Mundo dos Sonhos

Cordeirinho


Está bem, o tempo quase foi mal me pregando uma peça, mas minhas pernas foram rápidas o suficiente para me fazer correr atrás do ônibus que havia acabado de passar pelo ponto. Por uma luz divina, o motorista me viu e parou o ônibus.

Fui ofegante até me sentar ao lado de uma garota ruiva. Ela deveria ter a minha idade, mas a maquiagem excessiva a deixava mais velha.

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- Você está péssima! – murmurou a garota para mim. – Toma, usa isso para se enxugar. – ela mexeu na bolsa por um segundo e me entregou um lenço de papel.

- Obrigada. – murmurei um pouco sem jeito enquanto passava o lenço na minha testa suada. Além disso, eu tinha me espantado um bocado com a fala franca da menina.

- Vem cá, eu te conheço de algum lugar?- ela não tinha papas na língua, simplesmente escolhia as palavras e a entonação e mandava.

- Bem... - fixei meus olhos em todos os traços do seu rosto tentando reconhecer algo. – Acho que não, pelo menos não que eu me lembre. Qual seu nome?

- Natalí.

A voz cortou minha cabeça de forma estranha, mas nada saiu do lugar.

- Desculpe, mas acho que não. – sussurrei por fim.

- Ah, você me lembrava uma menina... Já sei! Você não é a garotinha que foi no ensaio da banda sábado passado? – perguntou, mas não com uma cara de quem gostasse muito da garotinha.

- Não... Nunca fui a nenhum ensaio de banda. – sorri um pouco sem jeito.

- Sério? Nossa, eu toco em uma banda, sabe, na verdade comecei como tecladista semana passada! É de mais, os garotos, não, porque na minha banda eu sou a única garota, então, os meninos são demais, principalmente o guitarrista! Sabe, ele toca muito, além de ser quase perfeito! – os olhinhos dela brilharam de forma possessiva.

Eu sinceramente não estava muito empolgada em continuar a conversa, mas era melhor do que um silêncio sepulcral até Bráscubas.

- Pelo visto você gosta mesmo desse guitarrista. – murmurei.

- Ai... Ele mexeu mesmo comigo. Eu até poderia falar que é recíproco sabe, mas semana passada, fiquei um pouco encanada justamente com a garotinha que confundi com você. Não acreditei muito na dela de ser só ‘a amiguinha’, parecia que ela gostava dele. E eu é que não gostei de nada disso! Já fui rápida e parti para umas indiretas para garantir minha parte. – ela deu uma gargalhada e eu só dei um sorrisinho.

Por mais que eu não conhecesse a ‘garotinha’ meu lado tendeu mais para o dela. Fiquei com pena do pobre cordeirinho sendo ameaçado pelo lobo voraz que sentava ao meu lado.

- Não, mas você não sabe da melhor! Ai, desculpa eu falar tanto, mas é que estou empolgada. Então, hoje, estou acabando de voltar do ensaio e você não vai acreditar! A ‘garotinha’ não foi. É isso mesmo, achei estranho a ausência da pentelha então perguntei para o Deni, o cara que eu gosto, o motivo dela ter faltado. Daí ele me falou o que eu queria muito ouvir. Ele disse que talvez ela não voltasse mais! Não é ótimo? Está bem que ele estava tristonho durante o ensaio, mas e daí? Eu vou alegrá-lo rapidinho! – e o sorriso de caçadora tornou novamente ao seu rosto.

Eu só estava com uma dúvida, mas nem sabia o motivo de estar com ela.

- Deni... Isso é apelido, não é? Qual o nome dele? – estranhei profundamente essa minha curiosidade, mas fato bobo a gente ignora e só curte a resposta.

- É apelido sim, mas você sabe que eu não sei o nome dele de verdade! – ela riu. – Sei lá, deve ser Danilo, Daniel, alguma coisa do tipo. Acho que é Danilo!

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- Pode ser... – murmurei e esperei alguns minutos em silêncio, meu ponto estava próximo.

- Já vai descer? – perguntou ela enquanto eu me levantava.

- Já... uhn, tchau? – disse ainda custando a me acostumar com sua espontaneidade.

- Tchau! Muito obrigada pela conversa!

Eu só sorri um pouco receosa. Mal ou bem, eu era mais o estereotipo do cordeirinho do que do lobo.