Asleep

Verdadeiro ou falso?


A fraca garoa que caia do lado de fora minutos atrás, tornara-se uma violenta tempestade. O vento batia fortemente contra as janelas e a cada movimento, sentia meu corpo estremecer.

Eu tinha a varinha apontada diretamente para o peito de Tom Riddle, tinha as únicas duas palavras na ponta da língua, as únicas duas palavras que ativariam a maldição da morte, eu tinha em mente o feixe de luz verde que levaria a vida do futuramente Lord das Trevas para longe, eu tinha tudo mas me faltava a coragem. A coragem de algo que eu não sabia o que era realmente.

Por que ele tinha de olhar daquela forma? Tão frio e inexpressivo? Como se pudesse me ler, saber o que eu sentia, as minhas fraquezas? Por que seu rosto tinha de ser tão belo? Tão pálido... E por que tinha de sorrir para mim daquela forma? De uma forma como se não estivesse prestes a ser morto por uma tola garota, por que era aquilo que eu era. Tola.

Ele, talvez, soubesse o que eu sentia naquela hora, soubesse que eu não teria coragem o suficiente para matar uma pessoa, que eu não teria sangue frio, que eu não era como Lord das Trevas que simplesmente matava por puro prazer.

Eu não era como ele...

Abaixei lentamente a varinha, apertei-a com mais força e fechei lentamente os olhos sentindo a ardência das lágrimas. Respirei fundo e voltei a abrir os olhos, assustando-me ao vê-lo mais perto de mim.

– Eu não sou como você no futuro... – sussurrei rouca.

– Me diga então... – ele deitou a cabeça de lado – Como eu sou no futuro?

– Um monstro...

Ele riu cinicamente, tocando seus dedos gélidos em minha bochecha, analisando cada expressão minha, mas soube que fora sem sucesso. Com muito esforço, tentei manter a máscara em meu rosto, ele não poderia saber o que se passava em minha mente naquele momento. Mas eu sabia que a máscara não duraria por muito tempo.

– 2° tentativa... – o seu tom se assemelhava ao deboche, como se zombasse da minha incapacidade de pronunciar apenas duas palavras estúpidas e tirar a vida de alguém, falava com naturalidade mas nada me surpreenderia vindo dele – Haverá uma 3°? 4°? Ou é apenas um aquecimento?

Apertei mais fortemente minha varinha e encarei o chão.

– Talvez há outros motivos que a impede de fazer isso...

– Nunca – murmurei entre dentes com veemência, certeza e confiança. Nunca, a compaixão nunca seria maior, nunca me impediria de matar o causador da morte de meu irmão. E nem mesmo uma paixonite estúpida me impediria aquilo. Eu não seria tão tola e idiota para cair em seus encantos.

“Ou seria?” algo baixo e quase inaudível soou pela minha mente, mas eu ignorei.

O sorriso cínico e misterioso continuou em seus lábios e seus dedos afastaram-se da minha pele, levando consigo o calor descomunal. Ele recuou alguns passos e colocou as mãos para trás.

– Por que está aqui? – perguntou ele.

– Pensei que houvesse ficado claro no momento em que apontei minha varinha para você – murmurei sarcasticamente e ele riu.

– Estive encantado demais em seus belos olhos, Michelly – ele murmurou em um tom indecifrável. Pisquei os olhos, incerta se ele acabara de debochar de mim ou se fora verdadeiro. O que era mais provável que estivesse debochando de mim.

Semi-cerrei os olhos em direção á ele.

– Mas... – ele tornou a falar antes que algo muito grosseiro escapasse da minha boca – Não deveria estar aqui...

– Por que não? – apertei a varinha no bolso das vestes.

– Deveria estar ao lado da sua amiga. Não deveria deixar a indefesa Suzannah sozinha, ela pode estar em... Perigo – sussurrou a ultima palavra, fazendo-me arregalar os olhos e compreender o que ele dissera.

Recuei alguns passos, lentamente com medo de tropeçar. Meu coração batia freneticamente, tão alto que eu mal conseguia ouvir minha respiração acelerada.

Virei-me para trás e comecei a correr em direção ao Salão Comunal da Sonserina, mas desviei no caminho ao perceber que certamente, Sue não estaria ali.

Parei no extenso e vazio corredor que levava em direção ao Saguão, também vazio. Duas figuras ali haviam me chamado a atenção.

Aproximei-me cautelosamente, tentando não provocar barulho com os meus passos.

– Você não deveria pensar dessa forma – demorou longos segundos para eu me dar conta de que a voz calma e baixa pertencia á Abraxas Malfoy. Ele envolvia um braço em torno dos pequenos ombros de Sue.

– Foi minha culpa... – ela sacudiu a cabeça fungando – Claro que foi...

Saquei minha varinha andando mais decididamente em direção á eles, não me importando com o barulho exagerado que meus pés faziam contra o piso.

– Saia de perto dela! – exclamei, sobressaltando-os – Agora!

Sue levantou-se, aproximando-se de mim, assustada.

– O que está fazendo, Legrand? - perguntou Malfoy ainda sobressaltado.

– Acha mesmo que eu não sei? – sorri sarcasticamente em sua direção – Você e o Riddle...

Seus olhos pratas se arregalaram e senti Sue me afastar dele.

– Ele só estava... Tentando ajudar – ela murmurou, confusa com as minhas palavras. Certamente, apenas Abraxas entendera.

– Vamos... – suspirei pegando sua mão e puxando-a para longe dele.

***

Por que me sentir daquela forma? Era tão estúpido!

Eu sabia que algo mudara, algo em mim, de dentro de mim. Sabia que meu ódio por ele, o futuramente Lord das trevas, diminuíra. O que era algo irracional. Eu devia odiá-lo com todas as forças, tanto ódio que não me faria hesitar por um segundo sequer em matá-lo. Mas não. E aquilo não estava certo.

O fogo verde crepitava diante dos meus olhos, me encolhi ainda mais na poltrona mas nem mesmo aquilo diminuíra o frio.

Olhei para o diário em minhas mãos, não escrevia há um bom tempo, mas do que adiantaria se eu o fizesse? Do que adiantaria se eu narrasse mais uma vez aquilo á um pedaço de papel? Seria inútil.

E do que adiantaria todas as tentativas de conseguir novamente meu ódio á Tom Riddle? Á quem eu estava querendo enganar? Aquilo não daria certo.

Um suspiro gélido soou e não fora meu. Olhei lentamente para o lado, na poltrona antes vazia estava Tom Riddle.

Seus olhos vazios estavam presos no diário em minhas mãos. Sorri cansadamente, sacudindo-o em sua direção.

– Você leu meu diário... – murmurei.

– Temi que demorasse mais tempo para descobrir isso – falou ele sarcasticamente, rindo.

– Então confessa que leu? – levantei-me da poltrona, aproximando-me da qual ele estava. Tom riu gelidamente.

– Talvez... – murmurou.

– Por que os joguinhos? – perguntei sem perceber que a curiosidade me aproximava cada vez mais dele.

Ele suspirou novamente levantando-se de sua poltrona ficando mais alto e, de certa forma, intimidador. Arqueei as sobrancelhas.

– Você sabe... – ele sorriu e abaixou seus olhos do meu. Pela primeira vez, ele negara uma batalha de olhares. Ele evitou olhar para mim – Eu talvez... Goste de você...

Senti minhas sobrancelhas se arquearem ainda mais, eu sentia minha mente rodar tentando processar cada palavra dita.

– O que disse? – perguntei piscando os olhos, atordoada. Por alguma razão, naquele momento, o que ele dissera soara de forma sincera e real.

– Eu... – ele novamente evitou olhar para mim – Talvez goste de você...

– O que está tentando fazer dessa vez? – perguntei cautelosamente.

– Acreditar no que eu acabei de dizer – ele pareceu frustrado.

– Está realmente... Falando a verdade?

– E se eu estiver? – novamente suas palavras embaralhavam minha mente. Pisquei os olhos, abaixando-os. Por que ele tinha de ser tão bipolar?

– Eu... – murmurei por baixo de sua respiração, eu o sentia cada vez mais perto enquanto eu tentava inutilmente formar algo coerente – Eu não odeio você... – as palavras escaparam da minha boca.

Algo em mim mesma confirmou aquilo. Então... O que eu havia dito era verdade? – perguntei-me, confusa.

Ele riu fazendo-me levantar os olhos aos seus. Seu rosto se aproximou do meu, junto de seu corpo, contudo, pousei minha mão em seu peito parando-o.

Fechei os olhos, respirando fundo continuando naquela posição por um longo tempo, sentindo choques elétricos passarem por mim com o contato de nossos corpos.