Encrenca Shaolin

Capítulo 03


Capítulo 03 - O início de um duro treinamento


Após aceitar as condições para treinar com o velho mestre Wong, André estava animado para começar a treinar, mas não imaginou que começaria tão cedo. E também não imaginou que sua primeira tarefa fosse tão...peculiar.


– Então...o senhor quer que eu esfregue todo o chão da academia? - perguntou André, estranhando o pedido.


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– Sim. Algum problema?


– Bem, posso fazer isso, mas...imaginei que fossemos começar a treinar.


– Hehehe - ri o mestre, junto com os outros discípulos que sabiam muito bem do que aquilo se tratava - Isso faz parte do treinamento...você vai entender logo!


Lien olha para André com cara de pena, mas ele estava disposto a seguir o treino à risca.


– Certo! Pode deixar comigo! Não entendi muito bem, mas...vou seguir todas as orientações..


Ele começa a esfregar. Claro que a academia era grande e era preciso passar o pano várias vezes para conseguir limpar bem o chão. Não demora muito para André começar a sentir um pouco de dor no braço.


– Ai! Isso queima


– Sinal de que está indo bem - comentou o mestre - Um bom lutador precisa ter os braços fortes


– Isso é seguro mesmo? - perguntou André.


– Ora, rapaz, todo mundo aqui sempre limpou o chão dessa academia e ninguém morreu. Se não aguenta nem isso é melhor desistir agora!


– Nunca! Vou continuar!


– Err...vovô? - chamou Lien.


– Sim?


– O senhor esqueceu de falar que usamos vassouras para limpar o chão.


– Shhh...quer estragar o treinamento dele? Eu repito: se ele não aguentar nem isso, não serve para ser seu homem.


– Mesmo assim...fico preocupada. Ele é só um iniciante...


– Mas aceitou o desafio, não aceitou? Precisa assumir a responsabilidade pelas escolhas! E parece que está indo bem, não?


O mestre diz isso ao ver seu mais novo discípulo e, quem sabe, futuro genro, esfregando o chão com vontade. Após passar o pano em todo o piso umas três vezes, ele senta e descansa (coisa que ele devia ter pensado duas vezes antes de fazer).


– O que está fazendo, gafanhoto?


– Hã? Só descansando um pouco...


– Bem, já se passaram dez segundos de descanso. Hora do próximo treino.


– Mais?


– Você só sai daqui hoje à noite! Principalmente porque essas janelas estão precisando muito de uma boa lavada!


– Quer que eu...lave as janelas?


– E de preferência esfregando muito bem cada cantinho do vidro. Alongue os braços e bom trabalho.


– Meus braços...ai - reclamou André, assim que sente seus pobres braços já cansados de tanto esfregar o chão. Mesmo assim, ele pega o balde, a escova e começa a esfregar as várias janelas da sala de treino.


– André... - Lien sente pena dele, mas o rapaz parecia determinado - Não precisa se esforçar tanto se não quiser.


– Não. Eu farei isso. Quero mostrar ao seu avô que posso ser digno de você.


"Então...ele gosta mesmo de mim a ponto de sofrer tudo isso? André...você é mesmo bem diferente de todos os caras que já conheci", pensou a chinesinha, admirando ainda mais o garoto.


– Mestre, vamos comer alguma coisa - diz Mauro, um dos três discípulos da academia. Mestre Wong fez um sinal de positivo com a cabeça e também decidiu acompanhá-los.


– Também vou. Você não vem com a gente, Lien?


– O André também vem?


– Quem não trabalha não come - retrucou o mestre, para desespero e ronco do estômago de André.


– Entendi...então vou ficar aqui com ele.


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– Humph. Juízo vocês dois. Dá para ter uma visão boa da academia lá da cozinha. Se tentar alguma gracinha, garoto...


– Estou concentrado no meu trabalho, mestre! - retrucou André.


– É bom mesmo! Nós já voltamos


Mestre Wong e os três discípulos saem para comer. André continua a esfregar cada janela com afinco. Ele parecia tão concentrado que Lien ficou até sem jeito de inciar uma conversa, mas, poucos segundos depois ele fala.


– Seu avô é mesmo muito rigoroso.


– Não ligue para ele. Ainda é muito conservador e acha que não tenho condições de herdar a academia.


– Você é bem forte, né? Venceu fácil aqueles caras.


– Bem, eles foram pegos de surpresa, não imaginaram que eu iria reagir, mas eles não são muito inteligentes.


– Como assim?


– Eles sempre mudam as máscaras e ainda acham que eu não os reconheço pelos movimentos. Ai, ai. Desculpe se eles te machucaram.


– Não foi nada. É bom apanhar de vez em quando.


– Ai, credo - ri Lien - Nem fala isso!


– Mas essa história da academia é mesmo incrível - falava André, enquanto continuava a esfregar as janelas - Ela tem tantas gerações assim mesmo?


– Bom, ela é bem antiga, acho que ela começou com o meu tataravô lá na China. Na verdade, na geração do meu avô, foi o irmão dele que a herdou, mas ele morreu logo e como meu avô tinha se mudado para o Brasil com a minha avó, ele acabou trazendo a academia para cá.


– Nossa, legal! Ele a trouxa para cá...mas, ele não quis continuar o trabalho lá na China mesmo?


– Parece que já estava havendo alguns problemas por lá, mas essa parte nunca entendi direito - responde Lien - Mesmo assim, também achei legal ele ter trazido para cá. Embora essa academia seja específica apenas para os alunos mais aplicados do vovô.


– Hã? Quer dizer que é uma academia exclusiva?


– Sim. Ele dava aula de kung-fu em academias normais, mas quando vê alunos promissores como o Mauro, os convida para treinar aqui. Tem mais espaço e um espírito diferenciado. Nisso eu concordo.


– Você também parece gostar daqui, né?


– Amo. Por isso quero herdá-la. Mas meu avô ainda tem esse pensamento machista de que só um homem pode levar o trabalho adiante. A única filha dele é a minha mãe que nunca teve o mínimo interesse em artes marciais. Ele até deixou passar, mas depois que virou avô cismou que o meu marido precisa ser alguém forte que dê conta de continuar com a academia.


– Ele é bem protetor mesmo. Hehe. Mas... - André fica vermelho, mesmo assim continua a falar - ...se é preciso passar por tudo isso para conseguir me casar com você...eu aceito.


– Ai, para de falar isso. Tô ficando sem jeito - Lien também enrubesce. Mas era claro que os dois já estavam naquele clima.


– Claro..isso se você quiser.


– Eu quero! - ela exclamou, embora tenha ficado ainda mais vermelha depois - Bem, eu sempre te achei gentil e...confesso que estava mesmo disposta a te dar uma chance nesse primeiro encontro.


– Sério?! - André deixa cair o pano na água do balde, chegando a espirrar um pouco em sua roupa - Ai, bem, eu...eu nunca me dei muito bem nos encontros...eu começo a ficar nervoso e ga-ga-gaguejar e...


– Hihi. Como agora?


– E-Eu tô gaguejando?! Espera, eu...


– Tudo bem. Eu já entendi. Mas sabe...


– O quê?

– Mesmo que você não aguente esse treinamento, vou convencer meu avô a me deixar ficar com você, seja lá qual for o preço que precise pagar por isso.


– Mesmo?


– Mesmo - Lien se aproxima. Os dois se olham, sentem o coração bater mais rápido, sentem aquele frio na barriga que dois jovens tímidos apaixonados certamente devem sentir e se beijam. O primeiro beijo de um casal que ainda vai passar por muita coisa. Muita coisa mesmo.


– Ham-ham - pigarreou Mestre Wong, assim que entra no salão da academia e vê os dois se beijando.


– Desculpe, vovô! Foi culpa minha! - Lien se desespera - Fui eu que desconcentrei ele...por favor, desculpa!


– Esses jovens de hoje...tsc - reclamou o mestre, com uma cara não muito amigável. André começa a sentir o coração bater mais rápido, mas agora não era por causa de Lien.


– Err...mestre...acho que esses dois se gostam mesmo - comentou Mauro - Não acham? Lucas? Pedro?


Os outros dois acenam com a cabeça e sorriem. Mesmo assim, o mestre não estava satisfeito.


– Se gosta mesmo da minha neta, repito o que disse: esteja preparado para assumir suas responsabilidades. Para começar...termine de limpar essas janelas e depois disso, bem, aquelas colunas precisam mesmo ser polidas.


– As colunas também?


Havia umas dez colunas de metal pela academia, que davam um ar mais bonito à arquitetura do lugar. André não escapa de dar um jeito nelas também antes de acabar seu treinamento aquela tarde.


– Ai, meus braços...meus pobres braços - falou o pobre rapaz, deitando no chão após passar por tudo isso.


– Se está reclamando disso será que aguenta quando os treinos de verdade começarem?


– Desculpe. Vou aguentar.


– Diga seus horários. Virá aqui em seu tempo livre.


– Bem...tenho escola de manhã e aulas de karatê às terças e quintas à tarde.


– Certo. Virá aqui segundas, quartas, sextas e domingos. Nos domingos, ficará o dia inteiro aqui...e, olha só, amanhã é domingo.


– A-Amanhã já começamos o treino de verdade?


– Claro que não. Amanhã você irá trabalhar mais. Nosso jardim precisa de uns reparos também.


– Mas eu não entendo nada de jardinagem.


– Hehehe. Não se preocupe. Irei ensinar tudo direitinho.


– Vovô - chamou Lien, com cara de quem lembrou alguma coisa.


– Sim?


– Amanhã meu pai e minha mãe virão aqui. Não tem problema?


– Claro que não. É a sua chance de apresentar seu namorado para a família.


– Hã? Err...como namorado mesmo...então o senhor..


– Não sou tão cruel assim, embora possa parecer. Eu concordo com o namoro de vocês, pelo menos enquanto esse garoto continuar com os treinos.


– Então...podemos assumir nosso namoro? - Lien olha sorridente para André que também sorri discretamente, mesmo com a dor nos braços.


– Enquanto ele for disciplinado nos treinos - falou o mestre - Mas vamos ver até onde aguenta. Você diz que começou a fazer karatê também, não disse?


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– S-Sim.


– Acha que consegue dominar duas artes marciais diferentes.


– Se for preciso...posso me dedicar exclusivamente ao kung-fu.


– Bom, vamos ver isso depois. Por enquanto...rapazes. Levem esse pobre coitado para casa. E não demorem muito.


– Sim senhor! - obedece Mauro que praticamente arrasta André para fora.


– Tchau, André. Nos vemos amanhã. Aposto que seus pais irão adorar te conhecer.


"E eu espero que os pais dela sejam menos rigorosos que o avô. Ai, meus braços", pensou o pobre rapaz. É. Os treinos estão só começo.