Youre My Soul

Incursão


Os primeiros raios de sol mais fortes começavam a entrar pelas fendas do teto da caverna. Estava tão acostumada a acordar com a luz que não coloquei o despertador para tocar. Não gostava de acordar com o barulho que ele faz. Desde quando morava em San Diego.

Coloquei um short jeans que ia até a metade da coxa e uma camiseta amarela.

Olhei o relógio e constatei que estávamos atrasados. Acordei rapidamente Ian e enquanto ele se arrumava, fui encher algumas garrafas de água.

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-Bom dia, Peg. – Fernanda disse, com a voz um tanto quanto petulante.

-Bom dia, Fernanda. – Respondi educadamente, ignorando completamente o tom que ela usou.

Ambas enchemos nossas garrafas em silencio. Ela saiu primeiro, sem dizer nada.

Fui para o quarto novamente e guardei as garrafas na mala. Hoje o dia estava muito quente. Mesmo com a roupa que eu estava, ainda sentia calor.

Arrumei o quarto e Ian foi ver se o caminhão em que iríamos estava pronto ou se ninguém havia tirado da garagem.

Fechei a porta e fui para a cozinha, me encontrar com os outros, como sempre fazíamos quando íamos a alguma incursão.

-Onde está Ian? – Melanie perguntou.

-Preparando o caminhão.

-Ah.

O outro grupo também estava la.

-Tudo pronto. Vamos? – Ian disse, enquanto chegava correndo à cozinha.

-Vamos. – Jared confirmou – Cal já está trazendo o outro caminhão?

-Já. Logo, logo ele chega. – Andy afirmou.

-Então vamos. – Ele disse e desejamos boa viajem aos outros.

Saímos da caverna e caminhamos em direção ao carro. O calor era insuportável. O sol estava alto no céu agora. Acordamos muito tarde e depois acabamos perdendo tempo arrumando as ultimas coisas. Eu e Ian andávamos na frente, e em pouco tempo eu estava exausta. E esse corpo não ajudava nem um pouco. Era frágil demais para andar no deserto em um dos dias mais quentes que tivemos. Desacelerei o passo e Ian me acompanhou, olhando-me preocupado. Deixei que passassem na nossa frente; seria menos constrangedor se eu caísse. Minha respiração estava alta. Seria tão mais fácil se tivéssemos ido viajar a noite...

-Peg, está tudo bem? – Ian perguntou ao ver meu esforço. Reprimi um gemido. Ele havia percebido.

-Está. – Menti com a voz arfante.

Ele me envolveu com o braço e fez com que parte de meu peso passasse a ele.

-Espera. – Ian disse de repente.

Tirou a mochila das costas e pegou uma das garrafas d’água, estendendo-me. Peguei-a relutante em acabar com tudo e coloquei levemente a borda na boca, ingerindo apenas um pouquinho.

Mas não esperava uma reação tão desgovernada. Quando o líquido chegou a minha garganta, meu corpo rapidamente pediu mais, tirando-me do controle. Bebi até a metade, amaldiçoando-me por tê-la pego. E se acontecesse alguma coisa e precisássemos de mais água? Ah, que ótimo!

Entreguei-a com pressa a Ian, antes que a água me chamasse novamente à atenção e acabasse tomando mais.

Ele deu um sorriso torto e guardou de volta na mochila.

Continuamos andando até finalmente chegarmos à pequena caverna onde o caminhão – assim como o jipe e o sedan – ficavam escondidos.

Melanie e Fernanda ficaram no banco do carona e Jared no volante. Eu, Lucas e Ian fomos no furgão. Seria besteira levar o carro. Perda de tempo.

-Pra onde, Peg? – Jared perguntou, já ligando o carro.

-Hum... – Pensei. – Tucson é mais perto. Vamos pra lá primeiro, seguindo depois para Safford. Também podemos passar por Ajo, Tempe, e Glendale, onde conseguiremos bastantes coisas. Quem sabe depois Phoenix, ou então Mesa, que é mais perto, se não estiverem cansados. – Dei a ideia, lembrando-me do mapa que Pet tinha em sua antiga residência.

Senti que eles me olhavam pasmos.

-Uau. – Murmurou Ian.

-Hã... Está bem, então. – Jared disse, recuperando-se de minha “aula”.

O carro percorreu a areia por um bom tempo. A caverna se distanciava muito da estrada, estando no meio do impetuoso deserto.

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Encostei a cabeça no ombro de Ian e comecei a planejar mentalmente como faríamos a incursão.

Não era difícil. Não para mim, de certo modo. Tudo o que tinha que fazer era entrar numa loja qualquer e fingir que era outra pessoa. Ninguém desconfiava. Só me preocupava com os outros. Se algum buscador desconfiasse de alguma coisa... A probabilidade não é grande, pois do jeito que são, não levantariam falsas suspeitas, mas e se quisessem só fazer perguntas? Descobririam que havia humanos. E levar Ian comigo sempre me deixava com um pé atrás. Não que eu não me preocupasse com os outros; daria minha própria vida por cada um deles, mas Ian era... Ian, e sempre tentaria me proteger, o que poderia ser um motivo a mais para os buscadores pegarem-no. Seu jeito desafiador e decidido realmente seria um problema. Mas é impossível irmos separados em uma incursão. Ele nunca concordaria. E eu também não gostaria de ficar longe dele, por mais egoísta que isso possa ser. Mas se acontecesse alguma coisa comigo, ele continuaria vivendo.

-Pensando em alguma coisa? – Ian perguntou, tirando-me de meus devaneios.

-Nada em especial. Apenas pensando na incursão. – Não era exatamente uma mentira. Disse que estava pensando na incursão, a única coisa que mudava era minha preocupação com ela.

-Hum... – Ele disse e apoiou o queixo em minha cabeça.

O resto do caminho foi silencioso, a não ser pela conversa paralela de Melanie e Jared na frente.

Tucson não era longe, mas perderíamos uma boa parte do tempo.

-Chegamos. – Jared disse com um suspiro após estacionar em uma ruela pouco movimentada. Já estava tarde...

Meu coração saltou como de costume. Sempre ficava assim em incursões.

-Tome cuidado. – Ian disse, os olhos intensos.

-Tomarei. – Prometi e saí do caminhão, junto com Lucas.

Havia três lojas nessa rua. Duas de roupas e um supermercado.

Fomos primeiro à de roupas - onde demoraríamos menos – e eu peguei o suficiente para todos da caverna, assim como Lucas fez para com seu grupo. Saímos com cinco sacolas grandes, lotadas de roupas e calçados. Ele levou-as ao caminhão enquanto me dirigia ao supermercado.

Quando nos encontramos, eu já estava com varias coisas no carrinho. Dei para ele, começando a encher um novo, dando preferência aos alimentos perecíveis.

-Preciso pegar algumas coisas naquele outro corredor – Lucas disse apontando para onde iria. – Você ficará bem aqui?

-Claro. Pode ir. Também preciso ver algumas outras coisas. Nos encontramos no caixa número dois, às 7:30hs?

-Combinado.

E cada um partiu para um lado.

O relógio do mercado ficava bem no canto superior da parede esquerda, e podia ser facilmente visualizado.

Comecei pegando o necessário, mas não tinha muita coisa que não estragasse ao longo da viajem, então me dei ao luxo de pegar objetos supérfluos, mas que faziam falta na caverna.

O supermercado era bem grande. Demasiado espaço para um lugar que podia ser pequeno, eu diria.

Quando o relógio apontou 7:30hs, fui para o caixa, onde se encontrava Lucas.

A balconista já ensacava tudo, com um grande sorriso estampado no rosto. Coloquei o que estava no carrinho em cima da esteira e prontifiquei-me a ajudá-la.

-Obrigada. – Agradeci ao pegar metade das sacolas que tínhamos.

-Imagina. Foi um prazer ajudá-los. Volte sempre. – A moça disse ainda sorrindo.

Acenei brevemente e saímos do mercado.

-Pode deixar, Peg. Eu carrego. – Lucas disse, tirando as sacolas de minha mão.

-Não, é muito pesado. Dê aqui algumas delas pelo menos. – Disse ao vê-lo negar.

-Esqueça. Já estamos chegando.

Mesmo com Lucas recusando ajuda, peguei-as de volta mesmo assim, arrancando um suspiro cansado dele.

-Você é teimosa. – Ele disse.

-Posso muito bem carregar essas sacolas. Não tem o menor sentido você querer carregá-las sozinho – Retruquei.

Ele suspirou novamente, vencido.

Certifiquei-me de que ninguém estava olhando quando entrei no furgão.

Arrumei as sacolas em um canto e sentei-me, cansada.

Ian me puxou mais pra perto e encostei minha cabeça em seu peito.

-Tudo bem? – Ele perguntou.

-Sim, tudo bem. – Disse com um sorriso. Ele retribuiu.

Melanie e Jared trocaram de posição, ela ficando no volante.

-Quer que eu dirija, Mel? – Perguntei.

-Não, pode deixar, Peg. Eu assumo aqui.

Concordei.

Mesmo Pet não sabendo dirigir, eu ainda lembrava-me de como era, pois tive de fazê-lo quando Jamie estava doente, no corpo da Mel. Não era difícil... Precisava apenas me concentrar um pouquinho.

Continuamos nesse ritmo acelerado durante o resto do dia. Pelo menos, conseguimos bastante coisa, sendo que não demoramos a chegar à cidade.

À noite, eu estava exausta. Melanie continuou dirigindo, mas Fernanda tomou seu lugar quando estava tarde.

Amanha de manhã Lucas, eu e Ian dirigiríamos. Eu precisava descansar, pois logo que as lojas abrissem, deveria começar minha missão, como os outros diziam.

Bocejei.

Ian pegou uma das sacolas e colocou sob a cabeça, improvisando um travesseiro. Ia fazer o mesmo quando suas mãos me impediram.

-Isso é muito desconfortável. Deita aqui. – Ele disse, me fazendo deitar em seu braço. Aconcheguei-me e Ian beijou o alto de minha cabeça.

Fechei os olhos e desejei que o dia de amanhã tardasse a raiar.

Meus olhos abriram-se assustados com o barulho. Ian puxou minha mão e me tirou rapidamente do caminhão. Eu estava desamparada, perdida, sem saber o que acontecia.

-Vamos, Peg, vamos! – Ian gritou enquanto me puxava cada vez mais rápido.

-O que está acontecendo?! Ian!

-Corre!

Foi então que eu percebi o porquê do medo na voz dele. Os Buscadores. Atrás de nós. Gritei e tentei a todo custo correr mais rápido. Meu corpo protestava, mas tudo o que eu queria naquele momento era sair dali, me salvar. Salvar Ian.

Corríamos pela noite, as sombras de arvores assombrosamente projetadas no chão.

Minha respiração estava alta, assim como a dele. Virei a cabeça para trás, sem parar de correr, e notei que eles se aproximavam cada vez mais. Tentei soltar minha mão da de Ian, mas ele negou, apertando-a mais forte.

Eu não podia deixar isso acontecer. Não podia deixar Ian ser apagado. Meu corpo era frágil demais para agüentar isso, e eu sabia, em sã consciência, de que não agüentaria por muito mais tempo.

-Ian, vai! Não se preocupe comigo. Vá embora! – Gritei enquanto as lagrimas de desespero chegavam a meus olhos.

-Não! Peg, eu não vou te deixar. Nunca. – Ele grunhiu e forçou-nos mais para frente.

De repente, os buscadores entraram em nossa frente, nos fazendo parar abruptamente. Tentei correr para o outro lado, mas eles havia nos cercado. Gemi de medo, a respiração arfante. Ian entrou na minha frente e apertou-me contra ele. O desespero estava estampado em seus olhos safira.

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Um homem carrancudo pegou a arma do suporte e puxou o gatinho. Minha respiração parou. Ian caiu desfalecido ao meu lado, sangrando.

-NÃOO!!!!!