Minha Viagem Infernal

Alices em todo lugar!


POV Alice

Eu sabia que estava no lugar certo quando ouvi a música tocar. Aquela mesma música, do mesmo cantor de sempre. Eu odiava aquilo de todo o coração. Passara anos ouvindo aquilo. Kid Rock cantava uma música em estilo country que os idiotas da família do Will tanto adoravam, e eu cerrava os punhos.

Não queria pisar ali, e não queria ter que olhar a cara deles, mas... Eu queria ver o meu pai. Bem, não o meu pai de verdade. Mas o cara que sempre esteve do meu lado apesar de todos os milhares de problemas que eu arranjava.

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Tudo bem, ele não entendia nada que acontecia comigo, e por isso acabava agindo de modo severo demais ás vezes, mas ele sempre tentou me ajudar. E ainda por cima, sabia muito bem que eu não era filha dele.

Tudo que consegui fazer, mesmo com todo o meu ódio daquele lugar, foi andar até a porta da frente da enorme casa de madeira, que seria tão confortável se lá não ficasse um bando de gente irritante, e parar completamente.

Estendi a mão pronta para bater á porta, mas me detive.

Lembrei do que tinha dito para ele. Lembrei de como tinha jogado na cara dele que ele não era o meu pai, e também que nada me dava mais nojo do que olhar a família dele reunida na mesa me encarando como se eu não pertencesse ao lugar.

Nada daquilo era mentira, mas porque eu me sentia tão mal?

Sem forças para bater, e sentindo meus olhos úmidos, sentei-me no primeiro degrau na frente da porta, e encostei a parte de trás da minha cabeça nela. Desejava que ninguém resolvesse passar pela maldita entrada da casa justo no momento em que eu estava sentada ali, mas algo me dizia que não teria essa sorte.

Apressei-me em enxugar os olhos. Ok... Não ia ser um trabalho difícil. Eu só teria que respirar fundo e me controlar. Depois eu levantaria e falaria com o Will. Pronto. Resolvido. Nada demais.

Mas toda vez que eu pensava em levantar, minhas pernas tremiam, e meus olhos ficavam molhados novamente.

- Droga... – Murmurei limpando-os de novo – Droga, droga, droga!

Foi nesse momento que ouvi os passos. Alguém estava andando do lado de dentro da casa e indo em direção da porta, só que só me toquei disso quando a pessoa tocou na maçaneta e abriu a porta.

Se fosse o imbecil do Joe, eu meteria um soco de primeira no nariz dele, mas ao invés disso uma voz familiar chamou meu nome.

- Alice? – Perguntou Will com um tom de preocupação por me ver sentada limpando os olhos – Alice, você está bem? O que houve?

Eu me levantei e fiquei alguns segundos completamente muda, mas depois eu deixei escapar.

- Pai! – Exclamei e me joguei em cima dele. Abracei o seu pescoço com tanta força que podia jurar que nunca mostrara para ele antes. Will ficou um tanto em choque, mas acabou me abraçando também – Sinto muito. Sinto muito! Me desculpa!

- Alice... Calma. – Disse ele afagando o meu cabelo. Afundei meu rosto em seu ombro e senti meus olhos inundarem de água. Will parecia um pouco tenso, pois eu nunca, na minha vida inteira, tinha pedido desculpas de um jeito tão sincero – Alice, o que aconteceu com você?

- Me desculpa! Por favor! – Pedi novamente, já que eu não conseguia dizer mais nada – Eu não devia ter dito tudo aquilo. Você é o meu pai. Ou pelo menos um deles. Me desculpa! Eu fico no Alabama se você quiser. Eu sinto muito mesmo!

Aquilo deixou ele completamente mudo. Podia sentir que a boca do Will estava aberta, mas ele não conseguia pensar em uma palavra boa o suficiente para dizer. Com certa dificuldade, Will me separou dele, fechou a porta atrás de nós, e sentou-se no mesmo lugar onde eu estava antes.

Nós dois ficamos no degrau da escada, e ele olhou para mim.

- Alice... Chega. Se acalme. – Disse ele limpando meus olhos. Eu respirei fundo e assenti, parando finalmente de chorar – Você veio para cá só para me dizer isso?

- Vim. – Respondi simplesmente – Eu... Sinto muito. Por tudo.

- Está tudo bem. Calma. – Disse ele alisando meu cabelo, e aquilo me fez relaxar instantaneamente – Acho melhor nós conversarmos... Você está bem?

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- Eu... – Olhei para ele confusa. Para ser sincera, eu não sabia. Eu não tinha idéia se eu estava bem ou não – Eu não sei. Mas... Acho que não.

- Por quê? – Perguntou ele calmamente – O que houve, filha?

- É que... Eu... – Como eu contaria o que aconteceu em Paris? Bem... Achei melhor não entrar em detalhes muito grandes, mas ao mesmo tempo não fugir da realidade – Eu tentei ao máximo não magoar ninguém, mas acho que sou uma grande insensível que merece morrer sozinha.

Will franziu o cenho sem entender muito bem o que eu tinha dito, mas resolveu assentir calmamente.

- Alice, você está falando de mim, ou de algum garoto? – Perguntou ele um pouco confuso. Ah, Will, de você e dos meus dois namorados.

- Muita gente, pai. – Respondi – Alguns garotos também. Acho que baguncei a vida de muita gente, e isso não foi certo.

- Você tem muito tempo, sabe? Para resolver as coisas. – Comentou ele, mas eu neguei a cabeça sentindo meus olhos ficarem molhados novamente. Will segurou meu rosto delicadamente e limpou meus olhos – Alice, me desculpe também. Eu não devia ter dito aquilo.

- Aquilo o que? – Perguntei.

- Que eu estava desapontado com você. – Disse ele. Will me abraçou – Alice, você é o meu orgulho. Não importa o quanto as pessoas achem você ruim, você será sempre perfeita para mim, ouviu?

- Mas... – Eu franzi o cenho – E quanto aos seus parentes? Perto deles eu só te causo vergonha.

- Eles estão incluídos na história. – Disse Will – Você é perfeita para mim e para a sua mãe, e isso já basta. Não ligamos para o que os outros pensam.

- Mas... – Ele me interrompeu.

- Alice, você não me envergonha. Tire essa idéia da cabeça. – Disse ele beijando a minha testa – Agora... Acho melhor você respirar fundo e limpar o rosto. Aproveita enquanto os outros estão longe daqui.

- Obrigada. – Disse me levantando.

- Alice... – Will disse calmamente enquanto se levantava – Você... Não vai fazer nenhuma besteira depois que for embora daqui, não é?

Eu sorri de leve.

- Eu... Sei o que vou fazer. – Disse para ele – Só vamos torcer para não ser uma besteira.

Com isso eu entrei e fui lavar o rosto, deixando o Will um pouco tenso.

POV Apolo

- Você tem idéia de quanto tempo passou? – Perguntei calmamente enquanto me sentava ao lado de Ares no sofá.

- Tempo de que? – Perguntou ele fingindo-se de inocente.

- Tempo desde que a Alice... Foi embora. – Falei, e ele desviou o olhar.

- Não, não sei. E também não me interessa. – Resmungou ele amargamente.

- Faz mais de duas semanas. Eu não veja a minha musa há duas semanas. – Disse fingindo que isso não me incomodava – Ah... Não que eu ligue. Imagina. Eu até... Saí com outra garota, sabe? Como você disse.

- E se deu bem? – Perguntou Ares pronto para mudar o assunto “Alice” – Conseguiu ir até o fim com ela?

- Ah... Acho que eu fui até o... Começo. – Respondi fingindo que aquilo era bom. Ares olhou para mim com o cenho franzido sem entender.

- Como assim até o começo?

- Ela e eu... Ahm... Demos uma volta de carro. – Respondi com um sorriso leve – Nós íamos para um restaurante e tudo.

- Iam? – Repetiu ele.

- É. Acho que eu notei que a química não ia dar certo, sabe? – Comentei tentando achar uma explicação que não envolvesse a palavra “Alice” na frase – É que... Ela era um pouco diferente do que eu esperava.

- Como assim? Ela tinha uma voz horrível, ou coisa parecida? – Perguntou ainda sem entender. Eu neguei e ele revirou os olhos – Apolo, como você achou essa garota para começo de história?

- Foi um encontro bem interessante. Eu estava andando de carro, tentando me distrair... Aí eu a vi. – Contei.

- E como ela era muito bonita você resolveu levar ela para passear? – Chutou ele.

- Não. Eu levei ela para passear, porque ela estava usando um suéter. – Respondi um pouco sem graça, e Ares deu um tapa na própria testa.

- Aí você achou “Puxa, todas as garotas que usam suéteres são Alices disfarçadas” e resolveu checar a sua teoria, não é? – Zombou ele revirando os olhos.

- Não foi nada disso. Nem lembrava que a Alice usava suéteres. Tsc. Imagina. – Menti rindo um pouco. Eu queria mudar de assunto, por isso peguei o controle da TV e dei para Ares – Toma. Escolha um canal diferente. Um musical, talvez.

Ares pegou de mau gosto e trocou o canal. Quando parou na VH1, estava passando um clipe da Avril Lavigne. Eu comecei e me mexer inquieto, e Ares olhou para mim como se eu fosse maluco.

Não... Se controla, Apolo...

- O que deu em você? – Perguntou ele estranhando – Parece até que tem algum bicho dentro das calças!

- Ares... – Disse calmamente, e parando de me mexer. Eu ia surtar... – Você sabe qual é o nome dessa música?

- Não. – Respondeu ele olhando para a tela da TV e depois para mim.

- É “Alice”. – Respondi calmamente, mas logo depois comecei a dar um ataque chutando tudo que estava na minha frente – É Alice! Alice! Alice! Alice! Alice!

- Tá bom, tá bom! – Gritou ele me imobilizando – É só trocar a porcaria do canal!

Ares apertou o botão, e parou em um outro canal musical. Adivinha quem estava cantando!

- Alice Cooper. Alice Cooper! – Berrei com ódio. Ares me largou, e pude notar que ele estava prestes a ter um ataque também. Seus dedos apertaram o controle remoto com força e ele sorriu maldoso.

- Alice Cooper... Agora me diga... Por que a porcaria do nome dela está em tudo quanto é lugar?! – Ares jogou o controle contra a tela com toda a sua força, e ela quebrou. Ele trincou os dentes.

- Eu quero ela de volta. Eu estou cansada de passar duas semanas falando com todas as garotas que usam suéteres da cidade! – Exclamei – Nenhuma delas serve, porque eu quero a Alice!

- Ah, você quer a Alice?! – Repetiu ele olhando para mim com ódio – Você quer mesmo ela?! Há. Se a Alice aparecer aqui, batendo na minha porta com um sorriso simpático e quiser fazer as pazes comigo, a coisa que eu mais vou querer vai ser chutar aquele traseiro dela de volta para Paris!

- Chute para o meu templo, ao invés disso então. – Disse passando a mão pela testa – Ares... Ela foi embora. Você acredita nisso? Embora! Como ela pode me deixar?!

- Cala essa sua boca! – Berrou ele com ódio – Eu estou cansado de ouvir o nome daquele pirralha besta! Não quero ela, não sinto falta dela, e não quero mais saber da existência patética dela! Entendeu?! Agora se você quer ficar choramingando por ela, então se manda da minha casa agora mesmo!

- Você não sente falta dela? – Perguntei incrédulo – É mentira. Deixa de ser idiota! Você está só escondendo que gosta dela, mas... Ótimo. Sobra mais para mim então.

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- Apolo, o que foi que ela fez? – Perguntou Ares cruzando os braços – Ela só tornou a nossa vida um inferno, porque eu estava bem melhor antes de conhecer ela. Vê para de correr atrás dessa idiota, porque a única coisa que vai ganhar vai ser outro chute na bunda.

- É por isso que está com raiva? Por que ela te deu um chute na bunda? – Perguntei com raiva.

- Saí. Daqui. – Disse ele pausadamente, e eu levantei e fui embora. Não estava me importando com o que o Ares pensava, e sim em onde estaria Alice.

POV Ares

Eu bati a porta com força assim que Apolo saiu, e me virei. Não, eu não estava sentindo falta daquela pirralha. De jeito nenhum. Nunca.

Sentei-me novamente no sofá morrendo de raiva. Odiava ela, odiava! Estava pensando várias e várias vezes nisso, quando alguém tampou meus olhos por trás. Eu pensei que pudesse ser o Apolo, mas antes que eu pudesse gritar...

- Adivinha quem é... Benzinho. – Pediu uma voz sedutora no meu ouvido. Uma voz inconfundível. Não... Não podia ser ela. De jeito nenhum. Como assim?!

- Apolo... Se for você... – Mas as mãos soltaram os meus olhos, e a pessoa passou para a minha frente. Alice estava usando um vestido curtinho e lilás. Inocente, delicada, e linda. Seu cabelo estava bagunçado, e um sorrio torto estava em seu rosto. Fiquei completamente mudo.

- Sentiu a minha falta? – Perguntou ela inclinando-se para frente. Não consegui dizer nada, pois minha garganta deu um nó. O pequeno decote dela estava chegando cada vez mais para perto de mim, o que me roubou um sorriso malicioso.

- Ah, você não tem idéia. – Comentei ainda sorrindo. Foi aí que alguém me abraçou por trás, e me deu um beijo na bochecha. Olhei para o lado, e lá estava o rosto de Alice. Franzi o cenho e vi que a outra Alice ainda estava na minha frente – O que...?!

- Ou você sentiu mais falta de mim? – Perguntou ela sussurrando no meu ouvido. Meus olhos se arregalaram um pouco.

- Não. Foi de mim, não é? – Perguntou uma terceira Alice saindo da cozinha. Ela usava uma saia curta, e uma camisa um pouco grande demais – Vai. Diz Ares.

- O que... É isso? – Perguntei – O que são vocês?

- Eu sou a Alice. – Responderam todas juntas. Dei um tapa na minha própria testa. A primeira Alice que tinha aparecido riu para mim, enquanto a segunda me fazia uma massagem – Somos uma ilusão, lógico. Só você está nos vendo.

- Ah... Que interessante. Vocês surgiram, porque eu estou maluco? – Perguntei franzindo o cenho. Olhei para o decote dela novamente, e sorri – Não que eu esteja reclamando, é claro.

- Tsc. Não é para isso que viemos. – Disse ela revirando os olhos e ficando reta novamente, fazendo meu sorriso sumir.

- Ah... Por favor. Aproveitando que vocês três estão aqui, porque nós não nos distraímos um pouco? – Perguntei. Eu virei o rosto para o lado e tentei beijar a Segunda Alice, mas assim que toquei seu queixo com as minhas mãos, ela sumiu – Ei?!

As outras duas também sumiram, eu fiquei completamente sozinho.

- Ótimo. Era disso que eu precisava. – Murmurei em um resmungo.

Aquelas Alices ficaram aparecendo o dia todo, de modo que eu queria me atirar pela primeira janela que visse pela frente. Quando estava de noite, eu resolvi esquecer todas elas, e me distrair um pouco.

Liguei o vídeo game e comecei a jogar Guitar Hero. As Alices sumiram ao ouvirem o alto som de “Cherry Pie”. Podia não ser “Cherry Bomb”, mas me fez lembrar dela do mesmo jeito. Eu toquei no máximo volume, o que pode ter incomodado um pouco os vizinhos. Mas e daí? Queria ver quem teria coragem de aparecer na minha frente para reclamar.

Depois de meia hora, alguém bateu na porta. Ignorei ao máximo, mas as batidas estava tão altas que eu resolvi ir até lá e arrebentar a cara do idiota. Larguei a guitarra no sofá e abri a porta com força.

- O que é?! – Berrei com raiva, mas parei quando vi quem era.

- Abaixa essa droga de som, Ares! – Berrou Alice com raiva.

Por essa eu não esperava.