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Vida de cavaleiro - epílogo


Vida de cavaleiro

Epílogo

Querido Dohko,

Quatro meses se passaram desde que você deixou o santuário voltando aos 12 picos de Rozan, alegando que não mais se acostumava com a vida na Grécia, e eu aceitei-lhe o pedido. Sabia que embora tenha tentado permanecer por mais um tempo, Shion logo estaria contigo, e fiquei feliz com isso. Sei que aí não há internet, poderia ter enviado um e-mail, se houvesse, mas acabei optando pela tradicional carta e um portador. Shiryu veio ao santuário e aproveitei para mandar-lhe notícias de uma forma mais... natural.

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É uma felicidade para mim, ver meus cavaleiros seguindo a vidas em toda sua plenitude. Shiryu me contou que brevemente será ele e Shunrei a trocar alianças, e farei questão de estar presente. Deve saber que no primeiro dia de junho, Máscara da Morte, melhor, Angelo de Câncer — há muito tempo ele parou de usar a alcunha de assassino e assumiu seu nome perante os companheiros — uniu-se pelas tradições do santuário a Shun de Andrômeda, numa cerimônia mais simples que a de Marin e Aiolia, mas não menos bonita.

Você gostaria de ver isso, meu amigo, tenho certeza. Foi algo muito bonito, e dei minha bênção como darei a qualquer um que ame e queira assumir esse amor sem medo ou rótulos. O Santuário de Athena é um lugar neutro no mundo, livre dos ditames das nações e, espero, livre dos preconceitos dos povos.

Tudo segue em paz. Afrodite e Kanon às vezes brigam, mas não demoram a fazer as pazes. Ambos possuem personalidades muito fortes, mas há muito amor também, disso não tenho dúvida. Eles já não temem os falares e os olhares. Afrodite parece mais leve, menos preocupado com tudo como sempre foi. Isso me conforta.

Shaka e Ikki são mais discretos. Poucas vezes os vejo juntos e geralmente saem sozinhos da casa de virgem. Mas quando estão juntos, posso perceber olhares e sorrisos, todo amor que sentem um pelo outro, todo carinho e respeito. E sabemos também que a Fênix indomável e solitária não pousaria por muito tempo se não houvesse algo de muito especial no ninho. Mesmo que de vez em quando, ela precise alçar seus voos solitários, ao final sempre retorna para perto de quem ama.

Hyoga continua na Sibéria. Soube que ele tem feito um grande serviço humanitário por lá. É um cavaleiro valoroso e responsável. Mantem contato regularmente com Camus e com Shun. São grandes amigos. Preocupou-me saber que ele visitou, sem autorização, o reino dos mares, mas quando soube que certo marina andou emanando seu cosmo na Sibéria, entendi e perdoei. Aquarianos são mesmo indomáveis, Milo de Escorpião é quem mais sabe disso, mas temo estar sendo indiscreta, querido amigo.

A novidade que agradou a todos é que Aiolia será pai em alguns meses. Estamos muito felizes, mas Marin ainda precisa acostumar-se com a ideia. A nossa grande guerreira enfrentará a mais maravilhosa e dolorosa batalha da sua vida: ser mãe. Mas estamos aqui prontos para ajudar e apoiá-la sempre.

Os cavaleiros de bronze também têm vindo com mais frequência, o que me alegra, e até mesmo o Grande Mestre parece mais leve e, de vez em quando, faz longas caminhadas pelas vilas e aldeias, imerso em novidades e projetos.

As coisas mudaram aqui. Há paz e alegria. Mesmo quando Camus briga com Milo e eu escuto ameaças de morte vindas da casa de Escorpião. Acontece, afinal, família é assim mesmo.

Espero que as novidades o alegre, meu bom amigo, e que logo você apareça.

Abraços afetuosos,

Saori Kido.

P.S. Shura parece ter seguido o seu conselho. Dizem que ele tem sido visto com uma bela amazona, mas não posso confirmar ainda.

00***00

A paisagem era deslumbrante. Da janela do hotel da Ilha Lavanzo era possível enxergar um mar de águas azuis e transparentes, repleto de pequenos barcos coloridos que levariam os turistas para visitar as pequenas ilhas locais e as demais cidades que compunha a região da Sicília.

Angelo já estava impaciente, mas Shun parecia obstinado a ficar apenas contemplando a beleza local, sem nenhuma pressa de deixar a sacada da janela do hotel. Os olhos verdes miravam o mar azul contemplativos e emocionados como se visse algo místico.

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— Desse jeito não conseguiremos visitar o Vale dos templos de Agrigento, Piccoli! — chamou-lhe atenção, aproximando e beijando os cabelos cheirosos dele.

— Desculpe! É que nunca vi um mar tão azul. É lindo! — Shun disse, virando-se com um sorriso. — Vou me trocar.

Angelo não deixou que ele fosse muito longe, puxou o esposo para si e o beijou nos lábios, antes de deixá-lo seguir em direção ao closet.

Algumas horas depois, eles estavam navegando sobre o lindo mar azul, observando as construções antigas e aproveitando a companhia um do outro.

— Acho que deve ser maravilhoso morar aqui. Não que o Santuário não seja lindo. Amo a Grécia também.

— Sim, aqui é lindo. E é bom ver esse lugar agora. Pouco me recordo de quando vivi aqui, as únicas coisas da qual lembrava eram fome e frio.

— Mas agora terá lembranças melhores.

Angelo sorriu e afagou o ombro do esposo. Eles desembarcaram para conhecer as ruínas dos templos do Vale Agrigento. Apaixonaram-se pela historia e a força daquele lugar. Mas não ficaram por mais de meia hora, logo estavam visitando outra cidade, outra ilha, aproveitando a culinária, a cultura e a arte da região.

— Sabia que os sicilianos têm muito orgulho do lugar onde nasceram? — Angelo indagou enquanto observava Shun imóvel, sentando numa cadeira sob um guarda-sol. — Tanto que eles se dizem mais siciliano que italianos.

— Isso é interessante. Tudo aqui parece tão forte...

— E é. Como eu — Angelo riu, e Shun revirou os olhos, resmungando um: “presuntuoso”, o que fez o marido rir e observar o que um jovem de longos cabelos negros desenhava com hena no braço do amado. — Non creio que esteja fazendo isso! — ele riu.

— Não é definitiva — Shun riu, ficando vermelho. Angelo leu o que estava escrito dentro do coração: “Angel”, ficou vermelho também e balançou a cabeça num resmungo: Bambinos!

— Já tenho 20 anos! — Shun replicou, fazendo o marido soltar um risinho provocador.

O rapaz finalizou o desenho, ele pagou pelo serviço, e os dois saíram a procurar um restaurante para o almoço.

Vestidos em roupas civis, ambos pareciam bem distantes dos rígidos cavaleiros defensores da Terra. Shun trajava uma calça de brim marrom e camiseta e andava com as mãos nos bolsos, enquanto o marido usava bermuda, regata e uma camisa de botão aberta, acompanhado de um chapéu panamá, típico de turistas que aproveitam as férias. O italiano vez por outra acendia um cigarro, mesmo o esposo reclamando, esquecendo-se de qualquer determinação do Santuário sobre bons exemplos. Não se importava propriamente. Ali ele não era o cavaleiro de Câncer, era um homem em lua de mel.

Estavam conversando, andando lado a lado, despreocupados. Angelo apontava algumas construções. Não que se lembrasse delas, ou da história do local, saíra dali muito pequeno para se tornar um cavaleiro de Athena, mas quando ele e Shun decidiram se casar e a deusa permitiu, passaram a pesquisar locais que queriam conhecer. Como Shun havia se interessado pela Itália, Câncer escolheu a Sicília, sua terra-natal, e resolveu saber tudo que podia dela antes de viajar. Aquilo durou alguns meses até que estivesse tudo pronto. Casaram-se dois anos e alguns meses desde que se conheceram, sim, pois para Angelo, ele conhecera Shun naquele dia de verão dentro da escolinha primária dos aspirantes. Não havia antes. Sua vida começara ali. Ao menos a vida que queria, que merecia.

Estavam felizes, animados, distraídos na beleza da Sicília, mas, ainda assim, eram cavaleiros, e seus sentidos aguçados captaram um choro baixo vindo de algumas das ruas estreitas que cercavam Palermo, cidade que estavam naquele momento. Palermo não era conhecida por ser um lugar violento, mas não estava escape, nenhuma cidade estava.

Utilizando a velocidade da luz, Máscara da Morte logo chegou ao local onde o assalto acontecia, devolveu a bolsa da adolescente assaltada e pendurou o bandido no topo de uma das igrejas locais, voltando, em alguns segundos para o lado do esposo e continuando o passeio.

— Dando uma de super-herói, amor? — Shun provocou, sorrindo.

Angelo riu, sem jeito.

— Não é por que estamos em lua de mel que deixamos de ser cavaleiros, non?

— Sim, mas não estrague nosso disfarce — Shun piscou, e Angelo riu, batendo continência.

— E, sabe... — Shun falou, pensativo, enquanto eles caminhavam, chegando a um mirante, de onde podiam observar o mar Tirreno, brilhante e azul, soberano, reinando em harmonia com seus irmãos, Mediterrâneo e Jônico, assim como Athena, Poseidon e Hades reinavam em paz, cada qual em seu mundo. — Durante muito tempo eu detestei ser um cavaleiro porque... Bem, sempre detestei guerras e a vida de cavaleiro me afastou do meu irmão e o fez sofrer mais do que pode ser suportado por uma criança. Não foi a vida que escolhi, e acho que um dia farei outra coisa. Em vez de tirar, talvez salvar vidas. Mas, hoje, não odeio mais ser um cavaleiro — encarou os olhos do esposo com um sorriso. O sol refletia-se nos olhos de ambos, deixando-os mais claros e brilhantes. — Se eu não fosse um cavaleiro, jamais teria te conhecido. Jamais seria feliz como sou agora.

Angelo tocou-lhe o rosto, inclinando-se para olhá-lo mais de perto, experimentando a felicidade das certezas conquistadas. Da certeza daquele amor.

— Não precisou deixar de ser um cavaleiro para salvar vidas, Shun. Você salvou a minha.

Shun sorriu, e eles ousaram trocar um rápido e casto beijo. Abraçaram-se em seguida, colhendo o calor do corpo, do sentimento e do sol da Sicília.

Por enquanto, suas vidas estavam salvas no calor do amor do outro.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.