Meu Amado Seboso

Babushka


Eu demorei alguns segundos para me ajustar à realidade. Babushka significa "avó" em russo, e eu posso honestamente dizer que ela era a última pessoa que eu esperava ver naquele momento.

Os Marotos acenaram pra mim enquanto saíam da casa da minha Babushka zoando com o pobre apaixonado Tiago. Ela ficou passando a mão no meu cabelo, um gesto carinhoso que eu não estava mais acostumada e que me deixou tensa.

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– O que aconteceu? - Eu perguntei para ela.

– Ah, moya dorogaya… - Ela suspirou e eu tive dificuldade de entender o que ela dizia. Alguns segundos depois eu me dei conta que ela estava falando em russo e me chamava de "minha querida". Mordi o lábio, emocionada.

– A senhora está morando na Inglaterra agora, Babushka? - Eu perguntei com a voz pequena.

– Sim, já faz alguns anos, moya dorogaya. - Ela disse, desistindo de alisar o meu cabelo. - Desde que seu pai…

Ela sorriu. Não tinha necessidade de terminar a frase, eu sabia o que era. Meu pai nunca fora conhecido por ter um temperamento fácil ou qualquer coisa do tipo. Ele e minha babushka haviam cortado relacionamentos há quase cinco anos.

– Mas o que aconteceu? - Eu insisti, ficando de pé. - Onde está a minha vari… as minhas coisas?

Eu não sabia exatamente até onde babushka sabia, então resolvi ir com cautela.

– Eu coloquei tudo no seu quarto. - Ela disse, se levantando também, e indo até o dito quarto. - Sei que é pequeno e não muito parecido com o que você está acostumada, moya dorogaya, mas acho que você vai ser feliz aqui.

Engoli em seco. Eu sabia o que aquilo significava.

– Babushka. - Eu disse, firme. - O que aconteceu?

O rosto dela assumiu uma expressão de dor que quase fez com que eu me sentisse arrependida de ter perguntado.

– Seus amigos me contaram, Kassandra. - Ela disse. - Que você é uma bruxa e que foi atacada por não vir de uma família de bruxos. Quando você desmaiou, falaram com o diretor e ele disse que você deveria ir para casa o mais rápido possível. Entrou em contato com seus pais, moya dorogaya, mas seu pai não quis ouvir. Receio que ele a tenha cortado da vida dele como fez comigo. Sua mãe implorou, mas nada nunca fará com que o Ivan mude de ideia, você sabe disso. Então ela disse que deveriam entrar em contato comigo.

Senti um embrulho no estômago.

– Onde é o banheiro? - Eu perguntei, antes que fosse tarde demais.

Segui correndo na direção que babushka me apontou e me ajoelhei em frente ao vaso. Vomitei tudo que podia e um pouco mais. Lavei o rosto e passei água fria na nuca. Me sentia um pouco melhor. Traída e ferida, mas um pouco melhor.

Babushka estava de volta na sala, com os olhos fechados e a mão na têmpora. Cinco anos, mas eu ainda sabia que aquela era a expressão preocupada dela. Preocupada comigo.

Lembrei de quando eu era pequena e ela me contava histórias em russo, principalmente os contos de fada que irritavam tanto o meu pai. Ela era a única que não fazia as coisas do jeito dele. Do abraço que ela me dava antes de dormir e do lenço que ela me deu no último dia em que eu a vi.

Caminhei silenciosamente até onde ela estava e a abracei por cima da cadeira. Ela me abraçou de volta sem nem abrir os olhos e começou a cantarolar uma canção de ninar esquecida.

– Obrigada, Babushka. - Eu murmurei.