A Marca

Amar é para perdedores (James)


Voltamos para o hotel conversando, eu e Marie. Voltávamos para lá apenas por imaginar que Rebeca estaria lá, e porque Marie queria falar com ela. Afinal, se dependesse de mim, teríamos ficado na casa da Marie, curtindo um ao outro novamente, se é que você me entende. Eu sei, eu sei, esse não era o trato. Mas a loira era boa demais pra ser desperdiçada... Até porque, eu ainda achava que iria acabar como meu pai e minha irmã, então eu precisava aproveitar meus últimos dias. Aliás, essa era a única razão porque eu não estava ajudando muito a Rebeca... Ela acreditava que a gente tinha salvação, eu sabia que não.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

–James, me diga uma coisa: Você e a Rebeca... há quanto tempo estão juntos?

–Hã? - ri - Do que você está falando, Marie? Você sabe que "eu e Rebeca" não existe. - ri mais alto - Vocêespecialmente sabe disso...

Ela riu, sem jeito.

–Ah, claro! É só que... ela fugiu justamente quando você me abraçou...

–E daí?

A loira me encarou como se eu fosse retardado ou algo do tipo. Não entendi bem o porquê.

–Que foi? - perguntei.

Ela balançou a cabeça como se estivesse desapontada com algo.

–Você é tão ingênuo, garoto... Olha, chegamos.

Entramos no hotel e fomos até a cabine da Rebeca. Bati na porta, ela atendeu, seus olhos estavam inchados, como se tivesse acabado de chorar.

–O que aconteceu, Beca? - perguntei preocupado.

Ela me encarou com raiva.

–Eu acabei de ouvir pessoas serem assassinadas, James! Como você pode me fazer uma pergunta tão imbecil?

É, fazia sentido. Eu havia sido realmente muito idiota por perguntar isso. Apenas desviei o olhar.

–Podemos entrar? - perguntou Marie.

Ela demorou um pouco pra responder. Parecia estar controlando o choro. Em seguida sorriu, sem força, sem vontade, mas sorriu.

–Claro.

Entramos, abracei-a para reconfortá-la, mas ela se soltou de mim imediatamenteindo até Marie, que tinha nas mãos a tradução.

–Então, o que você conseguiu traduzir? - perguntou Rebeca.

–Tudo.

–Alguma coisa chamou sua atenção? - perguntou.

–Não, nada. São só algumas anotações aleatórias... Nada de importante. Aquele cara que te entregou esse caderno devia estar mentindo. Talvez ele não queira que a gente se intrometa nisso. É, talvez a gente devesse seguir esse conselho. Pense bem, Rebeca, nada está dando certo para nós, deve ser algum sinal de Deus nos dizendo para desistir.

–Deus não nos diria para desistir, e sim para seguir em frente. Cadê a tradução? - disse a morena.

–Ai, Rebeca, esquece a tradução! Essa marca não deve ser nada demais!

–Nada demais? Depois daquela história que eu te contei você vem me dizer que não é nada demais? - perguntei indignado.

–É, Marie, não é nada demais, por isso o Pablo foi assassinado! Por isso Jorge e Fátima foram assassinados! Por isso eu fui ameaçada de morte! Por que não é nada demais! - gritou Rebeca.

A loira abaixou o olhar.

–Desculpa, James, eu esqueci do que aconteceu com seu pai e sua irmã... - ela levantou o olhar.

–Não, tudo bem...

A francesa sorriu.

–A tradução. - pediu Rebeca, rispidamente. Eu não entendia porque ela estava sendo tão grossa com a Marie, talvez fosse inveja ou talvez fosse apenas por conta do acontecido de manhã.

–Aqui. - Marie tirou um caderno de sua bolsa - Você quer que eu leia?

–Por favor.

Ok... Mas isso pode ser um tanto traumatizante, Becks.

–Meu nome é Rebeca. - disse ela rispidamente.

–Certo, desculpe. - a loira limpou a garganta antes de começar - Vou começar pelo começo.

–Que ideia interessante, Marie, eu nunca havia cogitado começar algo pelo começo. - disse Rebeca sarcasticamente.

Deville sorriu sem graça.

–"Aparentemente eu era apenas mais um procurando o lugar ideal para assistir a apresentação. Aparentemente. Enganaram-se aqueles que acreditaram que eu fosse só mais um humano e tolos eram os que achavam-me incapaz de fazer algo. Admito ter sentido pena dos que nem ao menos notaram minha presença e, de certa forma, agradeci por crianças não serem permitidas ali, afinal, seria realmente trágico matar seres tão inocentes quanto crianças."

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

"Sentei-me na primeira fileira, logo em frente ao palco. Olhei em volta, Katherine estava num patamar mais elevado, na área reservada para os mais ricos, onde tinha-se mais privacidade e uma ótima visão da peça. Victor também se encontrava em um local mais elevado, não na área restrita, como Katherine, mas numa espécie de segundo andar. Ele sorriu para mim, como se pedisse minha permissão para prosseguir. "Permissão negada" - informei-lhe telepaticamente - "Sabes que isso depende de Charles e Annabeth, não de mim." - ele revirou os olhos. Continuei minha busca pelos outros. Julliet encontrava-se algumas fileiras atrás de mim. Ela apenas acenou. Retribuí o aceno com o olhar. Enzo estava em pé, na porta, disfarçado como guarda. Em sua mão ele segurava a lanterna que seria usada para dar o sinal. Eu sabia que Charles estava escondido em algum lugar, preparando-se para atacar, como um predador. Então as luzes se apagaram, permanecendo acesas apenas as do palco. Virei-me para assistir ao menos o começo do musical. Uma doce voz começou a cantar "I Want to Hold Your Hand", dos Beatles. E então a dona da voz apareceu no palco. Uma bela ruiva de olhos avermelhados, com uma estrela de seis pontas na palma de sua mão. Annabeth. Sorri ao vê-la no palco, não esperava por aquilo. Então a luz da lanterna do guarda iluminou o local, informando que a hora havia chegado. Os olhos vermelhos da ruiva no palco ficaram negros, destacando, em sua íris, a mesma marca que podia ser vista na palma de sua mão. Então um homem com a mesma marca no antebraço caiu em pé ao seu lado, com os olhos da mesma maneira."

"Era hora do massacre. E não havia nada que as fracas criaturas, vulgo "humanos", poderiam fazer para salvar-se."

Marie parou de ler, encarando-nos para ver qual seria nossa reação.

–E você disse que nada chamou sua atenção? - perguntei com a voz um tanto esganiçada. Pelo olhar de Rebeca, vi que era a mesma coisa que ela iria perguntar. A loira deu de ombros.

–Eu não queria que vocês soubessem que meu pai era um assassino.

Rebeca tirou seu caderno da gaveta e anotou algumas coisas, fechando-o em seguida, mas sem guardá-lo dessa vez.

–O que você anotou aí? - perguntei.

–Nada demais. - ela disse.

–Deixa eu ver! - pedi.

–Não!

Tentei pegar o caderno da sua mão, mas ela me deu um tapa na cara.

–James, para de tentar roubar meu caderno ou eu posso acabar com sua vida sem deixar provas.

–Como assim?

–Ácido. - ela disse sorrindo com um olhar maníaco.

Pela primeira vez considerei que Rebeca realmente fosse uma psicopata.

–Se você precisar de ajuda, eu sei onde arranjar ácido. - disse Marie, sorrindo da mesma maneira psicótica.

E talvez Marie também fosse. Me afastei um pouco delas, parando na porta do quarto e dando uma risada nervosa.

–Mas eu desisti de pegar o caderno então não tem razão para me fazer queimar até sumir. - sorri de nervoso.

Elas continuaram me encarando de forma ameaçadora até que a loira disse:

–Vamos almoçar? Eu tô faminta! - obviamente, com isso ela quebrou o clima de tensão.

–Hm... Podem ir, eu não tô com fome...

–Ok. - Marie saiu e eu a acampanhei. Esperávamos pelo elevador quando olhei para a porta do quarto de Rebeca, sentindo que eu deveria voltar.

–Marie, você se importa de almoçar sozinha? Eu...

–Não, não me importo. - ela sorriu e entrou no elevador. Voltei para o quarto da morena.

Entrei sem bater, ela se assustou e logo voltou-se para o notebook recém ligado.

–Já pesquisando? - perguntei.

–É, você não ia almoçar?

–Mudei de ideia... Precisa de ajuda?

–Você não vai me ajudar se eu disser sim, então...

–Certo... - seitei-me ao seu lado na cama - Então...

–A estrela de seis pontas é um símbolo muito conhecido, usado como talismã, amuleto atrativo de energias positivas recomendado contra qualquer tipo de adversidade, natural ou "sobrenatural". - ela disse - Ah, olha só, não é exclusividade da cultura judaica! Isso é um progresso...

–Ótimo. - sorri.

–Droga!

–Que foi?

–Fechei a página acidentalmente...

–Grande gênia, hein?

–Cala a boca e vem pesquisar no meu lugar. Eu já não sei mais o que escrever nessa maldita barra de perquisa!

–Tenta, sei lá, "a marca em forma de estrela de seis pontas"

–"A marca em forma de hexagrama" - falou enquanto digitava.

–Ou isso.

–Agora clica em todas as opções que aparecerem, vou no banheiro.

–Até em "A marca do amor"?

–Clica, a gente não tem nada a perder, mesmo.

–Ok...

Levantei para ir ao banheiro...

–Ervilha é amor.

... Dei meia volta e sentei-me novamente.

–Como assim? - perguntei.

–Eu achei a definição científica do amor. Olha, quimicamente, envolve afluência de elementos do cérebro chamados de manomina, dopamina, noradrenalina e serotonina, substâncias químicas do amor controladas pela feniletilamina que também são encontradas no chocolate e na ervilha.

–Sério? O que mais tem aí?

–Que quando você tá apaixonado você sente seus batimentos cardíacos acelerados, tremor nas mãos, rubor na face, euforia desenfreada...

Rebeca virou para me encarar. Pela primeira vez reparei que seus olhos eram verdes. Senti minhas mãos suarem e tremerem levemente e meu rosto enrusbecer, meu coração começou a bater mais rápido, tornando minha respiração irregular. Coloquei minha mão em seu rosto e aproximei-me.

Então a porta do quarto foi aberta ruidosamente.

–O cara do restaurante do hotel não tá me deixando almoçar lá porque eu não estou hospedada aqui... Uh, interrompi alguma coisa? - perguntou Marie, entrando no quarto.

–Não. - disse Rebeca, fechando o notebook e o colocando em cima da mesinha de cabeceira - Você só precisa que alguém hospedado vá contigo, James pode fazer isso, certo? - perguntou.

–Mas por que eu?

–Porque eu não estou com fome, lembra?

–Ah, qual é, Becks! Vem almoçar com a gente! - pediu Marie.

Rebeca olhou para mim por alguns segundos e então desviou o olhar para a loira, que esperava na porta do quarto.

–Tudo bem. - ela disse - Mas não me chama de Becks.

–Ok, desculpa. - a loira sorriu.

Fomos para o restaurante. Durante o almoço a tensão entre mim e Rebeca era vísivel, ou pelo menos eu achava que era. Entretanto, Marie parecia ser a única que não notava.

–O que a gente vai fazer depois do almoço? Ah, já sei! Vamos tomar sunday de chocolate!

"...substâncias químicas do amor controladas pela feniletilamina que também são encontradas no chocolate..."

–Não acho uma boa ideia. - eu disse.

–Certo... - ela comeu o último pedaço de seu bife - Acho que vou comer mais ervilhas.

"... e nas ervilhas."

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

–Acho que você já comeu bastante ervilha, Marie Isabelle! Lembre-se que nós estamos pagando, e ninguém aqui tem dinheir de sobra!

–Na verdade, eu tenho. - falei. Julgando pela expressão da Rebeca quando ela me encarou, acho que eu devia ter ficado calado.

–A questão é: Chega de comida por nossa conta. - presseguiu - Agora se me dão licença, vou tentar resolver outra coisa que a amostra grátis de luxúria aqui não soube resolver para tentar ter algum progresso. - então ela se levantou, saindo do restaurante pela porta que dava na rua. Fui atrás dela.

–Rebeca, espera! - segurei seu pulso, ela se virou para mim e se livrou de minhas mãos bruscamente.

–O que você quer? - perguntou irritada, cruzando os braços.

–Olha, sobre o que aconteceu antes da Marie entrar no quarto...

–Não aconteceu nada.

–Ok, sobre o que quase aconteceu, eu quero que saiba que eu não sei porque eu fiz aquilo, porque sério, eu não sinto nada, nada, além de um carinho amigável por você. - eu disse, sorrindo em seguida.

Ela descruzou os braços e me olhou pasmada.

–Nossa, você é tão idiota, James! - gritou, virando-se e correndo para fazer o que quer que fosse que eu não havia feito direito e seria importante para o nosso progresso.

Não entendi a razão do estresse. O que ela esperava? Que eu estivesse apaixonado? Ri internamente. Eu nunca me apaixonava. Havia sido assim durante todos os meus 19 anos de vida e eu esperava que continuasse assim por bastante tempo. Eu era do tipo que curtia a liberdade, e o amor nos torna prisioneiros. Por isso eu fazia questão de evitá-lo a todo custo. Prisão é para perdedores.

Marie veio até mim.

–O que houve? Onde ela vai?

–Não sei...

–Que tal se voltássemos para o quarto? - perguntou.

–É, boa ideia, eu tenho que pesquisar alguma coisa pra ajudar... Me deixa ver o resto da tradução. - pedi.

Ela riu.

–James, Jamie, Jim... - falou de maneira ritmada, virando-me para ela - Não acho que você tenha entendido o que eu quis dizer... - finalmente percebi seu tom sugestivo.

–Ah...

–É... - ela sorriu e tentou me beijar.

–Não, eu tenho que pesquisar, a Cortez pracisa da minha ajuda. - eu disse, desviando de seus lábios.

–E desde quando você se importa com isso?

–Boa pergunta.

–Qual é, James, você mesmo já sabe o que vai acontecer! Você vai morrer! Nós vamos morrer! E aquele lance de aproveitar o resto da vida, hein?

Pensei um pouco sobre isso.

–Sobrevivemos até agora. Olha, talvez eu estivesse errado, talvez nós tenhamos chances...

–Não vale a pena, James. Vem cá... - ela me beijou - Vamos curtir um pouco...

–O trato era claro: Só uma noite. - dizendo isso, entrei no hotel, voltando para meu quarto.

No meu quarto, deitei na cama e fitei o teto fixamente, tentando descobrir quando a minha vontade de romper o trato feito com a Marie foi substituída por sensatez.