Trabalho Escolar: Diário de Lidia Brazzi

Dia 10, quinta-feira, 11 de agosto. (parte 2)


- Olá – ele disse, abrindo um sorriso enorme cheio de dentes brancos reluzentes. – O que está fazendo aqui tão cedo?

- Tenho que correr para pegar o ônibus da escola. – disse, colocando uma mecha do meu cabelo úmido atrás da orelha.

Por que raios eu não sequei meu cabelo? E minha cara devia estar uma visão do inferno com aquelas olheiras do tamanho do oceano pacífico. Droga!

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- Por que Felipe não lhe deu uma carona? – ele perguntou, franzindo a testa.

Calma coração, não precisa dar guinadas só de ouvir o nome desse infeliz.

Haha.

- Ah, é que, eu quis sair mais cedo e – ok, essa resposta não ia colar. – Acabei não pensando que ia ter de andar muito para pegar o ônibus.

Ele me olhou por um segundo ou dois, como se decidindo se ia acreditar em mim ou não. Ah, dane-se, ele que não acreditasse.

- Quer uma carona? – perguntou.

Não teria ficado mais surpresa se ele tivesse me pedido em casamento.

Nem mais feliz.

- Se não for te atrapalhar, eu adoraria. – disse e abri um sorriso que rivalizava com o dele.

- Sobe aí – Christian disse com uma piscadela.

Fiz o que ele mandou e montei na motocicleta.

- Você não usa capacete? – perguntei.

Ele só riu.

- Não.

Merda.

Engoli em seco. Não queria acabar morta em um acidente de moto, nem ferida, porque aí minha mãe me mataria. Mas também não queria discutir com o cara que estava me dando carona. Então só calei a boca e me agarrei nele.

O que não foi ruim de modo algum.

Ok, Lidia, pare. Você é uma garota comprometida.

Em teoria.

Disse o endereço para ele e partimos.

Enquanto cortávamos o trânsito com a moto, meu celular tocou na mochila. Era Renata, com certeza, mas eu não tive coragem de soltar minhas mãos da cintura de Christian para atender.

Chegamos à escola antes do ônibus. Suspirei de alívio e desci.

- Muito obrigada, Christian – disse e fui virando para entrar na escola. Por alguma razão, eu estava muito nervosa.

Mas ele segurou meu pulso.

- Calma, pra que tanta pressa? – perguntou.

Virei devagar para ele. Algo me dizia que eu devia dar no pé.

- É que a aula já vai começar.

De repente, senti a presença de alguém atrás de mim.

- É, a aula já vai começar. – Felipe disse.

Virei rapidamente para ele, e quase perdi o fôlego por causa do susto.

- Felipe! – soltei, pondo a mão no coração, com uma cara de culpada. – Como você chegou aqui tão rápido?!

- Eu tenho meus métodos – ele disse, com uma frieza que fez parecer que tinha um cubo de gelo descendo pelas minhas costas. – E agora vejo que você também tem os seus. Desde quando se conhecem?

- Nos conhecemos ontem, na sua casa- Christian respondeu, já que aparentemente o gato tinha comido minha língua.

- E você escolhe não me contar sobre esse pequeno encontro, Lidia? – Felipe perguntou-me, ainda com aquele olhar frio.

Ah, sinto muito, agora ele tá querendo botar a culpa disso em cima de mim?!

Não que eu fosse contar para ele caso ele estivesse em casa, Sr. Albert, mas ele não tinha como saber disso, não é?

- Se você não tivesse me largado sozinha em casa – respondi com raiva. – Talvez eu tivesse contado!

O ônibus da escola chegou nesse momento e vi Renata saindo dele.

- Com licença – disse e deixei os dois garotos ali.

Corri até Renata.

- Fiquei preocupada quando você não estava no lugar combinado – ela disse, quando me aproximei. – Como você chegou? Felipe te trouxe? E quem é aquele bonitão da moto?

- Você faz tantas perguntas ao mesmo tempo – suspirei. – Felipe não me trouxe. Eu vim na moto com o bonitão, que se chama Christian e é primo do Felipe.

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- Meu Deus – ela disse. – Todos os caras dessa família são gatos assim?

- Não só os caras, você tem que ver a mãe e a irmã dele. É de morrer de inveja.

- Ainda bem que não sou eu que moro com eles. É você.

- Não por muito tempo – funguei.

- Como assim? Você vai voltar para casa?

- Não, eu vou para a sua casa.

- O quê?!

- Te explico na aula de matemática, vamos. Quero entrar antes que Felipe resolva ter uma conversinha comigo.

Renata me seguiu e juntas entramos na escola correndo, no exato momento em que Felipe dava as costas a Christian e vinha na nossa direção.

Conseguimos entrar na sala na hora que a campainha tocou e lá, Felipe não podia mais nos alcançar.

Ponto!

Na aula contei tudo pra Renata e ela me deu o maior apoio, pela primeira vez.

Amigas Unidas Contra Garotos Canalhas.

É isso que grandes amigas fazem né?

Ela até me convenceu de que a mãe dela não iria se importar se eu passasse um tempo com elas.

Amo a Renata como se ela fosse uma irmã. Sério.

Ela até ficou escondida comigo no banheiro feminino na hora do intervalo. E sem reclamar e nem dizer que eu era uma covarde por não enfrentar Felipe de cara. É mesmo.

No fim da manhã, eu estava tensa, com uma dor de cabeça horrível e com a certeza de que iria passar mal por causa de estresse. Tudo o que eu queria era ir para a casa da Renata, tomar um banho e dormir.

Quando o sinal tocou anunciando o fim do dia escolar, eu pensei que seria capaz de me atirar de joelhos no chão e agradecer aos céus. Fiz Renata praticamente voar para entrar no ônibus comigo logo e não correr o risco de trombar com Felipe.

- Oi, Lidia, tudo bem? – disse a mãe de Renata com um enorme sorriso, quando abriu a porta. – Veio nos visitar?

- Olá, Sra. Dixon, eu – foi tudo o que consegui dizer, porque estava me sentindo enjoada e sabia que ia vomitar, então saí correndo para o banheiro.

Enquanto botava as entranhas para fora (é, isso foi nojento, Sr. Albert, espero que o senhor ainda não tenha almoçado quando ler isto) ouvi Renata dizer que eu estava com alguns problemas e iria passar um tempinho ali. Rezei para ela não achar que eu estava grávida. Até porque é meio impossível e eu não acredito em concepção imaculada.

É claro que a Sra. Dixon não ficou contente. Queria ligar para minha mãe e saber o que estava acontecendo, afinal ela gostava muito de mim. Eu acreditava. Às vezes sentia que a Sra. Dixon agia mais como minha mãe do que minha própria mãe.

No fim, ela permitiu que eu ficasse lá por um tempo, até eu resolver meus problemas. E nem ia ligar para minha mãe. Eba!

Não consegui comer nada no almoço. Renata me emprestou um pijama, que vesti depois de tomar banho, e fui direto para a cama.

Mas antes de deitar, peguei meu celular na bolsa. Precisava colocá-lo para despertar, afinal de contas não queria dormir o dia inteiro.

Ele estava no silencioso e eu vi que tinha uma mensagem de voz. Cliquei para ouvi-la. E me arrependi de ter feito isso assim que ouvi a voz de Felipe.

Você está ferrada. Se até amanhã você não estiver em casa, eu vou te buscar onde quer que você esteja. E não vai ser legal. Então não piore as coisas para o seu lado e esteja aqui amanhã de manhã. Ah, só mais uma coisa, não se encontre mais com o Christian, ou a coisa vai ficar feia de verdade.”

Ele nem disse o nome dele. Sabia que eu ia reconhecer sua voz. Maldito! Será que ele já tinha percebido o quanto eu estava ligada nele?

Enterrei a cabeça no travesseiro e joguei o celular para longe. Nem botei a porcaria para despertar. Do jeito que eu estava, nem uma semana de sono ininterrupto iria desanuviar o meu mau humor.

O que eu ia fazer? Voltar para aquela casa? Para ele? Deixar que ele mexesse com meu coração e minha cabeça do jeito que vinha fazendo?

A resposta era sim. Eu ia.

Sou uma fraca, eu sei. Mas eu não conseguiria dizer não para ele.

E, ok, a ameaça de que ele viria me buscar e que a coisa não ia ser legal ajudou um pouco.

Ei, Sr. Albert, quem sou eu para enfrentar o Sr. Tenho Dinheiro Saindo Até Pela Cueca?

Aparentemente, ninguém.

Virei no colchão e já estava pressentindo outra noite insone quando, simplesmente, dormi.