— Mamãe, conta de novo a história de como você e papai se conheceram?
— Sim, sim! Queremos ouvir!
Eu olhei para as duas meninas que quicavam em suas camas, apertando a barra da camisola entre os dedos, os olhos brilhando em antecipação.

— Eu já contei essa história mil vezes, meninas — eu respondi. — Aliás, seu pai e eu sempre contamos ela para vocês. Mas agora está tarde e a hora de dormir já passou há muito tempo.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— Ah mãe — exclamou Valerie, a mais velha, com cinco anos. — É que é tão engraçado! Vocês se odiavam e acabaram juntos!

— Não é engraçado — retrucou Victoria, um ano mais nova que a irmã. — É tão romântico!

Balancei a cabeça, com um pequeno sorriso no rosto. Minhas duas bonequinhas adoravam ouvir minha pequena história de amor, meu conto de fadas particular. E eu adorava contar, no entanto, estava muito tarde e era dia de semana. Além disso, eu estava muito cansada.
Meus dois anjinhos agiam como diabinhos de vez em quando. As duas desatavam a correr pela casa, puxando cortinas, derrubando cadeiras, tropeçando nos tapetes e quebrando vasos. Não tem ser humano que não fique morto depois de um dia desses.

— Certo, minhas pequenas precoces, vamos fazer um trato — eu comecei, olhando bem sério para as duas. — Vocês dormem agora e seu pai e eu contamos essa história amanhã. Vocês sabem como é muito mais divertido ouvir as duas versões, os dois lados da história.

As duas assentiram com energia, adoravam quando o pai se juntava a mim na hora de colocá-las na cama, ainda mais com a promessa de uma divertida história de amor. Assim, as duas deitaram-se em suas camas e eu as cobri, e fiquei no quarto até que dormissem. E mesmo depois que isso aconteceu, continuei ali, a observá-las em seu sono tranquilo. Minhas duas preciosidades, os presentes mais lindos que meu marido me deu. Valerie era ruiva como eu, mas tinha os olhos escuros do pai, já Victoria, tinha os cabelos castanho dourados, mas os olhos eram azuis acinzentados. Eram completamente opostas na aparência e na personalidade, mas ambas tinham alguns traços nossos, e era uma alegria e uma emoção poder ver naquelas duas pequenas tão amadas, um pouco de mim e do amor da minha vida.

Minutos depois, a porta do quarto se abriu e ele entrou. Tinha acabado de chegar do trabalho e nem tinha trocado de roupa, apenas aberto os botões da camisa social branca, dando-me um vislumbre do peitoral definido dele e me fazendo ter pensamentos nada apropriados para se ter em um quarto de crianças. Ele se aproximou das meninas e deu um beijo em cada uma, depois puxou-me pela mão para fora.

Assim que fechei a porta do quarto, ele me prendeu na parede do corredor e, sem uma palavra, atacou minha boca num beijo feroz. Eu retribuí imediatamente, passando os braços pelos lados do seu pescoço até que minhas mãos se fecharam em seus cabelos macios. Já as mãos dele passeavam pelas minhas costas e cintura, sem nunca parar muito tempo em um só lugar.

Depois do que me pareceu ser uma eternidade, ofegantes, afastamos nossos lábios. Eu inspirei o ar profundamente, sentindo meu coração bater forte nas costelas com a intensidade daquele beijo e dos olhos escuros do homem a minha frente. Ele tocou meu rosto com a ponta dos dedos, com uma delicadeza que só os homens apaixonados têm, e eu fechei os olhos por um momento, para sentir melhor a carícia.

— Boa noite, Sra. Müller.

— Boa noite, Sr. Müller — respondi, abrindo os olhos e encarando aqueles orbes escuros tão amados. — A que se deve toda essa...urgência?

Ele sorriu torto.

— Preciso ter um motivo para beijar minha mulher?

— Sabe que não, eu adoro ser beijada. Principalmente se for por você — provoquei.

Ele me soltou e se afastou imediatamente, uma carranca de raiva e ciúme contorcendo as suas feições.

— Principalmente?! Quem você anda beijando além de mim?!

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Sufoquei a vontade de rir. Mesmo depois de tanto tempo, ainda era fácil provocar o meu marido ciumento.

— Fale baixo ou vai acordar as meninas — eu disse, divertindo-me com sua expressão tão escura.

Ele trancou seus dedos em meu braço e me puxou até o nosso quarto, no final do corredor, batendo a porta em seguida.

— Maria Valentina — ele começou, a voz baixa carregada de raiva — pode começar a me explicar o que você quis dizer com aquele PRINCIPALMENTE. Se eu souber que você anda beijando outro...

Não deixei que ele terminasse a frase, joguei-me em seus braços e colei nossas bocas, beijando-o com um desespero de que só as mulheres muito apaixonadas são capazes.

— Mas é um idiota mesmo — eu disse num tom brincalhão, depois que nos separamos em busca de ar. — Eu estava só provocando você, Cérebro de Mosca Aguada. Meus beijos são só seus.

Ele suspirou e apertou-me mais contra ele, as mãos presas em minha cintura. O sorriso torto voltou aos seus lábios e ele encostou sua testa na minha.

— Um cara podia pensar que, entrando na faculdade de medicina, se formando com honra, se tornando um cirurgião neurologista renomado e, depois de duas filhas e sete anos de casamento, sua esposa iria parar de chamá-lo de Cérebro de Mosca.

Eu ri e dei um leve selinho nele.

— Você sempre vai ser meu Cérebro de Mosca — eu disse, olhando fundo em seus olhos. — Eu amo você exatamente assim.

— Ama, é?

— Amo.

— Quanto?

— Amor não se mede, seu idiota!

Ele riu e me levantou em seus braços, jogando-me na cama e deitando em cima de mim, distribuindo beijos pelo meu rosto, pescoço e ombros, mordiscando minha pele em alguns pontos.

— De agora em diante, você está proibida de me xingar, mulher!

Eu apenas ri e me entreguei aos beijos dele. Nossas bocas voltaram a se colar, com uma força e um ímpeto alucinantes, que faziam meu corpo ferver e minha cabeça rodar.

Vicente parou o beijo abruptamente e olhou em meus olhos. Seus cotovelos estavam apoiados na cama para evitar que todo o seu peso ficasse em cima de mim, e uma mecha do seu cabelo caía em seus olhos. Eu a afastei com os dedos.

— Eu não vivo sem você, Maria Valentina. Eu te amo.

Eu já sabia disso. Eu sabia e, mesmo assim, meu coração disparava como se fosse a primeira vez que ele fazia essa declaração.

— Uma garota podia pensar que, depois de sete anos de casamento e duas filhas, seu coração iria parar de bater como louco depois de uma declaração de amor do marido.

— Sinto dizer para você, querida esposa, mas se depender de mim, isso nunca vai mudar.

Nós rimos e ele e me beijou levemente uma, duas, três vezes.

— Eu também não vivo sem você, meu amor — eu disse, antes que ele me beijasse de novo.

— Eu te amo.

O riso morreu em nossos lábios e Vicente tomou os meus com a mesma impetuosidade de sempre, me fazendo corresponder na mesma medida. Sentia suas mãos em todo o corpo e acariciava cada pedacinho da pele dele que meus dedos alcançavam. O cansaço do dia desapareceu completamente, substituído pelo desejo. O tipo mais raro e mais forte de desejo.

Aquele gerado pelo amor.

Aquele que não se apaga nunca.

Porém, antes que nós pudéssemos ultrapassar a fase dos beijos, um barulho se fez ouvir no quarto.

— Mamãe e papai estão namorando! Mamãe e papai estão namorando! — era o coro que nossos dois anjinhos faziam na porta escancarada do quarto.

Vicente se levantou imediatamente e as meninas saíram correndo pelo corredor, gritando e rindo.

— Seu idiota, por que não trancou a porta?! — perguntei enquanto ele abotoava a camisa.

— Descarada, eu estava furioso demais com aquele seu "gosto de ser beijada principalmente por você"!

— Talvez seja melhor achar outro homem para beijar mesmo, você é muito burro! Pode ser contagioso!

Ele voltou à cama e me beijou com fúria por alguns míseros segundos, depois levantou de novo.

— Diga isso de novo, mulher, e eu vou te beijar tanto que você não vai ter forças pra pensar em beijar mais ninguém.

Espreguicei-me na cama e cantarolei:

— Promessas, promessas...

Vi os olhos de Vicente brilharem com a provocação e sorri internamente.

— Pare de me olhar como se eu fosse um pedaço de carne e vá atrás das suas filhas! — ordenei. — É a sua vez de colocá-las na cama.

— De quem foi a brilhante ideia de termos filhos mesmo? — ele perguntou, aborrecido.

— Sua! — respondi, sabendo que ele estava apenas brincando. As meninas e eu éramos tudo para ele.

Não, não era arrogância. Era ser bem amada.

— Bom — retrucou ele, indo em direção à porta. — Chega de filhos, não teremos mais nenhum!

E com isso foi atrás das meninas, guiado por seus risinhos. Mas eu o chamei antes que pudesse ir muito longe.

— O que foi, Tina?

— É meio tarde demais — eu disse, levantando da cama.

— Eu sei que é tarde, Tina! Estou indo colocar as meninas na cama justamente por isso!

Rolei os olhos. Uma vez idiota, sempre idiota.

— Eu não me referi a isso, gênio. Eu me referi a não termos mais filhos. Você realmente tinha que ter dito isso antes, agora é tarde de—

Não pude completar a frase porque, mais uma vez, Vicente se apossou dos meus lábios com urgência. Depois me levantou do chão — com um grito de protesto da minha parte — beijou minha barriga ainda lisa através da blusa que eu usava.

— E eu que achei que você não queria mais filhos....

— Quando você pretendia me contar, minha pequena nerd dissimulada? — ele perguntou, colocando-me de volta no chão e colocando as mãos dos lados do meu pescoço.

— Bom, eu desconfiava, mas só fui ao médico hoje — respondi inocentemente. — E minha ideia era te contar depois de passar a noite toda te amando.

Ele riu e seus olhos brilhavam com a mais pura felicidade.

— Você não presta mesmo, esposa.

— Não mais do que você, marido.

Ele me beijou mais uma vez e foi atrás de Valerie e Victoria, para compartilhar a novidade. Tinha certeza de que as duas amariam a ideia de ganhar um irmãozinho ou irmãzinha. Sentei novamente na cama e fechei os olhos, apenas sentindo a alegria que circulava em minhas veias, o amor que me preenchia e completava.

O meu final feliz não tinha fim.

— Mamãe! Mamãe! — Valerie e Victoria adentraram o quarto correndo, ambas com as bochechas vermelhas e sorrisos no rosto. — Papai disse que vamos ganhar um bebê! — disseram juntas.

— É verdade — eu disse, levantando-me e pegando uma mão de cada uma.

— Ele ou ela vai vir com a cegonha? — perguntou Victoria.

— Não exatamente...

— Então como? — perguntou Valerie.

Vicente apareceu nesse momento para me socorrer.

— Como hoje é um dia especial — ele piscou para mim. — Vamos esquecer a hora de dormir!

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

As meninas vibraram.

— Vão lá para a sala e escolham um filme enquanto eu faço a pipoca — ele disse, fazendo as meninas saírem correndo para a sala no mesmo instante.

Ficamos sozinhos no corredor. Ele se aproximou de mim e me deu um suave beijo nos lábios.

— Obrigado — disse, a voz embargada. — Obrigado por me dar uma família.

— Obrigada por deixar — eu respondi, sentindo que meus olhos enchiam de lágrimas.

...

Meia hora depois, estávamos os quatro amontoados no sofá da sala assistindo o filme que as meninas haviam escolhido. A pipoca já havia sido devorada e todos estávamos meio sonolentos.

— Mamãe — Victoria chamou e eu olhei para ela, que estava com a cabeça deitada no meu colo. — Quando o bebê chegar, você vai me amar menos?

— Claro que não, querida — eu respondi com carinho, passando os dedos pelos cabelos castanhos da minha filha mais nova e atenta a Vicente e Valerie, que ouviam a conversa e olhavam para nós.

— Mas você vai ter mais um para amar — insistiu Victoria, meio chorosa. — Vai ter que dividir o amor. E eu não quero que me ame menos.

Eu sorri para ela, e disse, querendo acabar com suas angústias de criança:

— O amor é um sentimento que, quando dividido, se torna mais forte. Não posso amá-la menos, meu amor, só mais. E eu amo você, sua irmã e seu pai um pouco mais a cada dia.

Isso fez Victoria sorrir e se aninhar mais contra mim. Encontrei os olhos de Vicente e os vi transbordando de amor, como eu sei que os meus deviam estar.

— O amor é um sentimento que, quando dividido, se torna mais forte — Valerie repetiu, parecendo pensativa. — Parece frase de pará-choque de caminhão.

Todos rimos e Vicente deu um leve beliscão na bochecha da nossa filha mais velha.

— Acostume-se, pequena, pois sua família é toda clichê! — ele disse, numa falsa voz séria.

Sim, minha família é clichê, mesmo depois de tantos anos.

E, quer saber de uma coisa?

O clichê ainda está na moda.

Pelo menos por aqui.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.