Realmente eu não sei o que houve. Meu coração acelerou e eu comecei a ficar bem nervoso. O que seria isso? Tipo apaixonar e tal? Eu nunca senti isso por ninguém. Já namorei algumas vezes, nada duradouro. Quando se está no exército, é muito difícil manter um relacionamento. Aí que tá, se você amar de verdade, acho que a distância não é nada. Ou sei lá, não entendo isso.

Eu não poderia me apaixonar. Já vi alguns caras lá do exército, ás vezes até chorando por causa das suas namoradas, e até mulheres e filhos. Isso é uma coisa bem deprimente. Eu acho... que sei lá, eu não sei o que eu acho.

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Peguei uma vasilha de cereal com leite e fui até a varanda do quintal e me sentei lá. Ficava de frente para um lago e um pouco mais a frente seria onde a gente ia acampar.

- Seu irmão me disse que você é do exército... - logo Hayley surgiu na porta e veio se sentar do meu lado. -

- Ah... é, verdade.

- Porque...?

- Porque o que? - nós dois rimos. -

- Porque dessa decisão? Sei lá, exército não é brincadeira.

- Ah sim... é verdade. Eu podia me alistar assim que eu fizesse 18 anos. E agora eu tenho 23... Me alistei aos 19 e logo fui chamado. Ás vezes as pessoas fazem essa mesma pergunta e eu não sei responder. Acho que o exército... foi meio que uma necessidade, sabe? Tipo, eu precisava daquilo.

- Hum, machão hahahaha. - ela começou a rir e eu também. -

- Hahaha, não é bem assim. No exército você tem que usar mais seus sentimentos do que nunca. É bem... uma merda.

- Como assim?

- Na hora que toca a sirene, você tem que levantar o mais rápido possível e não tentar pensar que você poderá morrer dentre de algumas horas. Tipo, eu fiquei 7 meses e meio sem ver minha família. Você não pode demonstrar a saudade. Ás vezez você tem que ser frio.

- Algum... amigo seu, já... você sabe o que...

- Morreu?

- Sim... tá aí uma das coisas complicadas. Bem complicadas. Era o Matt, ele era mais velho do que eu, sabia muito mais do que eu, tinha uma família e filhos. A gente ia sei lá, armar uma armadilha pra um grupo terrorista e a raiva dele tomou conta dele, e ele saiu atirando e tipo eram 30 caras contra ele sozinho. Ele foi atingido na perta, depois executaram ele com 27 tiros.

- Nossa. - ela ficou bem chocada. -

- É... nessas horas que você tem que ter coragem pra continuar, que você tem que ter garra pra não desistir.

- Deve ser muito difícil...

- Ah, é sim, mais... não, você não acostuma.

Ela sorriu de novo e eu continuei comendo o meu cereal. Eu sentia alguma coisa por ela, eu não sabia o que. Mais eu ia só ficar duas semanas e meia aqui. Eu não ia poder começar a gostar dela ou o que. Isso seria errado. Comigo e com ela. Eu não sei mais o que eu devo fazer. Ás coisas já estão bem confusas.

- Crianças, o almoço está pronto. - minha mãe gritou de dentro de casa. Olhei para a Hayley e dei um sorriso. -

- Vamos almoçar? To morrendo de fome! - eu disse pra ela. -

- E nem parece que você comeu uma tigela de cereal, hein? - nós dois rimos e fomos para a sala de jantar. -

O jantar foi bastante tranquilo, Zac fazia grassinha pra Erica. Algo me dizia que os dois estavam gostando um do outro. Amor. Essa é o pior sentimento que se pode sentir. Sabe porque? Você não tem nenhum controle sobre ele. Você não quer amar, mas mesmo assim você ama. E ainda tem a distância. Isso acaba ainda mais com você, mas você ainda ama. Eu não queria sentir isso. Porque amar dói. Ainda mais se você estiver no exército. Fui para o meu quarto, e meu velho violão estava lá.