Minha Viagem Infernal

Encontrando a família


- Argh... Eu te odeio. – Falei enquanto limpava o meu rosto sujo de molho de tomate.

- Eu também te odeio, agora cala essa boca. – Resmungou ele em resposta. Nós dois estávamos ajoelhados perto de uma fonte em Paris, limpando os rostos com a água.

Olhei para ele morrendo de vontade de retribuir o resmungo, mas comecei a rir sem querer. Ares parou de limpar o rosto e franziu o cenho para mim sem entender. Foi aí que ele olhou para suas calças ainda sujas e molhadas de vinho e sopa.

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- Há Há. Você me paga por isso. – Falou ele sem achar graça, mas eu ainda estava rindo. Isso o irritou um pouco – Ei, Kelly. Ainda está sujo aí.

- Onde? – Perguntei franzindo o cenho.

- Aqui. – Ares segurou o meu cabelo e afundou minha cabeça na água da fonte. Quando ele finalmente me soltou, eu tirei meu rosto da água voltando a respirar. Meu rosto estava completamente molhado, e minha franja estava grudado na frente dos meus olhos indo até o meu queixo – Há Há! Agora sim.

- Idio...! – Ele ergueu uma sobrancelha para mim, e eu engoli o resto da frase. Com um movimento simples, joguei mais água nas suas calças e me levantei – Ótimo. Quer dar mais um passeio romântico comigo? Aproveite enquanto o meu cabelo está com esse cheiro divino de tomate e alho.

Mesmo tentando limpar as calças de novo, Ares começou a rir de mim.

- Assim que não resisto. – Zombou ele rindo. Franzi o rosto para ele, e Ares parou de rir – O que? Está me olhando assim por quê?

- No... Seu cabelo. – Disse apontando. Ele olhou para cima e eu tive que rir – Você está fazendo o que? Tentando olhar?

- Cala a boca. O que tem no meu cabelo? – Perguntou ele sem entender.

Tive que ficar na ponta dos pés e esticar a mão para tocar no que queria em sua cabeça.

- Tomate. – Disse tirando o pedaço vermelho de seu cabelo. Joguei no chão longe de nós e acabei rindo de novo. Ares revirou os olhos.

- O nosso almoço romântico foi um desastre e a culpa é toda sua. – Falou ele.

- Isso nunca ia ser um almoço romântico. E também... Você que começou comendo como um animal. – Rebati e Ares fez uma careta para mim – É sério. Se Deméter estivesse lá, ela ia te dar um lindo puxão de orelha.

- Como se eu ligasse para as reclamações dela sobre etiqueta. Aquela mulher chata... Ai! – Ares estava reclamando de Deméter, quando (do nada) alguém puxou a sua orelha com toda a força possível. Arregalei os olhos e vi que era Deméter mesmo! – O que é isso?! Me solta! Ah!

- O que estava dizendo de mim, Ares?! Seu mal educado! Será que a sua mãe não te ensinou nada?! – Perguntou ela continuando a puxar. A Deusa da agricultura estava usando uma saia verde que ia até os joelhos, e uma camisa branca bem fresca. Ela estava usando um chapéu também – Peça desculpas agora mesmo! O que estava pensando?!

- Ai! Ai! – Exclamou ele enquanto ela o puxava cada vez mais – Tá bom! Desculpa! Pronto! Agora me solta!

- Peça desculpas para a sua namorada também! Onde já se viu?! Agir de um jeito tão rude em um restaurante chique?! E na frente de uma moça?! – Reclamou ela.

- Eu não vou pedir desculpas para essa pirralha...! Ai! Tá bom! Desculpa! – Exclamou ele rangendo os dentes de raiva.

E quanto a mim? Eu estava sorrindo para ele, na tentativa de prender o meu riso. Aquela era uma cena linda mesmo.

- Está desculpado, Ares. – Sorri para ele – Boa tarde, senhora Deméter. Como vai você? Dando um passeio por Paris?

- Boa tarde, Alice. – Sorriu ela de volta, soltando a orelha de Ares – Viu só?! Ao menos ela tem um pingo de educação, seu selvagem! Aprenda alguma coisa com ela, e deixe de ser desse jeito!

- Ninguém merece... – Resmungou ele com raiva, passando a mão pela orelha.

- Alice Kelly! – Exclamou uma voz masculina conhecida. Ela estava bem perto de mim, o que me assustou. Eu dei um leve pulo e olhei pra trás. Homem com pele branquíssima, cabelos pretos compridos, e olhos negros e penetrantes. Hades, Deus dos mortos. Ele abriu os braços em sinal de “seja bem vinda!” – Quanto tempo, hein?

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- Hades. Olá. – Sorri me recuperando do pequeno susto. Olhei melhor para ele e vi que estava usando roupas diferentes. Estava com uma bermuda marrom, uma camisa preta, tênis, e tinha um ar de turista – Ahm... Vocês viajaram para Paris também?

O Deus dos mortos riu um pouco, mas assentiu.

- É que nós achamos que aqui teria um pouco de diversão, sabe? – Comentou ele olhando para Ares e depois para mim. Entendi.

- Vocês vieram porque eu vim com eles dois. – Comentei, e ele sorriu assentindo.

- Você não tem idéia de como é engraçado ver vocês três juntos. Espero que não se ofenda nem nada, mas essa vai ser a diversão das minhas férias. – Disse Hades rindo. Encolhei os ombros. O que eu poderia dizer?

- Ok... Acho que... Tudo bem. – Confirmei, mas então olhei para Deméter. Ela encarava Ares e Hades com um olhar repreendedor – Uhm... Mas você veio junto com ela? Vocês dois não se odeiam?

Hades revirou os olhos repentinamente incomodado, como se eu tivesse acabado de lembrá-lo de algo nada agradável. Deméter fez o mesmo.

- Não vim aqui por causa dele, é claro. – Respondeu ela. Ia perguntar porque ela veio então, mas minha resposta foi respondida.

- Amor, você não acha isso lindo? – Perguntou uma mulher morena simplesmente linda. Seu corpo era cheio de curvas, e seus cabelos negros a deixavam ainda mais bonita. Parei por alguns instantes, enquanto a mulher olhava para mim. Será que eu estava na frente da...?

- Alice Kelly. Finalmente tive o prazer de te conhecer. – Disse ela com um sorriso, enquanto me analisava.

- Perséfone, estávamos comentando com Alice o quanto engraçado vai ser ficar essa temporada em Paris. – Disse Hades olhando para ela. Sabia! Perséfone, a esposa de Hades. Filha de Deméter e Zeus que foi seqüestrada pelo senhor do Mundo Inferior, e obrigada a se casar com ele. Era o principal motivo de Deméter odiar Hades.

- Ah, sim. Isso vai ser muito divertido. – Concordou Perséfone, e depois olhou para Ares – Estamos atrapalhando alguma coisa?

- Vocês sempre estão atrapalhando alguma coisa. – Respondeu ele em um resmungo irritado.

- Deixa de ser chato. – Falei para ele – Eles só estão conversando.

- Tsc. Eu tenho cara de novela para entreter as férias de vocês por acaso, seus otários? – Resmungou ele com raiva – Arrumem outra diversão e nos deixem em paz.

- Sempre tão educado. – Murmurou Perséfone revirando os olhos – Francamente, eu não tenho idéia de como Alice consegue agüentar você.

- Perséfone, ela não agüenta. Ela é obrigada a agüentar pelo meu irmão mandão. – Corrigiu Hades e um raio caiu em algum lugar ao longe. Eu prendi a respiração por alguns segundos, com medo do próximo ser na minha cabeça.

- Mas... Os outros Deuses também estão por aí? – Perguntei pra Hades. Ele sorriu e assentiu.

- Mas é claro! Ninguém no Olimpo ia querer perder a chance de ficar perto de vocês três! São o assunto do momento. – Confirmou ele rindo.

- Fofoqueiro. – Resmungou Deméter revirando os olhos – Assunto do momento. Parece até Afrodite falando. Eu te disse que você podia ficar longe dele enquanto ele estava em Paris, filha, mas não! Tinha que vir com esse cara!

- Mamãe! – Exclamou Perséfone – Eu não podia deixar ele vir sozinho para Paris!

- Viu só?! Vê se para de pegar no meu pé, Deméter! – Reclamou Hades.

- Não venha me dando ordens, seu vadio! – Exclamou Deméter reclamando com ele. Hades cerrou os punhos e tentou discutir, mas Deméter lhe deu um lindo tapa no braço dele e o senhor dos mortos se encolheu – O que você ia fazer? Gritar comigo? Seu mal educado! Parece até que é irmão de Ares!

- Como é que é?! – Reclamou Ares, mas assim que Deméter virou-se para ele, o Deus da guerra recuou um passo discretamente – Ahm... Eu vou deixar essa passar. Vamos embora, Kelly. Não quero perder o meu dia com parentes irritantes.

Perséfone revirou os olhos, e estava mais do que escrito em sua testa “Família... Eu que o diga.”. Eu ri e dei tchau para eles. Ares saiu me puxando para o mais longe possível que conseguia deles, e nós caminhamos em uma direção aleatória.

- Isso quer dizer que os outros também estão aqui. Tipo... Poseidon, Atena, Hera... – Falei enquanto ele me puxava pelo braço, então Ares parou e arregalou os olhos.

- Não. – Murmurou ele chocado – Ah, não! Não pode ser! Não!

- O que? – Perguntei um pouco preocupada.

- Vem logo! – Exclamou ele, enquanto saiu me puxando pela rua. Nós conseguimos voltar para o hotel sem nos perdermos, o que era algo muito bom. Ares entrou no elevador e subiu os andares rapidamente. Assim que as portas se abriram, ele correu para a porta do quarto de Afrodite, mas antes que pudesse abrir a porta... Alguém abriu antes. E por dentro.

- Ah. É você. – Disse um homem conhecido. Ares rosnou para ele, mas o homem não ligou. Ele olhou para o lado e assim que me viu abriu um sorriso leve – Ah! Você... Alice. Isso. Olá, minha jovem.

- Boa tarde, Hefesto. – Respondi enquanto olhava Ares com raiva.

- O que você está fazendo aqui? – Perguntou com raiva. Hefesto riu um pouco.

- Pelo visto, estragando os seus planos noturnos, não é? – Falou ele rindo. Ares quis bater nele, mas por algum motivo que podia notar que ele escondia um certo medo de Hefesto. Talvez por ter sido humilhado tantas vezes – Bem... Na verdade você pode tentar, mas não tenho certeza se vai ser uma experiência agradável.

Os punhos de Ares estavam se fechando cada vez com mais força. Olhei para Hefesto. O Deus estava com calça jeans surrada, uma camisa simples e o cabelo completamente bagunçado e caótico. Seu rosto era marcado de algumas cicatrizes.

- Ok... O que você veio fazer aqui? – Perguntei tentando ser educada, já que Ares não facilitava em nada.

- Me incomodar, não está na cara? – Rugiu Ares fuzilando ele com o olhar – Você só veio para poder me irritar. Jogar na minha cara que eu não posso ficar com Afrodite aqui.

- Eu? Não sei da nada disso. – Sorriu ele inocente – E você devia ser mais gentil com a sua namorada. Até porque, ela é a única pessoa que te agüenta.

Hefesto passou por nós e foi andando pelo corredor até sumir. Afrodite saiu do quarto dela logo depois, e fechou a porta. Ares olhou-a com esperança, mas a Deusa do amor encolheu os ombros e seguiu Hefesto.

- Não acredito nisso... Fui passado para trás por aquele ferreiro irritante! – Exclamou Ares com raiva. Ele virou-se para trás sem nem mesmo pensar, e deu um soco no que ele pensava ser o ar. Mas... Acabou acertando alguma coisa.

Pude ver uma pilha de livros cair no chão violentamente, e alguns papéis voarem pelo ar. Franzi o cenho. De onde aquilo tinha vindo?

- Ótimo! Mas você é mesmo um estúpido. – Disse uma voz secamente. Parecia realmente irritada pelos livros terem sido jogados no chão. Eu cheguei para o lado, e vi que se tratava de Atena. Ela fuzilou Ares com um olhar de raiva, e ele fez o mesmo.

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- Ah, quem mandou você se meter no meu caminho, traça de livros?! – Reclamou ele. Atena trincou os dentes, e esticou os braços como se ainda estivesse segurando os livros. Todos eles voltaram para seus braços por mágica, e eu arregalei os olhos, impressionada.

- A culpa não é minha se acabou de ser derrotado pelo seu rival. – Comentou ela. Atena fez os livros sumirem em um estalo de dedos, e eu pude ver melhor sua roupa. A Deusa da guerra e da inteligência usava uma bermuda jeans e uma camisa pólo. Era impressionante como Atena sempre tinha um ar superior e intelectual á sua volta – Se tivesse um pingo de inteligência, talvez conseguisse se dar bem pelo menos uma vez na sua vida imortal.

- Por que você não pega os seus conselhos tão bons e os dá para alguém que realmente queira? Vai encher a paciência de Poseidon. Ele sim merece você falando no ouvido o tempo todo. – Rebateu Ares.

- Nossa, não sei. Por que você não pega a sua grosseria e mostra para a Afrodite como você realmente é? Ah, é verdade. Você não pode, porque Hefesto está com ela nesse momento, não é? – Retrucou Atena.

Eu podia sentir o fogo nas palavras de cada uma deles. Os dois Deuses da guerra estavam se enfrentando no meio do corredor, e sem nenhuma calma. Acho que se tivessem facas, já estaria vendo um rio de sangue escorrer pelo chão.

- Você é patética, Atena. Quando vai aprender que eu sou o melhor Deus da guerra? – Perguntou Ares com um sorriso maldoso superior. Atena o esnobou.

- Você não é o melhor. É só um cabeça dura que acha que consegue qualquer coisa pela força bruta. – Respondeu ela. Foi aí que Atena notou a minha presença (o que era difícil, pois eu estava me encolhendo no cantinho para não ser esmagada por um deles) – Ah, Alice.

- Atena. – Sorri fazendo um movimento sutil com a cabeça. Ares olhou para mim, e depois sorriu para Atena. Ele me puxou pelo braço para perto dele, e encarou sua meia-irmã.

- Ela sabe muito bem quem é o melhor Deus da guerra. Pode dizer, Kelly. – Disse Ares cheio de certeza que eu o escolheria.

- Ahm... Eu realmente não quero me meter no meio da briga de vocês. – Disse tentando me livrar do seu braço, mas ele continuava segurando com força.

- Humpf. Esquece, Ares. Ela iria me escolher, porque sabe que a inteligência supera a força. – Disse Atena olhando para Ares.

- Ela sabe muito bem que com força, você quebra as pernas de qualquer inimigo que tentar te derrubar com um plano estratégico. – Rebateu ele.

- Ela sabe muito bem que a inteligência passou por cima de obstáculos muito maiores do que a força bruta. – Insistiu Atena.

- Ah, que nem aconteceu com os seus preciosos atenienses? – Implicou Ares.

- Como se os seus espartanos tivessem se dado melhor. – Rebateu Atena franzindo o nariz.

- Me diz então qual deles sobreviveu. – Pediu Ares com um sorriso triunfante – Hein? Acho que não foram os atenienses, mas quem sou eu para comentar isso?

- Isso não vem ao caso. – Rugiu Atena com raiva – Atena é muito mais desenvolvida do que Esparta, e você sabe muito bem disso!

- Perdedora! – Cantarolou Ares para irritá-la, mas Atena só revirou os olhos e olhou para mim.

- Ainda me pergunto como vocês dois acabaram presos juntos. Como isso tudo começou. – Disse ela trincando os dentes e cruzando os braços.

- Simples. Ele me infernizava ouvindo rock pesado... – No fim da frase Atena disse junto comigo – Ás 3 da manhã!

- Exatamente! Ao menos agora alguém entende o quanto ter um irmão desse tipo é terrível! – Exclamou ela feliz por ser compreendida, e Ares fez cara de “Eu?! Como assim eu sou terrível?!” – Desde que ele nasceu a vida de todo mundo é um inferno! Quando ele ficava o tempo todo no Olimpo, era impossível ler em paz! Sempre com música alta, sempre fazendo barulho, sempre arrumando confusão! Impossível!

- Mentira! Eu não sou tão ruim assim! – Exclamou ele com raiva.

- É sim! – Concordamos juntas. Atena olhou para mim e ergueu uma sobrancelha – Sabe... Estou começando a gostar um pouco mais de você, Alice Kelly. Vejo agora que você tem um pouco de noção.

- Obrigada. – Disse sem saber o que falar.

- Mas ainda não sei como você agüenta ele. Acho que é a única que tem esse dom. – Comentou Atena.

- É, é. Você é só a terceira ou quarta pessoa do dia que comenta isso, agora vamos embora. – Disse ele me puxando pelo corredor. Atena revirou os olhos e sumiu, mas eu sabia que ela ainda estava no mesmo hotel que nós.

Aquela viagem ia mesmo ser infernal...