Only You

Capítulo - Casamento


Era manhã de sábado, e tudo estava como de costume na fazenda. Luiza continuava parada próxima à porta de entrada, aguardando Javier, para que pudesse ir até o cartório registrar um casamento de fachada. Havia ligado para o advogado Steven, para que estivesse presente perante o juiz do cartório e solicitou que arrumasse duas testemunhas para essa loucura.

Devo estar maluca. — pensou cabisbaixa.

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Em toda sua vida, sempre lutou para conseguir o afeto de seu pai e, agora, sabia que, mesmo sendo do sangue dos Cortez, Ernesto nunca a reconheceria como filha, apenas fez o papel de dar-lhe o sobrenome.

Toda essa luta foi em vão, ele nunca me amou como pensei. — pensou, com os olhos rasos de água.

Para se livrar de uma maldita herança, estava a minutos de se casar com um peão. Balançou a cabeça, pensativa; podia sentir seu coração apertar e caminhou à caminhonete, limpando os olhos. Não tinha o direito de magoar os outros por causa de uma vingança.

Javier caminhou ao enorme veículo e entrou sem dizer nenhuma palavra. O trajeto foi um dos piores de sua vida, nunca ninguém havia forçado ele a nada, mas havia dado sua palavra que aceitaria se casar com ela para se livrar das terras.

Para sorte de Luiza, o vilarejo estava vazio. Ela não queria que ninguém soubesse dessa besteira que, talvez um dia, fosse se arrepender amargamente. O peão foi o primeiro a descer do veículo e caminhou em silêncio.

— Senhorita Luiza. — saudou o advogado.

Sem encará-lo, Luiza apertou a mão dele.

— Arrumou as testemunhas? — questionou-o friamente.

Steven mostrou um sorriso sem graça.

— S-Sim.

Por fim, ela o encarou.

— São de confiança? Não quero que ninguém dessa maldita cidade fique sabendo de nada, entendeu? — vociferou.

— Claro, são sim, fique descansada. — disse.

Ela caminhou sem dizer mais nada. Estava disposta a cometer essa burrice para amenizar sua dor e, quando entrou na sala, pôde notar um senhor com cabelos grisalhos e olhos claros atrás de uma mesa. Ao se virar, avistou duas testemunhas — pessoas simples — e Javier próximo a mesa, segurando um papel entre as mãos.

— Acho que podemos começar a cerimônia, não é? — disse à jovem, que apenas balançou a cabeça, positiva. — Meus queridos, sabem que o casamento é algo precioso e eterno quando duas pessoas se unem por vontade própria.

— Por favor, pule para as assinaturas. — pediu Luiza.

O juiz a encarou, confuso com o pedido. Sempre aplicava seu sermão aos novos casais, porém, ele balançou a cabeça, aceitando a sugestão. Ela desviou seus olhos para um canto da sala e algo dentro dela tentava impedi-la de cometer uma besteira como essa.

— Cada um assine onde está o ‘xis’. — disse.

Javier foi o primeiro a assinar, seguido pelas testemunhas. Luiza pegou a caneta, respirou fundo e assinou — sua mão tremia.

— Espero que tenha sido algo verdadeiro, minha jovem. — disse, encarando-a.

Luiza mostrou um sorriso irônico e andou a saída. Seu estômago se retorcia e sentia-se a pessoa mais imbecil da face da Terra. Amava Javier, mas seu orgulho besta negava.

— Feito sua vontade, espero não ter que suportá-la. — vociferou Javier, feito um animal ferido.

Luiza o encarou.

— Não terá, daqui a um mês irei embora, pedirei o divórcio em Nova York mesmo, só para não ter o gostinho de ver sua cara, seu bicho do mato. — rebateu furiosa.

O advogado Steven segurou de leve no braço da jovem, afastando-a de perto de Javier, que caminhou em direção oposta.

— Tenha calma, senhorita, lembre-se que o casamento, para ser válido, terá que ter pelo menos seis meses. — disse.

Luiza se desprendeu da mão do advogado e caminhou à caminhonete, relutante contra as lágrimas, que tentavam dominá-la. Nunca, em toda sua vida, tinha tomado decisões tão rápidas, sem ao menos pensar nas consequências.

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Acabou de se casar com um estranho ainda que tivessem convivido por poucos meses, além do mais, era jovem e imatura, feito os garrotes novos que davam com a cabeça contra a cerca.

Deus, que loucura fiz? — pensou dominada pelas lágrimas.

De certa forma, amava-o.

Ao chegar à fazenda, encostou sua cabeça contra o volante e fixou seus olhos contra o chão do veículo. Agora estava presa a Javier durante seis meses.

— Não se pode mandar no amor, minha querida, seu pai nunca entendeu isso. Eu o amava, mas ele me sufocava com suas ideias machistas. Dizem que o amor não acaba, mas aprendi que é mentira. — disse, sentada na cadeira de balançou, com os olhos fixos na rua molhada, enquanto fumava seu cigarro. — Ele matou meu amor, por isso que não pode amá-la, querida Luiza.

Luiza retorcia sua boneca de pano, com o rosto encharcado pelas lágrimas.

— Não tenha raiva de seu papai, ele apenas não sabe amá-la. Algum dia, você terá sua recompensa. — disse, forçando um sorriso.

Aquela maldita cena sempre lhe vinha em momentos errados; sua mãe era uma alcoólatra e seu pai a rejeitava. Nunca aprendeu qual era o verdadeiro significado da palavra “amor”.

— Eu amava-o, mas ele era seco por dentro. Maldito dia que o conheci. — murmurou.

Temia acabarem seus dias como os de sua mãe; solitária, apenas com a companhia de uma enorme garrafa de uísque e um maço de cigarros, em um apartamento de frente para uma avenida vazia.

Desceu do veículo e caminhou ao casarão. Algumas recordações de sua infância lhe vinham à mente; havia aprendido o que era ser solitária, de onde sempre acha as forças para lutar e seguir em frente.

— Não seja uma menina mal educada. — vociferou Ernesto, sentado na cadeira da sala.

As duras palavras de seu pai sempre a faziam recordar que aquele local nunca fora sua casa. Era como se fosse uma completa estranha naquele casarão, mesmo tentando cativar à atenção do velho Cortez.

— Irei mostrar que não me faz falta. — disse, encarando a fachada do casarão.

Suas atitudes se mostravam precipitadas e complemente malucas.