Talking To The Moon

I'm talking to the moon


– Sugiro que vocês leiam primeiro antes de assinar. – disse o doutor nos entregando algumas folhas assim que chegamos a sua sala. – Preciso ir agora. Quando terminaram é só me procurar.

– Tudo bem. – sorri para o doutor que já estava saindo da sala. – Kenny, você lê enquanto eu vou lá ao quarto da Nicole, ok?

– O quê? Você vai me deixar aqui sozinho? – perguntou com uma cara de “Oh, por favor, não me deixe sozinho!”. Gargalhei.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

– Calma, não vou demorar muito. – falei após recuperar o fôlego. – Eu vou lá, olho como ela está e volto rápido. Mas por enquanto você vai agilizando os papeis, ok?

– Ok!


Saí da sala do doutor e me dirigi até ao quarto da Nicole. A caminhada foi curta, só se passava mais algumas salas e quartos. Entrei silenciosamente e me aproximei de sua cama. Ela ainda continuava da mesma forma. O que era angustiante, a minha maior vontade naquele momento era que ela acordasse. Eu realmente esperava que ela pudesse acordar um dia... mas talvez esse dia poderia nunca chegar. Não queria ter que passar a vida inteira dentro daquele hospital esperando que ela acordasse. Eu sabia que não dependia dela. Quer dizer, dependia sim, dependia de como o corpo dela iria reagir aos estímulos.


Após ter se passado alguns minutos, decidi voltar a sala onde o Kenny me esperava. Ler aqueles papeis era uma chatice, mas era preciso. Vai saber o que eles escreveram naquilo, não é mesmo? Imagine se fosse algo como: “Quando você assinar isso, sua alma passará a ser exclusivamente nossa.” ou “Você será amaldiçoado pelos pôneis.”. Nunca se sabe.

...


– Você acha mesmo que vale a pena lutar por essa garota? – Kenny perguntou com receio. Acho que ele não concordava muito com tudo aquilo que eu estava disposto a enfrentar dali pra frente. Encarando por esse lado, ele estava certo. – Você nem a conhece direito, não sabe do que ela gosta ou pensa. Isso seria loucura, cara.

– Tudo vale apena se estamos falando de amor, Kenny. – falei erguendo a cabeça para olhá-lo. – Ninguém sabe ao menos o que eu sinto, porque nem eu mesmo entendo às vezes, mas é algo que me faz cometer qualquer ato sem pensar. Acho quer é... amor, cara. Só pode ser amor.

– Mas e se quando ela acordar não gostar de você?

– Bom – hesitei um pouco. Não tinha pensado nesse lado. –, ela não poder ter muitas escolhas, eu vou ser o responsável por ela... Prefiro pensar nisso mais pra frente, sabe.


[...]

Cause every night
I'm talking to the Moon
Still try to get to you
In hopes you're on the other side
Talking to me too
Or am I a fool who sits alone
Talking to the moon?

Andei até a janela do meu quarto, abrindo-a. O vento começou a bater forte em meu rosto, fazendo com que alguns fios do meu cabelo voassem. Dava pra ver uma parte boa da cidade dali. Fiquei observando a lua. E por um momento cheguei a ver a imagem da Nicole ali. Acho que andei delirando ultimamente, porque não foi a primeira vez que isso aconteceu.


– E então... – comecei a falar. Não comigo mesmo, e sim com a lua. Muitos achariam isso estranho, bizarro, totalmente fora do normal. Mas isso era o que me mantinha calmo. Era algo que me transmitia paz. – Você acha que tomei a decisão certa? – Como se eu realmente fosse receber a resposta! Sorri comigo mesmo. – Meu coração diz que sim. O que eu sinto por ela é algo indescritível. Como eu poderia imaginar que algum dia iria me apaixonar por alguém que está em coma? – o silêncio se instalou no quarto por alguns breves minutos. – É dolorido, sabe. Eu quero poder ficar com ela, quero poder beijá-la, protegê-la, senti-la... Mas tudo é mais difícil do que eu desejo que fosse.


I know you're somewhere out there

Somewhere far away


[…]


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Eu estava deitado na minha cama, com as pernas cruzadas, uma em cima da outra. Tudo a minha volta estava num silencio estranhamente bom. Suponho que já se passavam das três horas da manhã. E o sono – infelizmente – parecia que não queria chegar.

Meu pensamento voou longe, imaginando como seria se a Nicole estivesse ao meu lado naquele momento. Às vezes chegava a ser ridículo alguns de meus pensamentos. Eu, absolutamente, sonhava demais. Cheguei até a imaginar uma família. Um menino e uma menina. Nossos filhos. Como se ela, realmente, fosse se interessar por mim.


Tomei um susto quando escutei o som do meu celular. Me perguntei quem estaria me ligando a aquela hora. Scooter, claro.


– Alô?! – minha voz saiu quase inaudível.

– Derek!? Como você pôde fazer uma coisa dessas sem ao menos falar comigo?

– Do que você está falando Scoo?

– Não se faça de desentendido. Você não podia se tornar responsável de alguém que não conhece.

– Scoo...

– Eu confiei em você. Nunca pensei que você faria alguma coisa assim.

– Me deixa falar.

– Não, eu não quero ouvir nada. Eu vou pegar um voo hoje cedo pra ir para aí. Nós temos que resolver essa situação o mais rápido possível. Agora eu vou desligar. Tchau!


Ele desligou sem ao menos esperar uma resposta da minha parte. Me levantei da cama enfurecido, já imaginando quem havia sido a boca grande que tinha contado tudo ao Scooter.