Eu estava esperando o elevador, quando a voz de Tasha ecoou pelo corredor. E, pela primeira não me senti nada animado em falar com ela. Ok, eu estava muito irritado com Rose e podia estar misturando tudo, por isso, me esforcei para ser simpático. Ou pelo menos, não irradiar irritação.

“Dimka! Ai está você. Estou lhe procurando há horas e não lhe encontrei em lugar algum. Você saiu de repente da reunião e eu não lhe vi mais.” Seu tom era extremamente leve e descontraído. Mesmo sem sugerir uma cobrança, eu não gostava de alguém tentando me controlar.

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“Bem, Tasha, estou aqui a trabalho. Estava em serviço até agora.” Não deixava de ser verdade, já que eu estava tecnicamente vigiando o ambiente onde Lissa estava.

“Você trabalha demais, Dimka. Eu já disse a você –“

O elevador finalmente chegou a interrompendo. Eu fiz sinal que ia entrar, mas Tasha colocou a mão na frente, me impedindo de passar, com um olhar crítico “Onde você pretende ir? Ah não, não me diga que vai se trancar no quarto de novo? Dimka! Você está em uma maravilhosa estação de sky! Não pode ficar trancado em um quarto lendo livros.”

“Eu não estou aqui como hóspede, Tasha.” Falei, lutando para não soar impaciente, mas tudo que eu menos queria era conversar. Ainda mais sobre meus hábitos. Eu considerava os meus livros uma grande diversão. Mas o que eu queria mesmo era ficar só. “Eu estive em serviço até agora e estou escalado para o próximo plantão. Queria descansar um pouco, antes disso.”

“Eu poderia –“ Ela começou a falar suavemente, mas o outro elevador abriu, a interrompendo novamente. Só que, dessa vez, uma pessoa inesperada colocou o rosto para fora e, quando nos viu ali, saiu. Adrian Ivashkov. Definitivamente, era a última pessoa que eu queria ver. Ele usava um roupão felpudo de banho e chinelos, que só de olharmos dava pra saber que era coisa cara, mas não deixava de ser totalmente inapropriado para as áreas comuns de um hotel luxuoso daqueles. Provavelmente vinha de sua festa particular nas piscinas térmicas. Senti meu espírito se remexer dentro de mim de forma ruim. Eu não gostava dele, principalmente não gostava dele por ter visto ele com Rose.

Ele saiu do elevador sorrindo presunçosamente. Olhou para mim e para Tasha, depois puxou do bolso de seu roupão um maço de cigarros.

“Como vai Lady Ozera, quanto tempo.” Ele falou inclinando a cabeça na direção de Tasha e depois me olhou. “Guardião Belikov. Parece que hoje é o dia de nos encontrarmos. Já é a segunda vez, não? Sempre que lhe vejo, informações interessantes surgem.” Ele falou acendendo um cigarro, como se olhasse em torno de mim e de Tasha e eu confesso que não entendi essas últimas palavras e nem o seu olhar. Mesmo assim, não estava com paciência para ninguém, muito menos para ele, então, coloquei minha máscara fria e dura de guardião.

“Não é permitido fumar nos corredores, Lord Ivashkov. Aconselho que procure uma área aberta e arejada para fazer isso.”

Adrian, obviamente, ignorou o que eu falei. Antes, deu uma longa tragada e depois soltou lentamente a fumaça na minha direção, em um claro gesto de deboche. Eu permaneci olhando para ele, friamente, sentindo o cheiro forte do seu cigarro de cravos da índia invadir meu nariz.

“É um mau hábito, como diz Rose.” Ele falou dando um sorriso misterioso. “Ah, Tasha, devo dizer, de alguma forma, você está resplandecendo como o ouro agora.” Ele disse com ar arrogante, embora sua voz saísse sedutora. Meu estômago se revirou ao ouvi-lo pronunciando o nome de Rose. Tasha sorriu e deu um passo até ele.

“Guarde seus galanteios, Adrian. Eles não funcionam em mim. Não gosto de pessoas presunçosas.”

Se ainda era possível, a postura de Adrian se tornou ainda mais superior, enquanto um sorriso preguiçoso surgiu em seus lábios.

“Ora, ora, ora... quem está sendo presunçosa agora? Não foi um galanteio. Foi uma constatação de um fato. Você não faz o meu tipo.” Ele olhou para mim, ainda sorrindo e acrescentou. “Nada contra as mais velhas, mas as mais jovens têm sido mais interessantes, você sabe. Rose, por exemplo, é uma garota devastadora, apesar da idade.”

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Tasha pareceu não notar a ironia nas palavras dele. Sinceramente, eu nem sei se havia ironia ou se era uma paranóia minha. Talvez não, eu não sabia dizer o quanto ele tinha ouvido quando eu estava conversando no corredor com Rose.

“É eu sei disso. Eu soube do que você fez com Rose uma noite dessas.” A voz de Tasha era feroz, como tinha sido na reunião, que ela tinha praticamente liderado mais cedo. Ela olhou para mim. “Christian me contou que todos estão comentando que ele deixou Rose embriagada uma noite dessas, na varanda que dá para o pátio da pista de sky.”

Eu senti o ciúme me tomar. Era a primeira vez que eu estava ouvindo aquela história. Eu não queria acreditar que aquilo fosse verdade, mas eu tinha visto Rose bebendo na piscina, então tinha um certo fundamento. Eu me perguntava o quê Rose tinha com esse pedante da realeza e quando isso tinha começado. Definitivamente, eu não podia deixar Rose sem monitoramento. Dois dias que me mantive afastado, esse Adrian Ivashkov surge diante dela.

“Rose é uma boa garota, e eu gosto muito dela, não vou admitir que você a use, como faz com tantas outras. Ela não será mais um troféu na sua estante.” Tasha continuou defendendo Rose e eu me surpreendi. Eu não imaginei que ela gostasse tanto de Rose assim. Soava um tanto quanto estranho, não natural.

Eu esperava mais uma risada sarcástica de Adrian, que não veio. Em um gesto tão desrespeitoso, como espontâneo, ele jogou o cigarro no chão e o pisou. Quando ele olhou novamente para Tasha, não havia qualquer resquício do Adrian despreocupado que falava conosco há pouco. Seu rosto era duro e sombrio, suas linhas se tornaram fortemente marcadas. Seus olhos verdes irradiavam algo negro, como se uma terrível tempestade fosse sair deles a qualquer momento.

“Você? Você?” Ele exclamou com um tom totalmente descontrolado. “De todas as pessoas?” Os olhos dele pararam por breves segundos na cicatriz do rosto de Tasha, a analisando. “Deveria saber que não se deve propagar boatos. Muitos deles, não têm fundamentos - são mentiras. Já outros. Podem muito bem ser verdade. Dependendo do quanto conhecemos seus personagens, temos como saber. É fácil detectar mentiras, quase sempre.”

Ele virou rapidamente seu rosto para o lado, respirando pesadamente, pegando novamente um cigarro, o acendeu, sem nos encarar. Quando ele retornou, seu usual porte de arrogância tinha voltado.

“Eu sinto por ter interrompido a conversa de vocês. Preciso ir agora. Tenham uma boa noite.” Ele disse com desdém e saiu andando pelo corredor. Tasha me olhou pasmada.

“O quê foi isso?” ela perguntou com os olhos arregalados.

“Não sei.” Falei pensativo, me perguntando se Tasha tinha usado essa oportunidade para me fazer saber do que estavam falando sobre Rose, já que ela sabia que eu não gostava de fofocas e não daria ouvidos se ela viesse simplesmente me contar. Essa idéia me aborreceu. Muito.

“Ah, deixa para lá. Onde estávamos?” Tasha falou, jogando os braços no meu pescoço e levando os lábios até os meus. Em uma atitude quase mecânica, eu segurei seus punhos, me esquivando de seu abraço.

“Eu realmente preciso descansar, Tasha. Vejo você mais tarde.” Falei secamente, começando a andar pelo corredor. Eu tinha decidido ir de escada. Ela ainda andou uns passos atrás de mim.

“Não vai ter mais tarde, Dimka. Você estará trabalhando, lembra?”

“Então, eu vejo você amanhã.” Apressei os meus passos e virei no corredor, à esquerda, sem olhar para trás.