Epílogo - Heartbeat Clocktower

Aquela parte do bosque não costumava ser visitada por passantes. Era obscura, de difícil acesso e extremamente fácil de perder-se. Mas ainda havia casais apaixonados que buscavam um local de intimidade ou crianças brincando sem preocupações que acabavam por chegar a tal parte obscura do bosque. Eram raros os que conseguiam encontrar o caminho de volta e, esses que conseguiam, sempre espalhavam os mesmos boatos: altos sons de engrenagens ecoavam por toda parte, mas nada além de altas árvores obscuras podiam ser vistas. Eram boatos que geravam discussões entre a população, mas logo eram esquecidos e todos voltavam a suas vidas normais.

O que ninguém chegou a descobrir foi que, antes de morrer consumido por seus próprios pecados, um homem solitário construíra um teatro no fundo daquele bosque. Ocupara-se de escondê-lo bem, pois guardava seus mais preciosos tesouros: suas coleções. Mas não se tratava apenas de uma torre para guardar suas relíquias depois de morto, era bem mais importante. O som das engrenagens da torre e o ponteiro dos segundos continuamente batendo eram a prova de que ela estava viva.

Quando era vivo, o homem amava um “fantoche mecânico”. E mantê-la viva era seu único dever. Quando se fora, deixara apenas um guardião para protegê-la: Gear. Mesmo que na metade esquerda do corpo dela estejam esculpidas feias cicatrizes de uma queimadura séria, ele não se importa. Talvez por os sentimentos do antigo guardião terem se tornado seus, ou apenas por ser esse seu dever, mas sua vontade de mantê-la viva era maior do que tudo

As engrenagens estavam enferrujadas e quebradas, ele não tinha mais tempo. Tudo pararia logo e todo o seu trabalho se acabaria em vão. E foi por isso que, antes de morrer, Gear depositou a mão no lado esquerdo de seu peito e penetrou a carne, até encontrar seu coração. Retirou-o e então o depositou nas engrenagens da torre.

Sim, isso seria o suficiente. O suficiente para manter os ponteiros do relógio girando até que todas as “engrenagens” coletadas pudessem despertar e realizar-se a tão sonhada utopia. Era seu dever manter a torre funcionando.