As Quatro Casas De Hogwarts - Ano 1

Capítulo 10 - Cartas


No caminho para a Sala Comunal, Alice e Erick encontraram com o grupo de amigas de Alice.

Era visível que cada uma delas, apesar dos esforços, não conseguiam parar de virar o pescoço para ver se aquela era de fato a Alice, que estava andando com Erick pelo segunda vez em um dia. E o pior: eles pareciam alegres, e estavam voltando de algum lugar juntos, com Erick carregando a vassoura...

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Naquela noite no dormitório, após Alice ter se despedido de Erick e subido para dormir, ela encontrou três de suas as amigas reunidas em uma única cama, suas cabeças juntas, cochichando. A única exceção era uma garota simpática, deitada em sua cama do lado da de Alice. Todas se viraram quando ela entrou.

- Olá...? – Alice disse, hesitante.

Sem nem cumprimentar, Emily perguntou:

- Alice, você é íntima do Erick?

Desconfortável com o jeito que Emily tinha dito aquilo, Alice tentou disfarçar seu embaraçamento, e andou até sua cama.

- Ahn... Eu diria que sou amiga dele, sim. – ela respondeu, sentando na própria cama e tirando os sapatos. A cama em que as três garotas se encontravam estava em frente a ela.

- Então... Porque não falou para a gente? Nós falamos nele à séculos.

- Séculos, você quer dizer, desde que ele ganhou aquele jogo de Quadribol contra a Lufa-Lufa na semana passada? – Alice ironizou, recostando na cama.

Emily revirou os olhos, e outra das garotas, Lydia, falou:

- De qualquer jeito você sabia que nós gostaríamos de falar com ele.

Alice pensou: Mas ele não quer falar com vocês. Mas não disse isso em voz alta. Em vez disso, disse:

- Ok então, eu apresento vocês para o Erick amanhã.

- Ah, isso é ótimo! Apresente a gente assim que nós encontrarmos com ele, pode ser?

Alice já estava com o pijama em suas mãos, mas não estava muito animada para trocar de roupa com as três garotas encarando-a. Por isso, fechou a cortina de sua cama e disse, educadamente:

- Pode ser. Com licença.

Assim que Alice fechou a cortina todas elas recomeçaram a conversar, baixo demais para Alice poder ouvir uma palavra sequer. Mas a garota não se importava mais com isso.

No dia seguinte, Ellen, Daniel, Ryan e Nathan já tinham terminado seu café-da-manhã, e estavam quase prontos para mais uma segunda-feira. Ryan não parecia bem naquela manhã, e nenhum de seus três amigos sabia por onde ele tinha estado no dia passado, depois que os deixara na mesa de almoço.

Eles não estavam falando muito, em especial Ryan. Por fim, Ellen falou, como tinha combinado com Nate e Dan no outro dia. Eles iam tentar descobrir e ajudar Ryan com o seu problema.

- Ryan... – o garoto levantou a cabeça – Eu notei que você está meio quieto esses dias... eu sei que o problema pode ser com Alice, mas eu estou começando a achar que é algo mais...

- Como o que? – ele disse, mas não soou convincente.

- Bom, isso eu esperava que você me dissesse. Nos dissesse. – Ellen continuou.

- Não há nada de mais, só Alice mesmo...

- Você parece muito mais abalado que todos nós. Claro, nós também nos sentimos assim, e temos que levar em conta que ela era sua melhor amiga, mas de qualquer jeito que por agora você tivesse esquecido ela. E dado a ela uma segunda chance...

- Porque eu daria a ela uma segunda chance? – ele disse, um pouco alto demais, o que chamou a atenção de algumas pessoas ao redor. Notando que mais gente olhava para ele, Ryan baixou o tom de voz e continuou – Para que ela me machuque uma segunda vez? Igual ao que Ma...

Ele se interrompeu, percebendo que tinha dito muito. Olhando de um amigo ao outro, notou que isso não passara despercebido.

- Ryan, quantas vezes nós vamos ter que te dizer? – Nathan perguntou calmamente – Nós estamos aqui para você. Nós não vamos te decepcionar.

- Como eu posso saber que isso é verdade? – toda a raiva abandonara Ryan, agora ele soava como uma criança pedindo um conselho.

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- Bem... Você não pode. – Nate concluiu. – Isso é uma questão de confiança. Sempre que você começar uma nova amizade, você estará ariscando ser traído mais tarde. Mas, com o tempo, eu não sei explicar como acontece; eu só sei que nós começamos a confiar um no outro. E nós sabemos, sem nem duvidar por um segundo, da lealdade do outro. Nós só sabemos que eles estarão lá.

Ryan parou para refletir por um momento. Até Ellen e Daniel pararam para pensar, pois não tinham combinado aquilo nem sabiam de onde Nathan tinha tirado aquela inspiração. Mas concluíram que ele estava certo, e Ryan disse:

- Você está certo, Nate. Então eu vou confiar.

Ellen e Daniel sorriram, mas não por muito tempo.

- Mas eu ainda vou repensar se devo ou não dar uma segunda chance à Alice.

Nathan suspirou e lançou um olhar para Ellen que dizia: eu fiz o que eu pude. Um passo de cada vez.

- Tudo bem. – Daniel disse, - mas conta pra gente o que aconteceu.

Ryan olhou para os lados, e esticou a cabeça, como se procurando alguém, quando olhava para toda a extensão da mesa da Lufa-Lufa. Ele recebeu mais olhares intrigados de volta, e resolveu sair dali.

- Aqui não, vamos para um lugar mais silencioso. – ele respondeu. – Eu prometo que lá e conto tudo.

Nathan deu de ombros e seguiu Ryan, acompanhado de perto por Ellen, que arrastava Daniel sob seus protestos:

- Mas eu ainda não terminei o almoço!

Ellen revirou os olhos a acelerou o passo para poder se juntar aos dois amigos. Daniel não teve escolha senão segui-la.

Ryan os levou para fora do castelo, mas mesmo assim os jardins ainda estavam um pouco cheios. Afinal, era horário de almoço, e todos queriam aproveitar ao máximo. Achando um banco de pedra que estivesse vazio, Ryan se sentou, e do seu lado ficaram Ellen e Nathan.

- E eu? – Daniel perguntou.

Ellen apontou para o chão, rindo. Daniel deu de ombros e se jogou no chão.

- Pelo menos estou na grama. – ele comentou.

Todos olharam para Ryan, na expectativa. Procurando por alguma coisa dentro de suas veste, Ryan tirou de lá uma carta, que Nathan reconheceu como sendo a carta que recebera de seus pais.

- Essa é a resposta que eu recebi de meus pais. Eu a recebi em Outubro. Não é diretamente relacionado com todo o problema que está acontecendo aqui em Hogwarts, mas eu achei que deveria mostrar para vocês...

Entregando a carta para Nathan, Ryan permaneceu em silêncio, enquanto o outro garoto abria o envelope e puxava a carta de seu interior. Nathan e Ellen juntaram suas cabeças para poder ler o conteúdo da carta, e Dan deu a volta por trás do banco para ler por cima do ombro deles.

Na carta, estava escrito:

Caro Ryan,

Desculpe-nos a demora por retornar a sua primeira carta, mas é que eu e o seu pai andamos muito ocupados.

Foi um choque quando lemos a sua primeira carta, sinceramente não esperávamos por isso. Na Lufa-Lufa, um filho nosso, quem diria! E pelo o que eu entendi você está orgulhoso de estar nessa casa, e não liga para que Mattew (ah, diga a ele que mandamos lembranças!) pensa. Devo dizer que é muita insensatez de sua parte, Ryan. Tome por exemplo Mattew: Ele é um Grifinório, e com certeza tem as características atribuídas à casa dele. Coragem e bravura, na minha opinião são as que mais importam. Você não deveria ter orgulho da Lufa-Lufa, muito pelo contrário.

Infelizmente, não podemos reverter à situação, e vamos todos ter que conviver com isso.

Pelo que me lembro você me contou que fez três amigos, de diferentes casas. Espero que sejam boa influência para você. Não desanime, e continue bem nos estudos, como sei que está indo.

Sinceramente, Trevor e Lauren Cooper.

P.S.: Não se esqueça de dizer à Mattew para mandar logo uma carta em resposta, estamos esperando notícias dele!

A carta terminava assim, e, assim que parou de ler, Ellen virou boquiaberta para Ryan. As reações de Nathan e Daniel foram parecidas.

- Ridículo eu, não? – Ryan perguntou, pegando a carta de volta e guardando.

- Espera, você acha que você é ridículo? – Daniel perguntou, mais surpreso ainda.

- É. Um filho que nem consegue fazer os pais se orgulharem...

- Me desculpe, mais a única pessoa ridícula aqui é sua mãe. – Nathan disse. – E seu pai. Me desculpe, mas eu precisava dizer isso.

Ryan não pareceu irritado por Nathan ter insultado sua mãe; ele só deu de ombros.

- Não é o filho que tem que fazer os pais ficarem orgulhosos. – Ellen falou – são pais que tem dar suporte ao filho a qualquer momento, não importa a situação.

Ryan suspirou.

- Bem, esse não é o caso dos meus pais. – ele disse, fitando o chão.

- Ryan, não deixe seus pais te abalarem. – Dan disse, colocando a mão no ombro do amigo. Ele ainda estava atrás do banco, debruçado sobre ele.

- Exatamente, Daniel tem razão! – Ellen disse, tentado confortar Ryan. - Nós já falamos sobre isso. Você é da Lufa-Lufa com orgulho.

Ryan não se mexera, não dera algum sinal de que estava ouvindo as palavras de Ellen. Isso bastou para Nathan. Ele era da Lufa-Lufa também, e tinha ideia de como Ryan se sentia. Nate era mestiço, mas sua família também vinha da Lufa-Lufa, e ninguém o tratava como tratavam Ryan. Ele achava isso um absurdo.

- Ok, Ryan, você pode ficar aí se lamentando de sua situação, e devo dizer que tem razões o bastante para fazer isso. Mas isso não vai te levar a lugar nenhum. Se você quer saber, eu acho melhor você não dar ouvidos a sua mãe. Também sou da Lufa-Lufa, e já ouvi piadas o suficiente sobre a nossa casa, mas não por isso que me deixo abalar. O chapéu nos colocou aqui por uma razão, e acho que temos que honrar a casa em que ficamos. Então levanta desse banco e vai agora escrever uma resposta, não, escrever tudo o que você pensa para sua mãe. Sem mentiras. Eu acho que nós todos não precisamos de mais delas.

Finalmente Ryan levantou o olhar, e encarou Nathan, que tinha se levantado do banco na emoção. Alguns alunos que transitavam por ali olhavam curiosos, mas nenhum dos quatro prestou atenção.

Ryan suspirou mais uma vez, e se levantou também.

- Você tem razão. – na raiva, Ryan puxou a carta de dentro das vestes e a rasgou no meio. Depois mais uma vez, e outra, até estar reduzida à pequenas folhas de papel, as quais ele amassou juntas e jogou numa lixeira próxima. – Ah, eu precisava fazer isso. – ele falou.

Nem Ellen nem Daniel sabiam se isso era uma coisa boa, e, depois de uma troca de olhares, sorriram para Ryan, decidindo que seria o melhor a fazer. Nathan não sorria, mas a aprovação no seu olhar era visível.

- Nathan, obrigado, eu precisava disso. – Ryan agradeceu. – Obrigado a vocês também. – ele completou para Ellen e Dan.

- Só uma coisa que eu tenho que perguntar: - Daniel disse – Porque você não mostrou a carta antes?

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Ryan desviou o olhar e começou a manter o lábio. Sabendo que não tinha como esconder a verdade dos amigos, e agora não tinha mais porque o fazê-lo, Ryan disse:

- Eu estava com vergonha. Vocês viram o jeito que a minha mãe me tratou na carta. – ele olhou de relance para a lixeira, ligeiramente arrependido – Nem me trata como um filho. Tudo para ela é Mattew.

- Então parece que sua mãe não te conhece direito, porque eu tenho mais de um motivo para dizer que você é merece bem mais que Mattew. – Ellen disse, encerando o assunto, pois os outros dois concordaram. – Por falar nele, ele andou te perturbando nos últimos dias?

- Nem um pouco. – Ryan respondeu. – Não vejo e nem quero ver a cara dele a tempos. Acho que depois daquela briga ele não vai mexer com a gente por um bom tempo. Sorte que não fomos pegos. Do contrário...

Ele deixou a frase no ar, mas todos ali presentes sabiam o que acontecia se você fosse pego duelando no meio do corredor. Na pior das hipóteses, detenções.

- Então... – Nathan disse – Está na hora da aula. Vamos, Ryan, a gente escreve a carta depois.

Os quatro amigos foram juntos para o castelo, mas logo se despediram. Suas aulas eram separadas, exceto a de Nathan e Ryan, obviamente. Eles se despediram logo dos outros dois e seguiram parar a sua aula de Poções, enquanto Ellen e Daniel subiam as escadas juntos.

O dia de aulas passou lentamente, tanto para Alice e Erick quanto para os outros quatro. Pelo fato de Erick não estar no mesmo ano que Alice, ela sentia falta dos amigos, coisa que suas colegas de quarto não conseguiam amenizar. Alice até se entendeu melhor com uma delas, que desde o início achara mais simpática e muito menos superficial.

Chloe Stevens se sentava do lado de Alice em todas as aulas de Transfiguração, e também em outras ocasiões. Alice a achava bem legal, e Chloe concordava com ela em um fator crucial:

- Eu sempre achei as meninas um pouco superficiais, não acha? – Chloe perguntou, certo dia. Alice sabia quem eram as meninas porque elas vinham falando sobre elas já há um tempo.

- Tem razão, eu reparei nisso outro dia.

- Sinceramente, já estou ficando cansada dos assuntos delas. – Chloe disse. – Eu acho que você também, não?

- É, você reparou bem.

As duas ficaram em silêncio por um tempo, suas penas arranhando o pergaminho, Chloe tomando coragem de continuar falando:

- Sabe, no outro dia, quando você estava com Erick...

- O que, começaram a falar de mim? – Alice perguntou, olhando nos olhos castanhos de Chloe para ter certeza de que ela não mentia.

Chloe pareceu se engasgar com as palavras por um tempo, mas então disse:

- Você as ouviu falando? Olha, eu não queria incentiva-las nem nada, mas eu acabei ouvindo tudo.

- Eu não ouvi o que elas estavam falando, mas eu acredito em você. – Alice voltou a sua atenção para o pergaminho, mas Chloe ainda olhava para ela. Ela estava grata por Alice ter acreditado nela, e com razão.

- Então... Acho que você não gostaria de saber o que falaram, né?

- Não. – Alice respondeu prontamente – Se quer saber, não me importo. E eu acho que eu vou falar com elas sobre isso.

Chloe refletiu alguns segundos sobre as palavras de Alice. As consequências podiam ser grandes, mas Chloe tinha certeza de que ela estava ciente disso. A nova amiga de Alice resolveu se arriscar:

- Eu acho melhor eu te apoiar então. – disse ela, depois de pensar bastante sobre o assunto.

Alice parou de escrever imediatamente, e passou a olhar Chloe, estudando o rosto da garota com cuidado. Seu cenho estava franzido, e ela dizia a verdade. Alice percebeu o que isso poderia significar, e como estava precisando de algum apoio durante as aulas e diferentes tempos. Sorrindo, respondeu:

- Eu adoraria sua ajuda.

Chloe retribuiu o sorriso. Mas Alice foi logo avisando, para ela não ter ideia precipitadas.

- Mas primeiro eu preciso esperar por um tempo. Talvez o fim do semestre.

Chloe não entendia muito bem o porquê, mas concordou, pensando que assim as duas teriam mais tempo para se conhecer. Alice pensava exatamente nos seus três amigos, e se tudo correria bem. Não desejava se meter em mais confusões antes de resolver essa. Ela sabia que estava se arriscando ao se opor às garotas, mas sem dúvidas era o que ela queria. Pensando em contar tudo para Erick mais tarde, na quietude da biblioteca, o sinal bateu e Alice seguiu com Chloe para fora da sala.

Na Sala Comunal da Lufa-Lufa, Nathan e Ryan se empenhavam em escrever a carta de resposta, e termina-la naquela mesma noite, se possível. Eles encontraram com Ellen e Daniel depois das aulas, no jantar, e esses deram ideias e apoio moral para Ryan mandar uma resposta.

Assim, os dois estavam reunidos numa mesa, sentados em poltronas de estofado bege, Ryan com uma folha de pergaminho à sua frente.

O dormitório da Lufa-Lufa, diferentemente dos da Corvinal e Grifinória, não seguia um padrão circular, e era mais parecido em formato com outros aposentos. Em todo resto, se assemelhava muito a qualquer um dos dormitórios. Um quadro de avisos pendia da parede esquerda; cadeiras, poltronas e sofás se espalhavam pela Sala Comunal da Lufa-Lufa, todos de acordo com as cores da casa. Junto desses, mesas e mesinhas auxiliavam quem quer que as queiram usar.

Ryan e Nathan se sentavam do lado da janela, sentados de frente para o outro. Ryan só tinha escrito a data e endereçado o envelope; não sabia por onde começar a carta.

- Expresse o que você está sentindo. – Nathan sugeriu.

- Se fosse assim, eu mandava um berrador. – Ryan grunhiu insatisfeito, mas ponderou a possibilidade de mandar um berrador para seus pais. Na certa, receberia outro em troca.

Ele respirou fundo, e sua mente começou a formular as primeiras palavras, que se transformaram em frases, em parágrafos... Num fluxo constante, ele foi derramando as letras pelo pergaminho, na pressa, quase o manchando de tinta. O assombro de Nathan era notável em seu rosto. Num segundo Ryan estava completamente confuso; no outro, ele parecia escrever um texto previamente decorado. Nate imaginava como ele se expressa na carta: se era agressivo ou se adotara uma postura mais calma em relação aos pais.

Nathan resolveu não atrapalhar. Se quebrasse o ritmo de Ryan, talvez ele não o recuperasse mais. Então, esperou por cinco minutos e duas páginas de pergaminho para que Ryan parasse.

Ele baixou a pena e empurrou as folhas, automaticamente massageando a mão. Piscou algumas vezes antes de olhar uma vez para Nathan, e pegar de volta sua folha. Ele tinha escrito muito, e revisaria a carta antes de qualquer coisa. Sabia que teria passar a limpo, mas essa ideia não o agradava.

Ele releu a carta, e ficou satisfeito com o que tinha feito. Depois, passou para Nathan. Ele leu-a em silêncio, esforçando-se para entender a letra apressada e borrada de Ryan.

Queridos Pai e Mãe,

Escrevo a vocês para dizer que suas palavras não surtiram o efeito desejado em mim. Sim, eu entendo o seu ponto de vista, mas não poderia discordar mais dele.

Ainda continuo com a mesma visão da Lufa-Lufa que antes, e acho que sua carta me ajudou a reforçar o meu ponto de vista. Estou muito feliz na casa que estou, e não poderia querer amigos melhores do que esses que tenho. Eles me dão o maior suporte, e, se querem saber, substituem o que vocês deveriam estar fazendo, em vez de me criticar. Estou cansado da insatisfação de vocês, e sinceramente parei de me importar com isso.

Agora eu me lembrei: eu li em sua carta que vocês tinham pensam que a Lufa-Lufa não tem qualidades importantes o suficiente. Pois bem, vou listar as qualidades mais importantes que notei ao conviver com alunos da mesmo casa que eu: Somos gentis. Não todos, obviamente, mas generalizando. Helga Hufflepuff era gentil, e não para por aí: a fundadora de nossa casa era justa, paciente, sincera e sobretudo uma amiga leal. Não duvide, você vai encontrar em cada aluno da Lufa-Lufa pelo menos uma dessas características.

Então não me venha falar mal da minha casa, nunca mais. Dei razões suficientes para você enxergar a importância dela. E quero que você saiba, também, que cada uma das casas tem sua cota de alunos que não tem só as melhores qualidades da casa, mas também outras falhas individuais.

Não vejo Mattew há um tempo, e prefiro que permaneça assim. Não transmiti qualquer tipo de mensagem, vocês sabem que não me dou muito bem com ele, que não faz nada para melhorar a situação.

Não vou passar o Natal em casa, vou permanecer em Hogwarts. Eu prefiro ficar na companhia de meus amigos, e creio que vocês também, se leram a carta até aqui.

Até outro dia,

Seu filho, Ryan Cooper.

Nathan parou de ler e olhou para Ryan, com um sorriso no rosto. Ele perguntou:

- Como está?

- Está ótimo. Você foi sincero e ainda com classe. Vamos mandar logo a carta, já está tarde.

De fato, a Sala Comunal estava se esvaziando aos poucos. Com sono, os alunos terminavam o quer que estivessem fazendo e iam para a cama. Alguns pequenos grupos ainda permaneciam lá; alguns fazendo deveres, outros jogando conversa fora. Já eram onze horas, e Ryan estava começando a ficar sonolento.

- Mas a minha letra está horrorosa, tenho que reescrever. – Ryan disse, embora ele mesmo não quisesse fazer isso.

Nathan teve que concordar. Ele mesmo tinha feito muito esforço para entender algumas palavras. No todo, a letra estava, assim como Ryan havia dito, horrorosa.

Suspirando, Ryan puxou outra folha de pergaminho de sua mochila, pronto para começar a reescrever a carta. Ryan nem tinha escrito o primeiro parágrafo e ele notou que Nathan bocejava, mas tentava esconder isso.

- Nate, pode ir dormir.

- Não, eu estou be... – ele foi interrompido por outro bocejo, e, sem mais discussões, foi para cama, junto do último grupo de alunos da Lufa-Lufa.

Ryan ficou sozinho na Sala Comunal.

Como a luminosidade estava baixa, ele se mudou para perto da lareira, onde ainda ardiam algumas chamas. Sentado em outra poltrona, terminou de passar sua carta a limpo, relendo-a enquanto escrevia. Estava do jeito que ele gostaria que estivesse. Ryan achou que conseguira escrever daquele jeito porque já estava tudo em sua cabeça; todos os sentimentos, todos os pensamentos. Tudo o que ele precisava fazer era traduzi-los em palavras, e coloca-las no papel.

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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Quando ele terminou, eram onze e meia. Ele escrevia devagar, tomando cuidado para não deixar nenhum borrão na carta. Embora ainda estivesse com raiva de seus pais, e quisesse mandar a carta do jeito que ele a tinha escrito da primeira vez, Ryan pensou que não seria muito bom para ele se mandasse a carta naquele estado. Queria passar a sensação de que tinha escrito na maior calma e educação.

Ele se levantou da poltrona; as chamas na lareira agora estavam reduzidas a brasas. Chamando sua coruja (Ryan não queria arriscar mandar a carta pela manhã e perder o horário das aulas, ele evitava fazer isso desde a primeira vez), Ryan atou a carta em sua perna e disse carinhosamente:

- Pronta para uma longa viajem? Não demore, eu posso precisar de você.

Abrindo a janela, Ryan soltou a coruja malhada na escuridão da noite, e ela logo sumiu de vista.