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Acertos


Acertos

Capítulo 18

Não era agradável a forma possessiva que Câncer o guiava pela escadaria. Com o manto da noite cobrindo o santuário e as competições encerrando-se, todos os cavaleiros voltavam para seus templos, dormitórios e vilas. Mas, ainda que não houvesse testemunhas, a forma que o outro segurava sua cintura o incomodava um pouco. Shun, todavia, achava não ser prudente iniciar uma discussão naquele momento, pois percebendo como estava agressivo e agitado o cosmo do canceriano, corria o risco de começar uma briga antes que chegassem ao templo de Câncer, e isso era tudo que não queria. Não fazia ideia do que aquele louco estava pensando e nem sabia o que poderia dizer para que ele ficasse mais calmo.

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— Estou feliz que tenha vestido a armadura — falou quando eles estavam já à porta do templo. — Eu sempre disse que era um receio bobo, o que sentia.

— Sim. Io... — Máscara da morte vacilou e coçou os cabelos sem saber o que responder. Era verdade que resolveu sair do santuário para, sozinho, ter uma “conversa” com sua armadura, mas não queria que ninguém soubesse disso. Temeu sim ser rejeitado e ter que explicar aquilo ao líder da tropa. Não, essa humilhação ele não aceitaria, preferia desertar, fugir, desaparecer. Perder a armadura e ser derrotado por um cavaleiro de bronze foi humilhação suficiente, não seria desonrado àquele ponto.

— O que fazia ao lado do ganso bailarino, Cáspita?! — a pergunta veio de repente, fazendo o mais novo se surpreender. É, parecia que não adiantava tentar evitar aquele conflito.

— Nada! — Shun respondeu, movendo os ombros. — Conversávamos, Angelo, que pergunta!

— Oh, uma pergunta muito despropositada! — ironizou. — Saio por metade de um dia e já o encontro ao lado dele! O que faziam fora do santuário? Por que estava sozinho com ele?

Shun engoliu em seco e titubeou, sem saber exatamente o que responder, e isso pareceu ser uma resposta para o cavaleiro de câncer.

— Ainda gosta dele, cazzo! — falou e caminhou para o centro do templo, retirando a armadura do corpo.

Shun viu a vestimenta descolar-se do corpo do namorado e formar o caranguejo dourado no chão de pedra. Por um tempo, não soube o que responder. Era difícil processar tantas informações e estava confuso. Temia dar uma resposta mentirosa ao namorado, pois nem ele sabia o que sentia por Hyoga.

— Angelo...

— Não minta pra mim, Piccoli... — a voz do cavaleiro mais velho foi um sussurro, e ele sorriu com tristeza. Deveria estar acostumado a sempre ser preterido, mas naquele momento doía como nunca doeu na vida.

— Eu nunca mentiria pra você — Shun se aproximou dele lentamente e estendeu a mão para tocar-lhe o ombro, já que Angelo estava de costa para ele, agora, mas acabou desistindo do toque. — Ele me afeta ainda, mas sei o que sinto por você, tenho certeza do que sinto, por favor, acredite em mim.

Io creio, Piccoli. — Máscara da morte respondeu. — Descubra se não está mentindo pra si mesmo.

— Eu sei o que sinto por você, Angelo, não faça isso... — Shun murmurou e deu mais um passo, ficando bem próximo às costas do namorado. — Não me faça pensar que tudo que vivemos significa tão pouco...

Máscara da morte voltou-se para encará-lo. Era possível ver toda a angústia em seus olhos.

Io... Dio Santo, é tão difícil! — olhou para cima como se procurasse alguma resposta, mas Shun percebia que as mãos dele estavam trêmulas. Angelo engoliu em seco, tentava encontrar as palavras certas, mas não conseguia achar alguma que explicasse seus sentimentos. — Io tenho medo de te perder, bambino...

Shun entreabriu os lábios, surpreso, depois sorriu, e seus olhos umedeceram antes que ele abraçasse o namorado com força.

— Não vai me perder — sussurrou contra o pescoço dele. — Não vai me perder porque eu te amo, Angie. Eu te amo.

Para o canceriano foi como se algo dentro do seu peito fervesse, expandisse e depois estilhaçasse em milhares de pontos estrelados, como uma galáxia que nascia. E ele emudeceu, entregando-se somente à emoção por um longo tempo. Apertando o ser amado nos braços com uma vontade intensa de nunca mais deixá-lo.

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Io te amo também, Piccoli — murmurou finalmente, afastando-se para mirar os belos olhos de Shun. — Voi me fez renascer... Me... Me fez possível...

Tomou os lábios do mais novo com todo seu sentimento, como se aquilo fosse mais que um beijo, fosse uma fusão entre dois astros que se atraíam como uma colisão das palavras antes dita, como a manifestação de todo amor que ambos sentiam.

E o amor explodiu em desejo. E o beijo tornou-se mais intenso. E a intensidade trouxe a necessidade.

Angelo agarrou Shun pelas pernas, sem parar de beijá-lo, e o mais novo envolveu-lhe o quadril, condescendente. O cavaleiro caminhou com ele, para apoiá-lo contra uma parede. Seus lábios arfantes se separaram por um tempo e seus olhos se encontraram. Lentamente, Angelo se afastou, colocando Shun no chão. O cavaleiro de bronze apoiou as costas na parede, escorregando um pouco, ofegante.

— Por que parou? — Shun indagou, confuso.

O cavaleiro de câncer respirou fundo, tentando conter as sensações do próprio corpo.

Io preciso pensar, Piccoli. Isso não está certo...

— Não? Angelo, estamos namorando há meses — Andrômeda disse, incrédulo.

Io sei... Dio santo! — riu, sem jeito. — É que... — Angelo suspirou. Aproximou-se de Shun novamente e beijou-lhe os cabelos, abraçando-o em seguida.

— Estamos perturbados. Não quero que isso aconteça entre a gente em um momento tão perturbado. Eu quero paz, Piccoli. A paz que você sempre me deu. Se isso acontecesse entre nós dois, dessa forma, seria desonesto com o que sentimos.

Era confuso, era estranho, mas Shun entendia o que Angelo queria dizer. Seu namorado era um homem que gostava de certezas, acreditava que confiança era tudo e, naquele momento, ele não confiava muito nele e nem em si mesmo. Mesmo que frustrado, Shun assentiu com a cabeça e ergueu o rosto, beijando-o levemente nos lábios.

— Eu sei. Eu sei. — falou, e afastou-se.

— Aonde vai? — Máscara da morte indagou, o peito cheio de angústia.

— Tenho algo a resolver. Volto logo.

— Vai encontrá-lo? — a pergunta foi acompanhada de um sorriso de fingida troça.

Shun mordeu o lábio inferior e suspirou.

— Antes de ter sido meu amante, Hyoga foi meu amigo, Angelo. Ele deseja se explicar e eu devo isso a ele.

— Deve ou quer?

— Vamos começar essa discussão novamente?

— Não. Não vamos, Piccoli. Io confio em ti.

Shun sorriu de forma obliqua e deixou a casa de câncer. Angelo respirou fundo e sorriu com o canto dos lábios. Não sabia se estava certo no que fazia, mas... quem é que sabe? Agiria como sempre fez, sem pensar muito, muito mais com a emoção à flor da pele que sempre teve, que a razão abstrata que sempre lhe faltou. Estava angustiado e sabia que aquela angústia o acompanharia por toda a noite. Mas se tudo desse certo, sobreviveria ao fogo e renasceria com a manhã.

00**00

Havia a áurea de tranquilidade de sempre cercando aquela casa. Quem adentrasse os domínios de Virgem notaria a tranquilidade e também a força latente daquele lugar. Contudo, ela sabia que algo mais íntimo oscilava no poderoso cosmo do homem que, assim como ela, sabia, abrigava dentro de si uma poderosa divindade, mesmo que de forma oculta. Shaka não fora predestinado à toa para ser o detentor daquela armadura, que tinha uma história longa de abrigar grandes espíritos. Estar no santuário, defender a Terra, era uma das muitas missões que ele ainda teria até que chegasse o momento de sua alma se expandir tornando-se única com o universo.

Saori, no entanto, entendia que mesmo sendo tudo isso, Shaka também era um homem, um homem jovem e, assim como ela, pouco experiente em qualquer assunto que não fosse batalhas ou a busca da sua iluminação. Era um homem e, como homem, cometia erros. Erros derivados da sua inabilidade como ser humano. Inabilidade causada por uma vida de renúncias e reclusão. O cavaleiro de Virgem quase não saía da sua casa, pouco se relacionava com os demais, estivera anos dedicado apenas aos seus discípulos e à meditação. Ele fora arrancado à força do seu mundo pelas asas da Fênix e ainda não havia se habituado à vida fora da caverna.

Saori adentrava os domínios do jovem indiano como a deusa Athena e também como mortal, como mulher, como alguém que conhecia os sentimentos humanos melhor e que, talvez, entendesse um pouco mais da humanidade que ele.

O cavaleiro de Virgem estava sentado entre as duas árvores. Árvores que foram testemunhas de toda a sua abnegação e sua dor não apenas naquela vida. Estranhamente, ele não estava meditando, apenas observava algo muito interessante dentro de si mesmo, flutuando por seu poderoso cosmo.

— Shaka...

— Athena — ele se ergueu rapidamente e fez a reverência. — Algum problema? Percebi sua chegada.

— Não há problemas. Por favor, levante-se e sente-se comigo. Precisamos conversar.

O guardião da sexta casa franziu as sobrancelhas, mas não replicou, seguiu a deusa até uma mesa de pedra cercada por bancos do lado esquerdo do grande jardim. Ali também havia várias estátuas de Buda, em tamanhos menores do que as estátuas na entrada do templo.

Athena se sentou, e o cavaleiro sentou-se à sua frente. Saori sorriu, observando o semblante carregado do guardião. Ainda era possível ver as marcas avermelhadas que as mãos do cavaleiro de Fênix deixaram na pele clara do pescoço dele, mas aquelas feridas pouco incomodavam o cavaleiro de Virgem; havia incômodo mais profundo e preocupante.

— Shaka, por favor, abra os olhos — a deusa pediu, delicadamente. — Preciso entender o que sente.

— O que sinto? — o guardião indagou, antes de lentamente obedecer à ordem.

— Sim. Por que tem sido tão cruel com Ikki? O que deseja com suas ações?

Shaka manteve-se calado por alguns minutos, ainda sem encarar Athena. Quando voltou seus olhos para ela, a deusa foi capaz de perceber uma perturbação tão profunda que talvez nem mesmo o discípulo de Buda a reconhecesse. Seus olhos azuis e profundo, assim como a boca de Krishna, pareciam ser capazes de mostrar o universo e todas as constelações existentes.

— Como cavaleiro e mestre, meu dever é conduzi-lo ao limite de suas forças, não apenas a força física, mas a psíquica. Fênix está dominado por uma profunda culpa, fruto de um sentimentalismo obsoleto e apego a um passado emocional danoso. Eu só tentei libertá-lo de tudo isso. Essa é a minha função, não é?

Saori também demorou a responder. Shaka continuou parado, encarando-a, e sua mão deslizou lentamente por uma mecha do seus próprios cabelos, e ele brincou com ela de forma um tanto nervosa para alguém tão sábio e equilibrado.

— Sim — a deusa disse, tempos depois. — Embora eu ainda considere os treinamentos demasiados duros e cruéis, sei que são necessários para que cada cavaleiro consiga ser o guerreiro perfeito. Mas sinto que não é apenas isso, Shaka.

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— E o que seria? — Shaka voltou a franzir a testa, confuso.

— Você precisa fazer essa pergunta a si mesmo.

— Já fiz por diversas vezes e a única resposta que tenho é... — o mar muito azul, universo amplo, dos olhos do guardião tornou-se tormentoso e ele calou-se. — Não consigo achar uma resposta. Sinto-me como uma lótus que não consegue romper a lama da ignorância, Athena.

— Talvez seja isso.

— Isso o quê?

— Precise parar de pensar e começar a sentir, Shaka.

— Sentir? Quais sentimentos devo ter, Athena? Não entendo...

A jovem deusa respirou fundo. Shaka não conseguia entender o que sentia e nessa confusão, perdia-se. Ele queria ajudar, não conscientemente, mas não sabia como. Não entender seus próprios sentimentos, ser socialmente inapto, o tornava também um pouco desumano. Ele sentia, mas não compreendia.

— O que sente por Ikki? — Saori perguntou, direta, e recebeu o olhar atônito do cavaleiro. Os olhos de Shaka tornaram-se mais escuros e as maçãs do seu rosto ganharam um rubor condenatório.

— Ele é meu discípulo, mais que isso, é um companheiro de armas. — moveu os ombros como alguém que carrega uma desconfortável carga.

— Hoje ele o decepcionou, não foi?

— Sim.

— Shaka, olhe para dentro de você. perceba seus sentimentos verdadeiros e traga-os para a luz. Não adianta ignorá-los, lutar contra o que sente, achar que é uma simples fagulha que pode ser apagada antes de tornar-se uma fogueira. A fogueira já está queimando.

— Não é o que está pensando...

— Sim, é. Tudo que tem feito até hoje foi porque perdeu o controle dos seus sentimentos. Não é dessa forma que ajudará Ikki a se livrar dos seus fantasmas. Não é fazendo-o mergulhar no inferno que o fará renascer de lá. O que fez foi errado.

— Eu sei. E já colhi as consequências —Shaka replicou.

— Sim. Sabe o que fez e precisa parar.

— Os sentimentos dele são patéticos — o cavaleiro disse, a voz calma tremulando um tom. — A raiva, o amor excessivo por um passado morto, a sentimentalidade para com o irmão e amigos... — seus olhos voltaram-se lentamente para Saori — A...

— Continue. Traga para a luz, Shaka.

— A paixão por mim. — ele completou com um grande pesar, evidente em seu semblante.

Saori sorriu complacente.

— Foi essa paixão que o tocou tão profundamente?

— Não. Não foi.

— E o que foi?

— A capacidade dele de... sacrificar-se. Sacrificar-se não por uma causa, uma ideia, não pela humanidade, mas por alguém. Por seres tão baixos e imperfeitos quanto ele.

A expressão que Shaka fazia ao proferir cada palavra era de uma estranheza profunda, quase desprezo. Ele realmente não conseguia conceber, entender aqueles sentimentos que notava tão profundos e verdadeiros no cavaleiro de Fênix e que agora passava a enxergar também na deusa. O que os levavam ao sacrifício era completamente diferente do que o levava ao sacrifício.

Saori estendeu a mão e tocou a dele, fazendo o cavaleiro respirar fundo.

— Perdão, Athena. Falhei com a missão a qual me confiou.

— Shaka. Você não falhou.

— Não? Não consegui ajudar Fênix. Ele continua preso a esses sentimentos estagnados, preso às suas dores. Não o ajudei em nada.

— Fênix não era a missão, Shaka. Você era.

Um profundo espanto tomou o rosto do cavaleiro de virgem, mas a deusa continuou sorrindo.

— Essa prova era sua e você ainda tem um longo treinamento pela frente.

— Treinamento...

— Treinamento para ser humano. Deixarei que pense nisso.

Saori ergueu-se. Shaka rapidamente fez a reverência, e ela deixou o templo de virgem, sorrindo levemente, enquanto ele mergulhava em mais questionamentos.

00**00

O lugar estava muito movimentado naquele início de noite, o que não era algo natural, mas devido às comemorações e por haver poucos locais de diversão próximo ao santuário, a taverna estava cheia de cavaleiros, aspirantes e guardas. Havia muito riso e conversa alta e não era um local ao qual Shun estivesse acostumado ou mesmo gostasse,mas não havia outro local naquelas imediações e todos queriam estar por perto do santuário depois dos últimos acontecimentos.

O cavaleiro de Andrômeda olhou ao redor, procurando e finalmente localizando o cavaleiro de cisne na última mesa no fundo da taverna. Shun caminhou até ele, sentou-se à sua frente e como fazia muito calor, pediu uma caneca de cerveja.

— Aqui estou, Hyoga — disse, sério. — O que quer me dizer.

O russo respirou fundo. Não seria fácil abrir o seu coração, mas ele tentaria ser tanto objetivo quanto verdadeiro.

— Eu preciso pedir desculpas, Shun. Não por ter partido, mas por não ter conversado com você de forma sincera antes.

— Isso é passado. Não tenho mais mágoas. Não mais. Se era só isso...

— Senti sua falta, Shun. Muito. Ouvi certa vez que a distância fortifica o amor e talvez isso seja verdade. — confessou.

Shun soltou um riso de troça, mesmo sem querer.

— Desculpe, Hyoga, mas... Bem, isso soa tão absurdo. Eu estava parado no mesmo lugar. No mesmo lugar, se você quisesse voltar... Se você se arrependesse...

— Eu não podia. Não sendo quem era. Não com todo o peso que eu carregava. Não é fácil entender.

Shun sorveu um pouco da cerveja, nervoso. Observou o movimento ao redor. Alguns guardas, poucos cavaleiros. Todos pareciam muito alertas e conversavam sobre o recente ataque, tensos.

— O que quer que eu diga? — indagou, voltando a encarar o loiro. — Acabou, Hyoga. Acabou a mágoa... e também o amor.

O russo pareceu surpreso com aquela afirmação, mas dignamente balançou a cabeça.

— Não vim aqui para reconquistá-lo. Confesso que ao vê-lo, tive essa vontade. Percebi o que perdi. Mas sei que não é justo. Sei que não é mais possível e fico feliz que esteja bem.

— Sim, estou bem. Estou namorando. — disse, rindo levemente, o rosto vermelho.

Hyoga o encarou com uma sobrancelha erguida.

— Câncer.

— Sim. Estamos juntos há certo tempo.

Hyoga guardou silêncio por longos minutos, bebendo o vinho da sua taça.

— Imaginaria você ao lado de todos, menos dele.

— Por que não? O que sabe dele?

— Que é um psicopata infanticida.

— Ele mudou. Assim como eu mudei, Hyoga. Assim como você mudou. Você não suportou a pressão dos acontecimentos, justo você que parecia tão centrado, eu entendo. Na verdade, a convivência com Angelo me fez compreender melhor os outros. Eu era muito ingênuo, não sou mais.

— Angelo? — Hyoga soltou um meio sorriso irônico.

— Esse é o nome dele. Máscara da Morte já não existe.

— Acredita mesmo nisso? Acredita que é possível uma mudança tão profunda?

— Sei que ele mudou como eu mudei, me superei. Assim como você tentou superar e não conseguiu.

— Eu estava perdido, Shun...

— Não precisa explicar, Hyoga, eu sempre soube. Acha que não percebia seus sonhos? Acha que não ouvia você chamar por sua mãe, por seu mestre, e chorar à noite? Eu sempre soube.

— Você nunca comentou.

— Seu orgulho suportaria?

— Não sei.

Shun sorriu levemente, sem amargura, apenas descrença.

— Seu orgulho nem mesmo suportou a indiferença do Ikki em relação a nós dois. Mesmo que você não sentisse nada por ele além de certa atração.

Agora Hyoga o encarou lívido e Shun continuou, indiferente.

— Vocês sempre me acharam um bobo, eu sei. E sei também que não era um bobo de forma pejorativa, mas um ingênuo, uma flor, que não deveria ser machucada. Sensível demais, bondoso demais, mas eu também soube ocultar. Você e Ikki sempre estiveram sob meus olhos, como eu poderia não saber? Aquilo doeu na época, mas eu sabia que não era sério pra vocês. No fundo, eu sempre acreditei que você me amasse, só que... Você me achava importante demais para apenas uma noite, não é? Com Ikki era mais fácil...

— Foi antes de nós dois...

— Eu sei. Mas não foi antes dos nossos sentimentos, foi?

— Não. Você tem razão, Shun. Sempre subestimamos você.

— Eu não os culpo. Eu era mesmo sensível demais, bobo demais. Entendo os motivos de terem ocultado isso, nunca tive mágoas.

— Por que nunca disse que sabia?

— Pra quê? Ikki ficaria envergonhado e sumiria pelo mundo, assim como você fez. Eu perderia em uma só tacada as duas pessoas que mais amava na vida. Foi egoísmo. Também sei ser egoísta. — riu de leve, voltando a beber a cerveja e fazendo um sinal para o garçom, pedindo mais.

Hyoga riu também. Shun era incrível. Como foi capaz de perdê-lo? Como foi capaz de não enxergar quem ele era de verdade? O idiota sempre foi ele próprio. Shun era especial. Mas pior que isso foi cogitar reconquistá-lo. Nunca deveria ter retornado para tirar a paz daquela criatura única. Depois de tudo que fez, considerava-se mesmo digno dele?

— Espero que possamos voltar a ser amigos, Shun. Você me faz falta, muita. Sei que não mereço...

— Por que não? Sempre fomos amigos, irmãos, antes de tudo, Hyoga. Isso nunca vai mudar. — sorriu, completamente liberto de qualquer mágoa que ainda nutrisse pelo outro. Apesar de todos os medos que o acompanhavam até aquele encontro, reconhecia que ele servira para libertar a ambos.

— Como fui capaz de perdê-lo? — o russo deu vazão aos pensamentos com certa tristeza. — Sonhei tanto em um dia dizer que te amava, mas tudo deu errado. Primeiro vieram tantas batalhas, depois Ikki, e eu...Quando finalmente tive coragem, não era mais uma pessoa boa pra ninguém. Sempre machuco os que amo... Acho que na verdade eu tinha medo de fazer o mesmo a você.

— Eu sei. Eu sempre soube, meu amigo. Está tudo bem. Doeu, mas já passou.

Aquele era o maior problema para o russo; a capacidade de Shun de aceitar tudo o desarmava. Apesar das lágrimas, dos pedidos para que ele não fosse, o mais novo nunca deixou de compreendê-lo. Aquilo era o que mais doía. Foi insensível com ele, sempre tão sensível.

O garçom trouxe a cerveja de Shun, e Hyoga voltou a encher sua taça com o vinho que já estava sobre a mesa.

— Então é isso que seremos, amigos?

— É. — Shun sorriu, provando a bebida. Fazia calor aquela noite e nuvens começavam a tomar o céu, anunciando uma tempestade. — Há algo maior que isso?

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Hyoga sorriu e ergueu a taça.

— Um brinde à nossa amizade, Shun.

Eles brindaram e o passado ficou esquecido. A conversa foi direcionada para os feitos presentes e para aquela amizade antiga e recém-nascida. Havia mais, era evidente, havia os sentimentos profundos, mas, por escolha, eles resolveram viver aquele momento com a leveza de uma bela amizade. Do restante, o tempo se encarregaria.

00**00

Já era tarde. Muito tarde. Máscara da morte não conseguia simplesmente dormir, até porque o santuário estava agitado com tantas visitas, e seus defensores, alerta depois dos últimos acontecimentos. Mas ele não estava alerta, estava de pé de frente ao muro lateral da escadaria, consumindo uma garrafa de vinho. Os sentinelas jaziam posicionados, a Kripteia se espalhava, sondando cada canto do Santuário. Ele não precisava mesmo se preocupar. E se precisasse, com certeza aquela não era uma boa noite para isso. Permanecia angustiado. Sabia onde Shun estava, sabia o que ele fazia e isso o atormentava. Havia deixado o santuário pouco depois de Andrômeda. Caminhado pela ruas, ouvindo os festejo, sendo atraído pelos cosmos festivos. Deveria ter ficado onde estava. Aquela saída só serviu para piorar tudo.

Não entendia o motivo daquele encontro, daquela conversa. O passado deveria ficar no passado, dentro de uma cova. Era simples. Por que Shun não poderia pensar assim?

Virou a garrafa nos lábios e sentiu uma presença, mas não se virou. O visitante se recostou no muro ao seu lado, sem cerimônias ou convite.

— Seu cosmo agitado não está me deixando dormir.

Máscara da morte riu.

— Não acredito que desceu do seu templo só para me provocar, Afrodite.

— Não vim provocar — Afrodite o olhou como se aquilo o assustasse. — Vim compartilhar o vinho. — tomou-lhe a garrafa e virou na boca.

Câncer riu, descrente.

— Em outros tempos você me censuraria. Diria que beber demais me deixaria desatento ao avanço do inimigo.

— Em outros tempos, não receberíamos Poseidon e Hades no santuário. Não há nada pior a acontecer, eu garanto.

O canceriano acabou rindo e aceitou a garrafa de volta, bebendo um longo gole.

— Por que está aqui, Afrodite? — perguntou. Havia muito tempo que eles não se falavam, que parecia que a amizade havia realmente acabado.

— Porque eu quis. É como tudo que faço. — respondeu o pisciano, mirando a noite como se procurasse algo na escuridão. — A verdade é que essa nossa briga já perdeu o propósito...

— Nossa briga? — Máscara da Morte riu.

— Não se faça de inocente. Você me... magoou — ele baixou o olhar levemente.

— Fiz uma única vez o que fez comigo a vida toda.

— O famoso rancor canceriano, finalmente — sorriu com o canto dos lábios, ainda com o olhar baixo. — Aquilo doeu...

— Eu sabia que ia doer. Foi por isso fiz. Você nunca teve muitos escrúpulos em enfiar o dedo na ferida dos outros, Afrodite. Isso desde criança, não cobre isso de ninguém.

— Não cobro dos outros, só de você. Você é meu amigo.

Os olhos de Câncer que até então acompanhavam o olhar do sueco em direção ao escuro voltaram-se para o outro cavaleiro, confusos.

— Eu? Nunca achei que tivesse alguma importância pra você — foi sincero.

— Porque é um tolo, um simplório — Peixes declarou, rindo com desprezo. — Com quem mais eu poderia me importar?

— Saga.

— Saga foi uma paixão de infância, um delírio. Nunca representou o que eu pensei. Minhas questões com ele era mais vaidade, orgulho ferido, agora sei disso. Admirei sua nobreza, seu coração e sua aparência. Quando ele se apossou do santuário, quis acreditar que ele fazia o certo, que era justo, mas depois que voltamos, percebi que isso não faz o menor sentido. Eu me iludi porque foi conveniente.

— Kanon fez mesmo milagres...

Em outro momento, Afrodite teria dado uma resposta malcriada, mas naquele momento ele apenas corou e calou-se. Percebeu então que o cavaleiro de Câncer ainda matinha no pulso a pulseira de Afrodite. Será que nenhum deles havia tirado aquele ramo trançado do pulso durante todo aquele tempo? Será que aquela noite tinha sido mesmo tão importante, capaz de mudar homens tão brutos quanto eles?

—Talvez Kanon não tenha muito a ver com isso — desconversou. — Sempre fomos amigos e estou preocupado com a angústia que sinto em você essa noite. Vamos, o que está acontecendo?

O italiano hesitou, mas acabou chegando à conclusão de que pouco se importava com a opinião de qualquer um.

— O maldito pato bailarino, filhote de Camus de Aquário.

— Ah, o Cisne. O que tem ele?

— Você sabe...

— Sei que ele foi amante de Shun no passado, mas em que isso importa?

— Eles estão juntos agora. Neste exato momento.

— Hum... — Afrodite ponderou, mordendo os lábios. — Como descobriu?

— Ele me disse. E eu vi.

— Ah, Carcamano, por Athena! Se ele te disse é porque não fará nada de errado.q quem vai confessar a própria infidelidade?

— Como posso ter certeza? Sei que Shun ainda sente algo por ele e... ele não é manchado como Io, Afrodite.

— Deve considerar Andrômeda muito leviano então...

— Claro que não! — o canceriano se irritou. — Mas ele é puro, é inocente e tem o coração tão bom que é capaz de perdoar Cisne por tudo que ele fez... E... Não vou suportar isso, não vou.

Afrodite revirou os olhos.

— Precisa confiar mais em si mesmo. O que Shun sente por você é verdadeiro, mesmo que eu não entenda. Ele te escolheu a mim, não se recorda disso?

— Cisne foi o grande amor dele, não consigo me sentir seguro — Câncer confessou, virando a garrafa de vinho novamente nos lábios. — Mas quer saber? Foda-se! Se ele quiser ficar com aquela bailarina fresca, que fique! Estou cansado!

— Cansado de quê?

Máscara da Morte encarou os olhos do amigo. Já não tinha condições de manter a máscara.

— De sentir medo... — confessou. — Se for pra acontecer, que aconteça, cáspita! E logo!

Afrodite ficou sem jeito. Não gostou de ser testemunha de tanta sinceridade, mas não poderia simplesmente fugir como no passado fazia.

— Não se preocupa, se o Shun o escolher, você o desafia para uma batalha e o mata,problema resolvido! — tentou fazer piada.

Angelo mirou o rosto do amigo, descrente. Afrodite simplesmente não sabia ajudar, embora quisesse.

— Obrigado por me querer banido da ordem. — riu. Ao menos as palavras serviram para diverti-lo.

— Foi só uma ideia — o loiro riu, puxando a garrafa de vinho e tomando mais um gole. — Queria ajudar, mas sei que sua angústia só terá fim com o nascer do sol. Vou para o meu templo.

— Mesmo? A casa de Gêmeos é mais próxima...

— Isso não é da sua conta, Carcamano!

Máscara da morte riu, ouvindo os passos do cavaleiro de Peixes se afastarem. Era bom ter o amigo de volta. Ao menos teve alguma alegria nesta noite infernal.

00**00

As ruas já estavam desertas, os dois caminhavam a passos lentos. Shun parou na entrada da rua e mirou o amigo.

— Daqui eu vou sozinho, Hyoga.

— Não vai voltar ao santuário?

— Vou, mas preciso fazer algo antes.

— Sei. Então... até amanhã — Hyoga se inclinou e beijou levemente o rosto de Shun.

— Até amanhã — Shun sorriu, pôs as mãos nos bolsos e começou a descer a rua deserta. Sabia que o irmão estava ali. Precisavam conversar.

Encontrou Ikki sentado na praça de frente à casa, escondido nas sombras de uma árvore.

— Espero que a noite tenha sido agradável — ele disse, a voz monocórdia.

Shun sorriu, sentando-se ao lado dele.

— Foi sim. Acho que finalmente deixamos tudo em pratos limpos.

— E se sente bem com isso?

— Sim. Me sinto mais leve, sei que Hyoga também. Você deveria ficar também, irmão.

Silêncio.

— Shun...

— Ikki, não precisa se explicar. Era sua vida. Não era obrigação me contar, e eu sempre soube.

— Não quis enganá-lo, só achei que não valia a pena pensar sobre aquilo. Não teve importância.

— Teve sim. Teve mais importância do que vocês dois quiseram admitir esse tempo todo. Talvez não tenha mais, mas por um tempo teve, mesmo que negassem.

— Shun, Hyoga te amava, acredite...

— Eu acredito. — Shun sorriu. — Isso não tem a ver com o fato dele me amar, sei que ele amou, talvez ainda ame. Mas vocês eram amigos, se respeitavam, admiravam. Havia mais do que uma simples noite, embora não quisessem admitir por minha causa, por amor a mim; amor demais.

Fênix levou as mãos aos cabelos. Shun existia mesmo? Então era assim que ele via aquela mentira? Aquela sujeira que ambos deixaram escondida embaixo do tapete por tanto tempo?

— Sinto muito por ter escondido isso de você. Muito mesmo. Fui covarde e acabei me culpando por seu sofrimento. Se eu houvesse falado sobre...

— Ikki, uma coisa não teve a ver com a outra, não foi por causa disso que Hyoga foi embora. Ele tinha seus próprios problemas e você sabe. Ele precisava encontrar o caminho dele, como você precisa agora...

— Caminho? Eu já tentei tantos, Shun — sorriu amargo. — Todos eles...

— Te trazem ao Santuário.

Ikki encarou o irmão pela primeira vez.

— E o que adianta? Quem eu sou para a grandeza do Santuário?

— A Fênix, a destemida e teimosa ave imortal — Shun sorriu. — Aquele que não teme nada além do próprio coração.

— Não temo meu coração, mas o que ele abriga — Ikki murmurou. — Ele já sangrou demais...

— Então está na hora dele aprender outras funções.

— Shun, seja lá o que pense, realmente não é pra mim. Não com a pessoa que eu... me importo. — desviou o olhar, envergonhado, ruborizado. Falar do que sentia, mesmo para o irmão, nunca foi fácil.

— Por quê?

— Porque ele é um monge, por Athena! —De repente seus sapatos se tornaram bastante interessantes.

— Qual coração mais difícil de conquistar o coração de um monge ou de um assassino?

— Nem vem!

— É sério! — Shun riu. — Ikki, você mais que ninguém está acostumado a fazer o impossível. — ele disse e deu um beijo no rosto do irmão. — Estou indo pro Santuário. Nos vemos amanhã. Boa noite, irmão.

Deixou-o novamente envolto nas sombras da grande árvore, voltando a andar com as mãos nos bolsos pela rua escura.

00**00

Shun subia as escadas lentamente em direção ao templo de Câncer. Estava emocionalmente cansado e tudo que queria era um banho e cama, mas sabia muito bem o que o esperava. Suspirou. Torcia para que As Panateneias terminassem logo e que a vida no Santuário voltasse ao normal,ao menos à normalidade conhecida.

Antes que chegasse ao grande salão, encontrou Angelo na entrada, acompanhado de uma garrafa de vinho. “Bom começo”, pensou Shun e suspirou desanimado.

— E então? A volta ao passado foi... interessante? — Máscara da Morte indagou com deboche. — Pelo adiantado da hora devem ter tido muito que recordar.

— Angelo, não faz isso... — Shun pediu, cansado. — Sabe que eu precisava.

— Precisava ficar a noite toda?

—Tínhamos muito a conversar. Gostaria que entendesse.

— Não entendo.

— Como você é difícil! — Andrômeda irritou-se. — Quando eu saí daqui, você parecia bem com isso, você pareceu entender!

— Mas agora não entendo! Não depois de cada guarda do santuário ver como vocês dois estavam risonhos e entrosados dentro daquela taverna! Não pareceu um sacrifício, não pareceu uma conversa de acerto de contas pra ninguém! Parecia que vocês estavam reatando! — derramou sua mágoa sobre o outro.

— Isso não é verdade! — Shun riu, nervoso — Agora nossa relação vai se basear em fofocas do Santuário?

— Não foi fofoca. Eu fui até lá, eu vi! — Máscara da Morte confessou, desviando o olhar de Shun e virando o resto do vinho na boca, antes de arremessar a garrafa na parede. — Incrível como vocês dois combinam. Dois belos anjos! Perfeitos juntos!

— Angelo...

— Não tenta, Shun! Só estou comprovando o que todos já sabem! Nós dois não combinamos em nada! Eu sou um monstro homicida e você é um anjo, a pessoa mais pura sobre a terra, não é isso que falam do receptáculo do Hades?

— Não fale sobre ele! eu não gosto de ouvir isso! — Shun vociferou, perturbado. — Você quer me magoar? Precisa disso, não é?

— Não é isso...

— Faça, Angelo! Diga coisas que me magoem, mas saiba que não sou capaz de perdoar tudo! Ao contrário do que pensa, não sou um anjo.

Máscara da Morte mordeu os lábios, e praguejou, e esmurrou o muro.

— Magoá-lo é a única coisa que posso fazer para aliviar a raiva, a dor que sinto aqui! — bateu no peito. — Eu sou o cavaleiro de Câncer! Sou cruel, um assassino desgraçado, esqueceu?! Talvez você tenha esquecido, Piccoli, não eu!

— O que quer dizer com isso?

O italiano soltou alguns palavrões, resmungados em italiano, e depois suspirou, passando as mãos nos cabelos.

— Vá dormir, bambino — ele disse com a voz mais mansa e melancólica do mundo. A oscilação de humor era muito evidente —Me deixe com mios demônios...

— Mas eu quero ficar com você...

Angelo sentiu o coração morrer um pouco com aquela declaração. Aproximou-se de Shun, beijou-lhe a testa e o abraçou. Um anjo. Talvez o visse como algo sagrado demais. Talvez devesse melhorar para não ferir a única pessoa que o amava de verdade. Havia tantos “talvez”.

— Não vou deixar que saia de perto de mim, Piccoli. Nunca. Mas preciso ficar sozinho mais um pouco. Vá dormir. Teremos um dia cheio, amanhã.

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Shun assentiu com a cabeça. Era melhor mesmo não discutir mais. Esperaria o dia seguinte, sabia que tudo ficaria bem no final. Deixaria que Angelo pensasse, que exorcizasse seus demônios, os últimos. Sabia que apenas ele poderia fazer isso.