Undead Revolution

À Espreita


Localização: Interestadual 80 - Residência da família Cross

10 dias após o Surto.



Red e Sam adentraram a pousada de maneira brusca e tempestiva, trocando palavras arfantes; no entanto, se calaram imediatamente assim que encontraram os olhares assustados de Savannah e Frank Cross, ambos sentados nas acolchoadas cadeiras do hall de recepção.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

O dono da casa e sua filha tinham armas de fogo dispostas numa mesinha de centro à sua frente e, pelo semblante sobressaltado do velho ao ser pego de surpresa pela entrada repentina, eles provavelmente estavam ali à espera dos mortos-vivos das redondezas que logo menos poderiam alcançar a casa.

Os quatro se encararam por longos segundos, a ruiva e o menino ainda com olhos arregalados e ofegos entrecortados, Frank cruzando os braços em repreensão e Savannah aumentando o aperto ao redor da xícara fumegante em suas mãos e cerrando a mandíbula.

– Meu Deus, mas o que aconteceu pra vocês chegarem desse jeito? – Perguntou o homem, ora olhando para Red, ora para Sam.

– Nós... nós fomos... – a ruiva apoiou as mãos nos joelhos por alguns instantes, procurando recuperar o fôlego – buscar mais... munição...

– Disso eu sei. Eu que falei pra vocês irem para lá, droga. – Retrucou Frank, impaciente. – Quero saber se aconteceu alguma coisa pra esse desespero todo!

Red sorriu nervosamente. Sam continuava agarrado às caixinhas de papelão que continham as balas, a palidez em seu rosto não parecendo se esvair com tanta facilidade.

Frank franziu o nariz. Aparentava interessado também em algo às costas dos dois, já que desviava os olhos por sob os ombros da garota a todo o momento, como se procurando visualizar pelo vão da porta se mais alguém se aproximava lá de fora.

Já Savannah fitava-os com uma intensidade dissimulada. Permaneceu calada, as mãos grudadas na caneca, e exalando tamanha tensão pelos olhos que não passou despercebida a Red Rock.

A loira mostrava-se aflita ante a possibilidade de sua casa ser invadida novamente por zumbis, algo que com certeza não contribuía para a paz de espírito de qualquer um da pousada; porém, a maneira como ela os olhava parecia trazer consigo uma aflição muito além daquilo.

– Nós... pensamos que eles já estavam aqui. – Respondeu Red, enfim, recebendo um levantar de sobrancelhas de Frank.

– Eles? Os zumbis? – Perguntou o velho.

– É. – Disse Sam, num tom de voz trêmulo.

– Mas ninguém deu nenhum aviso de zumbis.

Red trincou os dentes. Cross iria inundá-los com mais afirmações ácidas, em seu tom de voz intransigente - que derrubariam qualquer desculpa que inventassem.

Ignorando o comentário com um sorriso amarelo, a garota se aproximou de Sam e, com um rápido movimento, pegou as caixas de suas mãos, levando-as em direção ao dono da casa. Os olhos atentos da filha do homem a acompanhavam, minuciosos.

– Encontramos a munição pelo menos.

– Hm. Ok, obrigada. – Frank recebeu as caixas com certa indiferença e as revirou nas mãos por alguns instantes. – É, me lembro dessas aqui. Te disse, Savannah, que tinha mais lá na loja.

– Sim, papai. – Respondeu lentamente a loira, austera.

– Faça outro favor pra mim – continuou o velho para a ruiva – e leve para a outra garota, a morena, pra colocar com as outras armas, sim?

Red acenou positivamente com a cabeça e voltou a segurar as caixinhas. Antes que pudesse se afastar dali, a voz estranhamente tranquila da mulher a interrompeu.

– Me diga só uma coisa, querida – desviou os olhos lentamente para a garota, que hesitou em sustentar o olhar atento – vocês encontraram mais alguma coisa por lá?

Mesmo de costas para Sam, Red sabia que ele havia arregalado os olhos e tensionado todos os músculos do corpo. Savannah pareceu também perceber a reação do menino, pela rápida olhadela que lançou para ele.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

– Não. – Respondeu a ruiva, categórica. – Apenas muita poeira.

– Aquela merda não vê uma vassoura há meses. – Frank soltou um muxoxo.

– Nada mesmo? – A mulher tomou um gole da xícara com os dedos trêmulos, o cenho franzido e os olhos ainda na garota.

– Nada.

O semblante por trás da sutil fumaça quente do chá subitamente se suavizou e Savannah Cross sorriu, um sorriso falsamente gentil, expressando certa satisfação com a resposta da garota – fosse por imaginar que eles realmente não houvessem encontrando algo mais na loja, fosse saber que conseguiu intimidá-los o suficiente para calá-los.

Red respondeu com um rápido sorriso de canto. Virou-se para Sam, chamando-o com os olhos para saírem dali, e os dois se retiraram rapidamente do hall,deixando para trás uma nova conversa frívola engajada por Frank com sua calada filha; que apenas se levantou, perdida em pensamentos, e caminhou lentamente em direção à porta, fechando-a com um movimento hesitante.



Apertando o passo, Red puxava Sam pelo braço com uma das mãos, agarrada à caixa de munições com a outra, e lançando olhares por cima do ombro para o cômodo que acabaram de deixar para trás.

Pararam, sutilmente ofegosos, na sala de estar, com os olhos ainda no hall.

– Porque ela perguntou aquilo? – O menino sussurrou, agoniado.

– Ela deve ter percebido que nós encontramos o cachorro.

– Não seria melhor perguntar sobre ele de uma vez então?

A garota crispou os lábios, pensativa.

– Tem coisas mais importantes pra pensar, Sam. Adoraria, adoraria de verdade descobrir o que aquela oxigenada de uma figa tá escondendo, mas a gente precisa se preocupar com os zumbis que estão vindo. – Red inclinou-se ligeiramente para frente, ficando com os olhos à altura dos do garoto, e afrouxando o aperto em seu braço. – A gente avisa os outros sobre isso mais tarde, está bem?

Sam arqueou as sobrancelhas e acenou positivamente com a cabeça.

Os dois se retiraram da sala de estar e se direcionaram para a cozinha, onde era possível escutar um burburinho de vozes gradativamente crescente - que instantaneamente reconheceram ser de Germany, Hollywood e Molotov.

Chegando ao cômodo, puderam ver que os outros três jovens, sentados em uma das pequenas mesas dali, conversavam em tom baixo e confidente, exibindo semblantes sérios e concentrados. Pareciam discutir algo relacionado à invasão que possivelmente se aproximava – já que tinham algumas armas, tanto de fogo quanto brancas, dispostas pela mesa e espalhadas a seus pés, bem como o binóculo e algumas lanternas às mãos.

Red logo percebeu que a postura comedida que sustentavam era graças à presença de Javier Mirrez - o vizinho latino de Cross que chegara à casa há poucas horas, com a terrível notícia da invasão de sua fazenda por uma horda de mortos, horda que inclusive atacou sua família.

Javier se encontrava em pé, à frente de uma das compridas pias da cozinha, apenas fitando o copo de água que tinha em mãos – ao menos concluiu ser água pela transparência do líquido, porém o odor alcoólico que pairava pela cozinha fez a ruiva repensar sobre o que ele estava bebendo.

As janelas que se prostravam acima da pia, com suas cortinas decoradas, tinham suas aberturas não mais exibindo a paisagem lá fora, mas sim apenas a cobertura de madeira feita ao lado de fora; ainda assim, o homem levantava os olhos para as toras de madeira vez e outra, como se imaginando o que se passava lá fora – se sua família se aproximava cada vez mais conforme os minutos passavam.

Red e Sam se dirigiram rapidamente para a mesa com os outros.

Os dois morenos se encontravam de costas para a entrada da cozinha, as cadeiras relativamente próximas, e uma das mãos do rapaz repousando suavemente no joelho da garota. Logo viraram suas cabeças para trás, assim que Hollywood, à frente deles, percebeu a chegada dos outros dois.

– Finalmente! – Exclamou o loiro, abrindo um sorriso. – A gente pensou que vocês tinham se perdido por lá.

– Quase isso. – Respondeu Red, franzindo o cenho, e depositando as caixas acima da mesa. Os três sentados acompanharam o movimento com os olhos. – Aqui estão as balas.

– Obrigada, Red. – Disse Germany, voltando a olhar para a outra. – Estamos discutindo como vamos nos organizar para proteger a casa e tudo o mais. E a divisão das armas também, daí vocês podem ver o que... Red? Você tá me ouvindo?

A ruiva, antes fitando a mesa, imersa em pensamentos, entreabriu os lábios e desviou o olhar novamente a morena.

– Ah, sim, divisão, entendi.

– O que aconteceu, Red? – Perguntou Molotov, levantando uma sobrancelha. – Vocês dois chegaram com uma cara assustada.

– Tá tudo bem? Sam? – Foi a vez de Hollywood se manifestar, olhando para o menino, que havia se sentando sorrateiramente à mesa. Este sustentou o olhar do loiro e permaneceu calado, sorrindo muito sutilmente.

Red lançou um olhar de esguelha para Javier. Ele continuava absorto, quase em transe. As rugas que começavam a se destacar em seu rosto cansado e de meia idade se aprofundavam na testa alta e ao lado dos olhos amendoados. Estava mais do que alheio aos jovens e há uma distância suficiente para não conseguir escutar o que conversavam caso cochichassem – e, mesmo se escutasse, não aparentava estar exatamente dando atenção a qualquer coisa a seu redor; a não ser para o copo em suas mãos, que constantemente era levado aos lábios.

– Lá na loja – começou Red, recebendo os olhares dos outros – nós descobrimos uma coisa... estranha.

– Coisa estranha? – Hollywood, se debruçou mais na mesa, franzindo o cenho.

– Na verdade, várias coisas estranhas e que eu acho que os Cross estão escon-

Passos adentrando a cozinha fizeram a ruiva se sobressaltar e se calar imediatamente.

Savannah Cross estancou na entrada do cômodo assim que avistou os jovens ali. Red virou-se bruscamente em direção à mulher, procurando evitar que ela visse as caixas de remédio colocadas no bolso traseiro de sua bermuda. Sam encolheu os ombros à visão da loira e os outros três apenas a encararam, confusos.

– Oh, uma reunião na cozinha e nem nos chamaram! – Proferiu a mulher, alegre e abrindo um sorriso.

Os jovens retribuíram o gesto, ainda que com hesitação.

Savannah se aproximou da pia maior, depositando a xícara antes em suas mãos com lentidão no mármore. Voltou-se para Javier, prostrado a seu lado com um semblante vazio, e repousou uma das mãos no ombro graúdo. Percebendo o toque, o homem finalmente desviou os olhos injetados de seu copo para a loira. Passaram a conversar tristemente – na verdade, o vizinho apenas concordava com a cabeça, abatido, para todas as palavras que lhe eram dirigidas.

Red praguejou mentalmente. Com a mulher ali, próxima, a conversa complicaria.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

– Escuta – disse ela, sustentando o olhar em Savannah – onde tá meu irmão?

– Acho que no quarto. – Respondeu Hollywood. – Não sei se ele tinha ido tomar banho ou alguma coisa.

– Banho? Tá me zoando? Justo agora?

– Você, melhor do que nós, sabe que ele é especial. – Proferiu Molotov, irônico, sorrindo de canto para a ruiva.

A garota pareceu pensar por alguns instantes. Desviou os olhos novamente para Savannah, percebendo que ela ainda se focava em Javier, e rapidamente se despediu dos outros dizendo precisar conversar com Road. Sam fez menção de se levantar da mesa para acompanhá-la, mas ela fez um gesto para que ele ficasse. Os outros três se entreolharam, ainda sem entender o que acontecia.

– A propósito, Red – chamou Germany, levantando os olhos para a outra – o que é isso no seu bolso?

– Depois eu explico. – A garota olhou de esguelha para a loira.

Com passos rápidos, deixou a cozinha para trás, recebendo pares de olhos confusos às costas – um, em especial, mais interessado nela do que nos olhos latinos amendoados próximos de si.



Red atravessou a sala de estar e o corredor dos quartos da pousada com uma pressa impaciente. Mordendo o lábio inferior com força, verbalizava para si mesma seus pensamentos turbulentos.

Dirigiu-se diretamente para o banheiro principal, abrindo a porta destrancada e não encontrando ninguém ali. Um sutil vapor que subia do grande box denunciava seu uso recente. Decidiu, então, procurar o irmão no quarto onde ele dormiu na noite passada.

Escancarando a porta com determinação, já lançando palavras atropeladas, levantou os olhos para o aposento e encontrou o ruivo, sem camisa, encarando-a com surpresa enquanto levantava as calças na altura das coxas.

– Caralho, Red! – Esbravejou o rapaz, puxando o jeans com rapidez para cobrir a cueca visível. – Bate na porta, droga!

A garota arregalou os olhos e rapidamente desviou o olhar, mais por medo da reação repreensiva do irmão do que por vergonha de vê-lo seminu.

– Desculpa, Road! – A ruiva ainda repousava uma das mãos na maçaneta, e com a outra formou uma concha ao lado dos olhos para impedir sua visão do irmão. – É que preciso falar com você, é importante!

– É bom que seja mesmo, sua nanica maldita. – As palavras do ruivo eram seguidas de tilintares do zíper da calça e da fivela de seu cinto.

– Já flagrei você em situação muito pior. - Retrucou ela, bufando.

Road revirou os olhos.

Red espiou pelo vão da porta o corredor do outro lado, certificando-se de que ninguém se encontrava por ali. Então, com um movimento rápido, fechou a porta do quarto e deu alguns passos em direção ao rapaz.

O ruivo murmurava algo para si mesmo enquanto a camiseta escorregava por seus braços e cobria seu tronco esguio. Passando as mãos rapidamente pelos cabelos e ajeitando a camisa, olhou rapidamente para a irmã e se dirigiu para sua cama, onde organizava alguns revólveres, maços de cigarro e lanternas.

– Desembucha, Red.

– Fui lá na cabana, Road, pegar mais munição. – Começou a garota, observando-o revirar as coisas enquanto ela remexia nervosamente nas próprias mãos.

– A Germany falou.

– Então, achei a munição e... outras coisas também.

Road levantou os olhos para ela. Red pegou uma das caixinhas do bolso de seu shorts e esticou a mão em direção ao rapaz. Com um franzir de cenho, e abandonando a lanterna que segurava, ele se aproximou e revirou a caixa nas mãos.

– O que é isso?

– Remédio. Para animais. – Respondeu a garota, apreensiva.

– Animais?

– Estava numa sala separada lá na loja... tem muitos outros de onde esse veio. – Ela baixou os olhos para a embalagem.

– Isso aqui é um analgésico?

– Tinha de tudo lá! – Continuou ela. - Inclusive sedativos – retirou outro objeto do bolso, uma pequena ampola vazia – como esse. Os Cross tem vários remédios veterinários, além de soníferos e antibióticos muito fortes! Mas... não foi só isso o que eu descobri.

– Tem mais? – O ruivo franziu o cenho.

– S-sim.

Red engoliu em seco e Road a fitou.

– Todos esses remédios... estão sendo usados. – Ela baixou o tom de voz inconscientemente. – Em um cachorro.

– Um o quê?

– Tem um cachorro lá, Road... um baita dum Rottweiler!Só que ele tá ferido... muito ferido, na verdade.

– Mas estão dando remédios pra ele. – Continuou o ruivo. A irmã assentiu, calada. – Os Cross estão mantendo um cão doente, é isso?

– Basicamente sim. E ele está coberto de... mordidas. – Red sussurrou a última palavra.

– Mordidas? Mas o que é que poderia ter mordido el-

O rapaz se calou subitamente, arregalando os olhos para a garota. Ela sustentou o olhar e arqueou as sobrancelhas, confirmando silenciosamente o que acabara de iluminar na mente dele.

– Calma. Pera aí, Red, você tá me dizendo que eles estão mantendo um cachorro zumbi?

– Isso se as mordidas forem realmente de zumbi, né! – O ruivo soltou um muxoxo de desdém enquanto a garota gesticulava. - Estou te contando tudo isso mas... nem sabemos se foi isso o que realmente aconteceu! - Ela baixou os olhos, passando os dedos trêmulos por uma mecha dos cabelos ondulados. – Ele ainda está vivo, mas eu não acredito que vá ficar por muito tempo. Ele parece bem mal, acho que o tratamento que estão dando pra ele não está adiantando... e olha que ele deve tar tomando uns remédios bem fortes!

– Você disse que ele tá sendo sedado.

– É. – Murmurou a garota.

– Porque alguém sedaria um cão prestes a morrer? Se ele tá mal do jeito que você tá dizendo, não faz sentido nenhum fazer isso. O único motivo que consigo ver é que estão o mantendo sedado para quando ele virar um deles... como uma prevenção.

– Prevenção?

– Agora me pergunto, porque estão medicando ele? Pensei que odiassem zumbis tanto quanto nós, mas daí me aparece essa deles estarem cuidando de um.

– Já falei, ele não morreu ainda, Road... ele ainda não é um zumbi. Acho que se estão dando remédios é porque esperam que ele melhore...

– Melhore do quê? – Road soltou uma risada de nervosismo. - Tão achando que tudo isso não passa de uma gripe idiota que sara tomando comprimido?

– Não sei, mano, não sei! Não sei o que se passa na cabeça deles! – Retrucou a ruiva, voltando a encará-lo com os olhos perturbados.

Road suspirou e franziu o cenho. Começou a perambular pelo quarto, irrequieto.

– Frank disse que já foram atacados algumas vezes aqui... com certeza o cachorro foi tentar pegar um dos zumbis numa dessas vezes e acabou tomando uma mordida. – Disse ele, cruzando os braços. - E o pior é que esses idiotas estão mantendo ele assim! E quando ele morrer e acordar um zumbi? Acordar uma porra dum cachorro zumbi? Se humanos já são um problema, imagina uma merda dum Rottweiler!

A garota engoliu em seco, baixando os olhos para a ampola em sua mão. Road zanzava impacientemente, passando os dedos nervosamente pelos curtos cabelos alaranjados. Então, estancou subitamente, desviou os olhos para a caixa de remédio em sua mão e depois levantou o olhar para Red.

– Eu vou lá. – Disse ele.

– Lá aonde? – Murmurou a ruiva, franzindo o cenho.

– Descobrir de uma vez por toda o que esses imbecis estão fazendo.

– O quê? – Guinchou Red, vendo o rapaz se aproximar. – Road, pára, não!

Apoiou as mãos no tórax do irmão, impedindo-o de continuar.

– Red, me deixa passar. – Proferiu ele, ríspido.

– Road, não, a gente tem coisa mais importante pra se preocupar! Os zumbis estão chegando!

– Eles e o cachorro idiota dentro da loja também, Red! Não percebe que assim que ele acordar,vai passar a ser o maior dos nossos problemas?

– E o que você pretende fazer? Xingar os Cross até a vigésima geração?!

– É um bom começo.

Road avançou um passo, empurrando a irmã involuntariamente para trás, que ainda tinha as mãos apoiadas em seu peito.

– Red, sai.

– Mas Road...

– RED! – Exaltou-se, sobressaltando a garota. – Você não percebe a gravidade da situação, garota?! Acha mesmo que a gente vai estar seguro aqui? E não só por causa do cachorro ou pela horda idiota que tá vindo por aí, mas também pelos donos lunáticos dessa casa! Sabe-se lá o que eles vão fazer na hora do desespero. – Fez uma pausa e soltou um longo suspiro, os olhos assustados da irmã ainda o fitando.

– O que... quer dizer com isso? – Sussurrou a garota, quase inaudivelmente.

– Precisamos mostrar que não somos um bando de desocupados desmiolados – seu tom de voz se exaltava a cada palavra, sua expressão se enrijecendo em irritação - que eles podem facilmente usar como isca para atrair zumbis ou como comida pra cachorro morto!

O ruivo baixou os olhos para a garota. Ela o encarava com tamanho receio e perturbação que ele não pôde evitar um novo suspirar.

– Red, eu... – Ele passou os dedos novamente pelos próprios cabelos. - Desculpa ter gritado com você. – Murmurou, com um tom de suavidade evidente na voz, recebendo um levantar de sobrancelhas em resposta. – Só entenda que as coisas podem sair facilmente do controle, ainda mais com essa sua descoberta... e eu não posso deixar nada de ruim acontecer. Nada de ainda mais ruim do que já está acontecendo. E se o que você falou é verdade, do cachorro sendo mantido na loja, as coisas complicam ainda mais. Preciso nos proteger, mana... preciso proteger você.

– Só não podemos ser precipitados, Road! – Respondeu a garota, em voz baixa e chorosa. – Já temos zumbis chegando pra nos preocupar... e não podemos simplesmente nos revoltar contra os Cross, senão aí que eles realmente vão se enfurecer e mandar nossa aliança pelos ares! E também não podemos ir embora agora, eles nos deram abrigo, comida... não podemos abandoná-los, pelo menos não ainda.

– O que você sugere, então?

A garota voltou a sustentar o olhar do irmão. Baixou as mãos do tronco dele e mordeu o lábio inferior, pensativa. Arriscou um rápido olhar para a ampola em sua mão, que foi logo lançada para a cama a seu lado, com certo asco. Road imitou seu movimento, se livrando da caixa de remédio.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

– Precisamos nos proteger da horda primeiro. – Respondeu ela, enfim, encarando os próprios pés. A franja reta pendia à frente de seus olhos.

– Eu sei disso, mana.

– Depois vemos o que fazemos sobre o cachorro.

Road permaneceu calado, parecendo imerso em pensamentos por alguns segundos. Então, quando voltou a falar, exibia uma serenidade incomum em sua voz e em seu semblante, o suficiente para a garota estranhar sua mudança de comportamento.

– E se ele não nos der problema depois?

– Como assim?

– E se ele sequer virar um zumbi enquanto estivermos aqui? Os Cross não vão saber que nós sabemos do segredinho sujo deles e iremos embora sem quaisquer complicações com o Rottweiler morto-vivo.

– E vamos largá-los aqui com um animal enlouquecido por carne à solta?! – Red arregalou os olhos.

– O que vai adiantar batermos de frente com eles sobre isso, Red? Você acha que vão aceitar qualquer opinião nossa?

– O quê?! Road, você mesmo, há cinco segundos, tava querendo peitar os Cross sobre isso! - A garota gesticulava com fervor, contrariada.

– Sim, mas mudei de ideia, droga. – Continuou o rapaz. – Você tem razão. Não é problema nosso. Eles que trouxeram a desgraça para si mesmos e eles que se resolvam com ela.

Red o fitou por alguns instantes, incrédula. O irmão sustentava seu olhar com tranquilidade.

– Road, eu... Mas... Não foi isso o que eu quis dizer, caramba! E como você pode ser tão egoísta?! – A ruiva deu um passo para trás, inconscientemente. – Não podemos deixar que eles fiquem aqui com aquele bicho prestes à devorá-los! Se nós sabemos disso, precisamos alertá-los do perigo!

– Eles sabem do perigo, Red... sabem muito bem. – Protestou ele, trincando os dentes. – E se tem alguém egoísta aqui são aqueles desgraçados, que nem para nos avisar que a qualquer momento pode aparecer um cachorro morto querendo nos matar! – O tom de voz seco do rapaz voltava gradativamente, bem como o franzir de cenho.

Red não respondeu. Tremia sutilmente, nervosa, amedrontada, apreensiva. Seu irmão não parecia em situação melhor.

– Preciso de um cigarro. – Grunhiu ele, apertando as têmporas com os dedos vacilantes.

No entanto, antes de sequer pensar em pegar o maço que repousava na cama, Road foi surpreendido, bem como sua irmã, pela porta do quarto sendo violentamente escancarada. Um Hollywood os fitava com olhos arregalados e os cabelos bagunçados do outro lado do batente – pareceu ter corrido como nunca para alcançar o cômodo.

– Pessoal. – Sussurrou ele, a mão repousando na maçaneta com força.

Apesar dos semblantes surpresos, os dois ruivos rapidamente entenderam o motivo do loiro estar ali.

Hollywood tomou fôlego, sustentado os olhares assustados.

– Eles estão aqui.