Crash

Capítulo 1


É um absurdo. Eu, um herói, no meio disso tudo. E o pior é que eu sabia. SABIA. Desde um ano antes. Droga!

Olhei para o presidente. Ele deu de ombros. Mas já esperava por isso, afinal, eu sou o herói, sou eu que vou salvar todo mundo. Sorri e dei a melhor pose. Até que alguns dias na semana me deixaram completamente preocupado. Pessoas estavam morrendo. Se matando. Não era justo ver aquilo e não fazer nada. Meus produtos encalharam. O preço abaixou. Já os compradores, esses não vieram. Mesmo assim tentei manter meu ânimo, que até estava bom, mas os dias da semana fatídica conseguiram, por mais incrível que parecesse, me deixar preocupado.

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As coisas estavam boas antes. Eu estava no meu auge. Vendia minha imagem como herói, estava em todos os lugares. Eram filmes, jazz e... Pessoas agiam como se estivessem bêbadas, não entendia o porquê, mas diziam algo sobre lei para inglês ver. Pareciam nervosos com suas garrafas quando eu passava. Simplesmente não entendia, mas era divertido andar pela minha casa e ver pessoas felizes. Eu era o herói no meu próprio final feliz e não via nenhum unicórnio cor de rosa que nem o meu irmão.

Avisaram que houve uma crise agrícola, preços caíram. Sem problemas, a industrialização continuava, “Let the american power solve this problem”, pensei. Só que o meu poder — o único que descobri até agora, além da minha força — era a minha grana. Bom, mais um pouco e eu seria o Batman. O problema é que eu produzia e as pessoas não compravam. Os produtos foram encalhando, encalhando e encalhando.

Fui visitar meu estoque e quando abri a porta, fui soterrado. É, eu ia ter que diminuir o ritmo da produção... Enquanto eu tropeçava entre bugigangas e caía sobre outras, tentava arranjar uma saída.

Tony chegou a me perguntar se queria que ele levasse alguns produtos. Mas depois que dei a conta a ele, desistiu. Até o espaço sideral tava na pindaíba. Holly Crap! E olha que os preços estavam ridiculamente baixos. E pra completar, a bolsa de ações quebrou. Muitos se suicidaram. Pessoas, americanos morrendo. Pessoas que amavam sua Pátria. Pessoas que dependiam de mim e de certa forma eu dependia delas.

A função do herói era salvar pessoas. Então ser um herói significava — além de estar em foco, em evidência é lógico — cuidar para que isso não ocorresse de novo. Eu tinha que arranjar uma solução.

“Não devia ter pensado que eles não se restabeleceriam”, resmungou meu presidente. Ora, quando eu ajudei o pessoal na primeira guerra e trouxe grana para casa, ele não resmungou.

É muito fácil apontar as merdas quando elas já foram feitas. Mas eu vou dar um jeito. I will make it. Quem sabe um robô gigante. Droga eu precisaria de verbas. Humm, e se eu arranjar verbas e depois montar o robô? Arg, meu chefe disse ”Only in cash”. Ah, seu chato, eu gosto de robôs. Até os Power Rangers têm um e eu sou melhor que eles. “Time is Money”, melhor eu pensar... Mas não pode mesmo fazer um robô? Só unzinho? Pequeno? Brinde do Mac Lanche Feliz? Ah, isso daí é um projeto futuro meu. Não mesmo? O senhor é chato, hein.

Então surgiu um novo presidente. Roosevelt. Franklin Roosevelt. E esse só me olhava. “O que vamos fazer?”. Ora, como assim, o quê? Salvar o pessoal. Talvez, se fôssemos um pouco contra nossa constituição... Se regêssemos a economia e investíssemos em obras públicas pra ganhar grana e formar empregos. Que tipos de obra? Que tal fazer um robô gigante? Prefere investir na infraestrutura? Nhé, pode ser. Tsc, será que todo mundo aqui é contra robôs?

Aos poucos, minha economia foi se restabelecendo e estabilizando. Agora era só colher os louros da minha idéia. Era ser o herói e correr pro abraço. Porém o bem recebido foi Roosevelt. Como assim? Quê? Ideia dele? Roosevelt, diga alguma coisa! Como assim você está orgulhoso de seu feito? Ora seu! Peguei um bloco do meu bolso e uma caneta. Ah, mas quando eu tiver meu robô, quando eu tiver! Vou pegar meu carro e trazer tecnologia japonesa. Aí você vai ver.

Eita, meu carro parou na água. Não sabia que eu tinha terrenos alagados. Acho que vou lá nadando. Ah, mas você vai ver Roosevelt, você vai ver.

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Eita, riozinho longo. Devia ter uma plaquinha. Ih, não sabia que minha guarda costeira ficava aqui dentro também. Hehê, Japão, você não pode ser muito longe, hehê.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.