Anônimos

Fábula


Primeiro dia de aula, Jaded acorda desanimada, querendo retardar as férias por todo tempo que conseguisse.

O relógio volta a despertar, embora tivesse sorte de acordar ao som de Pink do Aerosmith, sua banda preferida, nem isso era suficiente para animar o seu dia.

Ela era consciente do mundo que a aguardava ao transcorrer do dia.

No mais profundo de seu coração realmente esperava que todos os alunos do seu colégio tivessem sofrido lavagem cerebral e mudassem com ela, no seu mais íntimo ela ainda guardava a esperança de ser aceita, ou ao menos ignorada.

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Mas, sua parte racional sabia que a realidade era muito diferente dos contos de fada, aqui tudo acontecia e jovens cruéis andariam pelo seu colégio como bons samaritanos, escondendo o pior deles, transbordando tudo apenas quando rebaixavam os outros, era assim que as coisas funcionavam longe de Far-Far-Away*.

*Citação ao Reino de Tão-tão-Distante da Fábula do Shrek.


Jaded sabia que se ignorasse a música que soava por todo seu quarto com o alerta do despertar, ninguém viria a chamar ou interroga-la por não ter ido ao primeiro dia de aula.

Seus pais eram separados, à alguns anos o relacionamento deles não era bom, apenas se suportavam quando precisavam resolver algo sobre dinheiro ou tratar de qualquer assunto sobre Jaded. O afastamento deles deixou ela ainda mais insegura e reclusa. Afinal o que esperar de uma pessoa que tem por sua base familiar intermináveis conflitos, desconfiança e traições.

Eles não se importavam se ela ia no colégio, o importante era ver sua aprovação no final do ano o meio para conseguir isso era por conta da garota.

Sua mãe era distante, e estava sempre envolvida com o trabalho e viagens, Jaded passava a maior parte do tempo sozinha no apartamento, conversas não eram frequente entre as duas.

Algumas perguntas básicas e rotineiras e o velho “Conversamos melhor quando eu voltar” era o máximo de um diálogo que elas chegavam.

Morava com sua mãe em Los Angeles, dita a Cidade dos Anjos, poderia até ser para alguém, mas para ela, isso estava muito longe da realidade de sua rotina.

Anjos?

Ainda não ousaria conferir tal descrição a nenhum ser humano que passou pelo seu caminho. O mais próximo de tal adjetivo talvez seja Maick o porteiro do prédio que sempre sorri para ela desejando bom dia.

Ou o cara desconhecido que faz lindos desenhos na praça, um artista de rua, mas que tinha um talento que Jaded admirava, por muitas vezes quando algo ruim acontecia na escola e ela não queria voltar a sua casa para ouvir mais uma discussão de seus pais, ela ia a praça e ficava o olhando desenhar.

Os traços a distraiam, era admirável ver como riscos grosseiros e sem forma alguma, traços selvagens se transformavam em uma delicada arte final, era impressionante o dom que ele tinha de contar histórias através de sua pintura.

Para Jaded cada uma revelava uma história por trás de cada rosto e paisagem havia um mundo imensurável a ser explorado.

Eles eram as únicas pessoas que sempre foram gentis com ela, sem esperar algo em troca, eram pessoas boas com um lindo coração que alimentavam o seu mais íntimo sentimento de esperança que ainda haviam pessoas de bom coração no mundo.

Aceitando o seu trágico destino próximo, a garota se levanta, submissa ao seu futuro puxa uma calça Jeans, uma camiseta cinza que tinha duas vezes o seu tamanho, coloca seu All Star, pega um casaco preto que a cobria ainda mais e desce para tomar o café da manhã.

Usar roupas largas fazia de Jaded mais segura e protegida de sua forma rechonchuda, era o meio que ela encontrara de fugir da realidade, embora não imaginasse que só serviria para deixa-la ainda maior. Esconder-se atrás de blusas gigantes e uma quantidade infindável de tecidos e um jeans solto não faziam de suas formas invisível aos olhos dos outros.

Tentava fugir das cores, elas chamavam uma atenção que ela não desejava, Jaded preferia tons escuros e neutros, que a fizessem se misturar a uma grande massa de pessoas, de forma alguma queria se destacar.

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A garota cujo maior desejo era possuir uma capa invisível, esperava o elevador descer, de costas para o espelho, não precisava lembrar do seu reflexo mais uma vez, tinha certeza que as pessoas no colégio fariam isso por ela.

Saiu apressada ao encontro do carro que já a esperava.

- Bom dia Senhorita Jaded! – Fala Maick, com um grande sorriso para a garota com cabelos sobre os olhos e postura cabisbaixa, que passava apressada pelo saguão.

- Bom dia Maick. – Profere Jaded tentando um sorriso com o canto dos lábios.

O Caminho para o colégio havia sido tranquilo. Jaded se sentia pronta para enfrentar mais uma vez o matadouro, que chamavam de escola.