Haruno Sakura era uma garota irritante, desde a raiz dos cabelos até as pontas dos pés.

Ela tinha uma cor muito estranha de cabelos — eles eram cor-de-rosa! —, os olhos tinham um tom irritantemente verde, e tinha um estilo próprio que é o que as garotas chamam de "dentro da moda". Disso tudo — e mais algumas coisa ainda, mas que tenho preguiça de listar —, uma das coisas que mais me irritava era o seu sorriso.

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Não importava a situação, ela estava sempre sorrindo e alegrando as pessoas. Com exceção das semanas que se passaram quando a sua mãe morreu, ela sempre sorria.

Quando eu a conheci — ela era colega de sala do idiota do meu amigo Naruto —, e nós tínhamos doze anos, ela se apresentou com um enorme sorriso, olhos brilhantes, e um beijinho de rosto (argh, mulheres!). Logo em seguida ela pegou minha mão e a de Naruto e nos arrastou até o shopping mais próximo. Tivemos uma pequena discussãozinha, que realmente não tem a mínima importância agora, em frente à uma loja de jóias. Acho que discutimos importância dela dar um presente de amizade para a melhor amiga.

Enfim, a partir daquele dia, nós brigávamos e discutíamos cada vez que nos víamos. A coisa piorou quando ela e Naruto foram transferidos para a minha turma, e Sakura sentou-se na minha frente. Foi a época em que eu enchi o cabelo dela de bolinhas de papel e a fiz cortar os cabelos na altura dos ombros por causa de um chiclete que foi parar um pouco mais acima do que o planejado. Aquele maldito chiclete me rendeu dois dias de suspensão — realmente ridículo — e ouvidos doendo por causa de uma bronca do meu pai (mais tarde, apesar de tudo, ela voltou a usar cabelos compridos. Coisa de mulher, ter cabelos extensos, hidratados e brilhantes para tirar os nós e pentear diariamente. Vai entender!).

Daí, para não termos mais estes problemas — de acordo com os professores, causados pela nossa proximidade desnecessária —, mudaram a Haruno de lugar, deixando-a do outro lado da sala. É, bem longe de mim. Não que eu tenha me importado, é claro, mas tive que ficar aguentando o dobe ao invés de me divertir irritando certas pessoas de cabelo rosa.

Ela sempre perdia nas nossas discussões. Ou melhor, nós discutíamos, e quando eu via que ela estava começando a ganhar de mim nos argumentos — eu comentei que aqueles olhos verdes escondiam um bom cérebro? —, eu fazia algum comentário malicioso e a ignorava, dando-lhe as costas e indo embora. Isso a deixava realmente furiosa.

Outro ponto muito divertido era quando algum cara gostava dela. Os feios e os nerds e feios — tipo o Lee —, eu deixava passar e não fazia nada. Mas quando era algum cara super popular — tipo o Neji — ou do time de futebol — tipo o Kiba —, eu interferia bem na hora H. Você sabe, aquele momento romântico de filmes quando os rostos vão se aproximando e os dois protagonistas estão prestes a se beijar, com direito a música melosa e fogos de artifício ao fundo.

Eu interrompia o momento, por pura diversão. O cara ficava sem graça e ia embora, e Sakura ficava puta da vida. O que resultava em nova discussão e eu a ignorando antes que ela vencesse.

Nesse tempo, até terminar o colégio, tudo o que eu fazia era me divertir em festas e ficar com garotas bonitas, irritando Sakura para matar o tempo livre.

Foi uma época realmente divertida.

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Passaram alguns anos, até que eu tive que me preocupar com estudos, família, responsabilidade, e futuro. Era aquela fase pela qual as mulheres — é claro que Sakura não faz parte desse grupo — passam antes dos homens: o amadurecimento (também conhecida como aquela fase pela qual o Naruto nunca vai passar).

Chegou a hora de escolher faculdade e fazer vestibular. Quando era menor — assim como a maioria dos meninos — eu queria ser qualquer coisa como um jogador de futebol super famoso, ou um astronauta, mas depois de um pequeno estágio na empresa dos meus pais, resolvi que seguiria a mesma carreira do meu pai e meu irmão mais velho, e fui fazer Direito, e um curso de Administração, o que me possibilitaria assumir a empresa mais tarde.

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Sakura, Naruto e eu passamos algum tempo afastados. Naruto resolveu fazer Engenharia — é, ele não era tão burro quanto eu pensava — e Sakura tentou entrar para Direito e Medicina.

Óbviamente, na hora eu pensei que preferia que ela fizesse Medicina, para manter distância dela, mas na noite em que ela nos contou sobre isso, eu não consegui dormir. Fiquei refletindo e — sem querer admitir nem pra mim mesmo — eu percebi que não queria manter distância dela.

Quando ela anunciou que faria Direito, na mesma faculdade que eu, junto comigo, eu sorri involuntariamente e começamos a passar mais tempo juntos.

Lá estava eu, irritando-a todos os dias, novamente.

— Sasuke, pare com isso, idiota! — ela dizia, enquanto comíamos alguma coisa no intervalo.

— Não. Está divertido — e eu me debruçava sobre ela, chegando bem perto, e tirando o sanduíche que ela comia de suas mãos.

— Me devolva o sanduíche, Uchiha! — ela gritava, e nossos narizes quase se encostavam — Eu o comprei com o meu dinheiro! Se quer um, compre, ou me dê o dinheiro que eu compro um novo para mim e você pode ficar com o meu.

Viu? Ela já estava prestes a ganhar a discussão. Hora das evasivas.

— Não sou esfomeado igual a você. — eu ria e devolvia o sanduíche a ela. — Já vou indo, senhorita Gula, não esqueça de fazer esportes para queimar tudo isso aí depois.

— GRRRRRR! Uchiha idiota!

Então eu dava-lhe as costas e ia para algum lugar afastado dela, grande parte das vezes a biblioteca.

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Estávamos no segundo ano quando ela começou a ficar mais séria e eu sentia a necessidade de alegrá-la, apesar de meu orgulho me impedir de fazer qualquer coisa que não fosse irritá-la. Eu já tinha um bom carro e dava carona a Sakura todos os dias; ela agora usava os cabelos em um corte muito bonito, curto um pouco acima dos ombros, meio repicado — é assim que se fala? —, deixando parte do seu pescoço a mostra. Ela ainda usava cores alegres e muitos vestidos e saias, mas adorava usar sobretudos um palmo acima do joelho.

Foi ao perceber todas as coisas, como o corte de cabelo e o tipo de roupas que Sakura mais gostava de usar, que eu começei a ficar preocupado com o que estava acontecendo comigo.

Percebi que eu só discutia com ela por costume — e orgulho —, não a deixava namorar por causa de uma sensação incomoda de irritação no peito toda vez que via outro homem se aproximar dela, e gostava de estar perto dela, encostar nela, com a desculpa de irritá-la, mas na verdade eu percebi que gostava mesmo era da sensação de minha pele em contato com a dela.

Por causa disso, eu diminuí o teor de maldade das minhas "brincadeiras". Eu não admitia para ninguém no mundo, nem sob tortura, que tinha certo receio— a palavra certa talvez seja medo — de que Sakura chegasse ao limite e resolvesse se afastar de mim. Realmente não sei como isso não aconteceu antes, mas antes também não tinha importância.

Não é? Eu nunca me importei antes, certo?

E eu não tinha certeza de mais nada. Cada dia que eu a via entrar no meu carro com sua bolsa de couro e passar as mãos do cabelo, ajeitando-o, eu me tranquilizava no meu interior por saber que ela ainda... ainda era minha, de certo modo.

Até que, depois de passar quase um ano... hum... controlando o meu... surto de carinho... com relação a Sakura, eu a vi beijando um homem, em uma festa. O cara tinha a minha altura, porte atlético — por mais triste que seja admitir — como o meu, cabelos prateados arrumados para trás, olhos violeta, e tinha as mãos na cintura dela, puxando-a mais para perto. Quando eles se separaram e sorriram um para o outro, eu senti algo se contorcer no meu peito, uma sensação nada agradável que eu nunca sentira antes, e não houve música lenta ou fogos de artifício. Só o sorriso feliz de Sakura para outro cara e os dois saindo de mãos dadas logo em seguida.

Afoguei minha sensação não compreendida em uma garota bonita que não queria nada sério, e no dia seguinte acordei meio depressivo.

Foi quando eu percebi que eu... argh, como é difícil dizer isso... gostava daquela garota de olhos verdes, cabelo cor de algodão doce rosa, e que de repente tinha se tornado uma mulher bonita, forte e independente que me deixava corroído por ciúmes.

E eu tinha que fazer alguma coisa, antes que a perdesse para um idiota qualquer com quilos de gel segurando os cabelos prateados de velhinho pra trás em um penteado da era de Elvis Presley.