De dentro do quarto, Adam ouviu o barulho das chaves e logo a porta da sala sendo aberta. Seus pais chegavam mais ou menos no mesmo horário, mas seu pai estava de plantão naquela noite e Melanie já tinha chegado, então apenas poderia ser uma pessoa.

Ele sabia que estava agindo de maneira estúpida e já fazia mais de uma semana desde a briga com sua mãe, mas ele não podia evitar. Ele não estava contente com o clima em sua casa, porém era algo inevitável. Adam não podia esquecer o que sua mãe tinha dito sobre Tess. Sobre a filha emprestada que dizia ter.

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Os passos de Bella se refrearam de frente a porta dele como todos os dias. Ela sempre tivera o costume de entrar e cumprimentá-los se estivessem em seus quartos, mas o ritual com Adam tinha sido interrompido.

Ele tentou se concentrar no que estava lendo sabendo que ela ia simplesmente seguir para o quarto de Mel, mas surpreendendo-o, ela bateu na porta.

Adam respirou fundo e marcou a página no livro antes de fechá-lo. - Entra.

Isabella abriu a porta devagar e deu um passo para dentro. Ele estava sentado em sua escrivaninha de costas para a porta e tinha livros a sua frente.

— Oi, filho. - Ela esperou, mas ele não se virou em sua direção. - Já estou em casa.

— Notei.

Seus dedos se fecharam dolorosamente contra a maçaneta. - Hum... Você quer alguma coisa especial para o jantar?

— Não sei se vou ter tempo de comer. Tenho que estudar.

— Você não pode ficar sem comer, Adam. - Ela esperou novamente, mas ele permaneceu calado. Bella suspirou. - Filho, nós temos que conversar. Você não pode ficar me ignorando dessa maneira.

— Já conversamos demais.

— Adam...

— Você deixou claro o que pensa do meu namoro com a Tess, mãe. Eu sinto muito, mas não vou fingir que está tudo bem.

— Você não me deixou terminar de explicar. Quando eu fui falar com ela...

— O quê? - Pela primeira vez ele se virou. - Como assim ‘quando foi falar com ela’?

— Eu... Eu pensei que ela tivesse te contado.

— O que você disse? - Adam exigiu, mas ele podia ler na expressão dela. - Eu não acredito que você foi até à casa dela para insulta-la! Como você pôde?

— Eu não fui insulta-la, eu só queria explicar as coisas e conversar...

— Conversar? Conversar? - Ele se levantou bruscamente.

— Ei. - Ouvindo a voz alterada de seu irmão, Mel saiu de seu quarto ao lado e apareceu na porta. - O que aconteceu?

— Nada. - Bella balançou a cabeça. - Eu vou tomar um banho e depois vou começar o jantar, tudo bem?

Ela sentiu que sua mãe deu um beijo em sua bochecha antes de ir para o quarto, mas ela só tinha olhos para o seu irmão. Irritada por que ele não estava dando atenção para a situação e sim mexendo no seu celular, ela arrancou o aparelho da mão dele.

— O que você fez com a mamãe? Ela estava chorando!

— Melanie, me dá o celular.

— O que está acontecendo com você, Adam? Será que não percebe o que está fazendo com ela?

— E será que ela não percebe o que está fazendo comigo? - Ele berrou de volta. - Ela não está pensando em ninguém quando abre a boca e decide dizer o que quer. Então também vai ouvir! Agora me dá o celular.

Mel o encarou por um momento e então o telefone da sala tocou.

Ela colocou o aparelho na mão dele. - Não estou te reconhecendo.

Adam ligou para o celular de Tess, mas ela não atendeu. Ele ligou outra vez e outra, mas não apenas chamava. Em irritação, ele jogou o celular em cima da cama e xingou.

Quando Mel entrou correndo no quarto novamente, ele ia reclamar, mas percebeu sua expressão. - Adam! Millie acabou de ligar. Parece que a Violet passou mal e ela a levou para o hospital onde o papai trabalha.

***

No caminho para o hospital, Adam continuou ligando para Tess e o celular começava a entrar direto na caixa postal. Ele só pensava que poderia ter acontecido algo grave. Ela ainda devia estar no zoológico quando soube da notícia e sabe se lá como estaria.

Como sempre, quanto mais pressa se tinha, mais o universo parecia conspirar contra. Eles chegaram até o local apenas meia hora depois e Adam correu para dentro sem esperar por Bella ou Melanie. Ele havia ligado para Edward para saber em que andar Violet estava e logo seguiu para os elevadores.

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Eles estavam em uma sala de espera. Ethan estava sentado no sofá com um braço ao redor de Millie; Dan, Angelinne e Alice estavam sentados à frente. Adam não se surpreendeu por estarem lá e sabia que outros deviam estar a caminho. Sua família se unia sempre.

Todos levantaram a cabeça quando ele entrou, mas Adam só tinha olhos para a pessoa que estava de pé ao lado da máquina de refrigerantes. Tess estava afastada de todo mundo e ele não estava surpreso. Ela não iria querer compartilhar seu sofrimento com ninguém.

— Millie.

— Ah... Adam. - A modelo se levantou e imediatamente foi abraçá-lo.

Era surpreendentemente como as duas irmãs eram diferentes. Millie chorava livremente e buscava de toda a forma ter contato físico, fosse com quem fosse.

Ele beijou sua testa e acariciou sua bochecha. - Por que todo esse choro? Violet ainda tem muito que fazer aqui, top model. Ela vai voltar e revirar os olhos para o drama.

Ela deu um pequeno sorriso. - Eu sei. Mas eu choro por tudo. - Ela o abraçou outra vez por que precisava e então murmurou em seu ouvido. - Ela não quis falar com ninguém. Talvez você consiga alguma coisa.

Adam deu outro beijo em sua testa e então se afastou. Acenou para os outros com a cabeça e então seguiu em direção a Tess. Ela sentiu que era ele antes que seus braços envolvessem sua cintura.

— Eu estou bem.

Ele apoiou o queixo em seu ombro. - Uhum. Mas eu não. Quero te abraçar um pouco, tem problema?

Tess apertou os olhos e respirou fundo. - Deixe-me sozinha, Adam. Por favor... - Ele balançou a cabeça que não e ela sentiu uma enorme vontade de gritar em desespero. - Você é meu ponto fraco. Eu não sabia que tinha um.

— Hum. - Ele a apertou mais contra si e sentiu que ela estava tremendo. - Isso não me pareceu um elogio.

Ela continuou com os olhos fechados mesmo quando a primeira lágrima escorreu. - Se você me soltar... Eu vou desabar.

— Sereia, eu nunca vou te soltar.

Ela assentiu enquanto o primeiro soluço escapava de sua garganta e no segundo seguinte tinha os braços em volta dele. Adam sentiu seu desespero pela força com a qual se agarrou nele.

Edward havia dito que Violet dera entrada no hospital com dores no peito e que estivera sentindo aquilo durante toda a tarde, mas só dissera quando Millie chegara do trabalho. O primeiro pensamento de Adam fora que ela podia ter sofrido um infarto e dependendo do caso, podia ter complicações.

Adam não murmurou que iria ficar tudo bem ou nada do tipo por que sabia que não era aquilo que ela iria querer ouvir. Tess era prática e realista demais para aceitar palavras de conforto que não tinham significado real. Então ele não disse nada, apenas a segurou enquanto ela chorava.

Ele começara a entender Tess muito melhor no tempo em que estavam juntos. Ela chorava não só por que sua avó tinha sido admitida no hospital, mas pela possibilidade de perdê-la.

Não era questão de pessimismo, mas a noção de que um dia aquilo aconteceria e que podia muito bem ser aquele dia. O que a bióloga tinha que começar a compreender era que ela não ficaria sozinha quando acontecesse.

Adam ouviu o movimento atrás dele e as vozes indicando que outras pessoas estavam chegando, mas como o prometido ele não a soltou para se virar e checar quem era. Depois de algum tempo ele insistiu para que eles descessem até a cantina do hospital para comerem alguma coisa, mas como já imaginava ela recusou.

Após muito tempo Edward apareceu. Ele tinha escapado de seu plantão para ver se conseguia notícias de Violet e disse que estavam a transferindo para o quarto naquele instante. Ela tinha tido um princípio de infarto, mas já estava bem.

Adam só se separou de Tess quando uma enfermeira apareceu e disse que duas pessoas podiam entrar para vê-la. A bióloga segurou o rosto dele com as duas mãos e o beijara, buscando força para se manter calma e não chatear a avó. Então seguira a enfermeira junto à irmã.

Ela retornou meia hora depois, ainda abatida, mas com uma expressão mais serena. Millie veio logo atrás e após um momento de discussão, a modelo ganhou e insistiu que ficaria com Violet naquela noite.

Todos decidiram que não iriam entrar no quarto para que ela pudesse descansar e quando estavam todos cientes de que o mal já tinha passado, foram aos poucos se despedindo e partindo.

Adam foi embora com Tess sem avisar a sua mãe, porque era evidente que o faria e porque sentia cada vez menos a obrigação de lhe dar satisfação. Quando chegaram ao apartamento dela, Tess ainda se queixava da forma como tudo se sucedeu.

— Eu tinha que ter ficado. - Ela insistiu jogando a bolsa em cima da mesa de centro.

— E qual era o propósito de ficarem as duas?

— Não é questão de propósito. Eu queria ter ficado.

— Tess. - Adam segurou seu queixo e a forçou a olhar para ele. - Vocês duas são netas dela e vocês duas vão revezar. Alguém tinha que descansar hoje para estar lá amanhã. Não seja tão teimosa.

A bióloga suspirou e passou os braços em volta dele, descansando a cabeça em seu peito. - Eu sei. Só prefiro me concentrar nisso ou do contrário vou começar a tremer de novo.- Ele beijou o topo de sua cabeça enquanto acariciava seu cabelo. - Obrigada por ter vindo comigo.

— Eu não ia te deixar sozinha.

— Eu sei. Você é assim. - E ela tinha que admitir que não saberia como conter seus nervos se ele não estivesse ali. - Eu estava com tanto medo, Adam. Eu só pensava ‘e se ela morrer?’ Eu acho que nunca tinha me dado conta desta realidade até hoje. É estúpido, todos morrem e eu não sou ingênua, mas... Não estou pronta para perdê-la.

— E você nunca vai estar, Tess. Ninguém nunca está.

— É mais do que isso. - Ela levantou a cabeça para olhar para ele. - Não sei se vou conseguir lidar. Eu sou fraca para essas coisas. Só a ideia de que isso podia acontecer hoje já me desestabilizou.

— Você não é fraca e não repita mais essa besteira. Ela não é sua avó como também a pessoa que te criou, o que sentiu só reafirma o laço que tem com ela. Não transforme isso em um defeito por que não é. E não espere se sentir mais calma por que não vai. É o preço de se importar com alguém; você nunca para de se preocupar.

— E se eu tiver um colapso nervoso da próxima vez que ela passar mal? - Ela arregalou os olhos ao imaginar. - Vai ser humilhante. E idiota.

— Isso não acontecerá. - Adam selou seus lábios e manteve os olhos nos dela. - Eu vou estar com você.

— Por alguma razão, eu acredito nisso. Acredito mesmo. Ah meu Deus, Adam. - Tess o abraçou forte. - Eu acho... Que estou começando a precisar de você. Isso é um desastre.

— Não, não é. - Ele fechou os olhos e decidiu que não havia melhor sensação no mundo do que o corpo dela contra o seu. - Eu te amo, Tessalia Agnelli.

Adam pôde realmente ouvir o ar ficando preso na garganta dela, mas ele não esperava outra reação. Tess se afastou imediatamente e o lançou um olhar descrente. Ela balançou a cabeça que não e ele balançou a cabeça que sim.

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— Você está confundindo as coisas, Adam.

— Está querendo sentir por mim agora?

— Isso não é uma brincadeira! - Ela cutucou seu peito com um dedo. - Isso é sério. Eu não sei o quão fácil é para você dizer, mas -

— É seríssimo, Tess, e eu precisava dizer. Se você não está pronta para ouvir, tudo bem, ignore. Mas eu não vou retirar o que falei.

Ela enfiou as duas mãos no cabelo e caminhou para a cozinha. - Isso é demais para a minha cabeça. Hoje está sendo... Demais.

Ela bebeu dois copos de água sem pausar para respirar e ao ver que ele estava encostado na bancada a encarando calmamente, engatou em um terceiro. Como ele podia permanecer tão calmo depois do que tinha dito? Simples, ele era seguro de seus sentimentos e não via razão para esconder aquilo. Assim como ela costumava ser.

— Adam… - Ela respirou fundo e então balançou as mãos freneticamente. - Mas cacete. Você sempre me deixa assim. Por que você sempre tem que me deixar assim?

— Como?

— Louca! - Ela respondeu em irritação e cerrou os olhos quando ele sorriu sem nenhuma vergonha naquela cara. - Eu era uma pessoa centrada e equilibrada antes de você começar a me perseguir.

— Causamos reações curiosas um no outro, Sereia. Veja bem. Você é a única pessoa no mundo que me faz contestar a maior crença da minha vida. Você me faz sentir tantas coisas ao mesmo tempo que um corpo não suportaria, segundo a medicina. Mas cá estou eu provando o contrário. É frustrante e assustador. - Ele deu a volta na bancada e se aproximou dela; Tess tinha os olhos arregalados mais uma vez. - Você, Tessalia, alterou a minha crença. Eu acredito na gente... Antes de em qualquer coisa.

Tess podia ouvir seu coração caindo sem nenhum orgulho aos pés dele. Fechou os olhos para não ter que observar nos olhos dele seu reflexo derrotado. - Ah, merda.

Seus dentes fizeram outra aparição. - Aposto que um cara nunca ouviu uma resposta tão original a uma declaração antes.

— Adam, eu não... Você vai se arrepender disso. - Ela estava implorando com os olhos para ele retirar o que tinha dito. - Eu sinto que vai.

— O futuro a Deus pertence, Sereia. Mas eu acredito em destino e sinto que não. - Ele a beijou demoradamente, tentando apagar do olhar dela a preocupação que ele achava desmedida. - Agora o que tem para comer aqui? Estou em fase de crescimento.

Ele falava aquilo como se o assunto que eles estavam tratando anteriormente fosse casual e simples. Tess ainda tinha alguns anos antes dos trinta, mas estar perto dele a fazia recuperar a juventude que já parecia ter perdido.

Ela sacudiu a cabeça, mas a risada escapou. - Você é impossível.

***

Tess insistiu para que Adam fosse dormir em casa, principalmente depois da conversa que ele teve ao telefone com Edward que parecia tê-lo deixado de mau-humor. Mas depois mesmo da ligação, ele parecia mais decidido em ficar.

Ela lembrava que ele tinha dito ter prova no dia seguinte e argumentou com aquilo, mas ele disse que queria passar a noite com ela. Ela não duvidava que fosse verdade, mas sabia que o motivo principal era para que ela não ficasse sozinha no apartamento.

Ele venceu a discussão, o que não era incomum. E antes que ela tivesse outra chance para insistir, Adam a puxou para deitar. Ela descansou a cabeça em seu peito e ele distraidamente começou a acariciar seu braço. Os dois tinham muito na cabeça para simplesmente dormir.

— Não quero que brigue com seus pais por minha causa. - Tess murmurou e quando ele suspirou, teve certeza de que estivera certa sobre a ligação.

— Eles quem estão agindo de modo estúpido. E parece que agora o papai vai ficar do lado dela. Claro que ela ligou para ele para dizer que eu tinha vindo para cá hoje. Como se isso fosse um absurdo.

Mesmo sabendo que iria irritá-lo, Tess disse em voz baixa. - Você tem prova amanhã. Ela tem razão.

— Você precisava de mim, Tess. Isso é mais importante que uma prova.

— Isso não é uma situação de escolha. Você já tinha me ajudado muito hoje. Mas você tem sido relapso com a faculdade passando tanto tempo comigo.

— Você quer brigar por isso também, Tess? Por que briga por briga, eu volto para casa ao invés de ter que acordar com o galo amanhã para chegar na hora.

Ela sabia que ele detestaria que ela comentasse, mas Adam estava agindo como um adolescente certo de que tinha razão sobre tudo. - Eu não quero brigar.

— Ótimo. - Ele respondeu grosseiramente e então grunhiu. - Eu quero ficar com você. Qual é o grande problema nisso?

Ele ficou calado, mas ela podia sentir que ele estava tenso. Tess nem quis mais continuar a conversa porque sabia que só discutiriam e não resolveria nada. Ele foi relaxando com o tempo e Tess conteve a vontade de balançar a cabeça.

Os humores dele mudavam com uma frequência impressionante. Ela não o acusaria de imaturo, mas Adam era absurdamente intransigente. Era uma das consequências por estar com alguém tão novo, mas havia seus prós. Ele era menos cauteloso do que alguém mais experiente e aquilo resultava em ele sempre dizendo o que sentia.

E roubando o ar bem de dentro dos pulmões dela. Tess ainda tinha que decidir se aquilo era mesmo um pró, mas admitia que fosse bom ouvir. Assim como sua declaração mais cedo. Tinha não só roubado seu ar, mas sua sanidade e coerência no processo.

Sua respiração estava estável e seu coração batia ritmado sob seu ouvido, o único som que ela podia escutar. Ela se julgou brega mesmo enquanto admitia que fosse um maravilhoso som.

Tess fechou os olhos e não sentiu o suspiro bobo deixando seus lábios. - Eu também te amo, Adam.

Ele não disse nada. O que acusou o fato de que ele ainda estava acordado foi o maravilhoso som se intensificando debaixo de seu ouvido.

***

Quando Adam chegou a casa depois da faculdade no dia seguinte, ainda não havia ninguém. Ele ligou para Tess pela segunda vez no dia para saber como ela estava e então se trancou em seu quarto.

Certo, ele estava a ponto de reprovar uma disciplina, mas se recusava a admitir que fosse por causa dela. Tess tinha precisado dele e ponto final. Ela não havia pedido, mas ela era ela e nunca pediria por nada.

Ele simplesmente não ia mencionar nada a seus pais. Eles apenas iriam reclamar daquele dia até a eternidade e nada ia mudar. Adam ia sentar o rabo e estudar e pronto. Ele já tinha tido problemas antes e tinha solucionado.

E não era como se ele tivesse que se preocupar com o diretor chamando seus pais na escola ou com boletins bimestrais. A única pessoa ciente de sua situação acadêmica era ele mesmo.

Tess tinha dito que o amava. Lembrar daquilo fez seu coração estranhamente se aquecer e sua mente querer abandonar pensamentos de estudo para ir vê-la de novo.

Ele se freou. Lembrou-se que ela passaria a noite no hospital com Violet, então tentaria ligar de novo mais tarde.

Adam se jogou na cama, colocou o travesseiro pela cabeça e admitiu para si mesmo que estava preocupado. Ele estava correndo o risco de reprovar em uma disciplina, mas não estava indo muito melhor em outras.

Talvez ele precisasse reavaliar como estava empregando seu tempo, mas sabia que tinha exagerado um pouco porque prezava pelo seu relacionamento. Tess faria a mesma coisa por ele se a situação fosse oposta, não?

Ele fingiu para si mesmo que tinha certeza de que a resposta era sim.

### - X— ###

Como ainda tinha um tempinho até encontrar com Thomas, Mel decidiu que daria uma fugida ao abrigo. Tomou um táxi até lá e seu coração literalmente dançou dentro do peito quando ao chegar, pessoas foram abraçá-la dizendo estarem com saudades.

Era verdade que nos últimos tempos estivera repensando se moda era realmente ao que gostaria de se dedicar. Já haviam perguntado a ela antes como não tinha decidido por uma carreira mais voltada ao serviço social. Honestamente nem ela sabia a resposta.

Ela não se demorou muito, porém, e prometeu voltar logo quando reclamaram que ela não ficou muito. Tinha se desligado dos últimos acontecimentos e precisava retomar sua função na ONG e consequentemente no abrigo.

Ela então correu para a casa de Tom e se espantou quando não viu seu carro já estacionado, pois achou que já estava atrasada. Antes que pudesse tocar a campainha, ouviu um carro se aproximar. Era Emmet.

Ele acenou quando a viu, abriu o carro da garagem com o controle e estacionou. Após sair do carro e fechar a porta garagem, ele caminhou até ela.

— Minha pequena! - ele abriu os braços e gargalhando, ela correu para dentro deles. - Tem décadas desde que veio me ver.

— Desculpe, Padrinho. Você sabe dos últimos acontecimentos e meu castigo.

— Soube que resolveu começar a aprontar. - ele beliscou a ponta do seu nariz e juntos caminharam para a porta de entrada. - Rose, olhe quem está aqui!

Chegando a sala, viram Rosalie com o celular ao ouvido. Ela sorriu ao ver Melanie e levantou um dedo em um sinal de ‘um instante’.

— Marlie, tente relevar. Não, querida, não acho que rasgar as cuecas dele seja uma boa coisa. Não, jogá-las pela janela menos ainda. Olhe, eu tenho que ir. Mas eu ligo mais tarde, tudo bem? Uhum, aham. Sim, faça isso. Tome uma taça de vinho e tente relaxar um pouco. Claro que sim, uhum. Não... Marlie, não vou dizer isso a ele se ele ligar. Vou só ignorar a ligação. Ok, está certo. Falo com você depois. Até mais. Tchau.

Emmet deu um sorriso debochado. - Ela brigou com Carlo outra vez?

— Terceira vez no mês. - Rose revirou os olhos e beijou Melanie na bochecha. - Ele é um parasita e ela já deveria ter dado um chute na bunda dele há anos, mas enfim. Como está querida? Pensei que tinha esquecido de nós.

— Como se isso fosse possível.

— Você podia ter ligado para avisar que vinha. Assim eu teria parado naquela padaria e comprado o bolo que você gosta.

Rosalie o lançou um olhar. - Ela não veio nos ver, Emmet. Mel, o Tom ligou agora pouco e disse que já está chegando. Ele ficou preso no trabalho.

— Ah beleza.

Melanie concordou com a cabeça e percebeu que a animação do seu padrinho tinha evaporado. Ele deu um sorriso amarelo em direção à ela para disfarçar e disse que ia até a cozinha trazer algo para que bebessem.

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— Não ligue para ele. - Rose pediu e a guiou para que se sentasse no sofá. - Me conte como está. Já conseguiu se livrar do castigo? Comentei com sua mãe como ele era incabível. Mel de castigo, ora veja.

Dez minutos depois, Thomas apareceu e encontrou os três conversando na sala. Seu pai imediatamente o encarou e sua expressão não era nada contente. Tom teve a súbita vontade de sair por onde tinha entrado. Forçou-se a sorrir porque não queria que Mel percebesse nada.

Ele controlou o ímpeto de pegá-la nos braços, embora eles não se vissem há alguns dias desde que o arranjo de ir buscá-la no colégio tinha, obviamente, se desfeito. Melanie pouco se preocupou com a discrição, porém, e correu até ele lhe tascando um beijo sem cerimônias.

— Olá.

Rosalie pigarreou e Emmet se levantou imediatamente do sofá e se retirou, dando uma desculpa sobre ter ouvido o celular tocar no quarto. O celular dele estava sobre a mesa de centro, mas ninguém iria apontar aquilo.

Sua mãe o encarou com uma expressão infeliz e encolheu os ombros. Tom fez o possível para manter o sorriso no rosto e passou uma mão pelo cabelo de Melanie.

— Vou tomar um banho rápido e vamos, ok?

***

— Espera, espera... Preciso fazer algo importante. - Tom começou a puxar Melanie em outra direção quando eles chegavam à porta do cinema.

— O que foi?

— Venha, rápido.

Confusa, ela se deixou ser guiada para trás do edifício. Mel considerou seriamente que talvez ele quisesse “tirar água do joelho”, mas por que não fazê-lo no banheiro dentro do cinema?

— Tom, sério, que brincadeira é…?

De repente ela sentiu suas costas contra a parede e a boca dele pressionando a sua em desespero. Melanie conteve a vontade de sorrir e colocou as mãos na sua nuca enquanto ele segurava seu quadril e a puxava contra ele.

Ele se afastou após alguns minutos e encostou a testa contra a dela. - Sério, essa vontade estava me matando.

— Bem, - Ela acariciou sua bochecha. - você poderia ter simplesmente dito. Eu teria andado mais rápido se soubesse que planejava me agarrar.

Thomas sorriu e prendeu seu lábio inferior entre os dentes. - Vamos fazer de novo então.

Alguns minutos mais tarde, eles entraram no prédio e correram para não perder o início do filme. Eles foram bastante xingados quando pisaram nos pés de algumas pessoas e Thomas quase derrubou o balde de pipoca na cabeça de uma senhora.

Quando finalmente conseguiram se sentar, Mel ria. - O sem-jeito mandou lembranças.

— Outra piada e vai ficar com fome. - ele ameaçou sorrindo e enfiando uma pipoca na boca.

Quando ela tentou pegar o balde, ele a cutucou nas costelas e então se inclinou para beijá-la de novo porque parece que os minutos roubados do lado de fora não tinham sido suficientes.

Ela se derreteu mais do que a manteiga na pipoca. - Sentiu mesmo minha falta, não foi?

— Sempre um pouco mais a cada vez que me despeço de você.

Melanie bebeu do refrigerante para engolir o nó que surgiu em sua garganta e sentiu quando ele colocou um braço ao redor dela. Eles se aquietaram para assistir o filme e devoraram a pipoca com rapidez, então Melanie se aconchegou mais e encostou a cabeça em seu peito.

Sua mente não conseguia focar no filme, no entanto, porque havia um assunto martelando em sua cabeça. - Tom?

— Hum?

— Seu pai. Ele não pareceu muito contente por nos ver juntos.

Ela sentiu quando o corpo dele enrijeceu, brevemente, então ele sorriu. - Relaxa. Ele está se acostumando à ideia.

— Tom, não disfarça. Percebi o clima tenso entre vocês. Por que não me disse nada?

— Mel, não é nada grave. Eu vou resolver, você não precisa se preocupar. Tudo bem? Anda, vamos continuar assistindo o filme.

Ela recolocou a cabeça sobre o ombro dele, mas não voltou a assistir o filme. - É por isso então, não é? Seu comportamento?

Ele suspirou e começou a acariciar seu braço. - Do que está falando, Mel?

— Do fato de você nunca mais ter tentado nada comigo.

A carícia em seu braço cessou e então ele prosseguiu.

— Você está imaginando coisas.

— Não, não estou. - ela sussurrou e não comentou mais nada.

Eles continuaram olhando para a tela, mas cada um tinha o pensamento distante.

**

Mel foi até o banheiro quando eles saíram da sala e disse que ele podia seguir para o carro. Ele hesitou por um instante, como se não soubesse bem em que pé estavam, mas ela assegurou que não iria demorar.

Quando ela saiu do prédio e se aproximou do carro, deparou-se com uma cena que deixaria algumas mulheres com a sensação de insegurança ou raiva. Ela se segurou para não rir.

Havia uma loira debruçada sobre Thomas, que estava encostado no carro com uma expressão de pânico enquanto tentava impedir que chegasse perto demais. Quando ele viu Melanie, arregalou os olhos.

— Não posso te deixar sozinho que já arranja outra ocupação?

— Ah, não. Mel. - Tom negou veemente com a cabeça, claramente não percebendo o sarcasmo. - Eu só estava... Esta é... Hum, esta é...

— Carlie. - A loira respondeu com uma sobrancelha arqueada.

— Carlie. Eu sabia. - Ele mentiu e então deu um sorriso amarelo. - Ela é... Hum, uma conhecida. Foi legal ver você de novo. Agora temos que ir. - Ele puxou Mel não tão sutilmente. - Anda, entra.

— Sério? - A loira olhou para ele e riu, então se dirigiu à Melanie. - Boa sorte.

Thomas observou para ter certeza de que ela ia mesmo embora, então com outro sorriso vacilante, abriu a porta do carro para ela.

— Vamos, Mel.

— Antes que encontremos outra conhecida sua?

O sorriso cedeu. - Não. Eu só... Estou com fome. Você não?

Melanie balançou a cabeça lutando contra um sorriso e entrou no carro.

***

Ela sabia que ele estava se corroendo por dentro, mas não queria estragar a diversão e logo permaneceu bem calada. Eles pararam no shopping para comer porque teriam mais opções e optaram por uma pizzaria.

Felizmente não demorou muito a ficar pronta e enquanto Melanie caía dentro, percebeu que ele não comia, apesar de ter se declarado previamente com fome.

Ela o cutucou. - Não vai comer?

Ele assentiu, pegou o garfo e então colocou de novo sobre a mesa. Suspirou. - Você está chateada?

— Com o quê?

— Melanie. - Com uma expressão agoniada, ele apoiou os cotovelos sobre a mesa. - Não seja assim.

— Eu não estou sendo de nenhum jeito. - Ela declarou calmamente e então riu. - Se eu for me chatear por encontrar com cada mulher com quem você dormiu, serei uma pessoa muito infeliz.

— Não foram tantas assim.

— Tom, para cima de mim? Qual é? Nós nos conhecemos há tempo demais.

Em frustração, ele se calou e começou a comer. Por que ela teve compaixão do fato de que ele estava tentando consertar as coisas, mesmo que nada estivesse errado, Mel acrescentou.

— Eu não estou chateada, Thomas, e não vou ficar. Não me importo com quem esteve antes de mim ou com quem estará depois. A única coisa que levo em consideração é o agora e eu sei que você me respeita. Ponto final.

Ele a encarou por um longo minuto. - O que eu fiz para que confiasse tanto assim em mim?

Ela balançou a cabeça. - Você se dá pouco crédito.

— Não, Mel. Temo que você me dê crédito demais.

***

Quando estacionaram em frente à casa de Melanie, Thomas fez questão de sair e dar a volta para abrir a porta do carro para ela.

Melanie revirou os olhos. - Cavalheiro, não?

— Quieta, Mel. Não sabe que eu sou romântico?

— Não.

— Há-há. Como estamos engraçadas. - Thomas colocou as mãos no quadril dela e pressionou seu corpo contra o carro. - Vou dar a sua boca uma ocupação melhor.

Porque eles engataram em um beijo que apagava qualquer outro pensamento, não perceberam quando a luz dentro da casa de Mel se acendeu e a porta se abriu.

Edward marchou para fora com passos largos, as mãos cruzadas nas costas. - Melanie.

Thomas deu um pulo e imediatamente tirou as mãos dela. Edward o lançou um olhar hostil e torceu a boca.

— Olá, papai.

— A noite acabou. Vamos entrar. Siga seu caminho, Thomas.

Tom assentiu se inclinou para beijá-la. Edward pigarreou alto. Suspirando, Thomas estendeu a mão e ela a sacudiu. Ridículo a considerar os amassos que já tinham dado, mas o pai dela não precisava saber disso.

— Boa noite, Edward.

Ele entrou rapidamente no carro e deu partida.

Melanie conteve a vontade de rir vendo seu pai, com o queixo levantado tentando parecer intimidador enquanto usava um roupão doméstico.

— Você acha bonito ficar com essa agarração assim no meio da rua? O que os vizinhos pensarão, mocinha?

— Da próxima vez farei em particular, então.

Edward cerrou os olhos. - Não acho graça, Melanie.

— E eu muito menos. Já não está na hora de você se acostumar, não? Outro pai rabugento hoje eu não aguento.

Irritado por sua filha tê-lo chamado de rabugento, ele a seguiu enquanto ela entrava em casa. - Como assim ‘outro’?

— Pois é. O padrinho não está muito mais contente do que você. Boa noite, mamãe.

— O que houve? - Bella perguntou, levantando-se da poltrona.

— Pois se ele tivesse mesmo detestando a situação, controlaria o próprio filho! - Edward retorquiu com um aceno de mão.

— Ah, tenha a santa paciência. Com licença, eu vou dormir! - Melanie reclamou e saiu resmungando em direção ao seu quarto.

Ela ainda estava resmungando enquanto, com impaciência, começava a arrancar suas peças de roupa. Considerou jogar alguma coisa dentro do quarto apenas para irritar seu pai e então dispensou a ideia como sendo imatura e atípica dela.

Ligou o som e o CD do Coldplay que tinha deixado dentro dele começou a tocar. Prendeu o cabelo em um coque alto, retirou seu relógio e suas pulseiras e guardou em sua caixinha de jóias. Colocando as mãos na cintura, suspirou para si mesma e tentou se acalmar. Sabia que se fosse dormir com raiva era capaz de ter pesadelos com seu pai.

— Está pensando em fazer strip tease? Eu não me oponho. - Thomas apoiou o queixo nas mãos e assoviou.

Virando-se, Mel viu um Tom muito a vontade debruçado em sua janela. - O que está fazendo aqui? Vá embora antes que meu pai te encontre!

— Ora, mas eu não pude me despedir de você propriamente. E ele não vai me encontrar, deixei o carro na outra rua. - Ele respondeu tranquilamente e pulou para dentro. - Edward não virá aqui a menos que façamos barulho. E, bem, eu planejo nos deixar bem ocupados.

Subitamente ciente que estava apenas de calcinha e sutiã, Mel recolheu seu robe sobre a cama e o vestiu. Thomas fez um beiço descontente e seus ombros caíram numa demonstração patética de infelicidade.

— Tom, é sério. Não cause mais problemas do que já temos.

— Mas eu só quero um beijo.

Revirando os olhos, ela caminhou até ele e deu um beijo rápido em sua boca. - Pronto. Agora vá.

— Que isso, Mel? Não voltei para um beijo chocho assim. Anda, você pode fazer melhor.

Bem, já que ele estava ali mesmo... Melanie envolveu o pescoço dele com os braços e pressionou seu corpo contra o dele. As mãos de Thomas seguraram seu bumbum enquanto ele aprofundava o beijo e foram minutos até ambos notassem que aquilo não daria em nada de bom quando os pais dela estavam na casa.

Sem fôlego, ela se afastou e então beijou seu nariz. - Boa noite, Tom. Sonhe comigo.

— Como se eu tivesse escolha. - Ele sorriu e apertou a bunda dela uma vez mais. - Só para eu aguentar até amanhã. Vamos nos ver amanhã, não vamos? Ainda não matei toda a minha saudade.

Ela deu um sorriso debochado e começou a empurrá-lo em direção à janela, ou ele não sairia mais de lá. - Quem te viu, quem te vê. Sim, vamos nos ver. Mas você tem que parar de pular minha janela o tempo todo.

— Melanie! - Edward bateu na porta com força. - Estou ouvindo vozes.

— Será que eu ainda posso falar ao telefone? - Ela berrou de volta e sussurrou para Thomas. - Anda, rápido.

— Te amo. - Ele murmurou e roubou mais um beijo.

— Depressa!

— Já vou, já vou. - Ele reclamou e pulou para fora. - Não se pode nem mais ser romântico hoje em dia!

Ela se debruçou na janela para vê-lo ir e riu quando ele tropeçou na mesma pedra que sempre tropeçava. Suspirando, fechou a janela e as cortinas.

Eu também te amo, Tom. Mais do que poderia explicar.



### - X— ###

Era cinco da manhã quando o celular de Millie tocou naquele sábado. Com a cabeça enfiada no travesseiro, ela grunhiu para si mesma por ter se esquecido de desligá-lo. Preguiçosa, resolveu ignorar porque mais cedo ou mais tarde a pessoa desistiria.

O barulho cessou após um tempo e suspirando em contentamento, ela mudou a posição da cabeça no travesseiro e se acomodou. Logo o celular começou a tocar outra vez. Xingando em irritação, ela esticou o braço e recolheu o aparelho.

— Que é?

Por Deus, Millie! Estou te ligando há séculos! Você foi dopada?

— Vá à merda, Marc.

Não, agora não posso, estou ocupado demais para isso. E não ouse desligar esse telefone. Preciso de você, querida. Só você pode me salvar.

— À essa hora eu não salvo nem a mim mesma.

Carmen me deixou na mão de novo! Tenho uma sessão de fotos em meia hora e nenhuma modelo! Só você faria o favor de cobrir pra mim! Você sabe que foi um inferno conseguir Jean, você sabe!

— O fotógrafo europeu? - Ela bocejou e colocou uma mão na testa em infelicidade; já sabia que iria ceder.

Sim, e ele já está aqui amolando meus ouvidos! Sabe o que acontecerá se eu perder o contrato com a Elle? Eu me suicido. Millie, você precisa me tirar dessa. Estamos na costa! Millie, você já está se arrumando? Millie! Eu já estou mandando um carro ir buscá-la, ele chegará em dez minutos no máximo.

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Ela grunhiu. - Eu te odeio.

***

Ethan estava uma pilha de nervos. Havia acordado às sete da manhã porque não conseguia ficar sossegado. Ele tinha cortado a grama do jardim, limpado o banheiro e feito o café da manhã pela hora que os outros levantaram.

Dan se arrastou até a cozinha como de costume e abriu a geladeira, bebendo o leite direto da garrafa depois de se certificar que sua mãe não estava por perto. Sem perceber o estado inquieto do irmão, ele se sentou à mesa em frente a Ethan que brincava com uma caneca de café fumegante.

— Então… - Daniel começou como quem não quer nada e Ethan ergueu os olhos como se só agora tivesse o percebido ali. - Como você e Millie estão?

— Por que você quer saber?

— Por nada, caramba. Só fiz uma pergunta. - Dan ergueu os braços em defesa quando seu irmão cerrou os olhos. - Isso é crime?

— Nunca sei quando se trata de você. - Ethan respondeu em suspeita e então praguejou dentro de sua mente. Não queria começar o dia com brigas, já estava nervoso o suficiente. Então se forçou a dizer algo agradável. - Foi... Legal o que você fez pela Angel. Quer dizer, se não considerarmos que violência nunca resolve nada e que você foi contra a vontade dela, é claro, e que você não pensou nas consequências dos seus atos e nem no que faria com os nossos pais.

Ethan pausou, percebendo que só tinha entrado em mais um discurso criticando o irmão e se perdido no que realmente queria dizer.

— Você precisa trabalhar nos seus elogios. - Dan murmurou secamente.

— Não estava te elogiando, estava constatando um fato. Se desconsiderarmos a lógica da coisa, entendo que sua atitude foi uma tentativa de fazer algo decente para variar.

Daniel balançou a cabeça. - Cala a boca, Ethan.

E surpreendendo-o, o rapaz realmente se calou e voltou a olhar para sua xícara de café como se contivesse a resposta de uma pergunta muito importante. Franzindo o cenho, Dan se questionou se haveria algo de errado.

Seu irmão estava despenteado, um tanto pálido e, o maior absurdo de todos considerando quem era, vestindo uma camisa do lado avesso.

— O que há com você? - Daniel perguntou de maneira brusca, porque não queria parecer preocupado ou nada ridículo assim.

— Nada. Por quê? Parece que há alguma coisa? Eu pareço estranho?

— Você é estranho. - Daniel respondeu facilmente e viu quando o irmão revirou os olhos e engoliu metade do café. - Você parece nervoso.

Ethan ficou vermelho. Percebeu que Daniel continuava o encarando em curiosidade e sentiu o estômago revirar em ansiedade.

— Eu… - ele começou, sem saber o que iria dizer. Pausou. Voltou a tentar. - Millie...

— O que tem?

Ethan não conseguiu prosseguir. Não queria admitir que precisava de ajuda, principalmente não queria acreditar que estava considerando pedir ajuda ao seu irmão. Mas havia coisas que nem os livros sabiam explicar bem o suficiente.

— Eu decidi… Você sabe…

— O que?

Ethan grunhiu e revirou os olhos mais uma vez. Se seu irmão fosse um pouco menos obtuso, ele não precisaria soletrar. Só pensar em falar tudo e sentia seu rosto queimando em vermelhidão novamente.

Daniel demorou uns segundos a mais do que devia para ligar os pontos, mas no fim foi a reação de seu gêmeo o entregou. Engraçado que o primeiro pensamento dele não foi colocar pilha nele; lembrava-se bem do que tinha acontecido da última vez e, embora nunca fosse admitir em voz alta, havia se arrependido do que fez.

— Ah.

Quando Ethan encarou a ele como se contivesse todas as respostas do mundo, Daniel sentiu um estranho nó na garganta. Não era possível que seu irmão estivesse pedindo sua ajuda… Era? Eles se encararam por um minuto em silêncio. Pelo visto era.

Dan pigarreou. - Bem… - era ridículo, agora ele quem não sabia o que dizer. - Você já comprou camisinhas?

Por mais impossível que parecesse, Ethan ficou ainda mais vermelho. Era provável que ele não sobrevivesse àquela conversa. Então balançou a cabeça que não. Daniel soltou o ar pela boca em alívio; ao menos aquilo ele poderia fazer.

Ele se levantou e foi até seu quarto, buscou o que precisava e retornou à cozinha. Jogou as camisinhas em frente à Ethan, que olhou para os lados em desespero, lançou um olhar de acusação ao irmão e as enfiou no bolso da calça.

Dan riu. - Você sabe que nossos pais pensam que você já transa, né? Não precisa todo esse segredo. - quando ele não respondeu nada, Ethan continuou. - Olha só. Relaxa. Sério. Não é nenhum bicho de sete cabeças, principalmente quando é com alguém que gosta. O corpo sabe o que fazer, Ethan. É a mente o maior problema. Então pare de tentar calcular o que vai ser e o que não vai, do contrário nem você vai curtir e nem ela. E aí qual seria o ponto?

Ethan o observou por um tempo e assentiu. De novo aquele silêncio estranho de quem não sabia bem se encaixar naquele papel de confidente, não de inimigo. Desconfortável, Dan assentiu também e se levantou.

— Daniel?

O rapaz se virou de volta.

— Obrigado.

Era a primeira vez que ouvia aquilo de seu irmão, pelo que lembrava. E ele não iria admitir nem sob tortura que ouvir aquilo o agradou. Não, nunca, nem sob tortura.

— Que seja. Se precisar de mais, compre. Eu não sou farmácia. - ele respondeu fingindo desinteresse e seguiu para o seu quarto, antes que fizesse algo estúpido como sorrir.

Ethan balançou a cabeça, mas não retrucou. Se não houvesse respondido daquele jeito, não era seu irmão. Engraçado que constatar aquilo não lhe trouxe o desgosto que sempre sentia.

***

Perfect, ma cherri. Simplesmente perfect. - Jean murmurou enquanto batia as fotos. - Esta câmera e eu nos apaixonamos por você.

Não são correspondidos, Millie pensou de mau humor enquanto posicionava o corpo como ele queria. Ela iria matar Marc lenta e dolorosamente. Seu estômago já reclamava de fome e aquele maníaco parecia não se cansar.

— Tudo bem, acho que podemos fazer um intervalo agora.

Existe um Deus. Ela quase chorou de alívio enquanto se levantava e sacudia a areia do bumbum.

Com um sorriso radiante, Marc se aproximou. - Eu te devo minha vida.

— E também sua alma. - Ela passou uma mão no cabelo e com desgosto, notou que também tinha areia lá. - Por que um photoshoot na praia em pleno inverno nova-iorquino?

— Contrastes, querida. Foi minha ideia, é claro. A praia é tão bonita no inverno como é em outras estações, mas totalmente negligenciada. Um belo casaco, uma caminhada na areia e o nascer do sol. Cenário perfeito.

— Qual é dessa sua fixação com o nascer do sol? O pôr do sol é tão bonito quanto. E por que eu ainda estou fotografando se já são três da tarde?

— Ora, bem. Jean realmente se apaixonou por você. - Marc beijou seu nariz gelado e esfregou seus braços para aquecê-la. - Qual o problema, minha flor? Não conheço você por ser ranzinza.

— Acontece quando me acordam às cinco da manhã e eu trabalho durante nove horas seguidas.

— Detalhes. Passamos o dia inteiro juntos, isso é um pró. Talvez… - Casualmente ele passou um braço pela cintura dela enquanto ouvia os gritos de Jean com seus assistentes. - Possamos sair à noite e eu consiga seduzir você. Tenho que te agradecer, afinal, e garanto que levaria seu mau humor embora.

— Extremamente tentador, mas não. Verei o Ethan hoje.

— Hum, o rapazinho. É sério, então? Acho que terei que avalia-lo mais de perto. Saber exatamente quem conquistou o coração da minha garota.

— Millie, querida!

Em desespero, ela agarrou as golas do casaco de Marc. - Não deixe que ele se aproxime de mim com aquela câmera de novo por no mínimo uma hora.

— Eu sempre cuidei de você, não foi. - Ele a deu um selinho amigável e manteve um braço em volta dela. - Então, Jean, nossa modelo de última hora atendeu suas expectativas?

— Superou! - Ele a encarou em admiração e colocou uma mão no peito. - Por Deus, eu quero você para levar para casa. Que deslumbre, que luz, que mulher!

— Desculpe, mas essa daqui não vendo nem por um bilhão.

— Pena. - Jean tocou na bochecha de Millie. - Peço desculpas se suguei suas energias, querida, mas você totalmente me ludibriou. Eu não pude me controlar. E eu realmente gostaria que você trabalhasse comigo mais vezes. Já pensou como seria sair na Vogue?

Apesar de sua total revolta com o fotógrafo naquele momento, seu coração de modelo quis bater asas e voar ao ouvir aquele nome. - Pensei que apenas fotografasse para a Elle.

Jean gargalhou animadamente. - Fotografo para todas as melhores revistas, eu sou o melhor. E gosto de levar comigo as joias que encontro por essas estradas da vida. Você é uma delas. Que tal um jantar hoje e uma conversa? Você pode vir também, Marc, assim garante que não vou usurpá-la definitivamente.

— Agradeço sua generosidade. - Marc respondeu com uma pitada de veneno. Ele podia ir? Que piada, qualquer restaurante da cidade imploraria por sua presença. - De fato, acho uma ótima ideia. Não é, Millie?

— Sim, sim, é. Mas...

— E você poderia levar Ethan, garanto que ele iria adorar acompanha-la. - Marc sugeriu e então se voltou a Jean. - Ethan é o namorado dela. Um rapaz interessante, em minha humilde opinião. Acho que iria gostar dele.

— Problema nenhum, com certeza. Está combinado então, vamos ver, as oito? Não conheço tão bem NY, Marc, então deixarei o restaurante a sua escolha. Perfeito. - Jean continuou antes que alguém abrisse a boca. - Vamos agora, acabei de perceber como estou com fome.

— Marc, você perdeu a cabeça? - Millie deu um empurrão nele em fúria. - Chamando Ethan! Nós estamos começando um relacionamento, não vou já jogá-lo aos leões desta forma.

— Ele precisa conhecer seu mundo e é melhor que faça isso logo, assim saberá se está perdendo seu tempo. E além do mais, acho que está dando pouco crédito a ele. Ele sobreviveu a mim, e bastante bem a meu ver, sobreviverá a qualquer um.

Millie soltou um gemido agoniado. - Às vezes eu te odeio, sério. Se eu não quisesse tanto esse trabalho...

— Se você não quisesse tanto, eu te internaria num hospício. É a Vogue, por Deus. E isso é um ensaio para ele, Millie. Como acha que Ethan poderá acompanhá-la a festas se não sobreviver a um jantar?

— Eu não estava... Planejando que ele fosse. Ethan é tímido, Marc, você o conheceu. Essas coisas não são para ele. Não quero colocá-lo numa posição em que fique desconfortável.

Marc arqueou a sobrancelha. - Sinto te dizer, meu bem, que então ele não deveria estar namorando uma modelo.

***

A primeira coisa que Millie notou quando entrou no táxi foi que Ethan estava uma pilha de nervos. Ele deu um pequeno sorriso quando ela o beijou para disfarçar, mas estava perfeitamente visível.

E, eu já te disse e vou repetir. Se você não está confortável, não precisa...

— Sim, preciso. - Ele respondeu imediatamente e assentiu com a cabeça quando o taxista os encarou. Ele arrancou com o carro e os dois se seguraram nos bancos da frente. Táxi em NYC. - E além do mais, eu queria te ver.

Ela relaxou contra o banco e segurou a mão dele. - Eu sei. Mas eu disse que passaria na sua casa… - Ela bocejou no meio da frase. - ... Depois.

— Não sabemos nem se conseguirá não dormir até o fim do jantar, Millie. E eu quero te acompanhar. Só não quero envergonhá-la. Você acha que esta roupa está legal? Eu pensei que um terno poderia ser demais para hoje, então pensei que um suéter...

— Você está ótimo, Ethan. Muito, até. Vou ficar com ciúme quando as mulheres te comerem com os olhos.

Ele corou e ajeitou os óculos no nariz. - Não acho que isso será um problema.

— Você voltou a usá-los. - Ela sorriu e chegou para mais perto dele no banco. - Estava com saudade do seu tique nervoso.

— Ah... Você tinha dito que gostava, então eu... Bem... Você mudou de...?

Millie interrompeu com uma risada, segurou seu rosto com as duas mãos e estalou um longo beijo em seus lábios. - Você é adorável, E.

Eles desceram em frente ao restaurante vinte minutos depois e enquanto Ethan insistia em pagar o táxi, Millie saiu do carro e se deparou com Marc saindo de seu SVU bem atrás deles.

— Querida, chegamos juntos. - Marc estendeu a chave ao manobrista e se aproximou para abraçá-la. - Hum, você está cheirosa. Tem certeza que não quer me deixar seduzi-la hoje?

A última frase foi a única coisa que Ethan ouviu. Ele cerrou os olhos quando viu o homem com os braços em volta de Millie e bateu a porta do táxi com mais força do que a necessária.

— Ah, Ethan. - Marc sorriu amigavelmente mesmo ciente das espadas apontadas para o seu corpo e estendeu a mão. - Como está?

Foi um esforço sacudir a mão ao invés de quebrá-la. - Bem. Millie não comentou que você vinha.

A modelo deu de ombros e lançou um olhar a Ethan. - Devo ter esquecido.

— Eu vim para protegê-la daquele velho louco. - Marc fez uma menção com a cabeça e então revezou olhares entre os dois. Por fim entendeu e se voltou à loira. - Você contou a ele.

— Por que esconder?

Por quê? Quando você contou para o seu último namorado, eu ganhei um olho roxo.

Ethan encarou com a sobrancelha arqueada a mão de Marc que seguia na cintura de Millie. - Eu posso fazer pior.

Marc explodiu em uma gargalhada, mas porque não tinha se feito na vida de vitoriosas brigas, sutilmente afastou a mão. - Um lobo em pele de cordeiro. Quem diria, Ethan.

Assim que o estilista seguiu na frente, Millie deu um puxão na orelha do rapaz. - Comporte-se.

— Estou muito comportado. Como você deixa que ele coloque as mãos em você assim?

Ela não pôde conter a risada. - Impressionante, Ethan, como você deixa a timidez de lado quando a testosterona age.

— Isso não tem nada a ver com a minha...

— Boa noite. Posso recolher seus casacos? - Perguntou o recepcionista ao entrarem.

Quando Millie retirou o sobretudo, revelando o pequeno vestido preto colado ao seu corpo, Ethan definitivamente sentiu a testosterona agir.

***

— Então, Ethan… - Jean fez uma pausa enquanto bebericava do vinho e assentiu com a cabeça para o garçom, que rapidamente serviu o líquido nas taças dos demais e se retirou. - Você é o namorado da minha querida Millie.

— Ah sim, eu...

— Curiosa a forma como as pessoas interagem aqui. - O fotógrafo continuou sem que ele terminasse, encarando-o com interesse. - Ela é bem mais velha do que você, não é?

Ethan ficou vermelho e Millie forçou uma risada. - Ora, muito obrigada pela parte que me toca. Assim acho que já devo até me aposentar.

Sem parecer afetado com o constrangimento que causou, Jean sorriu belamente e trouxe a mão da modelo que sentava ao seu lado até seus lábios. - Perdoe-me, cherri. Não quis ofendê-la. E para o bem de nosso mundo, torço para que não se aposente tão cedo.

— Não se preocupe quanto a isso. - Millie sorriu e procurou a mão de Ethan por debaixo da mesa. Sentiu quando ele enlaçou os dedos nos seus e soube que estava tudo bem. - Devemos pedir? Admito que esteja com fome.

— Claro que sim. - Marc respondeu antes que Jean pudesse tentar dizer outra coisa inconveniente e pegou o cardápio a sua frente. - Já provei o filé daqui. Espetacular. Talvez queira experimentar, Jean.

— Certamente. - Jean lançou um sorriso a ele e piscou. - Depois falaremos de negócios.

***

— Esta foi uma noite agradabilíssima, ma cherri. Precisamos marcar outro encontro enquanto estou na cidade. Talvez na terça, depois do café? - Jean beijou uma bochecha de Millie e depois a outra. - E adorei conhecer seu homem. Ele é um tanto calado, mas inteligentes são as pessoas que ouvem mais do que falam.

— Foi um prazer, Jean. Eu te ligo para marcarmos um horário definido, tudo bem?

— Esplêndido. - Ele sorriu como se houvesse acabado de ouvir a melhor notícia e a deu um terceiro beijo. - Ethan, cuide bem de nossa modelo. E não desista da faculdade, ouviu bem? Precisamos de grandes cérebros neste planeta. Por que de gente estúpida, Deus sabe que o limite já estourou.

Que talento maravilhoso ele tinha com as palavras.

Ethan estendeu a mão. - Obrigado, Jean.

— Marc, querido. - O fotógrafo era todo sorrisos e abraçou o estilista por um tempo desnecessariamente longo. - Estou pensando em dar umas voltas pela cidade. Não gostaria de me acompanhar? Aproveite que estou com carro particular. Não dizem que é um inferno conseguir táxi em NYC?

— Desculpe, Jean, mas já tenho um compromisso agora. - Marc respondeu com um sorriso fácil e deliberadamente se afastou das mãos sedentas do fotógrafo.

— Um compromisso do tipo feminino?

— Do tipo ‘femininos’.

Jean suspirou longamente. - Pena. Este mundo é mesmo cruel. Bem, o que há de se fazer. Preciso ir. Esperarei sua ligação, Millie. Um ótimo resto de noite para vocês.

Marc também logo se despediu. - Então, também tenho que ir. Como eu disse, compromissos me esperam. E elas não são muito pacientes. Millie, eu te ligo amanhã para falar sobre seu extra.

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— Você disse o que eu queria ouvir. - Ela piscou em felicidade e o abraçou rapidamente. - Use camisinha!

Marc gargalhou alto enquanto Ethan corava. - Ela pensa que eu tenho dezessete anos. Até mais, minha linda. Ethan.

O manobrista parou com seu carro em frente à porta do restaurante e após dar uma gorjeta ao rapaz, Marc acenou para os dois e entrou no carro, acelerando em seguida.

Millie enlaçou um braço no de Ethan. - Sabe o que eu queria agora?

Ethan assentiu com a cabeça quando o mesmo manobrista perguntou se eles queriam um táxi e olhou para ela. - O que?

— Ficar descalça. Esses saltos estão me matando.

Ele sorriu e deu um beijo em sua testa. - Então fique.

Ela descansou a cabeça no ombro dele e fechou os olhos. - Uma modelo nunca desce do salto.

Ethan arqueou a sobrancelha e em um impulso que nunca teria feito antes de Millie, ele colocou um braço por trás dos joelhos dela e a levantou no colo.

— Ethan! O que você está fazendo?

— Problema resolvido.

Ela não precisava olhar em volta para saber que eram o alvo das atenções. Ela queria reclamar, de verdade, mas a sensação de não estar mais com os pés no chão era tão boa que ela só conseguiu descansar a cabeça contra o ombro dele mais uma vez.

— Você é realmente adorável.

***

Quando Millie recobrou a consciência, percebeu estar em uma cama e quando virou a cabeça, sentiu o cheiro de Ethan no travesseiro que estava deitada. Instantaneamente relaxou.

Então reconheceu a maciez que só poderia ser do colchão dele. Com um suspiro contente, ela se permitiu mais alguns minutinhos ali antes de levantar. Era bem provável que ela tivesse caído no sono dentro do táxi e ele a tenha levado para a casa dele por que era mais perto.

Foi apenas quando retirou o edredom de cima do corpo que percebeu que estava apenas usando suas roupas de baixo. O que imediatamente implicava que Ethan devia ter retirado seu vestido.

Algo a se pensar.

Contudo, Ethan não estava no quarto. Millie se levantou devagar, sentindo uma leve dor de cabeça provavelmente pela falta de sono, ela caminhou até o banheiro onde encontrou um robe.

Em seguida ela saiu do quarto procurando não fazer barulho, sabia que já era madrugada. Quando viu a luminosidade da TV, seguiu até a sala e encontrou Ethan cochilando no sofá.

Estava passando um episódio repetido de Friends na TV, mas ela duvidava que fosse isso que ele estivesse vendo antes de dormir. Ela sorriu. Ele tinha completamente apagado com o controle na mão e a cabeça descansando nas costas do sofá. Ele tinha trocado de roupa e usava uma calça moletom e uma camiseta.

Ela pensou em acordá-lo com um beijo, mas assim que se sentou no sofá ele despertou. Ethan piscou algumas vezes antes de enxergá-la e então bocejou.

— Por que você levantou, amor?

Ele provavelmente não tinha reparado, mas era a primeira vez que ele a chamava de ‘amor’. Seu sorriso triplicou. - Por que você está dormindo aqui?

— Eu queria que você ficasse a vontade. - Ele acariciou sua bochecha.

— Não quero que Alice fique chateada outra vez.

— Só estamos nós dois aqui. - Ele tentou ajeitar os óculos no nariz, então se lembrou de que já tinha tirado. - Meus pais foram só voltam amanhã. Daniel saiu com Thomas. Tinha um recado quando eu cheguei.

— Ah.

Houve um momento de silêncio e então ele completou. - E você não ia sair daqui a essa hora.

Ela riu. - Claro, porque eu não ando sozinha pela noite. Ethan, por favor. - Millie então colocou as pernas em cima das dele e relaxou contra as almofadas. - Estou um caco.

— Você trabalha demais.

Ela simplesmente adorava a ruguinha de preocupação que se formou na testa dele. - Algumas épocas são piores do que outras. E hoje eu fui cobrir uma colega.

— Quer alguma coisa? Posso fazer um chocolate quente com marshmallows.

— Acho que nunca te amei tanto como agora.

Ele sorriu; suas covinhas lindas aparecendo. - Fique deitada aí.

Millie não encontrou nenhum motivo para fazer objeção. Ela estava quase dormindo de novo quando ele voltou com a caneca fumegante.

Quando ela provou, teve que se conter para não gemer em contentamento. - Esse é o melhor chocolate quente de todos os tempos. Sério, eu já disse que estou te amando desesperadamente neste momento?

— Você vai me amar ainda mais. - Ele se sentou, puxou as pernas dela para seu colo de novo e segurou seus pés.

— Por Deus, Ethan. Chocolate, massagem nos pés... Você só pode estar querendo me matar.

— Você teve um longo dia.

Millie tentou o mais rápido possível terminar o chocolate antes que o derrubasse. Ela esticou o braço para colocar a caneca em cima da mesinha e deitou sobre as almofadas novamente. E durante todo o tempo ele continuava fazendo coisas ilegais com aqueles dedos em seus pés.

— Eu juro que dá para se ter um orgasmo só com uma massagem nos pés. - Assim que ela disse, Ethan pausou o que fazia. A modelo riu sem jeito. - Desculpe. Cérebro muito relaxado dá nisso.

Ele ficou quieto por um minuto. - Você... Já teve um?

Um pouco surpresa com a pergunta, ela abriu os olhos e piscou para ele. - Não até agora.

Ethan corou e voltou sua atenção exclusivamente ao que fazia. Bem que ele gostaria de ser o seu primeiro... Assim equilibrava um pouco as coisas.

— Hum, acho melhor você parar agora antes que caia no sono e você não consiga me tirar daqui. Lutando contra a preguiça, ela se ergueu no sofá e segurou o rosto dele. - Obrigada.

O beijo foi mais intenso do que o esperado e Ethan mais uma vez se viu questionando porque tinha esperado tanto. Claro que ele teria que esperar mais um pouco agora porque ela estava cansada. Ele só precisava fazer seu pênis entender também.

— Whoa, whoa, whoa. Acho que até despertei. - Millie riu. - Você vem?

— Cinco minutos. - Ele segurou seu queixo e a beijou de novo.

Ela se levantou sorrindo bobamente e foi andando ainda olhando para ele quando deu com o ombro na parede por não observar por onde andava.

Ela massageou o ombro e apontou um dedo a ele. - Não ria!

Millie escutou o som abafado assim que se virou, mas resolveu relevar. Escovou os dentes com a escova dele ao chegar ao quarto e retirou a maquiagem. Estaria escuro e ela poderia muito bem acordar mais cedo do que ele no dia seguinte para aplicá-la.

Assoviando, ela retornou ao quarto e tentou pensar onde Ethan guardaria meias. Ela agachou diante ao armário dele e começou a vasculhar pelas gavetas dele. Encontrou alguns pares e ao retirar um, enxergou algo vermelho no fundo da gaveta. Ela abaixou um pouco mais e não acreditando no que via, tateou e reconheceu o plástico.

Ethan se surpreendeu por ela não estar dormindo ao enxergar a luz acesa no quarto e realmente a encontrou sentada no meio da cama, aparentando estar muito acordada.

Percebendo que estava com uma expressão estranha, ele se aproximou. - Achei que já te encontraria desmaiada.

Sem dizer nada, ela ergueu a mão e balançou os pacotes de preservativo. Ethan ficou parado no mesmo lugar e de repente não sabia o que fazer com as mãos.

Tolamente, ele sussurrou. - Você estava mexendo nas minhas gavetas.

— Não estava mexendo. Estava procurando por meias.

Ele pigarreou três vezes. - Acho que... Está esperando que eu explique.

Ela somente arqueou a sobrancelha e aguardou. Ele não conseguia saber o que estava pensando pela sua expressão facial.

— Eu só estava... Eu só pensei que... - Ele colocou uma mão no rosto e balançou a cabeça. - Eu pensei... Bem, que eu e você... Sabe... Pudéssemos tentar... Não que eu esteja esperando algo, sabe... Com você cansada. Não quero que pense que eu não me importo... Porque eu me importo...

— Por que... não me disse?

— Como eu digo uma coisa dessas? - Ele suspirou. - Não era para você ter descoberto assim. Na verdade... Isso está totalmente errado. Vamos conversar amanhã, tudo bem?

Em um ato que sabia ser covarde, ele se fechou no banheiro. Certo, ele ficaria ali por uma hora ou duas até que conseguisse superar a humilhação e então voltaria para o quarto como se nada tivesse acontecido.

Respirando fundo, ele jogou água no rosto por três vezes e secou com a toalha. Caramba, aquele tipo de coisa tinha que acontecer com ele. Quando ouviu a porta ser aberta, ele balançou a cabeça.

— É sério, Millie, amanhã. - Ele murmurou, mas sentiu que ela continuou no mesmo lugar. Ethan se virou. - Millie, por fa...

Ethan segurou a pia com as duas mãos e bateu com a cabeça no armário do banheiro, mas não sentiu a dor. Apenas piscou, piscou e piscou.

— Você devia saber que eu nunca estaria cansada para fazer amor com você, E.

Nua.

No estilo como-vim-ao-mundo. No estilo uso-apenas-a-minha-pele. No estilo fui-feita-para-causar-paradas-cardíacas. No estilo venha-me-pegar-agora.

Por Deus, ele foi.

### - X— ###

A comida daquela noite seria costela e como era tradição na casa, independente da situação, o jantar pedia todos na mesa. Naquele dia em especial, as coisas estavam bem mais neutras do que naturalmente.

Daniel estava ajudando sua mãe a colocar a mesa enquanto Jasper e Ethan já estavam sentados, conversando sobre política e legislação. Sabe se lá por que.

Quando terminaram, Alice se sentou na ponta da mesa e ergueu uma mão. - Silêncio agora. Vamos fazer nossas preces.

Eles ficaram cada um em silêncio com seus pensamentos por um momento e então começaram a se servir.

— Esta é uma ótima noite. - Ela murmurou com felicidade ao ver sua família reunida em um clima harmonioso, algo muito raro. - Não é tão melhor conviver assim? Com as pessoas que amamos, sem brigas.

— Claro. Mas todos nós temos personalidades fortes.- Dan murmurou com um sorriso enquanto colocava uma batata na boca. - Ao menos nunca ficaremos entediados.

— Sempre deixemos ao Dan a tarefa de apontar o lado bom das coisas. - Ethan ironizou, mas não havia o normal desgosto no tom.

— Que nada, caro irmão. Você tem estado bem animadinho também. Quase uma nova pessoa.

Ethan lançou um olhar a ele, que retribuiu com o sorriso besta na cara. Eles ficaram em silêncio a seguir, sem persistir no assunto.

— Do que estão falando? - Jasper arqueou uma sobrancelha.

Daniel debochadamente colocou uma mão no peito e declarou com solenidade. - Não podemos quebrar o código da irmandade.

— Vocês nunca foram de segredinhos antes. - Alice insistiu com uma expressão de desconfiança. - O que estão aprontando?

— Ora, se brigamos vocês reclamam. Se ficamos de boa, vocês reclamam. O que querem? - Dan observou.

— Hum, não sei não. - Jass balançou a cabeça e quando percebeu que eles não iam mesmo dizer nada, conformou-se. - Bem, melhor isso do que quebrando um o nariz do outro.

— Eu quem quebrou o nariz dele. - Ethan lembrou calmamente.

Dan clareou a garganta em aviso. - Não pense que terá outra chance.

O rapaz deu um sorriso sarcástico, mas não comentou nada. Alice e Jasper trocaram olhares confusos e encararam os filhos novamente. Eles tinham se calado e agora comiam como se nada houvesse acontecido.

Adolescentes e seus estranhos códigos de honra, Alice pensou. Ela descobriria o que tinha acontecido. Mas deixaria o assunto descansar por hora.

— Então, filho, está nervoso para amanhã? - Jass mudou o assunto, dirigindo-se a Dan.

— Por que estaria?

— Não acha que presunção dá azar, querido? - Alice provocou.

— Não sei, mamãe. Como foram suas experiências?

Ela gargalhou. - Além do meu gênio, você tinha que ter herdado minha língua também, não é!

Ele sorriu. - O que se pode fazer?

— O teatro do colégio é grande? - Jass questionou. - Todo mundo já comprou os ingressos.

Daniel parou com o garfo no ar. - Como assim ‘todo mundo’?

— Ué, todos da família vão, é claro. Ninguém sabe quando terá a chance de ver você se apresentar outra vez.

— E como vocês só me dizem isso agora?

Divertindo-se, Ethan deu um gole em seu suco e murmurou. - Com medo de dar vexame, Daniel?

Ele ignorou seu irmão. - Vocês tinham que ter dito! Eu não estava... Não contava que todos fossem. Para quê tudo isso? É só um Musical idiota.

— Não. - Jasper corrigiu. - É algo importante. Algo no qual você e a Angel trabalharam e se dedicaram. E todos querem prestigiar isso.

— Besteira. - Dan insistiu enquanto retornava a comer. - Bom, agora já não há mais jeito. Que todos vão então.

Quem dera se por dentro ele estivesse tão seguro assim.

***

Assim que terminou de comer, Daniel se retirou para seu quarto e ignorou os olhares divertidos que o acompanharam até ele sair. Ele começava a se arrepender de ter entrado nessa ideia. Todos, absolutamente todos em sua família sabiam que ele não gostava de se apresentar.

No entanto, ainda era bem mais fácil se apresentar para desconhecidos para os quais você não dava a mínima. Seus familiares estavam em outro patamar. Dan fechou a porta do seu quarto, jogou-se sobre a cama em derrota e covardemente cogitou desistir. O pensamento não durou nem ao ponto de se fixar.

Ele não podia fazer aquilo. Tinha dado sua palavra e todos estavam contando com ele. E além do mais, se ele tentasse desistir, Angelinne era capaz de ir rodopiando até sua casa calçada em suas sapatilhas e arrastá-lo para o colégio.

Angel.

Um sorriso se formou involuntariamente nos lábios dele e Dan agradeceu por que não havia ninguém por perto para zombar dele. Talvez ele pudesse dar uma ligada para implicar um pouco com ela.

Eles não se viam desde... O beijo. Daniel se repreendeu porque sabia que estava agindo de maneira ridícula, mas sua mão já alcançava o celular. Ele puxou seu violão para o colo mais como um hábito que nem mais percebia fazer e procurou pelo número programado.

Alô.

Dan sorriu. Estava visível na ridiculamente curta palavra o tom que ela sempre usava quando atendia seu telefonema. O prazer tentando ser contido, o nervosismo tentando ser disfarçado e a autoconfiança tentando ser transmitida. Ele recostou sobre a cama e suspirou. Sentia falta dela.

— Boa noite, Angel.

Ela pigarreou. Tinha certeza que não era coisa de sua imaginação; desde que eles tinham se beijado havia algo curioso no jeito que ele dizia o nome dela.

Angelinne não estava exatamente certa do que era, apenas que o algo acelerava sua pulsação e embolava suas ideias. Era patético, totalmente ilógico. E seu estômago se contraiu porque ela podia, ilogicamente ou não, sentir o calor do sorriso dele pelo telefone.

Boa noite, Dan.

— Sentindo minha falta?

Ela estalou a língua no céu da boca em deboche. - Nenhum pouco.

— Eu estou sentindo a sua. - Ele disse e como esperava, ela ficou em silêncio. - Acanhada agora?

Já pedi para você não dizer essas coisas.

— E por que não posso?

Daniel, você já conseguiu o que queria, não há mais a menor necessidade para o falso romantismo. E além do quê, ele sempre foi dispensável.

— Eu não minto, Angelinne. Você tem todas as razões para desconfiar, mas eu digo a você que não engano ninguém. Se eu disser algo, é a verdade, goste você ou não.

A voz dela tornou-se um sussurro. - Mas já pedi para não dizer. Não é necessário.

— Já pensou que talvez seja necessário para mim?

Quando ela não respondeu, ele continuou. - Foi o que imaginei. Como está para amanhã?

Como um fio de alta tensão.

Ele riu. - Doce Angel, eu já disse um montão de vezes: vamos ser ótimos.

Está bem, está bem. Olha, eu estou indo dormir.

— Mas já?

Amanhã acordarei cedinho para ensaiar.

— Não vá passar do seu limite, Angel. Achava melhor que apenas descansasse.

Preocupado comigo?

— Sim.

Ela devia saber melhor do que para provocá-lo com aquele tema. - Hum.

Dan balançou a cabeça. - Durma bem, Angel.

Boa noite. - Ela disse rápido e num impulso continuou. - Dan?

— Sim?

Eu também senti sua falta. - Ela desligou depressa antes que ele pudesse responder.

E ele agradeceu por aquilo pela primeira vez. Não achava que teria encontrado sua voz.

***

No dia seguinte, Angelinne só avistou Dan depois que o show já tinha começado. Ela estivera trancada em uma das salas do teatro ensaiando às escondidas. Ele estava atrás do palco, espiando pelas cortinas. Ela sabia, no entanto, que não era o show que ele observava e sim as pessoas. Em especial, a família deles.

Diferente dela que ainda usava um robe, Dan já estava vestido com sua roupa da apresentação. E ela tinha que admitir que ele tivesse um estilo único. Calças pretas, camisa branca, tênis brancos, jaqueta branca com desenhos de notas musicais na cor preta e ainda um chapéu na cabeça, um tanto torto no estilo malandro, com listas pretas e brancas que relembravam um piano. Ele era a própria metalinguagem.

E sim. Ele estava sexy.

Dan se virou para trás naquele momento, como se tivesse ouvido o pensamento, e sorriu quando olhou para ela. Angel caminhou até ele enquanto sem nenhuma cerimônia o cidadão a observava dos pés a cabeça.

— Você está bonita, Angeline.

— Eu ainda nem me vesti. - Ela levantou o braço para passar uma mão no cabelo e então lembrou que já tinha arrumado os fios em um coque. - Nossas roupas vão combinar. A minha também é branca.

— Conexão de pensamentos. - Ele disse com um sorriso e a observou atentamente. - Você já se maquiou, mas não passou batom.

— Geralmente eu deixo por...

— Ótimo. - Dan colocou uma mão em volta de sua nuca e colou a boca contra a dela.

Ele só poderia estar maluco de beijá-la em frente de toda aquela gente! Ela logo o empurrou. Está certo, não foi logo. Mas foi o mais rápido que conseguiu fazer seu cérebro obedecê-la.

— Dan, você está maluco? Você não pode simplesmente me agarrar o quanto tiver vontade!

— Só quando você tiver vontade? - Ele lambeu os lábios como se quisesse saborear o gosto dela o quanto pudesse.

Ela ficou ainda mais agitada porque a ação a causou arrepios e escutou, com desgosto, os murmúrios e assobios em volta deles. - Foi só um beijo...

— Agora dois.

— Foi só um beijo, - ela continuou entre dentes enquanto ele sorria daquele jeito sexy e irritante. - isso não te dá o direito de me agarrar desta forma. E graças a você, agora todo o colégio vai ficar sabendo.

— Vai estragar sua reputação, Angel?

— Vai!

— Ótimo. Assim ninguém dará em cima de você.

— Quanta arrogância.

— Não acredito que vai ficar surpresa agora. - Ele murmurou e então sorriu, olhando por cima do ombro dela. - Olá, Milla.

— Dan... Nossa. - Ela balbuciou e recebeu um sorriso brilhante dele em resposta. - Com você assim, ninguém prestará atenção na música.

— Isso inclui você, querida?

Angelinne cruzou os braços e revirou os olhos. Milla gargalhou e balançou a cabeça. O flerte de Dan era mais automático de sua personalidade do que meio para um fim.

— Como vocês estão? Tudo certo?

— Sim. - Angel respondeu de mau humor.

Milla preferiu não comentar nada sobre aquilo. - Ótimo, vocês ainda têm um tempo até entrarem, mas eu venho procurar vocês mais tarde, está bem? Relaxem, tudo dará certo.

— Estou super relaxado. - Respondeu Dan com os dentes à mostra e ouviu com gosto quando Angel grunhiu. - Mas talvez se eu ganhasse um beijo, ficaria ainda mais...

— Aposto que um soco seria mais eficaz.

Já vi tudo, Milla pensou e inteligentemente logo tratou de tirar sua pessoa da linha de fogo. - Até mais tarde, crianças. Nada de brigarem.

— Ciúmes, Angel?

— Vá à merda.

Ele riu e segurou seus braços quando ela tentou ir embora. - Quanta hostilidade.

— Engraçado que há um minuto estava aí tagarelando sobre pessoas dando em cima de mim, como se isso acontecesse com frequência. Mas você tentar enfiar o rosto no decote de todas é permitido.

A cada palavra o sorriso se expandia mais. O safado. Irritada, ela se desvencilhou dele e se afastou. Não perderia seu tempo pensando em Daniel. O imbecil. As risadas dele a acompanharam até que ela sumiu de vista. O cachorro.

***

Felizmente, eles só se encontraram de novo dez minutos antes de entrarem no palco quando Milla foi chamar os dois. Angelinne ainda estava irritada, mas ao menos aquilo diminuía um pouco seu nervosismo. Daniel estava estranhamente sério.

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— Vai dar tudo certo. Vai correr tudo bem. - Milla insistia, mas parecia muito mais nervosa do que os dois juntos. - Oh meu Deus. Não, ok. Vai dar tudo certo.

Angel forçou um sorriso e tentou driblar seus nervos. - Não vamos estragar.

— Claro que não. Somos os melhores. Milla, até parece que não se lembra disso. - Dan confirmou com uma aparente calma.

A mulher riu. - Eu lembro. Confio em vocês. É só, sabe... Tudo.

Ela deu um beijo na bochecha de cada um e se afastou, atrás das pessoas que checariam se o palco tinha tudo o que precisava. Tinham realizado um intervalo antes do grande final como de costume e parados em frente as cortinas, Angel e Dan podiam ouvir a excitação das pessoas.

Suspirando, Dan colocou no rosto os óculos espelhados que Angelinne não tinha percebido que ele segurava. Quis implicar perguntando o porquê dos óculos, mas não pôde... Ao olhar para ele entendeu: o efeito.

Se Daniel Cullen Hale já tinha estado mais gostoso em algum momento naquele universo, ela não tinha o encontrado na hora. Toda e qualquer irritação que sentia desapareceu. Dan virou o rosto para ela e sorriu. Angelinne ouviu seus hormônios gritando.

— Você está maravilhosa, Angel.

Ela assentiu com a cabeça mesmo que não houvesse escutado o que dissera. Só ouvia o escândalo que seu estrogênio fazia. - Você parece James Dean.

Ele sorriu de novo, mas não disse nada.

Algo quebrou o seu estupor do momento e o observou. - Você está nervoso.

— Por favor, Angel.

— Você está falando alto demais. - Ela continuou, sentindo-se estranhamente satisfeita com a descoberta.

Ele deu outro sorriso fácil e, para ela, pouco convincente. - Tenho que treinar a minha voz. A Milla tem que trazer meu microfone, falando nisso...

— É a primeira vez que vai fazer uma apresentação, cantando uma música sua. - Angelinne prosseguiu e ele largou a farsa do sorriso. - Aposto que foi por isso que nunca participou de um Musical antes. Por que decidiu participar agora, afinal? Eu nunca te perguntei isso.

— Porque eu quis.

Seu tom foi grosseiro e ela sabia que tinha acertado. - Dan. Independente do motivo de ter aceitado, você vai se sair bem.

— Angel, larga o assunto.

— Não.

— Você é irritante.

— Você também.

Ele encheu a boca para xingá-la, mas acabou rindo. Ela tirou os óculos de seu rosto e colocou uma mão em sua bochecha. Dan ia mandar que ela desistisse de novo, mas o gesto o desarmou. De fato, surpreendeu Angelinne também. Mas ela sempre tivera um fraco pelo Dan músico.

— Olha para mim.

— Com prazer.

Ela não reclamou por ele tentar bancar o engraçado, era isso que ele queria para assim ter uma brecha de encerrar o assunto de vez. Esconda o horror com humor. Ele não sabia ainda, mas estava completamente perdido nas mãos dela.

— Você vai colocar um sorriso sincero nesse seu rosto e entrar naquele palco tão seguro como finge ser. Faremos um show como ninguém jamais viu nesse colégio e quando terminar, você vai virar para mim, sorrir de novo e dizer ‘Eu não te avisei, Angel?’ E eu vou rolar meus olhos em resposta. Entendeu, Daniel?

— Adoro mulher mandona. - Ele não sorriu quando disse aquilo e o olhar dele era suficiente para dar uma resposta a ela.

Ela sabia que era o melhor sim que conseguiria dele.

— Ótimo. - Angelinne grunhiu e antes que pudesse se arrepender, esmagou a boca contra a dele.

Eles mantiveram os olhos abertos e o beijo foi mais uma ameaça do que um gesto de ternura. ‘Ouse me desobedecer’, ela parecia dizer. Daniel sorriu em meio ao beijo. Eles se afastaram quando Milla pigarreou.

— Bem. - Ela murmurou com um sorriso e plugou o microfone na gola da jaqueta de Dan. - Acho que não preciso me preocupar mais com vocês dois brigando, então.

— Claro que precisa. - Dan deu uma piscadela para Angelinne e recolocou os óculos no rosto. - Sempre.

— Três minutos para entrarem!

Angel sentiu um arrepio na espinha e distraidamente, percebeu que tinha gloss nos lábios de Dan. Ela começou a limpar com um dedo, mas ele segurou seu pulso.

— Deixe, Angel. Assim todo mundo vai saber de quem eu sou.

Ela sabia mesmo sem ver que os olhos dele estavam dançando atrás das lentes. Ela sentiu um arrepio na espinha totalmente diferente do primeiro.

— Dois minutos!

— Não estamos namorando. - Ela declarou com a voz firme.

Se havia algo no planeta mais devastador do que o sorriso de Dan, ela também não havia encontrado. - Não?

Ela tornou a olhar para frente sem responder. Seu pulso estava irregular. Sem ter escutado a conversa, Milla fez um sinal para os dois e sorriu.

— Boa sorte, meninos!

— Um minuto!

Em um gesto completamente espontâneo, as mãos deles se uniram e seus dedos se entrelaçaram. As cortinas se abriram. Era como se um campo de força invisível se lançasse diretamente sobre eles. Eles intensificaram o aperto de mão, mas não fraquejaram. As pessoas gritaram. Idiotamente, eles se sentiram como rock stars.

Eles caminharam até o centro do palco. Os dois sorriram. Angelinne logo procurou a família deles com o olhar e observou, com algum constrangimento, que todos estavam de pé fazendo uma algazarra. Dan arriscou dar uma olhadela naquela direção, mas quando o bolo em sua garganta cresceu, desviou o olhar de novo.

Dan se voltou a Angel. Ele sorriu e começou a erguer a mão dela que segurava. Percebendo tardiamente o que ele faria, Angelinne o encarou em pânico e tentou puxar o braço, mas ele não deixou. Como se eles não estivessem em frente a um monte de pessoas e ele já houvesse feito aquilo antes, ele levou a mão dela até os lábios.

Ao invés de beijar as costas da mão como todas as pessoas esperavam, como seria o gesto conhecido, como seria surpreendente, mas aceitável. Mas não. Não Dan. Não ele. Ele tinha que fazer diferente. Ele tinha. Daniel virou a mão dela gentilmente e beijou a palma.

Em frente a todo mundo. Para todo entender a mensagem se o gloss em seus lábios não fosse o suficiente. Se ele tivesse se ajoelhado diante dela, não teria a movido tanto.

Eu sou seu.

Angelinne literalmente sentiu coração partir. Uma, duas, três vezes. Oh não. Ela sabia o que aquilo significava. Em desespero, ela puxou o braço de volta, mas já era tarde demais. Seu coração continuou quebrando. Oh Deus, não. Ela estava ciente de que tinham pessoas na plateia gritando, provavelmente colegas de classe zombando, mas aquilo estava alcançava seu ouvido, não seu cérebro.

Dan seguiu para o piano calmamente como se não houvesse feito nada e em novo um momento de pânico, Angel percebeu que tinha esquecido a coreografia. Ela encarou as pessoas sem saber o que fazer. Ela encarou Dan sentado ao piano, combinando tão perfeitamente com um instrumento que parecia ter nascido nele. Ele sorriu e ela se lembrou dos passos.

A música começou e como se não tivesse acabado de testemunhar o “branco” mais longo de sua vida, Angel se moveu com ela. Quando Dan começou a cantar, ela deixou que sua voz a guiasse.

You And Me

Lifehouse

What day is it and in what month
This clock never seemed so alive
I can't keep up
And I can't back down
I've been losing so much time

Todos no teatro voltaram seus olhos ao maravilhoso anjo branco que parecia não deslizar, mas flutuar pelo palco. Daniel não estava imune. Seus dedos reconheceram as teclas do piano por conta própria, sua boca proferiu as palavras no ritmo certo por si só; ele só prestava atenção nela.

'Cause it's you and me and all of the people
With nothing to do
Nothing to lose
And it's you and me and all of the people
And I don't know why

I can't keep my eyes off of you

Angel contou a história da música com o corpo, transmitiu exatamente as emoções que Dan sentira quando compunha a letra. Eles tinham uma sintonia mais forte do que pensavam. A voz dele era o combustível dos movimentos dela.

Angelinne dançava de olhos fechados porque para ela era mais fácil de imaginar que era apenas a voz de Dan que a guiava e que não havia mais ninguém presente.

All of the things that I want to say
Just aren't coming out right
I'm tripping in words
You got my head spinning
I don't know where to go from here



Ela rodopiou para mais perto do piano e deu a volta no instrumento, tocando uma mão no ombro de Dan como era o combinado entre eles. Então em um rápido e suave movimento, ela deslizou para cima do piano e ficou de joelhos, movimentando os braços e se inclinando sobre ele.

'Cause it's you and me and all of the people
With nothing to do
Nothing to prove
And it's you and me and all of the people
And I don't know why
I can't keep my eyes off of you

Quando ele cantou I can’t keep my eyes off of you, Angelinne tocou o queixo dele com uma expressão desejosa e então deslizou para o chão em uma encenação de um movimento brusco, como se uma força invisível tivesse os afastado.

There's something about you now
I can't quite figure out
Everything she does is beautiful
Everything she does is right

Ela era maravilhosa, Dan pensava, será que todo mundo tem essa sensação de experimentar o extraordinário ao olhar para ela ou só eu? Angelinne olhou para ele quando ele terminou de cantar o verso, como se mesmo longe pudesse ouvi-lo.

'Cause it's you and me and all of the people
With nothing to do
Nothing to lose
And it's you and me and all of the people
And I don't know why
I can't keep my eyes off of...
You and me and all of the people
With nothing to do
Nothing to prove
And it's you and me and all of the people
And I don't know why
I can't keep my eyes off of you

Angelinne fechou os olhos mais uma vez, virando o rosto para cima com uma expressão contente como se houvesse acabado de receber um presente. Ela tornou a encarar Dan com um sorriso maior do que o mundo e, com a coreografia, retornou para perto do piano com dificuldade; forças ainda querendo separá-los.

What day is it
And in what month
This clock never seemed so alive

Ela se sentou ao lado do Dan e olhou ao redor como se confusa por um momento, seguindo a letra da música, até que encontrou os olhos dele e sorriu. Então sua expressão se desfez, ela checou o relógio de pulso que havia usado especialmente para apresentação, e encarou Dan em desespero outra vez.

Eles tinham combinado de que terminaria daquela forma. Quando Angel levou as mãos até seu rosto, ele não entendeu. Mas não era apenas ele que podia fazer surpresas. Ela tirou os óculos de seu rosto pela segunda vez, sua expressão desesperada com a falta de tempo ainda representando a música, e encostou os lábios nos dele. Dan errou uma nota, o som soou alto no silêncio do teatro.

E não havia um final mais perfeito.

Eu sou sua.

***

— Angel, Dan, vocês foram fantásticos! Oh meu Deus! - Alice praticamente voou até os camarins e abraçou os dois por longos minutos.

— Mãe, menos.

— Foi lindo. Foi tão lindo… - Ela murmurou e secou o canto do olho. - Não me olhem assim. Não estou chorando, foi apenas um cisco.

— Olha eles ali! - Mel anunciou bem alto e chamou o pessoal com a mão, então correu e abraçou Dan às gargalhadas. - Você, hein! Escondendo o ouro durante todo esse tempo!

Logo se iniciou uma série de abraços, beijos, gritos e risos. Eles não tiveram tempo de conversar e enquanto Angel agradecia pelo fato, Daniel ficava mais ansioso. Então Jasper se aproximou dele.

Ele vasculhou o cérebro por alguma brincadeira para fazer, qualquer coisa para se distrair da expressão séria no rosto do pai, mas não conseguiu. Eles se encararam por um longo tempo e então Jass colocou uma mão em seu ombro.

— Estou orgulhoso de você, filho.

Novamente ele procurou desesperadamente algo para dizer e não encontrou. Foi salvo, no entanto, quando Jass o abraçou e ele idiotamente retribuiu sem dizer nada. Quando se separaram, ele assentiu meio sem jeito. Só havia uma pessoa no mundo que o fazia se sentir inadequado: era seu pai.

— Dan! Parabéns! - Millie o abraçou com entusiasmo e quase o cegou com seu sorriso. - E não é que você e Angel fazem um belo par, quem diria.

Ciente da provocação, ele deu uma piscadela. - Muito sútil, loira. Agradeço o elogio.

Ela deu de ombros e passou um braço em volta de Ethan, lançando-o um olhar que qualquer um poderia traduzir.

Com um suspiro infeliz, Ethan murmurou. - Até que não foi tão mal, Daniel.

— Por favor. Eu fui ótimo.

— Opinião questionável, é claro.

Interrompendo uma contra resposta de Dan, Edward se aproximou e deu um tapa nas costas do afilhado. - E aí? Onde será a comemoração? Troquei meu plantão só para isso.

— Edward, não seja tão indiscreto. Vai parecer que só viemos aqui pensando no depois. - Fernanda ralhou arqueando a sobrancelha e então, suavemente continuou. - Tudo bem, mas onde será? Preciso de um break depois dessa semana.

***

Angelinne estava escovando os dentes quando seu celular tocou dentro da bolsa. Ela grunhiu, cuspiu a pasta na pia e correu de volta para o quarto. Na verdade, mais mancou. Seus pés estavam a matando.

Quando viu quem era, cogitou não atender. Seu coração fez a dancinha estranha que detestava e ela colocou o celular sobre a cama. Ela ainda não estava pronta para conversar. Por Deus, a quem ela estava enganando? Ele apenas continuaria ligando. E quando desligasse o celular, ele ligaria para sua casa.

Respirando fundo, ela atendeu. - Não acha que está tarde para perturbar a paciência alheia?

Parecia que o sorriso tinha sido cravado em sua voz. - Já estava deitada?

— Já. - Ela mentiu.

Hum. O que está vestindo?

Que Deus a perdoasse, mas ela era humana, e aquele tom a causava arrepios na espinha mesmo que não quisesse. - Dan.

Foi só uma pergunta inocente.

— Não há uma gota de inocência em você.

Você gosta de mim assim. - Ele contradisse e sorriu quando ela não respondeu. - Vem aqui fora. Quero falar com você.

— Como assim... Você está aqui?

Cinco minutos. Ou tocarei a campainha.

— Não, espera... Eu...

Ele já tinha desligado. Mas que merda. Daniel era enlouquecedor! Angelinne perdeu dois minutos grunhindo e reclamando para si mesma, então vestiu um roupão e saiu de seu quarto.

Seus pais estavam na cozinha. Ela foi andando na ponta dos pés até lá procurando não fazer barulho, mas obviamente ela tinha que esbarrar na mesinha do telefone e fazer com que o aparelho fosse ao chão.

Imediatamente seu pai apareceu e a encarou de cima abaixo. - Aonde vai?

— Ah... Eu... Ah... Ali fora. Não vou demorar. - Ela respondeu já se virando, mas ele continuou.

— Ali aonde, filha? Não viu que já está tarde para andar por aí?

— Deixa ela, Yuri. - Fernanda murmurou. - Se ela disse que não vai demorar, ela não vai demorar.

Yuri encarou a mulher com o cenho franzido e então a filha. Aproveitando a deixa, Angelinne rapidamente se mandou pela porta.

— Fernanda.

— Você não vê que ela vai se encontrar com o namorado? Quantas vezes você fugiu no meio da madrugada para ir até meu hotel, em Paris?

— Você não era uma adolescente. E que história é essa de namorado? Angelinne não tem namorado.

Ela revirou os olhos e voltou para a cozinha.

Assim que Angel saiu, percebeu o carro de Thomas parado em frente a sua casa. Ele acenou com uma mão para ela e deu um sorriso sugestivo. Então Dan saiu do carro. Ainda usando a jaqueta sexy e parecendo mais do que nunca com James Dean.

Ele a observou de cima a baixo e instintivamente Angelinne fechou mais as bandas do roupão. Como se apenas com o olhar ele fosse capaz de tirá-lo.

Conhecendo Daniel, era bem provável que fosse capaz.

— O que veio fazer aqui uma hora dessas?

Antes que ela pudesse pensar, ele a segurou pela cintura e esmagou os lábios dela com os seus. - Vem dar uma volta com a gente.

— Não faça isso aqui! - Ela o empurrou depressa e olhou por cima do ombro para sua casa. - Meu pai pode estar olhando.

Os lábios dele se curvaram. - E o que tem demais?

Angelinne bufou e tirou uma mecha de cabelo do rosto. - Tom também está olhando.

— Mel também está no carro. Ele não está olhando para mais nada. Anda, eu espero você mudar de roupa.

— Não vou sair a essa hora. Já estava indo dormir.” Ela cruzou os braços. - Dan, vá embora. Não sei por que veio aqui.

— Larga de ser travada.

— Eu não sou… - Angel se refreou e contou dez carneirinhos, enquanto ele mostrava os dentes. - É sério. Aonde vocês vão, afinal?

— Lugar nenhum. É só uma desculpa.

— Desculpa para quê?

Quando ele simplesmente continuou sorrindo, ela sentiu o arrepio na espinha outra vez.

Sabendo que ele continuaria insistindo, ela resolveu mudar de tática. - Dan, meus pais nunca deixariam.

— É esse o problema? Eu falo com eles.

E para o seu total choque, ele começou a caminhar em direção a sua casa.

— Ei, espera um minuto.

Mas ele não esperou nem meio. Angelinne tinha a ligeira impressão de que ele sabia exatamente que ela queria arranjar uma desculpa, e agora seria questão de honra conseguir o que queria.

Seus pais estavam em pé no hall de entrada como se esperando que ela voltasse para interrogá-la. Quando Dan entrou, Angel viu seu pai cerrar os olhos.

Dan sorriu como se não tivesse sendo visualmente intimidado. - Boa noite.

— Oi, Dan. - Fernanda respondeu e colocou uma mão em aviso no braço do marido. - Um pouco tarde para visitar, não é?

— Eu sei. - Seu olhar era humilde. - Eu só passei aqui para saber se Angelinne podia vir dar uma volta com a gente. Tom e a Mel estão no carro. Não vamos demorar. É só para... Sabe, comemorar a nosso modo.

Angelinne observou a cena boquiaberta.

— Está muito tarde. - Yuri disse em um tom definitivo antes que a mulher pudesse abrir a boca para aceitar. - Angelinne não costuma sair a essa hora. Ela só tem dezessete anos, caso você não lembre.

— Absolutamente correto. Mas eu pensei que vocês podiam considerar. Eu admito que quis usar a Mel como plano B. Eu garanto que a trarei sã e salva até a porta, mas como as pessoas não confiam muito em mim, é certo que estar com a Mel é estar com Deus. Então, segurança dupla.

— Eu ainda acho que...

— Sim, ela pode ir. - Fernanda respondeu. - Mas não demorem muito.

— Prometo. - Dan garantiu e lançou um olhar a Angelinne, que estava estática ao seu lado. - Por que não vai trocar de roupa, Angel? Não planeja ir assim, não é?

E o safado ainda tinha a audácia de provocá-la! Angel recuperou a lucidez e cerrou os olhos para o dito cujo. Então, erguendo o queixo, marchou para o seu quarto. Ela não daria o gostinho a ele de fazer uma cena em frente a seus pais.

Assim que ela sumiu de vista, Yuri se soltou de Fernanda e parou cara a cara com Daniel. - Você está namorando minha filha?

Dan não gostava da sensação esquisita em seu estômago, mas não se deixou fraquejar. - Estou tentando convencê-la.

Yuri o encarou atentamente. - Eu acho bom que você ande na linha, Daniel. Não cometo o mesmo erro duas vezes.

— Eu não sou Josh.

— Não pense que porque quebrou a cara dele, está livre da cobrança. Para o seu bem, espero que seja mesmo diferente.

***

Para o seu crédito, Angelinne tentou ficar irritada. Não gostava de ser manipulada por ninguém e por causa dele, não conseguiria seu tempo para pensar. Talvez fosse esse o plano de Dan, afinal. Mantê-la sempre à beira de um ataque de nervos e, logo, agindo por seus instintos. Ela gostava de pensar. Ele gostava de fazer.

O vento entrava pelas janelas do carro que Dan insistiu que ficassem abertas. Ela queria dizer que estava irritada com seus cabelos batendo a todo tempo em seu rosto, mas a verdade era que gostava da sensação.

O som do carro estava extremamente alto e impossibilitando qualquer tentativa de conversa. Todos olhavam para o carro quando eles passavam e alguns cantavam junto à Slipknot.

Angelinne não gostava de heavy metal, mas não podia negar que andar pelas ruas de Nova Iorque em alta velocidade com o rock tinindo em seus ouvidos tinha em si sua atração. Era um sentimento de aventura, quisesse ela ou não.

Dan chegou para mais perto dela, colocou um braço em volta de seu pescoço e sussurrou no seu ouvido. - Vai mesmo continuar se esforçando para não se divertir?

— Vou.

Ele gargalhou e o som ecoou dentro dela. Então, fazendo Angelinne se sobressaltar no banco, ele prendeu a pontinha de sua orelha entre os dentes.

— Merda! - Angelinne imediatamente olhou para frente, mas felizmente Tom e Mel não ouviram por causa da música.

Dan gargalhou outra vez. - Problema?

— Você está terrivelmente satisfeito com si mesmo, não é?

Ele assentiu e segurando sua mão, beijou a palma como tinha feito no teatro mais cedo.

Angel suspirou. - Fica difícil ficar irritada quando você faz isso.

— Então não fique.

Quando ele colocou uma mão em seu queixo, Angelinne tornou a olhar para o Tom e a Mel. - Dan...

— Shh.

Sim, shh. Totalmente. Cale a boca, Angelinne, ela mesma pensou. Ele roçou os lábios nos dela, prendeu seu lábio inferior entre os dentes e só então a beijou. Angelinne abriu a boca imediatamente, e quando suas línguas se tocaram, ela segurou as golas da jaqueta dele e o puxou mais para perto.

Melanie olhou para trás, sorriu e cutucou Thomas no braço. Ele ergueu os olhos para o retrovisor do carro, soltou as mãos do volante por um momento e fez um gesto obsceno. Melanie colocou a mão na boca para não rir alto e balançou a cabeça.

Quando eles se separaram, Angelinne viu pelo retrovisor Thomas piscando para eles. Ela desviou o olhar rapidamente e Dan balançou a cabeça.

Mel abaixou o volume do rádio e disse com uma risada. - Tom, o extintor de incêndio está no porta-malas?

— Fique quieta, Mel. - Angel reclamou e apontou um dedo para Dan quando ele sorriu. - E você também.

— Eu nem disse nada.

— Como se isso fizesse alguma diferença.

Melanie sorriu, voltou a olhar para frente e aumentou o som novamente.

Dan começou a retirar o braço de volta de Angelinne, mas ela segurou sua mão. - Fica aqui.

Ele sorriu e não fez nenhuma provocação para não estragar o avanço. - Ok.

Ela suspirou em alívio quando ele simplesmente manteve o braço ali. Ele deu um beijo em sua testa quando ela entrelaçou os dedos nos dele. Angelinne sentiu aquela mesma coisa estranha em seu coração, mas não tentou lutar contra. Já estava se acostumando à ideia de que a partir daquele momento aquilo seria natural.