As Quatro Casas De Hogwarts - Ano 1

Capítulo 17 - O Segredo de Mattew


Na manhã seguinte, assim como Daniel havia previsto, todos os amigos já estavam sabendo de seu pequeno presente à Ellen na noite passada. A informação se espalhara por eles antes mesmo que a noite anterior pudesse acabar. Felizmente, Holy não estava presente na mesa, então Daniel ficou mais à vontade para falar com os amigos. Não teriam a maior privacidade possível ali, mas Daniel estava com tanta fome que não poderia seguir a nenhum outro lugar. Não tivera uma das melhores noites de sono, e, portanto, ainda estava um pouco sonolento. Ele tomou o seu lugar habitual na mesa, completando o grupo.

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– Suponho que já esteja todo mundo a par de ontem à noite, não é mesmo? – ele perguntou, mas nem precisava. Os olhares que Alice e Nathan lançavam para Ellen e ele chegavam a ser engraçados.

– Ok, desembuchem, como foi ontem a noite? – Nathan perguntou.

– Eu já disse o que achei para vocês. – Ellen se desviou da pergunta. Aquela pergunta já fora realmente feita para Ellen, que teve o privilégio de responder sem que Daniel estivesse presente. Assim, poderia mais facilmente dizer o que quer que tenha achado. Porém, ela guardou a pior das informações para depois. Gostaria que Daniel estivesse presente quando soltassem a notícia.

Todos olharam para Daniel, na expectativa.

– Ahn, gente, eu não acho que esse seja o assunto dos mais importantes agora. – Daniel desconversou.

– Anda, Dan, só responda. – Alice disse.

– É sério. – Ellen falou. – Bem, houve um imprevisto ontem à noite...

– Isso mesmo. – Daniel falou. Ele baixou o garfo e a faca por alguns instantes, pois sabia que estava entrando num assunto de suma importância. – É o seguinte: alguém descobriu a farsa ontem a noite.

A incredulidade em cada rosto fez Daniel querer rir de cada um, embora aquela não fosse uma situação nem um momento para rir.

Rapidamente, Daniel se recuperou e começou a descrever toda a cena da noite anterior, com a ajuda de Ellen, e apenas observando enquanto a expressão de todos, em especial Ryan ia ficando mais perplexa a cada palavra que ouviam da boca de Daniel.

– Mattew está aqui? E ele quer falar comigo? – ele repetiu incapaz de compreender.

– Exatamente. – Daniel falou. – Tem alguma coisa estranha nisso.

– Mas é claro que tem. É de Mattew que estamos falando, afinal. – Ryan respondeu.

– Eu estava me referindo a ele estar mudado. Ryan, tem mais história por trás disso, eu estou te dizendo. – Daniel avisou sério.

– Dan, é o Mattew. – Ryan falou, sem dar muita confiança ao que amigo dizia – Eu vivo com ele há 12 anos e até agora não mudou nada.

– Eu estou dizendo, Ryan. – Daniel insistiu. Não ia desistir até fazer o amigo mudar de ideia. Estava certo do que tinha visto em Mattew na noite passada, e não ia deixar o amigo na mão caso ele resolvesse causar algum problema. – O que eu vi ontem à noite não foi o Mattew de sempre.

Daniel percebeu o olhar de Ellen nele, e, como a garota também estava presente na noite anterior, pediu ajuda a ela. Ainda estavam temorosos quanto a Mattew. Apesar de toda a certeza de que não poderiam sofrer graves consequências, não gostavam da ideia de professores ou alunos pensando esse tipo de coisas deles, mesmo que essa fosse a verdade.

– El, me ajude aqui. – Daniel falou. – Mattew não estava mudado ontem à noite?

– Estava. – a garota se dirigiu a Ryan, que agora parecia muito mais apto a ouvir e acreditar nos amigos. – Ryan, tome cuidado com ele.

O resto do grupo prestava atenção a cada palavra, curiosos e preocupados. Eles imaginaram qual seria o problema dessa vez. Mattew já não agia fazia tempo, e eles sabiam que ele estava passando as férias na casa dos pais, longe da escola e de Ryan. Nathan se mostrou extremamente preocupado, pois sabia que, embora o amigo não quisesse dizer em voz alta, qualquer lembrança de incidentes com seu irmão lhe deixava desconfortável e calado. Não queria ver o amigo passar por isso outra vez.

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– Como assim, mudado? – Alice perguntou.

– Ele estava diferente. Mais sério. – Daniel respondeu - Não estava com aquele tom de brincadeira que ele sempre usa. Não estava fazendo piada, nem rindo, nem com um tom de escárnio quando falou de Ryan. Era o que ele sempre costumava fazer, por exemplo.

Todos pareciam confusos pelas informações que receberam de Mattew. Ninguém podia acreditar que o garoto que Daniel estava descrevendo era o irmão de Ryan. Não soava nada com a pessoa que eles conheciam. Só havia uma explicação para Mattew agir de tal jeito.

– Alguma coisa aconteceu. – Alice falou.

– Isso é óbvio... - Ryan começou, mas Alice, revirando os olhos, completou sua frase:

– Alguma coisa aconteceu entre ele e os seus pais. É a única explicação.

– Você está sugerindo que ele tenha brigado com os pais? – Ellen perguntou.

– Mas isso não é possível. – Ryan disse. – Ele é o queridinho dos meus pais. – Todos os amigos sabiam disso. Ficara bem claro isso, em todas as cartas (não foram muitas) que Ryan recebeu de seus pais, e em todas as histórias que contara para seus amigos sobre a sua infância.

– Tem razão. – Ellen concordou, suspirando. – Parece um mistério sem solução.

Outro mistério sem solução. – Erick acrescentou. – Não se esqueçam de Hunnigan.

– Ahn. – Nathan se lamentou. – Tudo o que eu não preciso é ter mais uma coisa com que me preocupar.

Ryan interrompeu o amigo com um gesto. Ele negava com a cabeça, convicto do que estava prestes a dizer:

– Primeiramente, vocês não tem que se preocupar com nada.

– Mas é claro que sim! – Daniel discordou. – Ou você se esqueceu da sua briga com o seu irmão? – Ryan negou mais uma vez com a cabeça. A memória da briga, ou desentendimento, como gostava de chamar, ainda era muito recente e muito intensa para ele poder esquecer-se tão facilmente.

– Não. Eu só quis dizer que tem uma solução, sim. Eu vou falar com ele.

Ao mesmo tempo, os cinco discordaram de Ryan, cada um com um diferente argumento, fazendo com que ele não pudesse prestar atenção em ninguém sem se confundir. Depois que todos se calaram, para estabelecer uma ordem no grupo, ele repetiu:

– Não adianta dizer nada gente, eu me decidi. – Ryan disse. – Se ele está mesmo assim tão mudado, então eu vou lá saber o que foi. Ele é meu irmão, afinal. – Ryan suspirou – Um irmão bem complicado, tenho que acrescentar. De qualquer forma, imagino que, cedo ou tarde, ele venha me procurar.

Erick foi o primeiro no grupo a acatar a decisão de Ryan. Ou outros ainda encaravam como se fosse apenas uma sugestão, e que pudessem desviar Ryan desse rumo. Porém, o garoto estava decidido. Ele acrescentou, como mais um argumento para convencê-los.

– Além do mais, ele queria falar alguma coisa comigo.

– Aposto que não é nada tão importante assim. – Nathan disse.

– Ele não soava como se estivesse brincando quando disse isso para mim, Nate. – Daniel disse, e Ellen concordou.

– Estava muito convicto do que dizia. – ela disse. – Era como se... Precisasse falar com Ryan.

– Mas... – Nathan começou, mais uma vez tentando tirar o amigo do que, em sua cabeça, seria mais sofrimento e preocupações.

– Vamos dar logo um ponto final nisso? – Ryan perguntou, e, como olhar, mostrou a figura que entrava pela porta do Salão naquele instante. Ryan não teve dúvidas, ao ver aqueles cachos loiros, de que era seu irmão, como sempre fora. Apenas pela aparência, tudo o que podia dizer era que Mattew estava, no máximo, abalado. Ele procurava alguém entre os alunos, e Ryan imaginou ser ele próprio.

Enquanto o olhar de Mattew vasculhava a mesa da Lufa-Lufa, Ryan fez um movimento para se levantar e ser visto, mas foi impedido por Nathan, que segurou seu braço.

– Ryan, cuidado. É o mínimo que você pode fazer. – Ryan prometeu o amigo que faria assim como fora aconselhado, e terminou de se levantar.

Quando voltou o seu olhar para onde o irmão estava instantes antes, não encontrou ninguém. Ele olhou ao redor de si, na expectativa de ver Mattew andando em seu encontro, mas não viu ninguém.

Ele sentiu um puxão em sua manga, e ouviu um sussurro:

– Ryan, você vai querer ver isso.

Era Nathan, novamente. Garoto insistente. Não deixaria Ryan ir de qualquer jeito. O garoto se perguntava qual seria o problema de Nate, quando notou para onde o seu dedo apontava, discretamente. O resto do grupo olhava na mesma direção, esquecendo-se completamente de onde estavam, e da atenção que estariam chamando, sem contar a falta de respeito. Ryan revirou os olhos, mas não conseguiu conter sua curiosidade, e viu o que intrigava tanto os outros cinco a ponto de esticarem os pescoços.

Era Mattew. Ryan viu que ele estava de costas, conversando com alguma garota... Uma atitude muito normal para Mattew Cooper. Afinal, ainda era popular na escola, e, mesmo que fosse conhecido por sua arrogância, todos pareciam adorá-lo. Mattew era considerado um dos mais importantes na Grifinória, e tinha má fama nas outras casas. Ele gostava tanto ser amado quanto odiado. Segundo ele, o que fizera tanta questão de mostrar a Ryan ao longo do ano, as outras casas deveriam, mesmo, serem esnobadas.

Mas não era isso o que parecia estar acontecendo à apenas metros de distância do grupo. Mattew estava conversando com uma garota, que parecia ter sua idade, aproximadamente. Não estava gritando com ela, não estava fazendo brincadeiras. Ao se virar um pouco de lado, Ryan pode ver a expressão em seu rosto. Era como se estivesse implorando algo à ela, e estivesse ganhando a discussão. Chegava até a ter um pouco de felicidade passando pelo rosto do irmão de Ryan. Ali, no meio do Salão, Ryan viu quando um sorriso se alargou no rosto dele. E viu quando a garota foi abraça-lo, para depois beijá-lo na boca.

Uma atitude perfeitamente normal para Mattew Cooper. Isto é, se a garota não fosse da Lufa-Lufa.



– Eu não acredito naquele HIPÓCRITA! – Ryan se descontrolava, já longe de Mattew, e longe de outros estudantes.

Ryan se segurara até chegar aos terrenos de Hogwarts. Depois dali, não pôde aguentar mais, e gritava enfurecido, para ninguém em especial. Todos os seus amigos o seguiram até ali assim em que saíra em disparada pela porta do Salão. Era melhor gritar ali, onde era improvável que alguém o ouvisse, do que interromper o namoro de seu irmão para jogar-lhe um feitiço, na frente de toda uma tribuna de professores.

Ryan continuava andando, levado a esmo pelos jardins da escola por sua fúria. Ela lhe cegava os sentidos, e tudo o que existia no mundo de Ryan naquele momento era seu irmão, e a cena que tinha acabado de presenciar.

Nem Ryan, nem ninguém podiam compreender os motivos que levaram Mattew Cooper a se envolver com uma estudante da Lufa-Lufa. Ryan nem sequer sabia o nome da garota, mas isso não importava no momento. O que importava era o que seu irmão estava fazendo junto dela.

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Mattew deixara bem claro, em diversas ocasiões, o que pensava da casa de Ryan. Para ele, eram inúteis, não possuíam a tão cobiçada e adorada coragem dos Grifinórios, nem a astúcia dos Sonserinos, nem a inteligência dos alunos da Corvinal. Para Mattew, eram um nada. Claro que todas essas ofensas poderiam ser incentivadas pelo fato de ambos serem filhos de adoradores da Grifinória, e toda a vida dos dois ser baseada na mentalidade dos pais. Ryan tinha certeza de que isso passara de pai para filho, ao menos no caso de Mattew. Agora, isso não parecia mais ser verdade.

Será que Mattew voltara para a escola por causa de uma garota? Ryan não conseguia acreditar nisso. O número de garotas que ele via com seu irmão, às vezes duas diferentes em uma mesma semana, era incontável. Ryan considerara que Mattew era ainda mais superficial do que ele achava, mas as atitudes daquele dia diziam exatamente o contrário.

Ryan conseguira se acalmar, por fim. Ele havia chegado ao lago, mas não sabia nem como, nem porque viera ali. Seus amigos permaneciam de pé atrás dele, se assegurando de que ele já extravasara toda a sua raiva. Nathan foi o primeiro a se aproximar. Ele colocou a mão no ombro de Ryan, e deu um passo a frente, para ficar ao seu lado.

Porém, ele não disse nada. Em seu silêncio e em seu olhar Ryan já encontrara o conforto de que estava precisando. Não sentia vontade de dizer nada naquele momento também, e se perguntava como é que Nathan conseguia adivinhar tal coisa.

Depois de um tempo ter se passado, Nate chamou:

– Ryan. – o garoto se virou para ele. – Vamos. – era um convite. Ryan não fazia ideia de onde o amigo o estava levando, mas não queria nem saber. Onde quer que ele fosse, estava de bom tamanho. Se virando, Ryan percebeu que o grupo havia se sentado na grama, à sombra de uma árvore, há poucos metros trás deles. Deveria ter ficado algum tempo parado, encarando o lago. Refletindo. Tentado, com pouco sucesso, sentir menos raiva de seu irmão e, principalmente, de seus pais.

Nathan não o levou longe. Foi até à árvore e fez Ryan se sentar.

– Ryan. – Alice começou. – Temos uma teoria porque o seu irmão voltou.

– Por causa daquela garota da Lufa-Lufa? – Ryan sentia pena dela.

– Não só isso. – Alice continuou. – Nós achamos que ele se meteu numa briga justamente por causa dela. Uma briga com seus pais.

– Impossível. – Ryan descartou a possibilidade. – Ele não faria uma coisa dessas...

– Há esse ponto – Daniel disse – Eu estaria disposto a acreditar em qualquer coisa.

Ryan parou para pensar mais uma vez. Os outros amigos seguiram a sua silenciosa sugestão. Aos poucos, foram todos chegando à mesma conclusão...

– Eu vou falar com ele.

Dessa vez, ninguém discordou.

– Só me segurem se por acaso em tascar um soco naquela cara hipócrita. – ele completou.


Ryan passou pelas portas abertas do castelo, em direção ao Salão Principal, com passos rápidos. Decididos. Agora toda a sua raiva dera espaço para curiosidade. Ele não conseguia entender os motivos que levaram o irmão a fazer o que ele presenciara.

Antes de entrar no Salão, porém, Ryan se virou ao ouvir sua voz sendo chamado. Encontrou quem estava procurando.

– Mattew. – Ryan disse, em resposta a ele.

Mattew, estranhamente desconfortável, viu quando o grupo se aglomerou ao redor de Ryan. Daniel, se postando ao lado do amigo, perguntou:

– O assunto é privado ou podemos ficar aqui?

– É privado. – Mattew respondeu; o antigo tom de voz de superioridade retornando.

Ryan lançou um olhar para os amigos que dizia que estava tudo certo. Embora tivessem suas dúvidas, os amigos deixaram Ryan sozinho com o irmão, e partiram para fora do Saguão de Entrada. Eles ainda temiam, além da segurança de Ryan, o segredo da pequena visita de Ellen à Sala Comunal da Grifinória na noite passada. Ninguém sabia, até então, do que Mattew era capaz.

– O que você quer? – O tom de Ryan era frio quando pronunciou a pergunta. Ainda estava morrendo de vontade de jogar todas as informações que tinha na cara de Mattew e demandar respostas.

– Vamos a outro lugar. – Mattew disse. Soava mais como um convite do que uma ordem.

Ryan acompanhou o irmão para os terrenos e na direção oposta a onde seus amigos tinham ido. Eles começaram a andar num movimento circular, indo na direção do lago e passando pelo Salgueiro Lutador. Estavam a certa distância um do outro, e Ryan se mantinha tenso e calado, apenas esperando o irmão falar.

– Você deve estar se perguntando porque eu te chamei aqui.

Ryan tentou conter as respostas que queria dar, mas o máximo que conseguiu foi omitir algumas ofensas, o que no final se transformou em:

– E também porque você voltou para Hogwarts; Porque você está agindo assim e, o mais importante de todos: o que diabos você estava fazendo com uma aluna da Lufa-Lufa?

Ryan parou de caminhar. Agora, em frente ao seu irmão, percebeu que, ao contrário do que pensava, toda a sua raiva fora embora. Agora, estava, além de curioso, com uma ponta de preocupação. Ryan estranhou a si mesmo, mas deixou isso de lado, pois precisava saber da resposta que Mattew lhe daria.

– Como você sabe...? – ele perguntou, parando surpreso ao lado do irmão.

– Você não é a pessoa mais discreta, sabe. Não fui o único a perceber. Acho que todo o Salão Principal também notou o pequeno romance entre Mattew Cooper e sabe-se lá quem da Lufa-Lufa.

– É Rachel. O nome dela é Rachel. – Mattew respondeu. Não parecia ofendido com nenhum dos comentários sarcásticos de Ryan. Ele esboçava até um pequeno sorriso no rosto, que, ao olhar mais de perto, Ryan percebeu que estava marcado com olheiras.

– Ótimo. – Ryan continuou com o sarcasmo, ignorando a condição do irmão – Adorei saber o nome dela, era exatamente isso que eu estava morrendo de curiosidade para saber!

Ryan fez um gesto indignado, mas Mattew permaneceu imutável. Ele retomou a caminhada, e Ryan não teve nenhuma escolha senão segui-lo. Agora, se aproximavam cada vez mais do lago.

– Matt. – Ryan tirara o tom sarcástico da voz. – Pode logo me explicar porque? Depois de tanto o que você disse da minha casa...

– Eu briguei com nossos pais. – Mattew o interrompeu. – Por causa dela.

Ryan parou de caminhar novamente. Eles haviam chegado à margem do lago e à orla da floresta proibida. As árvores que cresciam ao redor faziam sombras escuras, o perfeito ambiente para Mattew Cooper, naquele momento. A escuridão de sua expressão era ainda maior que a que estava ao seu redor. Ele não olhava diretamente para Ryan; em vez disso, fitava o chão. Ryan deu um passo à frente, incerto sobre o que fazer. Ele mesmo estava muito chocado para dar algum tipo de conforto ao seu irmão. O que queria era bombardeá-lo com perguntas, e ficar à par de todos os acontecimentos [n/a que aconteceram. E sim, eu não esqueci Paola xD] na casa dos Cooper, enquanto ele estivera fora, mas sabia que não poderia fazer isso agora. Fosse Mattew quem fosse, Ryan não poderia fazê-lo reviver sua iminente dor.

O garoto, porém, se mostrou apto a falar do assunto que o incomodava. Sentia-se como se devesse uma explicação à Ryan.

– É o seguinte: - ele começou. – eu me apaixonei por Rachel antes mesmo das aulas acabarem. Ela estava sempre no grupo que era alvo de minhas piadas. Eu via que as amigas dela sempre ficavam muito alteradas, mas era ela que se voltava com raiva para nós e jogava todas as piadas de volta. Por isso, eu passei a olhar com mais interesse para ela.

– Ok, Mattew, não precisava explicar cada detalhe. – Ryan interrompeu - Você se apaixonou por ela e de algum modo a bobinha te perdoou por tudo. Agora vocês estão juntos. Pode continuar.

– Não foi tão simples assim. Ela exigiu que eu parasse com tudo o que eu fazia.

– Obviamente. Ninguém quer um namorado que te xingue no corredor. – Ryan continuava com seu tom sarcástico. Poderia não estar sentindo tanta raiva de Mattew, mas ainda não o perdoara pelo o que tinha feito.

Mattew suspirou, e continuou a narrativa:

– Eu concordei. Ela também pediu que eu contasse para meus pais. Ela soube deles, de algum modo.

– Não é difícil. Do jeito que papai e mamãe são...

– Enfim. – Mattew o cortou. Ainda fitava o chão, com ocasionais olhadelas para Ryan. – Eu fui e contei para eles.

– Você o quê? – Ryan perguntou. Não difícil de adivinhar que Mattew iria assumir tal coisa, mas Ryan se recusara a admitir a situação até ouvir as palavras saindo da boca de seu irmão. Era muito para processar em um só dia.

Olhando para toda a história que Mattew possuía com seus pais, poderia se dizer que era um típico filho mimado, e obviamente o preferido entre os dois. Sempre fora o melhor no Quadribol; o que fazia magia mais cedo na infância; o mais habilidoso naquilo; o que adorava e queria seguir o emprego de seu pai; o mais educado com a família... A lista de qualidades que Mattew possuía que sobrepujavam as de seu irmão mais novo era extensa. E não deixavam de ser notadas por seus pais. Quando ele entrou para a Grifinória, foi o orgulho da família. Já quando Ryan foi para a Lufa-Lufa, seus pais se voltaram contra ele como se nem fosse seu filho. E Mattew estava seguindo os dois até então.

– Isso mesmo – ele confirmou – Eu briguei com os dois.

– Mas... Você... – Ryan repetiu incapaz de compreender – Brigou com os dois?

– Sim, Ryan, para de repetir como se fosse uma coisa de outro mundo! – Matte se irritou com seu irmão. Já era difícil o bastante admiti-lo em voz alta; quando mais ouvir seu irmão caçula ficar repetindo a toda hora. – Desculpe. – ele disse, mas não soava muito arrependido. Ryan, porém, se calou, convidando Mattew a continuar a narrativa. – Eu não tenho como negar que sim, eu fui idiota a ponto de fingir que estava tudo bem com os dois falando mal de você a torto e a direito.

Apesar de no fundo saber que isto era verdade, ouvir da boca de seu irmão tornou a frase ainda mais dolorosa a Ryan. Foi a vez dele de desviar o olhar e passar a fitar o chão. Mas, pensando melhor, ele percebeu que a frase na verdade trazia não só remissão de Mattew, mas mostrava que ele estava do lado do irmão. Essa parte, porém, passou despercebida à Ryan.

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– E, quando eu fui contar a eles sobre Rachel, eu sabia que boa coisa não viria. Os dois, na hora, começaram a brigar comigo e, ao ponto que eles foram percebendo que eu não estava brincando nem por um segundo, nós três já estávamos gritando uns com os outros. Eu resolvi, então, voltar para Hogwarts. Se não era bem aceito na casa de meus pais, porque prolongar minha estadia? Nem esperei o dia amanhecer; assim que arrumei minhas malas, vim para cá.

Mattew fez uma pausa. Ele ainda fitava o chão.

– Por mais que eu entenda como você se sente, eu ainda não consigo enxergar além da sua hipocrisia. – Ryan disse como resposta. Ele olhava de frente para o seu irmão. Mattew retribuiu o olhar, mas o desviou, dessa vez encarando o lago, embaraçado. – Você havia deixado bem claro o que achava da Lufa-Lufa, então porque agora sair defendendo a gente, e brigando com nossos pais? Esse seu amor por aquela garota simplesmente cegou a sua antiga crença e fez você mudar da noite pro dia? Isso não existe, Matt. Eu não consigo acreditar em você. Não depois de tudo o que fez para mim. Também não acredito que você seja tão falso.

Ryan começou a se afastar, mas foi parado pelas palavras do irmão.

– Então você acha que a briga com nossos pais também foi uma mentira? – Mattew perguntou, sua voz perdendo o tom calmo que usara momentos antes.

– Eu não disse isso. – Ryan se explicou. – O que eu disse foi que eu não consigo acreditar que o garoto que falava mal do irmão em altas vozes pelo corredor da escola deixou isso de lado assim tão rápido.

Mattew estava cada vez com mais raiva, e Ryan conseguia notar isso. Devagar, o irmão mais novo foi se afastando, mas parou ao dar de cara com uma garota ruiva, parada a alguns metros dos dois. Pela sua expressão, Ryan conseguia ver que andara ouvindo parte da conversa dos irmãos, sem que qualquer um dos dois percebessem.

– Matt? – ela chamou. Foi então que Ryan percebeu quem é que estava parada a sua frente.

– Rachel? – ele perguntou. Como encarava o chão, só havia notado a presença de sua namorada quando ela o chamou pelo nome. Toda a raiva desaparecera de suas feições assim que encontrara o olhar da garota.

– Você. – ela se voltou para Ryan. – É o irmão de Mattew?

– Então quer dizer – Ryan respondeu, olhando para os dois antes de continuar. O tom de Rachel deu a entender que ela não possuía nenhum conhecimento de algum parente de Mattew. Exceto, talvez, os pais. – que você não sabia disso?

– Não fazia ideia. – ela respondeu – De nada. O que você disse é verdade?

– Ryan, não. – Mattew pediu. Sabia onde a situação iria chegar se não intervisse.

– É verdade. Cada. Palavra. – ele respondeu pausadamente, ignorando completamente o irmão, sem ao menos virar o rosto para trás.

Rachel parecia, além de surpresa, com raiva.

– Como você pôde? – ela perguntou para Mattew.

– Rach, eu já te expliquei tudo...

– Mas com seu próprio irmão? Matt, eu até consigo entender tudo o que você fez comigo e com as outras, mas com ele é diferente. Além do mais, estou sentindo que isso não é tudo entre os dois.

Mattew fechara novamente o rosto, e voltava a encarar o chão.

– Ah, isso não é tudo entre nós. – Mattew respondeu. – Ryan também tem parte da culpa.

– Culpa? Eu? Por acaso sou eu quem fica jogando piadas pra cima de irmão para a escola toda rir? Por acaso sou eu quem ameaçou jogar um feitiço no irmão? Por acaso sou eu quem...

– Chega! – Mattew disse. – Foi você quem me deu um soco! Foi você quem... quem...

– Quem o que? – Ryan desafiou. – Vamos, Mattew, diga a extensa lista de coisas que eu fiz para você.

– Parem, vocês dois! – Rachel interveio. Os irmãos se encaravam, frente a frente, nenhum dos dois esboçando nenhum traço de medo. Pareciam prestes a largar tudo e partir para a briga física. Mattew não ouvia nada de sua namorada.

Naquele momento, Ryan e Mattew sacaram a varinha ao mesmo tempo, mas Mattew foi mais rápido, outra vez:

– Tarantalleg...

– Expelliarmus!

A varinha de Mattew voou no ar. Ryan, surpreso, se virou para o lado de Rachel, de onde viera o feitiço e a voz. Não fora ela quem lançara o feitiço, nem ele. Ao invés, sua surpresa foi total quando viu que era Hunnigan quem estava se aproximando com passos rápidos pela grama.

– O que vocês estão fazendo? – ele disse. Sua voz soava muito mais carregada de raiva do que normalmente ficava.

– Não podemos duelar? – Mattew mentiu. O que acabara de dizer possuía um fundo de verdade, mas nenhum professor, especialmente Hunnigan, engoliria tal coisa.

– Os senhores já devem estar bem cientes de que a prática de feitiços contra outros alunos é contra as regras dentro da escola.

– Tecnicamente, estamos nos terrenos. – Ryan respondeu, teimosamente. Estava descontando parte da raiva que sentia por Mattew em Hunnigan, sem nenhuma cautela.

– Sr. Cooper... Ou melhor, senhores, me acompanhem. – Hunnigan pediu. Ele se virou e recomeçou a caminhava, parando apenas ao notar a presença de Rachel. – E a senhorita é...?

– Rachel Clarke. Eu vou junto.

Hunnigan não respondeu à Rachel. Tudo o que fez foi seguir caminho sem nem olhar para trás. Os três não tiveram opção senão segui-lo.