Era muito estranho ficar sozinha com meus pensamentos. Não que eu estivesse acostumada a ficar conversando com quem quer que fosse mas era tão estranho quanto conversar através de pensamentos com alguém, se é que isso era possível.

Pensei ter ouvido cochichos e sibilares. Parecia que minha imaginação estava tão descontrolada quanto minha fome. Tomara.

O lado de fora era um tanto estranho, seguia o mesmo modelo antigo do quarto, mas tinha quadros demais, pensei. O papel de parede dali tinha desbotado quase nada, mas era perceptível; devia ser lindo quando novo, um vermelho caloroso e familiar, familiar demais. Era um corredor que seguia pela minha direita e pela minha esquerda. Ali havia várias portas assim como a da qual acabara de passar; nenhuma descrição, número ou placa que indicasse coisa alguma. Bem, quem colocaria placas na própria casa?

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Nunca me senti confusa daquele modo. Parecia que meu estomago já estava dissolvido pelo próprio ácido que agora começara a atacar outros órgãos.

Então tudo aconteceu muito depressa. Senti uma acidez estranha na língua, matar... Matar todos... Matar muitos... Matar o maior número que puder antes que me matem... Foi o que me deu vontade no instante em que coloquei os pés para fora do quarto.

Meus joelhos tremeram e teria caído se não tivesse me apoiado no batente da porta. Tive que recorrer à minha ultima opção ou ia acabar desmaiando, o que já estava ficando ridículo e constrangedor, logo iriam me levar para um hospital:

- Darlene! – mesmo gritando o mais alto que pude, minha voz soou rouca e cansada. Mas se ela estivesse me vigiando (o que eu acreditava com extrema má vontade) não teria problemas em me ouvir.

No extremo esquerdo do corredor havia uma porta e não uma janela como no outro extremo, mas é claro que eu não tinha notado até Darlene irromper da porta correndo como eu juraria que uma velhinha normal não seria capaz de fazer.

- Não se mecha, eu já estou indo! – ela gritou desesperadamente, pude julgar que até ela estava mais desesperada que eu.

Ela chegou rapidamente, em questão de meio minuto até onde eu estava, e o espaço do corredor que ela percorreu deveria ter no mínimo uns trinta metros.

- Você não está bem, não é? – perguntou Darlene, uma pergunta muito, mas muito estranha na minha opinião, como se já soubesse que aquilo fosse acontecer ou como se estivesse sentindo como eu estava me sentindo (sei que isso soou estranho, mais você intendeu, não intendeu?).

- Eu... E-eu não sei dizer... – então me dei conta que já estava de joelhos no chão, as pontas dos meus dedos formigavam e os pelos de meus braços estavam arrepiados.

- Você precisa de um tônico... – é, talvez isso ajudasse. Eu só queria ficar melhor, a vontade de matar estava quase sobrepujando a fome.

Quem sabe o “tônico” da vovó (só a pouco tempo notei como isso soa estranho) me ajudasse com a raiva também, ou eu seria tirada daqui com uma camisa de força.