Harley Sanders - a Caçadora

Capítulo 20 -Quando a Força supera a Dor




Crowley me vê ali
sentada ao lado do corpo morto de Jackie. Ele se aproxima e se abaixa ao lado
do corpo dela, olhando pra mim. Então depois de alguns minutos em silencio ele
diz:



_Precisa sair
daqui antes que os policiais cheguem... Eles vão fazer perguntas intermináveis...



_Eu podia ter
salvo ela... [Respondo com os olhos baixos].

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_Não podia...
Nesse trabalho nem sempre nos conseguimos salva-los...



_Porque? Do que
adianta? –[Ergo a cabeça olhando-o nos olhos].



Ele estende a
mão, enquanto se levanta. Ouvimos barulho vindo dos carros de policia, e as
luzes vermelhas que piscavam.



_Vem, eles vão
cuidar do resto...



Me levanto
segurando a mão de Crowley. Nos dois caminhamos ao longo do cemitério ate
chegarmos ao outro lado. Saimos chegando a uma estrada. Caminhamos ate uma
pequena capela próxima dali. Entramos, não havia ninguém aquela hora na rua, e
tão pouco ali dentro. Vi um altar cheio de velas acesas e uma cruz grande na
parede a frente. Os bancos vazios da igreja, e os vidros com figuras bíblicas davam
uma sensação melancólica ao momento. Fiquei ali parada em pé olhando para
aquele altar. Enquanto Crow fechada as portas. Ele se vira e caminha ate mim,
parando nas minhas costas. Senti minhas pernas amolecerem, enquanto eu olhava
fixamente para aquela cruz no meio da parede a frente. Crowley me segurou
enquanto eu caia lentamente no chão. Sentada ali, olhando ao redor, senti uma
vontade imensa de chorar, olhei pra ele ali quase ajoelhado ao meu lado
segurando meus ombros, e me olhando. Abracei-me a ele, deixando a dor que eu
sentia no peito transbordar pelos meus olhos. Afundei meu rosto entre seu peito
e seus braços. Aos poucos, sentindo uma certa relutância da parte dele, ele
levanta levemente sua mão passando-a pelos meus cabelos, como se tentasse me
acalmar com a ponta de seus dedos. Ele segurou meu corpo, passando seu braço
pelas minhas costas e me mantendo ali, quase em seu colo. Fiquei ali, no
aconchego de seus braços por um tempo, enquanto chorava a morte de Jessica, e
de Jackie... As duas mortes que estavam no meu destino... Duas garotas da minha
idade... Duas amigas... Duas pessoas inocentes... Duas famílias que jamais
teriam suas meninas de volta ao lar...



Depois de um
tempo sem diser uma so palavra, apenas ali, abraçada a Crowley. Eu enxugo
minhas lagrimas que agora paravam de cair pelo meu rosto. E me afasto dele
olhando novamente para o altar em frente. Me levanto, e caminho ate as velas
acesas. Paro em frente a elas, Crowley levanta-se e me segue, parando antes dos
degraus. Eu apago uma das velas com um sopro leve, fecho os olhos e digo em voz
murmurante:



_Mais uma alma
que acaba de partir... Me perdoe por não ter chegado antes Jackie...



Me viro e olho
para Crowley que me observa em silencio. Consigo imaginar o que ele estava
vendo em sua frente. Eu vestida daquele jeito, com o vestido coberto de terra preta,
e pelo sangue de Jackie. As velas acesas
atrás de mim, e logo acima de minha cabeça um crucifixo. O silencio ao redor de
nos dois. E o peso de uma vida perdida em minhas costas. Eu desci os degraus e
caminhei ate ele, parando em sua frente, olhando-o nos olhos e dizendo:



_Não vou permitir
que mais uma vida inocente seja tomada...



Desvio dele, e
caminho ate a porta da capela. Antes que eu a abrisse Crowley começa a falar:



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_Tres corpos na
minha mente...



Me virei e
olhei-o sem entender:



_Como é?



Ele se vira e
continua a contar:



_Minha família...
Tres corpos... A muito tempo atraz...



Ele estava com
uma expressão pesada e triste nos olhos. Mesmo sendo doloroso pra ele, falar
sobre aquilo, ele continuou. Eu caminho novamente ao longo da capela, indo em
sua direção. Me encosto em um dos bancos e o escuto desabafar:



_Eu tinha quatorze
anos quando aconteceu... Eu não era muito fácil de se lidar... Vivia me metendo
em encrenca, era expulso de uma a cada três escolas nas quais era
matriculado... Meus pais nos levaram praquela cidade tentando me afastar das
ruas... Éramos uma família pequena, um pai, uma mãe, eu e minha irmã. Ela tinha
apenas seis anos de idade, quando eles vieram...



Ele
caminha ate o banco ao meu lado, e se senta. Olhando para o chão ele une as
mãos, enquanto movimenta os dedos mostrando-se incomodado em falar sobre o
assunto. Mas mesmo assim continua:



_ Eu discuti com
meu pai... Disse que preferia não ter um, a ter que conviver sob o mesmo teto
que alguém como ele. Sai de casa, sem rumo. Quando voltei, encontrei minha mãe
e Emily... no chão... acho que ela agüentou o suficiente pra chegar ate o corpo
dela... Emily estava ali, com seu pequeno corpo sem vida... E minha mãe
segurava as mãos dela, também sem vida...
–[Ele suspira e segue]. Corri ate o escritorio achando que meu pai teria feito aquilo com
elas... Mas encontrei o seu corpo atraz da mesa, envolto a uma poça de
sangue... Segurei-o –[
Ele vira as palmas das mãos pra cima, enquanto olha
pra elas como se visse a cena]. Virando seu
rosto pra mim, e vi o ferimento no seu pescoço... Senti o sangue dele nas
minhas mãos...



Ele
levanta mais uma vez enquanto eu me sento chocada com a historia. Ele continua
parado em PE, de costas pra mim:



_Quando a policia chegou e me viu ali...
Imaginou que eu os tinha matado... Me mandaram para um reformatório... Como eu
era jovem, não podiam me prender... Fiquei dois anos la, ate que eles
descobriram que eu não poderia te-los matado... Eu não tinha pra onde ir, nem família,
nem amigos... Então me mandaram para um orfanato... Onde fiquei ate meus
dezoito anos... Quando sai, eles me encontraram...



_Eles??? –[Pergunto
quase sem deixar a palavra sair com um son de minha boca, eu estava realmente
chocada com o que ele estava me contando].



_Sim... –[Ela se
encosta no banco e me olha nos olhos,enquanto continua]. O conselho... Os caras
pra quem trabalho... Eles me falaram sobre o que teria acontecido com minha família...
E me pediram para ir com eles... Eu não tinha pra onde ir... E eles me disseram
que eu poderia vingar a morte dos meus pais e Emily... Eles me treinaram,
duramente, dia após dia... La você não tem amigos, somente parceiros de
treinamento... Pra sobreviver eu teria que aprender a me defender...



_E voce so tinha
dezoito anos.



_Esqueça tudo que
você ouviu sobre treinamento de exercito... Aquilo la era dez veses pior... O único
amigo que tive la, foi Dimitry... Nos conhecemos durante o treinamento...
Estudamos tudo o que podíamos sobre vampiros, como eles eram, como agem, seus
movimentos, suas táticas... Tudo que podíamos usar contra eles... Quando
chegamos no final do treinamento... O que voce pode chamar de formatura... Cada
um recebia sua missão... Por meses ouvimos falar sobre vocês...



_Como assim?! Nós?



_Caçadoras...
Eles nos deram nomes... O nome que cada um recebia, tinha muito haver com sua
historia... No meu caso, o nome veio de uma lenda mexicana... Crowley tem um
significado...



_E qual é esse
significado?



_Crow vem de
Corvo... Já ouviu a lenda do corvo?



_O cara que morre
e depois volta pra vingar a morte da namorada?!!



_A historia real,
é mais ou menos isso... Dizem que guerreiros indígenas fizeram um pacto para
traze-lo de Volga para vingar a morte de pessoas inocentes... Alguem que ele
amava foi assassinada brutalmente, assim como ele... Conta a lenda que quando
isso acontece, sua alma não discança... E um corvo guarda seu tumulo a espera
de um retorno... Dizem que ele voltou a vida... Mais como um morto vivo... Não
podia morrer porque já estava morto, não podia sentir dor, porque já haviam lhe
causado a maior dor... Ele andou por ai, caçando os assassinos que o colocaram
debaixo da terra fria... Ate matar um por um... Com a mesma brutalidade que o
mataram... Chamam de “A LEI DO CORVO” ou “ LA LEI DEL CORVO”.



_Por isso você recebeu
esse nome, pelo que fizeram com sua família...



_Desde então ninguém
mais ouviu falar de John. Esse sou eu... Tento ensinar a você tudo que
aprendi... Porque essa é a minha missão...



_Acho que agora
eu entendo porque você nunca foi muito gentil comigo...



Eu o olhei nos
olhos, enquanto ele caminha ate o altar e fica olhando para o grande crucifixo.
Eu continuo a falar:



_Eles devem ter
repetido isso pra você por todo esse tempo... Que sua missão era me proteger...
Alguem que você nem conhecia ainda... Voce devia me odiar...



Ele se vira pra
mim, com os braços cruzados e me olha bem nos olhos:



_Não odeio você....



_Porque ta me
contando isso agora?



_Por dois
motivos... Primeiro: Quero que você saiba, que isso não é fácil... Nem sempre
nos vamos vencer... Nem sempre vamos perder tambem... Mas se existir uma chance
de salvar uma vida que seja... Vai valer a pena tentar... Segundo: Durante
todos esses anos, tudo que passei, foi pra aprender a proteger voce.... Foi pra
ensinar você... Tudo que vivi durante esse tempo, foi pra chegar a esse dia...
Eu vou estar do seu lado... Sempre... Lembra quando eu disse que isso era mais
do que seu destino... Que era sua vida?



_Sim... Claro que
lembro...

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_Então... Esse
não é meu destino... Ou apenas minha missão... –
[Ele caminha ate parar bem na
minha frente, escora suas mãos nos escoros dos bancos e me olhando nos olhos
diz ]. Isso é a minha vida... Proteger você...
E eu não vou falhar...



Fico ali sentada
olhando pra ele. Depois ele se afasta, e se vira em direção a porta. Me olha
mais uma vez e me pede pra segui-lo.



_Vem, eu vou
leva-la de volta pra casa...



Me levanto e
caminho ate ele, nos dois saímos da capela. Ele me acompanha ate minha casa.
Ele para na calçada, enquanto me espera entrar em casa. Eu atravesso a rua e
vou ate a porta de casa. Me viro já certa de que nao o veria ali ainda. Ele
sempre ia embora quando eu não estava olhando. Mas dessa vez foi diferente, ele
estava la. Ainda me olhando. Eu olhei pra ele por alguns segundos e depois abri
a porta. Entrei, subi as escadas, tirei o vestido, enrolei-o jogando embaixo da
cama, e depois fui ate o banheiro tomar um banho quente. Depois voltei para o
quarto onde me atirei na cama, e tentei dormir...