Meu nome é Maria Valentina.

Mas poderia ser qualquer outro nome, qualquer outra garota, em qualquer outro lugar.

Como eu disse antes, minha história não traz nenhuma novidade. É só a vida de mais uma adolescente boba que se apaixona por outro adolescente igualmente bobo.

Mas minha – nossa – história foi vivida. Com todos os seus obstáculos, todos os empecilhos que os outros - e nós mesmos - colocamos no caminho. Não é só porque essa é mais uma história como muitas outras que ela não tenha sido real. Não é só por isso que ela não possa trazer algo de – se não novo – pelo menos bom para quem a conhecer.

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Confesso que demorei muitos anos para tomar a coragem de escrevê-la. Quando abandonei a ideia de ser médica, fiquei perdida por um tempo, sem ter certeza do que gostaria de fazer com minha vida. E ao pensar em tudo o que vivi com Vicente, a ideia de escrever a história de como acabamos juntos surgiu em minha cabeça, assim como o pensamento de que a leitura era uma grande parte do que eu sempre fui. Eu nunca havia tentado criar minhas próprias histórias, mas a ideia brotou na minha cabeça e foi logo se desenvolvendo até chegar o momento em que eu pude dizer com absoluta certeza que gostaria de ser escritora, que gostaria de tocar o coração de pessoas – que talvez eu nunca chegasse a conhecer – apenas com minhas palavras, com os sentimentos que colocava nelas.

E foi o que eu fiz, sempre com Vicente ao meu lado para me apoiar. Criei histórias, personagens, mundos, sentimentos, vidas. Realizei-me assim e fui mais feliz do que imaginei que podia ser. No entanto, nunca consegui escrever a minha história. Nunca consegui colocar minha vida no papel. Talvez porque não fosse apenas a minha história, talvez porque eu realmente não soubesse como escrevê-la sozinha. Então fui deixando o tempo passar, sem eternizá-la.

Eu só não imaginava que o tempo fosse passar tão rápido.

Vicente sempre soube do meu desejo de escrever sobre nós dois, inclusive me incentivava a fazê-lo, sabendo da minha insegurança. Ele dizia que gostaria de ler, de conhecer todos os sentimentos que eu tivera por ele, mesmo antes de me apaixonar. Gostaria de conhecer o meu lado da história.

Infelizmente, eu não fui capaz de realizar sua vontade a tempo. Esse talvez tenha sido meu maior arrependimento na vida, não que eu tenha muitos. Como numa boa história de amor, posso dizer que fui – e ainda sou, mesmo agora – muito feliz.

Porém, os anos passaram, como eu já disse, um pouco rápido demais, e só agora eu consegui reunir a coragem para colocar minha vida, meu amor, no papel. Para transformá-lo em algo palpável, eterno. Vicente me deu todos os melhores e maiores presentes que eu pude desejar na vida e, ao fim da sua, me deixou um último. Suas memórias daqueles meses fugazes da adolescência, seus pensamentos da juventude, de quando, sem querer e sem perceber, se apaixonou por mim.

Nossa história, então, ficou completa. Ambos a vivemos, sentimos e, por fim, ambos a escrevemos.

Sei que muitos não a lerão. Alguns passaram os olhos por essas palavras e não sentirão nada. Outros acharão que é apenas uma boa maneira para passar o tempo. E alguns poucos, os poucos que realmente sabem do que eu estou falando, os poucos que já realmente se apaixonaram, estes não serão mais os mesmos. Porque esses sabem o que é viver seu primeiro amor, mesmo que tenham se apaixonado mil vezes. Cada vez é como a minha, como a primeira, nem que sejam mil primeiros amores. Nem que sejam mil primeiras vezes.
Eu fui a nerd metida que se apaixonou pelo cara bonito da escola. Mas Maria Valentina provou ser mais do que apenas uma sabe-tudo irritante. E Vince, mais do que o cara bonito da escola. Provamos ser apenas pessoas. Cravejadas de defeitos, alguns que tentamos corrigir. E outros que nunca deixaram de nos acompanhar. De algum modo, saber disso me dá um certo alívio. Saber que, por mais que eu tente, sempre existirão defeitos em mim e nas pessoas ao meu redor. Essa é a maior prova de que sou humana. De que sou só mais uma pessoa imperfeita no meio de milhões tão imperfeitos como eu. De saber que ninguém precisa de perfeição para ser feliz.

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Amo saber como a vida é deliciosamente imperfeita.

E essa talvez tenha sido a maior razão para que eu quisesse que o mundo conhecesse a Vince e a mim. Para provar que perfeição não gera felicidade. Que ninguém preciso disso para amar e ser amado de volta. Para viver um romance clichê.

Estranho como na velhice, a memória se torna algo inconstante. Apesar de ainda conseguir lembrar de exatamente tudo o que aconteceu entre nós, algumas memórias são mais vivas que outras, algumas aparecem mais constantemente em minha mente. Como no dia da minha formatura. Papai estava lá, mais feliz do que nunca. Ele soube crescer e deixar o passado de lado, soube seguir em frente. Reaprendeu a ser feliz. Mamãe também estava lá, igualmente feliz. E, embora eu quisesse de dizer que os dois se reaproximaram e ficaram juntos, as coisas não aconteceram assim. Nunca duvidei que ambos continuaram se amando até o dia de suas mortes, mas tinham se machucado tanto, tinham ido tão longe, que foi impossível voltar. Então os dois finalmente seguiram seus caminhos, mesmo que fossem opostos.

Geny, Lucas e Lana também estavam lá – os últimos como um casal. Lembro que quase soltei fogos de artifício quando Vince me ligou e me disse que os dois haviam finalmente se acertado. Sabíamos que eles seriam felizes, assim que colocassem o orgulho de lado e admitissem o que sentiam um pelo outro. E foi o que aconteceu.

Todos os que eu amava estavam lá, exceto pelo meu avô. Infelizmente, ele morreu alguns meses antes de eu me formar. Foi uma surpresa para todos, porque sempre achamos que ele era o mais saudável de nós, mas o tempo nunca perdoa. Desejei boa noite para ele numa terça feira como outra qualquer e ele respondeu “boa noite, ratinha, durma bem” e foi se deitar, parecendo feliz e tranquilo como em todas as outras noites. E então foi levado para longe de mim. Mas naquela noite, eu o sentia ali, mesmo que fosse clichê e que todo mundo diga que pode sentir alguém que ama e que se foi em momentos importantes da vida. Acho que já ficou bem claro, em todas essas páginas, que eu não me importo de ser desavergonhadamente clichê.

Eu estava feliz. Lembro de ver Narcisa dançando com Adam e Geny conversando com a mamãe numa mesa – depois de quase um ano, as duas finalmente começaram a se aproximar. Eu sorria, quando Vicente pegou minha mão e a apertou suavemente na sua. Então ele se curvou até meu ouvido e perguntou se eu estava feliz. E eu disse que sim. Nessa época, todos já sabiam do meu desejo de me tornar escritora e Vince me perguntou se eu iria escrever nossa história um dia. Aquela foi a primeira vez em que falamos sobre o assunto, embora ele já estivesse há muito tempo na minha cabeça. E eu respondi que um dia – quando me sentisse pronta – escreveria parte dela. “Parte dela?” eu lembro que ele perguntou e eu assenti. Eu não podia escrevê-la por completo porque ela não tinha um fim. E nunca teria. E nem um começo, porque eu acho que nunca saberia dizer quando comecei a amá-lo. Quando percebi, eu já o fazia.

Mas queria que outras pessoas conhecessem nossa história, pelo menos a de como nos apaixonamos e ficamos juntos, queria que outros soubessem da nossa sorte. Queria tocar outros corações que não fossem os nossos.
Se você está esperando que eu termine com um "e eles viveram felizes para sempre"...terá seu desejo realizado. Nós vivemos felizes para sempre. Não, não fomos felizes o tempo todo durante toda a vida. Isso é impossível. O “felizes para sempre” da vida real não é assim. Não é perfeito. A felicidade não é um estado de realização que você alcança e nunca mais perde. A felicidade é um balanço. Vai e vem conforme o vento ou conforme a mão da pessoa que o embala. Você tem que aproveitar enquanto ela está presente e lembrar dela quando a vida ficar amarga. Felicidade é sorrir pelo menos uma vez no dia, mesmo entre lágrimas. É saber que, mesmo numa briga, o amor da sua vida ainda se jogaria na frente de um caminhão por você. É saber que você faria o mesmo. É amar loucamente sem medo de ser...clichê.

E agora, enquanto meus dedos enrugados tremem e lágrimas quentes saltam por meu rosto, eu posso olhar para trás e ter certeza de que tive muita sorte. Sorte por ter conhecido o amor da minha vida, por – mesmo que tenha demorado um pouco – não ter deixado que os problemas me afastassem dele, por ter amado louca e completamente, por ter sido amada de volta. E, mesmo que hoje ele não esteja mais comigo, eu posso guardar minhas lembranças e vivê-las em minha mente. Posso fechar os olhos e imaginar que tenho outra vez dezesseis anos e que estou chamando o meu Vicente de Cérebro de Mosca.

E esse é meu final feliz.

Então, se você acha que um final feliz clichê é ridículo...é porque ainda não teve o seu.