O Peso De Uma Mentira

Capítulo 19


CAPÍTULO 19

POV EDWARD

Mesmo agora, depois de uma noite inteira de sono tranquilo, eu ainda não conseguia acreditar que Bella — a mesma Bella a quem magoei e abandonei covardemente — estava de novo em minha vida. E eu, por mais que quisesse tentar trazê-la de volta, já estava perdendo as esperanças... Contudo, ouvir sua conversa com Victória, me fez acreditar em algo quase impossível; ela queria. Ela me amava. Tive que me conter — e muito — pra não adentrar o quarto de forma quase violenta. A razão me fez esperar, ouvir tudo o que ela estava dizendo e é claro que compreendi seus motivos. Como não compreender se foi por eles que a deixei?

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Mas agora eu estava tendo uma segunda chance e ela não seria desperdiçada. Nós nos amávamos e isso tinha que bastar pra que pudéssemos tentar. Eu havia prometido à Bella que me perdoaria; que deixaria tudo no passado e se ela estava fazendo aquilo, eu também poderia. Já estava mais do que na hora de seguirmos em frente, de estarmos juntos pra qualquer coisa — como eu deveria ter pensado há algum tempo atrás.

Depois que Bella foi embora, Alice conversou comigo, assim como Victória. Eu já estava acostumado a ouvir minha irmã, mas foi bom ter falado com outra pessoa que via toda a situação de fora. Não houve recriminações ou acusações, apenas conversa. E eu entendi que Bella merecia toda a minha confiança, que ela não era tão frágil, que poderia sim enfrentar qualquer coisa.

E elas riram de mim também... Uma conversa ao telefone que era pra durar no máximo dois minutos levou quase duas horas pra terminar. E tive que ouvi-las me mandando desligar, que Bella estaria cansada e talvez quisesse dormir... Sim, com certeza estaria, mas aguentou todo o meu falatório, apenas rindo ao ouvir o que minha irmã e Victória falavam. Além de ter conversado com as duas também.

E mesmo agora, depois de algumas horas, elas ainda riam de mim sempre que eu chegava perto do telefone. E eu não ia mesmo ligar. Ela disse que tinha que ir à Port Angeles pela manhã e que passaria em minha casa quando voltasse. Então eu esperaria.

— Ah, Edward! Ligue logo pra ela, por favor! — disse Alice, quando desviei minhas mãos mais uma vez do telefone.

— Não. Eu disse que ia esperar e vou esperar. Ela não deve demorar muito a voltar.

Alice revirou os olhos e voltou a assistir televisão, enquanto Victoria ria. Amanda estava em seu mais novo lugar preferido: meu quarto. Só saía de lá pra comer e quando a chamávamos, pra ficar um pouquinho na sala. Mas ela logo dava um jeito de voltar.

Eu voltei e pensar em nós. Em como me senti quando ela disse que queria tentar. Tive que ficar alguns momentos em silêncio, processando aquela informação. E depois, ao ver a ansiedade em seus olhos, quando perguntou como eu estava, me fez acreditar mesmo no que eu havia escutado.

Novamente a senti em meus braços. E era algo tão bom... Minha Bella estava ali novamente. Seu sorriso sincero, a gargalhada gostosa, que me fazia ter vontade de fazer o mesmo, os olhos tão brilhantes quanto eu me lembrava... Eu até poderia estar indo rápido demais, mas a queria ao meu lado. Casar estava nos meus planos, mas não era o momento, eu sabia que ela recusaria. Pelo menos por hora.

Quem diria que eu a teria de volta bem ali, em um quarto empoeirado? Mas foi isso o que aconteceu. E o lugar realmente não importava... O importante era ela. Apenas ela.

Quando retornamos à sala, não fizemos planos para o futuro. Nosso presente tinha que ser resolvido primeiro antes de pensarmos no que estava por vir. Tínhamos que contar à Amanda e eu estava em expectativa. Claro que ela ia gritar, ia chorar e era isso o que ela mais queria, mas também era complicado tudo aquilo. Pra uma criança, até que ela estava lidando bem com todas aquelas mudanças.

E ver seu sorriso quando contei... Obviamente eu preferia que nada daquilo fosse preciso, que ela sempre nos tivesse visto juntos, mas saber que ela estava feliz me deixava feliz também. E eu seria capaz de tudo por minha pequena...

E ela acordou quando era madrugada, perguntando se eu estava mesmo ali, se eu e sua mãe estávamos mesmo namorando, se ficaríamos juntos outra vez... Sim, todas as respostas foram afirmativas e ela voltou a dormir, com um leve sorriso nos lábios.

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Fui tirado dos pensamentos felizes por uma mão pesada atingindo minha cabeça. Por que essas mulheres tinham a mania de me bater?

— Eu sou surdo agora? Custa falar normalmente? — briguei com Alice, que ria de mim, assim como Victória — Vamos, pode me bater também! — falei pra ela, que continuou a rir.

— Ainda bem que Bella voltou pra você... Agora esse azedume vai passar rapidinho. — ela então se virou pra amiga, me ignorando — Sabe o que é isso? Falta de sexo! Oito anos deve ser um longo, longo tempo...

Victória ficou bem envergonhada com a falta de tato de Alice e fingiu não ouvir, mas minha irmã gostava de me fazer passar vergonha. E esse era um fato incontestável.

— Sabe o que eu lembrei agora? De quando você e Bella transaram a primeira vez... Eu ri horrores de você...

— E por qual motivo? Pensei que tivesse sido divertido pra mim e Bella, apenas.

— Eu ri porque eu era a virgem e era a mim que você vinha pedir conselhos! Como se aquela fosse sua primeira vez... Eu nem sabia beijar na boca naquela época!

— Nós não planejamos nada Alice... Bom, Bella já estava com esses pensamentos, mas ela é especial demais pra que eu fizesse qualquer coisa assim... E eu só perguntava se ela te falava alguma coisa, quais as expectativas... Essas coisas que mulheres adoram fofocar com as amigas.

Dessa vez, Victória me olhou meio de lado. Eu menti? Mulheres não gostavam mesmo de fofocar?

— Eu nunca fofoquei com Alice sobre isso! Claro que ela fala pelos cotovelos e conta mais do que a gente merece saber, mas eu não faço essas coisas não!

— Vocês são tão puritanos! O que tem de mais contar algumas coisinhas? Obviamente eu perguntei tudo à Bella sobre a noite de vocês, mas ela é mais uma que faz parte desse clubinho sem graça e não me contou metade das coisas que eu queria saber...

— Alice, isso é estranho... Eu sou seu irmão e não fica legal você saber certas coisas ao meu respeito. E mais, imagine só se essa conversa cai nos ouvidos de Bella? Sei que ela não vai gostar nem um pouco...

— Só me fala uma coisa; porque vocês têm tanta vergonha ao falar de sexo? Acontece, sabiam?

Victória suspirou, visivelmente envergonhada e eu preferi me manter calado. Alice sempre seria Alice.

— Não é vergonha. Eu, particularmente, acho que minha vida sexual só interessa a mim. De todas as pessoas que conheço; você é a única que conta tudo, até os mínimos detalhes.

E assim o assunto morreu. Eu realmente não entendi aquela da Alice, mas com certeza ela tinha um motivo...

Passamos as horas seguintes vendo televisão. Desenho pra ser mais exato. Consegui tirar Amanda do quarto e Victória se ofereceu pra preparar o almoço. Minha irmã me pareceu aliviada com isso. Mas mesmo com tudo aquilo, eu estava preocupado com Bella; já passava da uma da tarde e ela não havia ligado nem pra dizer se estava bem. A cada cinco minutos eu encarava o relógio, me perguntando se deveria ou não ligar.

— Ligue. Até eu estou preocupada. — disse minha irmã, quando me viu olhar o relógio outra vez.

Peguei o bloquinho que estava sobre a mesinha e liguei pra Bella. Seu telefone chamou até cair a ligação e eu vi como Amanda prestava atenção. Então, pra que ela não se preocupasse, fingi falar com Bella. Alice sabia o que estava acontecendo, uma vez que eu quase gaguejava, mas compreendeu o que eu fazia e nada disse.

Pedi que Amanda fosse até a cozinha e perguntasse se Victória precisava de ajuda. Eu queria falar com minha irmã e se nos retirássemos, ela notaria que algo estava errado. Assim que Amanda saiu Alice sentou-se ao meu lado e falávamos baixo.

— E aí?

— Chamou até cair. Estou preocupado, Alice...

— Não há de ser nada. Ela deve estar resolvendo alguma coisa ou o celular dela está no modo vibratório.

— Mas Alice... Ela disse que sairia pela manhã... Já estamos quase almoçando e nem sinal dela. Além de não ter ligado pra perguntar por Amanda, o que torna tudo mais estranho.

— Sim, é. Mas vamos esperar mais um pouco. Se começar a escurecer e ela não ligar, podemos começar a pirar.

Obviamente achei que era tempo demais, mas o que eu poderia fazer? Minha esperança era de quando ela visse a chamada perdida, ligasse de volta. Aquilo realmente estava me deixando preocupado. Muito.

Espiei por cima dos ombros e vi que Amanda estava entretida, ajudando Victória, então eu poderia conversar tranquilamente com Alice sem que ela ouvisse o que quer que fosse. E questionei minha irmã sobre aquela história toda de relembrar certas coisas de minha vida e querer saber sobre outras que não lhe diziam o mínimo respeito. Antes mesmo de falar, ela me olhou meio culpada.

— Eu só queria proteger minha cunhada, ok? Victória é minha amiga, gosto muito dela, mas Bella é muito mais importante.

— E? Ainda não consegui entender sua lógica.

— E que você é homem, lindo, gostoso e cheio do dinheiro. Eu falei aquelas coisas pra saber qual seria a dela. Se eu notasse um sorrisinho malicioso que fosse, ela estaria sem cabelo agora. Sei que foi infantil, mas se ela dissesse qualquer coisa pra te dar moral, ela perderia muitos pontos comigo.

— Isso não foi infantil... — murmurei e Alice se agitou, talvez achando que eu havia aprovado sua atitude.

— Não?! Jura?

— Foi MUITO infantil! Eu não sou mais criança! Pelo amor de Deus. Depois de todos esses anos amando a mesma mulher, você acharia mesmo que eu me interessaria por outra? Ainda mais agora, que tenho Bella comigo novamente? E mais! Fique você sabendo que Victória deu muita força pra que Bella me contasse logo que me amava e se não fosse por ela, eu ainda demoraria muito a saber.

Minha irmã ficou calada, sabendo que tinha pisado e feio na bola. Mas que coisa! Como ela pensava assim de uma amiga? E mais, não era ela mesma que queria me jogar pra cima de qualquer uma? Alice tinha cada uma... Era meio complicado entender sua cabeça...

Chamei Amanda e fui para meu quarto. Eu tinha que me distrair com algo ou como diria Alice, acabaria pirando sem notícias de Bella. Minha garotinha estava muito calada e eu não quis perguntar nada, pois saberia que ela falaria sobre a mãe. E eu não tinha nada o que dizer quanto a isso.

A coloquei pra tomar banho e peguei uma roupa pra ela, que estava em sua mochila. Quando viu o que eu tinha escolhido, me olhou meio estranho. O quê? Amarelo com vermelho não fica bom?

— Pai... Pode deixar que eu pego minha roupa, tá bom? — disse ela, rindo de mim.

— Sou um desastre não sou? Não sei fazer nada!

— Só não sabe prender meu cabelo e nem escolher roupa.

— Engraçadinha. Mas eu vou aprender.

Depois que ela já estava devidamente vestida, também tomei banho e fiquei um pouco com ela. Era melhor me manter longe de Alice naquele momento...

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— A mamãe vai morar aqui? — perguntou Amanda, me fazendo sorrir.

— Ainda não, meu amor. Mas nós vamos morar juntos; eu você e sua mãe. Não gostou daqui?

— Gostei, mas eu acho que gosto mais da minha casa... Eu tenho medo de andar e quebrar alguma coisa aqui.

— Não precisa ter medo. Sua mãe já quebrou tanta coisa daqui que nem sei como essa casa ainda está de pé.

Nós rimos do que eu falei e Amanda ficou bem vermelha. Eu queria continuar ali, mas Alice veio nos chamar, informando que o almoço estava pronto. Nos juntamos à Victória, agradeci-lhe pelo almoço, afinal não era sua obrigação e almoçamos entre conversas.

Volta e meia eu olhava o relógio de parede e Alice me olhava meio de canto, sem nada dizer. Claro que provavelmente eu estava sendo paranoico e Bella estava bem, mas explica isso pro seu coração. O meu já estava apertado e quase saltando do peito.

Mais uma olhada no relógio. Quase cinco horas. Eu não ia esperar nem um segundo a mais. Liguei novamente pra Bella e cheguei a respirar aliviado quando ela atendeu.

— Bella! O que aconteceu? Você está bem? — as perguntas saíam de forma desordenada.

— Calma! Estou bem.

— Como me pede calma? Você praticamente sumiu durante o dia inteiro!

— Eu sei que você vai me perdoar. Por favor, não fique chateado comigo. Foi preciso.

— Meu amor, não faz assim... Me diz o que está acontecendo.

— Venha até minha casa. Sozinho.

— Ok. Se é o único jeito de saber o que está acontecendo, eu vou. Em vinte minutos estou aí. Talvez menos.

— Não precisa correr. Lembre-se que temos uma filha pra criar e preciso de você comigo.

Ela jogava baixo... Muito baixo... Como eu continuaria chateado depois disso?

— Tudo bem. Daqui a pouco estou aí. E mais uma coisa: eu te amo.

— Eu sei disso e eu também te amo.

Ela encerrou a ligação e encontrei dois pares de olhos me encarando. Alice e Victória me olhavam como se eu fosse alguma aberração ou algo do tipo.

— Sem uma palavra. As duas. — falei e elas riram.

Despedi-me de Amanda — que estava de volta ao meu quarto — sem dizer que ia até a casa de Bella, peguei meus documentos e saí. Eu não sabia o que me esperava e isso me deixava nervoso. Muito nervoso...

POV BELLA

À noite, quando cheguei em casa, já sabia que não conseguiria dormir. Edward não percebera quando Victória me deu o número dos pais dele e agora, mesmo sabendo que aquela era a decisão certa, eu tinha receio de ligar; afinal, eu não sabia como seria a reação deles. De Carlisle principalmente.

Respirei fundo, pensei meio minuto sobre aquilo e finalmente tomei minha decisão. Era tarde, eu sabia, mas se eu esperasse mais acabaria por desistir.

Um toque, dois, três... Eu já estava desistindo quando atenderam.

— Carlisle? — perguntei, meio incerta.

— Sim, quem fala?

— Ora! Achei que sempre reconheceria a voz da sua princesa. — tentei soar engraçada, mas minhas mãos tremiam.

Silêncio. Provavelmente ele acabaria por desligar.

— Bella... Menina... É mesmo você?

— Sou eu sim. Bom, me desculpe estar ligando assim tão tarde, mas preciso conversar com você e Esme.

— Sim menina. O que houve? — sua voz tornou-se preocupada.

— Sei que já faz muito tempo e que é abuso pedir algo assim, mas não posso me afastar de Forks agora... Vocês poderiam vir até aqui? É um assunto longo e eu não gostaria de tratá-lo por telefone.

— Não, tudo bem. Estaremos chegando pela manhã. Mas... Esse assunto é sobre Edward? Aconteceu alguma coisa?

— Fique tranquilo. Não é nada grave. E envolve Edward sim.

Mais uma vez ele ficou em silêncio e respeitei seu momento. Aquilo devia estar sendo difícil pra ele.

— Ok. Me dê o número de seu celular, assim avisarei quando estivermos chegando à Port Angeles.

Depois de passar-lhe meu número, fiquei meio sem saber o que falar. Senti-me sem graça, pra dizer a verdade.

— Obrigada por isso. É importante pra mim.

— É o mínimo que eu poderia fazer. Bom, vou falar com Esme agora e amanhã nos veremos.

— Sim, claro. Só peço que não fale sobre isso com mais ninguém. E desculpe-me por ter ligado assim...

— Não se preocupe querida. Até mais.

— Até.

E eu pensei que depois disso poderia dormir sem que nada me perturbasse... Nem mesmo ouvir a voz de Edward me acalmou. Tive receio de que nada daquilo adiantasse; que Carlisle não conseguisse perdoar Edward... Mas agora eu teria que tentar e se não desse certo... Bom, teríamos que conviver com aquilo de algum jeito.

Dessa forma eu vi o dia amanhecer. Vi quase todos os programas possíveis na televisão, escrevi, li... Só me restava esperar que Carlisle e Esme chegassem.

O relógio mais parecia meu inimigo; as horas pareciam não passar e os segundos se arrastavam. Chequei meu celular diversas vezes, e não havia nada de errado.

Eu estaria mesmo fazendo a coisa certa?

Mais ou menos às oito horas meu celular enfim tocou e Carlisle avisou que já estavam em Port Angeles e que logo chegariam a Forks. Estranhei o fato de Esme nem ao menos ter manifestado a vontade de falar comigo e preferi esperar para vê-la pessoalmente. Talvez ela estivesse sentida pelo que eu supostamente fiz.

Mesmo eu tendo insistido em ir buscá-los, Carlisle não aceitou e então achei melhor encontrá-los em minha casa mesmo. Depois dos detalhes acertados, só me restava esperar... E foi o que fiz por quase três horas.

Senti meu estômago dando voltas em minha barriga quando a campainha tocou. Agora eu não poderia fingir que não estava em casa e muito menos dizer que foi um engano e que não havia nada a ser dito. Mas abri a porta, transparecendo uma segurança que eu não possuía naquele momento. Só Carlisle estava ali e meu coração se apertou. Esme viera apenas fazer companhia ao marido.

Nem tive tempo de dizer nada. Carlisle me puxou para seus braços, me abraçando como antes, de forma protetora.

— Minha princesa cresceu! — disse ele, rindo um pouco, mas visivelmente emocionado.

— Quem me dera... Estou feliz por ter vindo. — falei de uma vez e ele suspirou — Vamos, entre.

Só então nos separamos e ele entrou. Seus olhos vagaram pela sala, como se procurasse alguém e eu sabia a quem ele procurava...

— Ele não está aqui. Mas não precisa se preocupar, ele está bem.

Indiquei-lhe o sofá e sentei-me de frente pra ele, fitando-o. Era melhor contar tudo de uma vez.

— Como deve ter percebido, tenho mantido contato com Edward. Na verdade, nos encontramos por acaso em um restaurante aqui de Forks e depois o procurei na casa de vocês. Relutei muito em fazê-lo, mas não era algo que eu poderia adiar por mais tempo... Edward me contou tudo o que o levou a deixar Forks; toda a verdade e não o que ele queria que eu ficasse sabendo. Sei também sobre a briga de vocês e eu queria mesmo que pudesse perdoá-lo.

Pela primeira vez seus olhos desviaram dos meus e ele me parecia... Envergonhado?

— O que ele te disse? — perguntou ele, ainda sem me olhar.

Tudo. Absolutamente tudo. E eu queria que soubesse que o perdoei e estamos juntos outra vez. Eu amo seu filho e me dói saber o quanto ele sofre por não mais ter contato com o pai. Edward te ama tanto!

— Eu também o amo. Você não tem noção do quanto eu amo aquele cara. E também me dói ficar longe do meu filho.

— Sei como se sente. Amo seu filho não só por ele ser um cara incrível, mas também por ter me dado uma filha incrível.

Carlisle voltou a me fitar e seus olhos pareciam que iam saltar das órbitas a qualquer momento.

— Uma filha? Mas... Co... Como?

— Dois meses após a partida de vocês, descobri que estava grávida e foi por Amanda que me mantive de pé.

— Uma neta! Eu sou avô!

— É sim e ela está louca pra conhecer vocês.

Levantei-me e peguei alguns porta-retratos que estavam sobre uma mesinha perto da parede e os levei até Carlisle, que não conseguiu segurar as lágrimas.

— Mas ela é a cara do Edward! Tem até as sardas nas bochechas.

— E as mesmas manias... Ela é a princesa agora.

— Isso é verdade! Perdeu seu posto. — ele conseguiu sorrir entre as lágrimas — E... Edward acreditou em você quando disse que Amanda é filha dele, não acreditou?

— Sim. Edward quase teve um ataque quando lhe contei sobre a filha. Sempre fizemos planos e ele sempre quis uma menina...

— Lembro-me bem disso! Vocês me deixavam de cabelos em pé cada vez que vinham com esses assuntos... Mas... Ela está em casa?

— Não. Como ela mesma disse; está na casa do “papai lindão”. Eu queria conversar com você, pedir desculpas por ter escondido de vocês por tanto tempo e pedir-lhe que dê a Edward a oportunidade de se explicar.

— Querida... Você não tem que se desculpar por nada... Depois de tudo o que lhe fizemos passar, nós temos que agradecer por ter continuado a amar nosso filho e por ter dado a vida a nossa neta. Seus pais não devem ter gostado nada disso... Como reagiram quando souberam que voltou pra Edward?

— Sim, eles não gostaram, mas por motivos mesquinhos. Minha mãe pelo menos. Ela queria sim que eu procurasse Edward, mas com interesse no dinheiro de vocês e eu jamais faria isso e agora... Bom, agora eles estão mortos e mesmo se estivessem vivos eu não deixaria de tentar ser feliz.

— Desculpe-me. Sinto muito.

— Não se preocupe com isso, faz muito tempo.

Seu celular tocou, interrompendo nossa conversa e o deixei sozinho por alguns momentos. Fui até a cozinha, preparei uma bandeja com café e algumas guloseimas e esperei até que não houvesse mais nenhum som vindo da sala pra que eu pudesse retornar.

Carlisle olhava as fotos de Amanda com um sorriso bobo nos lábios, um brilho nos olhos... Eu já estava feliz por ele ter aceitado a neta, mas ficaria mais se ele desse a Edward a chance de se explicar, de contar a verdade, por mais que isso fosse magoá-lo.

Tomamos nosso café enquanto ele me fazia inúmeras perguntas sobre a neta e sobre Edward. A falta que o filho lhe fazia era algo quase palpável e a tristeza que ele sentia também. Havia mais coisa naquela história e era algo que só Carlisle poderia contar.

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— Por favor, diga a Esme que nunca deixei de amar Edward. Quando ficarem sabendo de toda a história, entenderão. — falei e ele deu um sorriso meio triste.

— E agradeço por amá-lo. Edward sabe ser cabeça dura quando quer e acaba fazendo coisas sem pensar.

Sim. Eu bem sabia o quão teimoso Edward conseguia ser quando queria... Meu coração se aqueceu quando ele perguntou se poderia falar com o filho naquele mesmo dia. Eu nem sabia o que Edward estaria fazendo, mas disse que sim e então era só esperar que Carlisle conversasse com Esme e depois retornasse à minha casa.

Quando ele se foi, eu não tinha outro lugar pra ir senão a casa de Angie. Minha amiga estava toda eufórica e eu não sabia se era por minha presença ou a do marido...

— Atrapalho? — perguntei e Ben riu.

— Não mesmo. Minha querida esposa me contou algumas coisas e estou muito curioso... O que anda acontecendo com a senhorita, hein? Anda sumida...

— Pronto! As comadres vão começar a tricotar!

Nós rimos de Angie e ela ficou bem irritada. Resumi o que havia acontecido, mas deixei o melhor pra contar no final... E preparei meus ouvidos também...

— E então... Eu e Edward estamos namorando! Isso é tudo.

A gritaria não veio. Estranho isso.

— Rá! Pode me pagar, senhora Ângela Weber Cheney! Eu disse que esse sumiço tinha uma razão...

— Vocês apostaram? Que coisa feia! Mas me digam; quanto estou valendo?

— Quinhentas pratas!

Então, um grito nos interrompeu.

— Ah meu Deus! Vocês estão namorando! Meu Deus, meu Deus, meu Deus! Ben, me belisca! Anda, anda, anda!

— Se acalme! Já era esperado! — Ben tentou acalmá-la, mas não estava dando muito certo...

— E as partes impróprias para menores? Me conta! Quero todos os detalhes sórdidos. Eu aguento!

— Isso deve valer quanto, hein? — perguntei e começamos a rir.

— Ah! Creio que uns dois mil, fora a caixa de fogos... Já sei! Amiga, vou te dar um exemplar do Kama Sutra! Você vai surtar!

— Pode parar! Já estou surtando! Não quero nada disso de presente! Use com seu marido!

— Oh! Mas nós usamos! — disse Ben, me deixando de boca aberta.

Preferi deixar aquele assunto de lado e acabei por contar sobre o que acontecera a pouco, em minha casa. Meus amigos ficaram meio sem palavras, mas não me recriminaram por tentar ajudar. Angie queria a todo custo fazer um jantar em sua casa, pra que Edward fosse “oficialmente” apresentado a ela e a Ben e aquilo não ia dar boa coisa... Será que ela conseguiria se controlar?

Na hora do almoço, os acompanhei apenas na conversa. Expliquei melhor a história com Carlisle, como Edward descobriu que eu o amava; como foi ao contarmos pra Amanda... De vez em quando Angie surtava e nós ríamos dela. Ben, que não estava muito satisfeito com aquela história de sua esposa oferecer um almoço “apenas” para conhecer Edward, acabou cedendo e participava de sua loucura.

Eu via o quão feliz eles ficaram e eu também estava. Era como se depois de muito tempo perdida, minha alma reencontrasse sua outra metade. Clichê, eu sei, mas era assim que eu me sentia naquele momento. E eu tinha todo o direito de acreditar em contos de fadas... O posto de bruxa má era de Rosalie, sem sombra de dúvidas... Quanto ao príncipe... Talvez eu enxergasse Edward daquela forma quando éramos adolescentes, mas agora... Agora ele era apenas um ser humano que cometia erros e que estava se redimindo. Assim como eu. Contudo, eu não abriria mão do “e foram felizes para sempre”... Claro que com muitas dificuldades pelo caminho — afinal, a vida real é bem diferente.

Voltei pra casa assim que Ben saiu para mais um plantão e meu celular estava tocando de forma estridente. Era Edward. E ele estava preocupado. Com tudo aquilo, esqueci mesmo de ligar... Mas ele entenderia depois, quando estivesse frente a frente com seu pai; o que não levaria muito tempo... Agora só me restava esperar e ver no que tudo aquilo ia dar... Realmente não importava quem ia chegar primeiro. O importante era que eles conversassem; que resolvessem todas as pendências do passado e pudessem ser pai e filho novamente.