Hellmut

The first day


- Kate, acorda.

No começo era só uma voz chata, bem distante.

- Kate...

Mas foi ficando mais perto, mais real. Maldição.

- Hum... hum...

- ACORDA KATERINA! – o alguém que me acordava puxou meu edredom com violência – Estamos atrasadas!

Abri meus olhos assustada.

- VIVIAN! O QUE DIABOS VOCÊ ESTÁ FAZENDO AQUI?

Vivian Hopkins, me olhava aborrecida, já pronta e com a mochila nas costas.

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- Você não passou em casa – ela acusou – Então liguei para sua mãe, para perguntar se você não estava morta...

- Por que eu passaria na sua casa em plena manhã de domingo? – resmunguei debilmente puxando meu edredom de volta.

- Ah, não sei... – Vivian retrucou destilando ironia – Talvez seja por que hoje não é domingo e sim segunda – feira?

Ergui minha cabeça alarmada.

- O que?

- segunda-feira, ô animal. Também conhecida como primeiro dia de aula.

Bati a mão na testa. Droga.

- Droga! – exclamei saltando da cama e correndo em direção ao banheiro.

Vivian olhava no seu relógio de pulso.

- 7: 56... Já éramos para estarmos lá.

- Cae a bouca... – grunhi com a escova de dente na boca enquanto fazia um rabo de cavalo mal feito. Ao mesmo tempo, eu me enfiava dentro de uma calça jeans.

- 7: 57... – avisou Vivian andando atrás de mim.

Abri meu armário, e corajosamente mergulhei na pilha de roupas em busca de uma camiseta decente.

- Isso é uma pocilga – reclamou Vivian retirando uma meia vermelha de perto do pé dela – Francamente, Kate...

- Você está pior que minha mãe – comentei empurrando um montinho de roupas. Tinha que estar ali... – Achei!

Vesti a camiseta e catei um par de tênis qualquer.

- Sua mãe deixou seu material na cozinha.

- Ah... – eu havia me esquecido do material. Vivian revirou os olhos enquanto mandava uma mensagem.

- É para quem?

- Para a Emy. Vou avisar que é melhor ela ir sem nós.

- Ah bom. Hum... Vivian?

- O que foi?

- Você viu minhas meias?

Até acharmos minhas meias, já era mais de oito e quinze, portanto Vivian esta possessa.

Tentei ser gentil oferecendo o cereal, mas ela se limitou a ameaçar me sufocar com a caixa.

Já havíamos perdido nossa carona (mamãe saiu aos berros com Milly havia dez minutos) e agora tínhamos de correr se quiséssemos chegar não tão atrasadas na escola.

- Por que você não pega a van? – Vivian sugeriu.

- Por que eu estou de castigo, já disse.

No fim do ultimo semestre eu havia conseguido tirar minha carteira de motorista (com muito esforço, que fique registrado) e meu pai resolveu me presentear com a velha van da família. Mesmo dirigindo bem, eu tive alguns probleminhas de concentração e ignorei cinco semáforos e ultrapassei em trinta o limite de velocidade perto de um asilo (quase matei uma velhinha). Até ai, tudo bem. A coisa só engrossou quando as multas chegaram. Minha mãe e meu pai enlouqueceram. Me passaram e maior sermão e me tiraram a van depois de apenas uma semana de uso. E agora, aqui estou eu, indo a pé para a escola, como eu fazia na 7°série.

Vida besta.

- Que idiota – Vivian conclui – Ao menos a escola é pertinho...

- É, ao menos isso. – falei rabugenta enquanto observava Violet Bulstrode sair da garagem com seu Camaro conversível, junto das suas amiguinhas insuportáveis.

- Argh, elas me dão nojo – Vivian olhava também. Elas passaram rindo por nós e Hillary Wood acenou falsamente.

- Você tem sorte de não ser vizinha de uma delas – contei – Tenho que acordar de manhã, e dar de cara com o cabelo platinado dela e sua carinha de quem comeu e não gostou.

- Sua vida é realmente horrível.

- Obrigado, Viv´s.

No começo da quinta série, apelidamos elas de Trindade de Plástico, por parecerem barbies, e por serem três (dãh). Antes disso, elas não nos importunavam tanto, mas depois da quarta série elas retornaram inspiradas, como se tivessem renascido das trevas.

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Claire Smith é a líder. É extremamente mesquinha e má com a maioria da população.

Violet Bulstrode é a subordinada 1. É assustadoramente falsa e tem como hobbie fofocar em tempo integral.

E por fim, temos Hillary Wood, a subordinada 2. É bem falsa, mas jamais chegaria aos pés de Bulstrode, por exemplo.

Quando pensamos que jamais chegaríamos vivas no colégio, chegamos. Atrasadas.

- Com licença, sra. Finnigan – Vivian pediu – Podemos entrar?

Sra. Finnigan, nossa professora de inglês apenas suspirou do alto de seus saltos plataforma do anos 70 e fez que sim com a cabeça.

Me sentei na minha carteira enquanto Emily fazia uma cara tipo: ‘O que houve?’.

Me virei para frente e constatei que novamente eu havia pego o pior lugar da classe. Lá estava eu, Kate Sputnik, sentada entre Billy Ray Robertson e Pete Mortson.

Ótimo. Era o que eu mais precisava. De um hacker atrás de mim e um obcecado por cavalos na frente. Sem contar o fedor que rondava ali. Agora é sério, o que eles comem, pelo amor de Deus? Cocô de bode?

De repente senti algo se chocar com minha cabeça. Me virei e vi uma bolinha de papel amassada sob minha carteira.

Abri. Lá com a caligrafia de Marjorie, estava escrito:

Nem te conto! Hoje, vou conhecer os pais de Matthew. Visto o quê?

Beijo na bunda

MarJo.

Matthew Cuzman era o namorado da Marjorie a pouco mais de três meses, e até agora ela não havia visto os pais dele. No começo ela estava ansiosa para conhecê-los, mas depois de eu ler um artigo da internet que mostrava que sogras odeiam mais noras do que genros, ela ficou apavorada. Começou a dar desculpas à Matt e evitar tocar no assunto. Eu fiquei mal por uns dias, e por isso prometi ajudar ela a conquistar os sogros.

Peguei minha caneta e escrevi no verso do bilhete.

Acho que um vestido floral cairia bem, não acha? Evite ir com roupas comuns, sabe? Jeans, shorts... A família dele é conservadora, então seja conservadora.

Kat´s

Lancei a bolinha de papel, que acertou Marjorie em cheio. Ela abriu discretamente, leu e sorriu para mim, enquanto fazia o sinal positivo.

- Hem – Hem – Sra. Finnigan tossiu – Alguém esta prestando atenção?

Nisso ela fuzilou a mim e a Marjorie que murmurou algo como ‘Bruxa Esclerosada’

Resolvi não dar um motivo para Sra. Finnigan colocar a mim e a MarJo na detenção (algo que ela anseia desde que Marjorie começou a ter aulas de inglês) logo no primeiro dia de aula, e me virei tentando prestar atenção no que ela dizia... Devia ter algo a ver com verbos completivos... Ou seriam coordenados? Não, ela definitivamente estava falando de Shakespeare.

Senti meus olhos pesarem e meu cotovelo escorregar pela carteira. Eu não podia dormir. Não mesmo. Eu fiquei uma semana na detenção da ultima vez que fiz isso.

As vozes começaram a ficar mais distantes e meu cérebro parou de processar informações cruciais.

A ultima coisa que senti foi a batida da minha testa na carteira.