Apolonyx

Estatua Viva


Sai do salão, passando pelo portão de ouro e pude ver parado na escadaria branca uma carruajem puxada por cavalos negros alados e dois homens – um centauro velho e um jovem semideus negro.

Pierce acenou, por algum motivo não senti nada do que sentia antes.

– Oi. - murmurei. Quíron era um centauro de pele e pelos escuros, barba e cabelo com alguns fios brancos e olhos pretos. Ele era igualzinho a alguns centauros que vi pelo Acampamento, só que mais velhinho.

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Abracei Pierce.

– Há quanto tempo, né?

– Uhum. - sorriu. - Tudo bem?

– Eh... estamos nos preparando para uma guerra, não?

– Culpa sua?

– Em parte.

– E os outros? Beccs e...

– Estão bem, acho. Já faz um breve tempinho que não os vejo. - virei-me ao centauro. - Quíron. - cumprimentaram.

– Você então é a tão falada Dafni Pandora, que fugiu do meu acampamento com uma filha de Zeus e um deus da morte?

Corei, envergonhada.

– Não fique assim, menina. Só acho que vou ter que reforçar a segurança.

– Desculpe.

– Tudo bem. Agora vamos?

Assenti.

Entramos na carruajem. Quíron pegou pegou as rédeas e então os Testrálios começaram a voar, levando a carruajem consigo. Não posso dizer muito sobre a viagem, pois ficamos a maior parte do tempo a cima das nuvens.

O sol foi se pondo, já era tarde.

Passamos por várias árvores e nevoeiro até acharmos a Colina Meio-sangue do Acampamento, com a árvore de Thalia ao lado. Quíron estendeu a mão quando chegamos perto da fronteira, um raio desceu do céu e então ultrapassamos um tipo de plastico gelatinoso.

– Para quê isso? - perguntei a Quíron.

– Autorizar os Testrálios a entrar no acampamento, tenho de fazer isso com animais sombrios. Por precaução.

– Hum... - a carruagem pousou a poucos metros da Parede de Escalada, vazia. Era tarde, com certeza todos estavam almoçando no Pavilhão do Refeitório agora.

Pierce me ajudou a descer, Quíron despachou os Testrálios para o estábulo – onde algum semideus guardaria a carruagem. Estávamos indo para meu chalé quando me impediram de ir adiante.

Arqueei as sobrancelhas.

– Antes de chegarmos lá, quero que fique ciente de uma coisa. Logo após que saiu do acampamento, quando os monstros declararam guerra, nos atacaram.

– Como se está tudo intacto?

– Queriam mandar uma mensagem clara e forte para todos os semideuses, criaturas, seres, deuses, ninfas e você. Eles arrebentaram nossas defesas em grande número e atacaram o santuário de suas lembranças. Sinto muito.

– Hein? Você não está dizendo que... - comecei correr em direção ao meu chalé.

Pierce correu atrás de mim, dizendo:

– Nós resistimos ao ataque, dizimamos muitos, mas o estrago foi grande. Se prepare para o que vai ver, Pandora.

De repente parei, incrédula com a visão.

– Como posso me preparar para ver parte de mim destruído? - murmurei, catatônica.



Eu diria que... sabe quando seus sonhos viram pesadelos? Quando o mais puro dos anjos tem as suas assas queimadas? Bem, esta foi o impacto da visão em mim.

Destruído, tudo destruído.

Atravessei o tecido de proteção danificado e caminhei pela trilha do meu jardim de papoulas mortas. Cada passo que eu dava uma lágrima caia, triste, desamparada. Eu sentia a dor daquele solo, os machucados dos escombros do chalé pisoteado. Entrei onde seria o salão principal, com a fonte toda destruída e quartos também.

No chão, o retrato de minha irmã – quebrado.

Desabei, olhei para o céu e gritei com toda a força dos meus pulmões.

Pierce se aproximou.

– Pandora...

Era difícil escutar enquanto se chora.

– Pandora... éh... Dafni...

Olhei para ele.

– Sei que é difícil, mas... - gritei novamente.

– Sai daqui! Sai! - atirei um pedregulho nele. - Sai da minha casa! Fora!

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Quíron empurrou Pierce para fora do perímetro do meu chalé, sumindo de vista.

Gritei novamente.

Arfando, levantei. Por mais incrível que pareça nenhuma estátua tinha quebrado, arranhado, etc. O de minha mãe ainda estava lá, enorme e resistente. Abracei-a com os olhos fechados – tive impressão de que me abraçara de volta, mas fora só impressão mesmo.

Enraivecida, tirei o par de luvas de metal pendurado no meu cinturão – a arma/wolverine que Nyx me dera e comecei a retaliar as árvores em volta do meu chalé. Esgotei todas as minhas forças e forças negativas ali.

Cansada, encostei-me na estátua de minha irmã Filotes.

– O que vou fazer agora? - suspirei.

Logo ouvi passos.

Pensei que fosse Tánatos ou Becca, mas eles não teriam chegado tão rápido assim. Além disso, os passos deles eram leves e silenciosos como de predadores. Estes de agora quebrava um galho fino ou outro – ótima audição, eu sei.

Um grupo de pessoas apareceu no horizonte, chegando rapidamente até a mim, armadas de arco e flechas.

O líder, um garotinho de no mínimo 14 anos vinha na frente. Tinha cabelos loiros e parecia-se realmente com meu pai, o que presumi que eram filhos de Apolo.

– Pandora. - cumprimentou. - Nós resolvemos abrigá-la no nosso chalé. Lamentamos pelo acontecido. - aquela era uma criança mesmo?

– Obrigada, mas não precisa.

– Bem, já sabemos de tudo. Nosso pai já nos avisou. - então Apolo sabia do acontecido e não tinha me avisado? Quanta consideração!

Sorri.

– Olha, não precisa. Eu...

– Insistimos. É nossa irmã, claro. Temos de ajudar uns ao outros.

– Mesmo, não precisa. Vou viajar. Procurar minha mãe... - olhei para o céu. - tenho de pegar o antidoto.

– Podemos ajudá-la.

Suspirei.

– Eu só preciso... de um professor. Sei que é estranho, mas não sei usar ainda arco e flecha.

O líder sorriu.

– Grecta! - uma menina morena de olhos azuis se aproximou, saindo da multidão. - Pode fazer este favor a nossa irmã?

– Claro. - curvou-se.

– Agora, Pandora, venha conosco. Só por hoje.

Novamente suspirei.

Os filhos de Apolo, meus irmãos eram bem insistentes. Tive de aceitar, claro, mas pedi para ir depois – queria ficar um pouco mais com minhas estátuas. Eles entenderam, sabiam da dor que eu sentia. O chalé é sua única casa, moradia em que não precisávamos nos esconder, nosso coração, a única ligação que temos com nossos pais deuses que estão longe e não podem nos ver.

Já era tarde quando fui dar uma última olhada nos meus irmãos e irmãs deuses. Deixei Tánatos por último, como o último salgadinho do pacote. Admirei sua feição, o contorno de seu costo, os lábios fartos e vermelhos, braços e abdomen em forma.

Como a lava que sai de um vulcão em erupção, a saudade explodiu de mim e escorreu pelos meus braços. Abracei a estátua, dura, fria e parada.

Dessa vez eu podia jurar que a estátua me abraçou, beijou meu pescoço – foi isso que fez-me afastar, assustada.

Tánatos-estátua se mexeu, desceu do pedestal de pedra e sacudiu a poeira. A brancura aos poucos foi sumindo, dando lugar a uma pele levemente menos pálida. O cabelo tornou-se negro como o vazio do infinito, lábios ficaram avermelhados, olhos que eram entradas de tuneis da morte e finalmente tornou-se uma pessoa normal – quer dizer, aparentemente normal.

Tropecei, caindo no chão.

– Calma, Dafni. - se aproximou. - Sou eu.

– Você... é você? - levei a mão a boca.

Tánatos estendeu a mão, me ajudando a levantar.

Respirei fundo.

– Como chegou tão rápido?

– Posso usar essa estátua como portal... todos os nossos irmãos, na verdade. - segurou por um bom tempo minha mão, sorrindo. - Posso continuar a ser uma estátua se quiser.

– Não, estou feliz. - e o abracei. - Onde está Beccs? - perguntei, sussurrando.

– Foi pedir a Zeus sua carruagem emprestado.

– Por quê?

– Ela vai atrás da nossa mãe.

– O que?! - dei um passo para trás. - Ela não pode...

– Calma. Ela está mais protegida do que qualquer um de nós. Fique tranquila – pegou a minha mão e beijou a palma. - Sorte que um dos seus irmãos me avisou antes. Eu estava prestes a piorar tudo...

– Como assim?

Pôs o seu dedo indicador sobre meus lábios.

– Shiii... quieta. Deixa eu aproveitar este momento. - e ficou a me observar por vários minutos.

De repente senti um calor em mim, por algum motivo tive a sensação de que tinha de ir para o Chalé de Apolo.

Tánatos percebeu algo estranho no meus olhos.

– É o sinal dos filhos de Apolo. Conheço essa técnica feita através do sol. - murmurou tristemente, mas só por um momento. - Pandora, posso lhe perguntar uma coisa?

– Sim, mas rápido.

– Ainda gosta daquele tal Pierce?

– Bem... - olhei para o sol. A luz não era tão forte para mim, eu via a bola de fogo perfeita no céu. O calor pela primeira vez parecia me fortalecer, embora em parte me enfraquecesse. Sol não combinava com a noite. Ao mesmo tempo que era beneficiada, mas também enfraquecida – este era um tipo um daqueles tipos de paradoxo irônicos que nos surpreende aparecendo em nossa vida.

Buscando coragem, respondi:

– Não. - sorri. - Com certeza não.

Ele sorriu também.

– Então isso resolve um problema entre nós. - e me