, provavelmente à procura de seus medicamentos ou qualquer coisa do tipo.

Um silêncio bastante melancólico recaiu sobre a sala.

– Você está bastante machucada – falei para Lily, quebrando o silêncio.

A garota, que parecia perdida em pensamentos, voltou-se para mim.

– Acho que foi o quadribol – ela sorriu fracamente. – Apesar da poção, ainda era meu corpo.

– Grifinória venceu – falei bobamente.

– Eu imaginei – ela disse e então suspirou. –Ah, Sirius... Me desculpe! Eu não quis causar tudo isto, eu...

– Shhh – interrompi-a. – James tem razão em estar bravo comigo, mas você não tem culpa de nada, Lily – falei. – Claro que aquele livro idiota foi uma coisa realmente estupida, mas, bem, eu não fiz questão de contar, não é?

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Lily franziu os lábios, provavelmente sem saber o que me dizer.

Senti-me idiota por não ter contado para James, por não ter falado com Dumbledore. Por que precisávamos ter sido tão orgulhosos? O que me lembrou...

– Obrigado por me defender – falei. Lily me encarou em interrogação. – Você sabe, quando James falou aquelas coisa. E de Dumbledore também.

Lily deu de ombros.

– Acho que acabei me afeiçoando a você, estando em seu corpo – ela disse e sorriu novamente. A acompanhei.

– Pelo menos tenho meu siriustick de volta! – disse e toquei o meio de minhas pernas em reconhecimento, sentindo-o lá.

– Você continua nojento, Black – Lily resmungou.

– E você, chata – disse-lhe e, contrariando qualquer bom senso, caímos na risada.

Talvez pelo nervosismo, ou por estarmos tão ferrados que não havia nada a se fazer a não ser cair na gargalhada.

Mas foi um bom momento.

Percebi que, apesar de todos os pesares, aquela troca teve um lado bom: Lily e eu éramos amigos.

E aquilo era uma coisa boa, certo?

Certo.

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Tentando Prior