Nenhum dos outros garotos precisou perguntar nada quando viram o olhar desesperado do amigo. Fizeram um minuto de silêncio em respeito ao problema de Lupin e então começaram a puxar assuntos aleatórios. Se não podiam impedir suas transformações, distraí-lo delas parecia uma boa opção.

A agitação na sala comunal da Grifinória era a mesma de todos os dias e logo os Marauders haviam encontrado um assunto que fluiu bem. Então se dirigiram para fora, a fim de tomar café da manhã e depois assistir às últimas aulas da semana.

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– Sexta-feira! Finalmente. Essa semana pareceu demorar éons para passar.

– Eu achei bem rápida... – Remus comentou baixinho, mais para si mesmo, talvez.

Nenhum deles disse nada, apenas concordando silenciosamente que precisavam distrair o garoto.

– Estou com uma pilha enorme de deveres para fazer – Peter comentou, meio aborrecido. – Como conseguem ficar em dia com tudo?

– Quem disse que estamos em dia com tudo? – James falou num tom sarcástico, revelando a verdadeira situação dos quatro.

– Bom, eu já terminei meu dever de Poções, se quiserem copiar – Sirius entrou na conversa, ainda meio perdido. – Mas alguém vai ter que me ajudar com Aritmancia.

– Troco o meu pelo seu. Estou totalmente perdido em Poções – e então eles haviam conseguido colocar Remus na conversa.

– Só consegui terminar o de Transfiguração até agora. Troco pelo de vocês.

– E eu pego as três que já fizeram e não ajudo com nada, pois meu nível intelectual é baixo – Peter deu uma risadinha.



Após todas as aulas do dia acabarem, e a pilha de dever para fazer crescer consideravelmente, os Marauders foram para o dormitório, tentar adiantar alguma coisa antes da fatídica hora em que Lupin seria levado. Quando o sol baixou e baixou mais um pouco, todos passaram a olhar para o relógio, como se assim pudessem pausá-lo. O único calmo era Black que conversava normalmente com Lupin.

– Entendeu? Essa é uma poção um pouco complicada, mas acho que até mesmo Peter conseguiria com um pouco de prática e atenção.

– É difícil, hein? – o menor riu abertamente, acostumando a até ele mesmo às vezes fazer piadinhas com sua capacidade de compreensão.

– Eu... – mais uma consulta ao relógio. – Eu acho que está na hora de ir. Até amanhã – o suspiro que ele deu levantou poeira do chão.

– Até daqui a pouco, caro Moony – James corrigiu. – Assim que estiver pronto, apareceremos por lá.

– Não.

– O que? Como assim, não? – Sirius falou, indignado.

– Não quero que apareçam por lá, hoje. Meu animal interior precisa ser deixado na solidão – ele sorriu, tentando fazer piadinha com sua condição.

– Ele sabe que vamos aparecer por lá de qualquer jeito, não é mesmo? – Black perguntou aos outros dois, assim que Lupin sumiu do lugar.

– Claro. Até parece que iríamos deixá-lo sozinho – James revirou os olhos e Peter concordou.

– Ele não terminou o dever de Poções – o moreno bufou. – Vou fazer isso.

E então se pôs a escrever no pergaminho de Lupin, totalmente concentrado em recriar a letra do amigo. Nem percebeu os outros dois se olhando estupefatos. Sirius Black se encarregando de lição extra?



Wormtail correu, sem precisar se desviar dos galhos frenéticos que tentavam acertar Sirius e James. Os dois brincavam provocando a árvore lutadora enquanto o menor a desativava.

Assim que os movimentos cessaram, também os outros dois assumiram suas formas animagas e entraram na pequena passagem. O número de passos que davam era diretamente proporcional aos urros de dor e raiva que ouviam. Assim que passaram finalmente pela pequena abertura, Padfoot e Prongs preparados para conter o lobisomem se ele desse sinais de querer sair dali com selvageria, encontraram o amigo, ou o que restava dele, encolhido em um canto, rosnando em completo desespero. O cheiro de sangue enchia o cômodo e suas garras pareciam feitas de rubi. Tufos de pelo, pedaços de pele humana e tiras de roupas completavam a cena macabra.

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Eles logo perceberam que aquela havia sido uma das transformações violentas e foram para perto de Moony, que gania de dor. Padfoot soltou um silvo agoniado, como se aquilo fosse demais para ele, e se aproximou o máximo que podia, ainda esperando um ato de reconhecimento por parte do outro.

Mas o lobisomem continuava ali, encolhido num canto e os outros se juntaram ao cachorro preto, em vigília. Percebendo que daquela vez não sairiam pelos terrenos de Hogwarts, apenas se assentaram em uma posição confortável, para fazer companhia a Moony.

Assim que se sentiu prestes a adormecer, o grande cachorro se aproximou um pouco mais e deixou algumas roupas que havia trazido para Remus ao lado do amigo, ganhando um olhar do outro e voltando a onde estava. Abaixou toda a parte frontal do corpo, colocando as patas na frente dos olhos, como se dissesse ao outro que não olharia enquanto ele se vestia, pela manhã. Pensou ter visto um pequeno sorriso nos lábios selvagens e caninos do lobisomem, poderia ser só sua imaginação, e então dormiu tranquilamente.



– Ei, Sirius! James, Peter, acordem – o outro usava todas as suas forças para acordar os amigos, ainda animais, antes que madame Pomfrey chegasse para tratar de suas lacerações.

O pequeno rato acordou, guinchando um pouco e então voltou a sua forma normal, acordando os outros dois enquanto Remus caia derrotado no chão. Usara tudo o que lhe restava de energia para por a roupa que Padfoot lhe dera. As roupas agora empapadas de sangue.

Eles tentaram entender o que acontecia, enquanto Peter falava que eles tinham que sair logo dali. Não queriam ser pegos.

– Remus! Você está... – Sirius parou a pergunta no meio. Que estupidez! Perguntar ao outro se ele estava bem, enquanto ele estava jogado no chão, coberto de cortes e mordidas e sangue. – Ah! O que podemos fazer para ajudar?

– Ir... ir embora daqui agora. Vão logo, antes que apareça alguém e os veja.

Eles saíram meio trôpegos, abrindo a portinha, e então Peter se virou para o amigo, sentindo-se na obrigação de falar algo para consolá-lo.

– Ei, dessa vez foi melhor, certo? Você pelo menos conseguiu salvar sua roupas... – e então ele saiu, acompanhado de James.

Remus olhou para Sirius a menção das roupas. Então a ideia de trazer roupas havia sido só dele? O moreno sorriu ao perceber que o licantropo se lembrava da hora em que entregara as vestes. Com um breve aceno saiu atrás dos outros, amargurado por deixar Lupin a própria sorte, mesmo que só por alguns minutos, com aqueles cortes profundos.

Assim que os três se retiraram do Salgueiro, pegaram a capa de Potter e se encaminharam até o castelo.

– Ele sabia, não é?

– Sim... Por algum motivo desconhecido, Remus sempre sabe quando a transformação será mais violenta.

– Deve ter algum padrão.

– Só não o encontramos ainda. Talvez ele saiba e não queira nos contar.

– Acha que ele ficará bravo por não termos deixado seu animal interior na solidão? – James riu ao usar as palavras do amigo.

– Provavelmente. Remus é todo estressadinho e sentimental quando contrariamos alguma imposição que ele faz.

– Só queria entender como foi que ele salvou as roupas – Peter falou, intrigado. – Geralmente ele acaba com elas em poucos segundos e quando chegamos lá só tem trapos no chão.

– Você não percebeu os trapos no chão? – Eles entraram no castelo e se dirigiram para o salão comunal, ainda debatendo. – Ele rasgou a roupa que estava usando. Ou você imagina Lupin parando um pouco durante a dolorosa e, particularmente violenta nesta noite, transformação e se despindo? Depois ele dobrou as roupas e as colocou num baú e fechou com uma chave de ouro e...

– Certo! Já entendi, as roupas eram outras.

– Ah! – Sirius soltou algo parecido com um ganido de desespero. – Que diferença faz as roupas de Remus? Eu peguei algumas para ele ontem à noite e deixei ao seu lado antes de dormir. Certo? Mistério resolvido?

Então ele saiu debaixo da capa com violência – ainda bem que o corredor estava vazio – e falou a senha para a mulher gorda, entrando e subindo as escadas.

– O que deu nele?

James encarou as costas do melhor amigo que partira exasperado e ficou tentando entender. Desde quando Black agia daquele jeito sério e estressado?

– Vamos descobrir, pequeno Peter, vamos descobrir.



Sirius se jogou desolado em sua cama, tentando entender por que ficara tão bravo com os outros dois. Só sabia que eles tinham feito parecer que havia cometido um crime em levar roupas para Lupin. E talvez ele mesmo estivesse imaginando a razão da gentileza.

Por que havia feito o dever dele? – outra perguntava que dançava na mente embaraçada do garoto.

Só sabia que queria dormir para parar de se lembrar da expressão torturada do amigo na noite anterior. E parar de imaginar a dor que o garoto-lobo estava sentindo naquele momento. Ficou repetindo mentalmente que madame Pomfrey o faria se sentir melhor e então dormiu, a cortina fechada, protegendo-o da conversa silenciosa que os outros dois Marauders tinham ao ouvir seus bufos.