Corpus Inversion

Corpus Reversion! - Capítulo Vinte e Dois.


Sirius Black

– VAMOS ACABAR COM ELES! – James bradou em meio ao vestiário, recebendo gritos de aprovação em resposta.

– É! Aqueles lufanos não vão nem saber o que os atingiu! – Frank comentou e recebeu mais uma enxurrada de aplausos e gritos.

– É disso que estou falando! – James sorriu então. – Agora, terminem de se arrumar e vamos mostrar quem é o melhor time!

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E então o time se dispersou em meio ao local, procurando vestes, botas, luvas e todo o resto do uniforme de Quadribol, deixando-me para trás junto de James próximo à porta de entrada.

– Eles estão realmente animados – comentei enquanto terminava de atar os cadarços de minha bota.

– É – James concordou e então suspirou. Ergui meus olhos para encará-lo.

– O quê? – perguntei, percebendo pela primeira vez em dias que James tinha escuras olheiras sob os olhos e a aparência cansada. – Você está bem, Prongs?

Foi uma pergunta completamente ridícula, precisava admitir, e me fez sentir um estúpido por estar tão focado em meus próprios problemas que havia acabado deixando o meu melhor amigo de lado.

Tudo bem que o fato de ele ter me beijado (e, por Merlin, aquilo ainda me causava arrepios só de lembrar), auxiliou bastante no fato de eu me manter distante, mas ainda assim, eu deveria ter me preocupado mais.

– Sim, Pads – ele assentiu e passou a mão pelos cabelos. – Só estou um pouco preocupado com o jogo – disse e então me encarou. – Você acha que está bem para jogar hoje? – perguntou de forma ríspida.

Senti-me um pouco intimidado com seu tom, mas eu sabia que merecia, afinal de contas, pelo que Lily tinha me contado, eu tinha sido um grande desastre nos últimos treinos de quadribol.

Graças a Merlin aquilo seria resolvido. Pelo menos por três horas, sim.

– Sim, está tudo resolvido – falei enquanto tentava sorrir. – Desculpe pelo mau jeito, Jay. Estava em uma fase meio complicada – comentei então, terminando de arrumar minhas botas e soltando um suspiro logo em seguida.

– Ótimo, eu estava... – ele começou a falar, mas eu não cheguei a saber o que “ele estava” por que naquele momento uma Marlene McKinnon enlouquecida adentrou o vestiário, surpreendendo a todos.

– Lene? – perguntei tão confuso quanto qualquer outro, observando-a respirar de forma ofegante e arregalar os olhos ao me ver.

– Sirius! – ela disse e então começou a caminhar em minha direção.

– O que...

– Eu pre-ci-so que você venha comigo. Agora – falou quando chegou a minha frente, seus olhos faiscavam em determinação.

– O que... – comecei novamente, mas James me interrompeu.

– Nem pensar! – ele disse, atraindo a atenção da garota sobre ele. – Faltam vinte e cinco minutos para o início do jogo, Lene. Nem pensar que você vai tirar ele daqui agora.

– Por favor, James – ela implorou com seus olhos brilhando enquanto fazia beicinho.

Merlin, por que tão bonita?

– Não – o outro respondeu.

– Ei, Jay – eu chamei-o. – Será rápido – eu disse.

James balançou a cabeça em negativa, fazendo-me voltar os olhos para Lene de forma culpada.

Marlene bufou.

– Sirius, é sobre aquele assunto – ela disse de forma indicativa, encarando-me com seus grandes olhos à espera de minha compreensão.

Não entendi.

– Que assunto? – James entoou minha confusão, encarando Lene com os olhos estreitados.

Marlene bufou novamente, espanando uma mexa de cabelo para longe do rosto antes de arregalar ainda mais os olhos para mim e dizer:

Aquele problema com a Lily – disse e quase quis mata-la. Pude perceber o olhar estranho de James sobre mim ao ouvir as palavras da garota.

– Lily? O que é que ela tem? – ele perguntou, olhando de Lene para mim a procura de respostas. – Está tudo bem com ela, Lene? – seu tom de voz era preocupado.

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Imediatamente dei-me conta do que Lene estava falando e imaginei o que é que teria acontecido para que ela estivesse me chamando naquele momento.

Já não estava tudo acertado para o jogo? Por que é que Marlene queria falar comigo justo naquele horário, afinal de contas?

– Ah, pelo amor de Merlin! Eu quero dar uns beijos no Sirius antes do jogo, posso? – Lene bufou, corando fortemente enquanto jogava as mãos para o alto. Senti meu rosto esquentar desmedidamente enquanto ouvia uns “oh” e “hmm” do time que havia parado de se arrumar para olhar a cena. E então Marlene veio até onde eu estava puxando-me pelo braço logo em seguida. – Ande de uma vez! Daqui a pouco devolvo seu amigo, James – ela disse furiosa, arrastando-me para fora do vestiário enquanto recebia olhares maliciosos dos outros jogadores e um olhar furioso de James.

Por que, é claro, eu precisava que meu melhor amigo ficasse irritado comigo justo quando as coisas estavam começando a se ajeitarem.

– Que merda é essa, Lene? – resmunguei, arrancando meu braço de seu aperto enquanto tentava acompanhar seus passos rápidos. – Não que a ideia de te beijar não seja realmente maravilhosa e bastante instigante, mas, sinceramente, estamos a vinte minutos de entrar em campo contra Lufa-lufa! Não tinha uma hora melhor, não?

Marlene bufou, dobrando o corredor antes de me lançar um olhar de esguelha.

– Você fala como se realmente se importasse com Quadribol, Lily – rolou os olhos. E então parou de andar. – O que você disse? – e me encarou com os olhos irritados.

– Nada? – falei, estranhando seu comportamento.

Lene deu um tapa em meu braço, arregalando ainda mais os olhos.

– Vocês descobriram? – ela parecia mortificada. – Ah, meu Merlin! Vocês descobriram?!

Ela parecia realmente chocada.

– Descobrimos o quê? – indaguei, sem saber do que ela estava falando. – Lene, do que está falando?

– Você é o Sirius! – ela disse de forma ríspida. – Não a Lily! Como isso aconteceu? Vocês descobriram o contrafeitiço?

Por fim, entendi do que ela estava falando, afinal Lene não sabia da última fuga de sua melhor amiga de madrugada para roubar poções por aí.

– Ah, não! – falei e rolei os olhos. – Não, Lene. Isso é Poção Polissuco – sorri e ela arregalou, se era possível, ainda mais os olhos.

– Poção... Ah, meu Merlin – balançou a cabeça. – Não quero nem saber que merda você fez, Sirius – e suspirou – ótimo. Vamos, temos trabalho a fazer.

E continuou a andar, deixando-me sem saber do que ela estava falando. De novo.

– Eu não fiz nada – reclamei. – Aquela sua amiga louca é que furtou a poção – e sorri de forma marota para Lene quando percebi que ela me encarava incrédula. – Mas me diga uma coisa – falei, algo finalmente caindo em meu entendimento. – Você estava falando “vocês descobriram” como se houvesse realmente alguma coisa a se descobrir – foi a vez de Lene sorrir marotamente.

– Ah, sim. Tem sim, Black.

Lily Evans

Olhei para o relógio novamente. Mais de meia hora havia se passado desde que Sirius e eu tínhamos tomado a poção.

Sentia meu estômago revirar de expectativa. Morgana, aquele jogo precisava começar logo e terminar mais logo ainda.

– Hey, Lily – Dorcas, então se sentou do outro lado da mesa, bem em minha frente. Parecia calma como sempre. – Parece preocupada – falou.

– E estou mesmo – suspirei. – Eu meio que tive uma ideia louca...

– E não deu certo? – perguntou enquanto passava calmamente geleia em sua torrada.

– Ah, deu sim – assenti, sentindo meu estomago revirar. Eu não conseguiria comer nem se eu quisesse.

– Então por que a preocupação? – seus olhos ergueram para me encarar e eu suspirei.

– É que eu meio que furtei um pouquinho de Poção Polissuco – e baixei minha voz enquanto ela arregalava os olhos. – E mudei de corpo com Sirius novamente... Bem, pelo menos por algumas horas – meneei a cabeça. – O problema é que sinto que as coisas estão calmas demais, entende? Parece como se algo ruim estivesse prestes a acontecer.

– Merlin, Lily! – ela então baixou a voz. – É você mesma, então?

Assenti, olhando para os lados tentando perceber se alguém estava nos escutando. Os alunos, muito pelo contrário, pareciam todos eufóricos e expectantes enquanto falavam alegremente sobre o jogo que se aproximava. Alguns – a maioria, na verdade – estava começando a se encaminhar para o campo.

Ninguém prestava atenção em nós. Graças a Morgana.

Então por que eu tinha aquele pressentimento ruim de que algo estava prestes a acontecer?

– Oh, que bom – Dorcas disse e sorriu para mim, muito mais amena do que deveria, levando em consideração que eu havia acabado de confessar ter assaltado a sala de um professor, roubado uma poção perigosa e trocado de corpo com o cara que já estava de corpo trocado comigo.

E depois eu que era a louca. Pff.

– É – concordei e senti meu estômago revirar ainda mais. – É.

– Merlin, Lily! Pare de ser tão pessimista! As coisas vão voltar ao normal logo, logo – e sorriu novamente antes de morder sua torrada.

– É.

X—X

Alguns minutos depois, vendo que eu não conseguia parar de me remexer, Dorcas suspirou e disse que o melhor seria se nos encaminhássemos para o campo de uma vez por todas.

Assenti em concordância, sem conseguir falar, sentindo que se o fizesse, vomitaria.

– Ei – uma voz masculina soou logo atrás de nós duas, fazendo-me pular pelo susto. – Calma, Lily. Parece nervosa, hoje – Remus então alcançou o lugar onde estávamos no meio do corredor, parecendo levemente ofegante enquanto sorria.

– Ah, oi, Remie – cumprimentei-o, deixando um suspiro escapar.

– Oi, Lily – ele sorriu um pouco mais e então voltou-se para Dorcas, corando ao encará-la. – Oi, Dorcas.

Dorcas, que mais parecia um pimentão do que um humano – algo que ela deve ter, com certeza, absorvido da convivência comigo – assentiu em cumprimento, daquela vez, parecendo ser ela a que não conseguia falar.

Foi então que algo me ocorreu.

– Vocês ouviram isso? – perguntei, de repente, fazendo-os encararem-me em confusão.

– O quê? – ambos perguntaram, olhando para os lados à procura do som.

Franzi a testa, fingindo confusão enquanto andava na direção de um armário de vassouras um pouco mais atrás de onde estávamos.

– Hm, acho que vem daqui – falei quando cheguei perto o suficiente. Fazendo-me de retardada, puxei a maçaneta que estava trancada, tentando força-la a abrir. – Parece que tem alguém preso... Mas... Não... Consigo abrir! – disse, ofegante com o esforço fingido.

– Lily... – Dorcas começou a dizer, mas então Remus veio até onde eu estava, apurando os ouvidos naquela direção.

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– Eu não ouço nada – ele disse, procurando nos bolsos pela sua varinha.

– Aqui – Dorcas então, se aproximando da porta, sua varinha já em mãos, apontou para a maçaneta. – Alohomora.

E a porta se abriu revelando o interior de um armário de vassouras cheio de... Vassouras.

Dorcas, com uma sobrancelha arqueada, passou por mim e por Remus, adentrando o local, olhando para os lados.

– Acho que não em nada aqui, Lily – falou, ainda perscrutando o ambiente.

Remus então, esticou a cabeça para dentro do armário, o que se demonstrou minha melhor oportunidade.

Rapidamente, puxei a varinha de sua mão e, antes que ele pudesse protestar, empurrei-o para dentro do armário, junto de Dorcas, que parecia não entender o que eu estava fazendo.

Antes, porém, que ela pudesse falar qualquer coisa, resmunguei um “expelliarmus” e sua varinha voou para minha mão.

– Desculpem! – pedi antes de fechar a porta com força, deixando-os de olhos arregalados. – Colloportus – murmurei e então respirei fundo enquanto ouvia as batidas contra a porta recém fechada. – É para o bem de vocês dois.

– Lily, que mer...

Mas então eu me afastei.

Menos um problema.

Guardei as varinhas dos dois num dos bolsos internos de minhas vestes, sentindo-me, por um curto momento, despreocupada e feliz com minha ideia genial.

– Lily, às vezes você é mesmo um gênio – disse para mim mesma, antes de sentir alguém me puxar para dentro de uma sala de aula aparentemente vazia e fechar a porta atrás de mim. – Que mer... Lene? Sirius? – arregalei os olhos quando vi os dois encarando-me em expectativa. – Eu não acredito! Sirius! O que você pensa que está fazendo aqui? Você tem um jogo para ganhar, poxa vida – encarei-o furiosa. – Não acredito que está colocando todo meu esforço de rou...

– Apenas cale a boca e escute a Lene – Sirius então me interrompeu, rolando os olhos enquanto lançava um olhar indicativo para minha amiga.

Lene suspirou e então puxou um livrinho de seus bolsos, folheou-o até parecer ter encontrado a página que queria.

Quando estava prestes a abrir a boca para perguntar que merda toda era aquela, ela começou a ler:

O feitiço Corpus Inversion, reconhecido como o primeiro com efeitos significativos para os estudantes de inversões, finalmente encontrou seu contrafeitiço. Por muitos anos os pesquisadores lutaram em encontrar uma fórmula certeira, mas as palavras nunca pareciam se encaixar, até que Mea Mealow, pesquisadora Japonesa, descobriu que, além do encantamento, é preciso haver uma troca de fluidos entre os corpos invertidos para que o contrafeitiço tenha efeito – concluiu e então me encarou, os olhos brilhando. Minha boca estava escancarada pelo choque.

Aquele... Aquele era o contrafeitiço?

– Onde é que você encontrou isso? – perguntei com minha voz rouca, enquanto me aproximava dela e pegava o livro de suas mãos. – Morgana, Lene! Eu não acredito!

– É a nossa salvação, por Merlin! – Sirius disse então, vindo para meu lado, olhando o livro por sobre meu ombro. – Espera aí... Troca de fluídos?

Franzi a testa, pois estava lendo justamente aquela parte. O que aquilo significava?

A não ser que...

– Não! – sacudi minha cabeça em negativa, jogando o livro para longe de minhas mãos. – Nem pensar!

– Ugh – Sirius então estremeceu. – Nada contra você, Lily, mas eu te vi sangrar por semanas! Nem pensar em troca de fluídos...

– É! Nem pensar naquele seu amiguinho perto de mim! Nem pensar! – estremeci também e ouvi Lene suspirar.

– Pelo amor de Merlin, vocês! – rolou os olhos e se abaixou para pegar o livro. – Não é a isso que se refere – rolou os olhos novamente. – É troca de fluídos – e nos encarou. – Um beijo.

– UGH! – Sirius e eu dissemos ao mesmo tempo. – Nem pensar!

– Ah, pelo amor de Merlin! – Lene bufou. – Se preferem ficar assim por mais uma semana...

– NÃO – falamos e então suspirei. – É, acho que beijar é melhor que...

– É... E nem vai ser um beijo de verdade... – Sirius disse e me encarou.

– É – assenti.

– Ótimo! – Lene bateu palmas de felicidade, parecendo não entender a enormidade do que estava nos propondo, nem o quão horrível aquilo seria. – Vou ter minha amiga de volta!

– Ei – Sirius começou a protestar, mas ela ergueu um dedo fazendo-o ficar em silêncio.

– O contrafeitiço é Corpus Reversion – falou. – Vocês sacodem a varinha, falam isto e então se beijam – e nos encarou em expectativa como se o que ela estava falando fosse a coisa mais normal do mundo.

Vamos, Lily. É só um beijinho, nada demais...

Se James visse...

Que merda James, o quê?! Pelo amor de Morgana, desde quando eu me importava?

Respirei profundamente, voltando-me para Sirius que me encarava de olhos arregalados.

– Só por que eu realmente não quero mais ficar chorando como uma mulherzinha, nem esguichando sangue... E pelo meu siriustick de volta – ele murmurou enquanto se aproximava.

– E por que eu não aguento mais acordar daquele jeito, e ter de conviver com o Potter. E por que eu odeio Quadribol – falei e me aproximei também.

Senti-me hesitar quando estava apenas alguns centímetros de distância do garoto.

Não deveria ser tão ruim assim, deveria? Quero dizer, era Sirius Black. Basicamente todas as garotas da escola (e alguns garotos também), quereriam beijá-lo. Não deveria ser tão ruim assim, deveria?

Corpus Reversion – dissemos ao mesmo tempo enquanto nos aproximávamos mais.

Não, não deveria ser tão ruim. Eu teria meu corpo de volta. Não precisaria mais dormir naquele quarto fedido e cheio de garotos idiotas. Não precisaria mais fingir cortesia com James Potter. Eu poderia voltar a ser a Lily Evans de sempre.

Poderia. É.

E então nossos lábios se encostaram e eu tentei não pensar em quanto aquilo era nojento e, por fim, nos beijamos.

– Ah, merda – ouvi Lene xingar e então...

– EU. NÃO. ACREDITO. NISSO!

Sirius e eu separamo-nos imediatamente, completamente pasmos enquanto olhávamos na direção da porta, de onde soara a voz furiosa.

James Potter. Bem ali. Encarando-nos como se não pudesse acreditar.

E ali estava a maior de todas as provas: eu realmente não tinha sorte.

Nadinha de nada.

Ah, Morgana. Por que tão cruel comigo?