Walk On

I believe in Miracles.


Aisling sabia que Miguel estava chorando, e de alguma maneira ele chorava por ela, a garota sorriu e agradeceu para todos que a aplaudiam e desceu do palco. Ela estava um pouco tonta ainda, pela coragem de ter ido cantar, e como havia muitas pessoas ali, não achou Tiago, ela suspirou e começou a ir para o outro lado do palco, onde provavelmente o namorado estaria lhe esperando.

Jane observou a irmã descer do palco e procurar Tiago, ela observou com um sorriso macabro a garota que estava para o outro lado do palco, com o rosto baixo, mas um sorriso lindo, e suave no rosto. Ela suspirou e chamou os “amigos”, hoje ela ia mostrar para irmã onde era o lugar dela, e que ela não podia ter esperança, porque se dependesse dela, a vida da garota ia ser sempre um inferno.

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Aisling estava atrás do palco, quase chegando até o outro lado, onde Tiago esperava por ela, quando ela viu a irmã, as amigas dela, e dois garotos a cercarem. Ela engoliu em seco e suspirou, talvez, eles só estivessem passando por ali para cortar caminho, já que tinha muita gente na frente do palco, e ali não tinha ninguém. Só que obviamente, aqueles garotos não iriam ali para cortar caminho, estavam atrás dela, e Aisling sabia disso só não queria acreditar.

-Então vadia – Jane falou rindo, e indo até a irmã, segurando o pulso fino da garota, e a cortando com as longas unhas. Jane tinha um sorriso maldoso nos lábios, e um brilho de ódio no olhar. Aisling engoliu em seco, e olhou a irmã por um segundo, sentindo o coração doer, e o medo invadir todo o seu corpo, e abaixou o olhar – Você achou mesmo que só porque você conseguiu um bando de otários te seguindo, nós iríamos te deixar em paz? Olha aqui irmãzinha, não sei o que fez para Tiago cair na sua, mas pode ter certeza que você vai pagar por essa trapaça – Jane falou isso dando uma risada gélida, e empurrando a irmã para longe, Aisling perdeu o equilíbrio e caiu em cima do violão, que por sorte, fez com que a força da queda diminuísse, e Aisling não batesse as costas em uma quina que a machucaria feio.

-Eu não fiz nada – Aisling sussurrou engolindo a dor que invadiu seu corpo, ela havia ouvido o violão quebrar, e de certa forma agradeceu por isso, ela viu a quina assim que levantou, ela sabia que ficaria com hematomas feios nos braços, e nas costas.

-Claro que não, você não fez absolutamente nada, só existe, e isso minha irmã, já é muita coisa – Jane falou, agarrando Aisling pelos cabelos, e puxando para perto do rosto, cuspindo na faze da garota, que estava assustada, e sentiu os olhos arderem, ela iria começar a chorar a qualquer momento – Vamos sua vadia imunda, chore, chore para nós vermos a sua falsidade – Jane gritou rindo histericamente, fazendo todos que a tinham acompanhando caírem na risada também. Aisling segurou o choro, e sentiu um tapa machucar-lhe a face.

-Porque Jane? – Aisling perguntou deixando o corpo cair ajoelhado no chão, à voz dela não passava de um sussurro trêmulo, e toda a dor que parecia ter sumido naqueles últimos dias voltou ao peito da pequena. Aisling sentiu uma culpa avassaladora invadir o seu peito, ela estava sendo humilhada, espancada, mas sentia culpa, por ter apenas se preocupado com os seus próprios problemas, e esquecer dos irmãos. Ela via crueldade na irmã mais velha, viu alguém que não pensava na família, e nem nos outros. Aisling sentiu as lágrimas queimarem seus olhos, e finalmente descerem pela sua face, fazendo com que todos ali rissem mais ainda. Jane não respondeu a pergunta da irmã, nem ouviu o que saíram dos lábios da garota, simplesmente deu-lhe um chute nas costelas.

Aisling sentiu os chutes, os tapas, socos e risos, daqueles jovens, ela sentia as lágrimas escaparem de seus olhos, e molharem a sua face, ela sentia dor por todas as partes do corpo, e sentia uma dor muito maior do que ela poderia explicar. Ela queria Tiago ali com ela, queria estar em volta em seus braços protetores, e queria ouvir a voz do garoto que amava. Mas ao mesmo tempo ela queria morrer, deixando as coisas mais fáceis para todos, deixando o caminho de Tiago livre de uma pessoa tão complicada como ela, e deixando a irmã e os outros felizes. Tudo ficaria bem, e ela não sentiria mais dor.

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-Muito bem vadia, estamos indo, só espero que isso tenha lhe servido de lição – Jane falou rindo histericamente, puxando a irmã pelos cabelos, e a empurrando violentamente para o chão novamente. Todos que agrediram Aisling saíram dali rapidamente, deixando a garota sozinha, com sua dor, lágrimas, e pensamentos.

Aisling sentou, dando um gemido de dor, e viu um caco de vidro ali perto, seria tão fácil tirar a própria vida, sentia a veia de seu pulso, pulsando, e ela imaginou como um simples gesto poderia deixar tudo mais fácil, como se pegasse aquele pedaço de vidro, a dor iria embora, deixaria o caminho de Tiago livre, seus pais ficariam felizes com o incomodo a menos, e como todos da escola ficaram melhor sem ela. Ela estendeu a mão para pegar o caco que deixaria tudo mais fácil, quando sentiu uma mão forte, a impedir disso. Um garoto segurou sua mão, e a fez olhar para o seu rosto. Aisling esperou ver Tiago, mas viu Miguel. Ela não pode evitar um tremor, será que não podiam deixar que ela morresse em paz? Sem sentir mais dor?

-Não a culpo por sentir medo – Miguel murmurou calmamente, sua voz não parecia agressiva, e ele a olhava com dor. Quando viu aqueles garotos indo embora, e Aisling caída no chão, ele sentiu vontade de espancar cada um que fez aquilo com ela, inclusive Jane, controlou o impulso de matar aquelas pessoas, e foi até Aisling, não era difícil imaginar o que ela pensava enquanto estendia a mão para um pedaço de vidro do chão – Só não tire sua vida por minha culpa.

-Não se meta com a minha dor Santore, você já fez mal o suficiente para uma vida inteira – a garota sussurrou em resposta trêmula, e com as lágrimas caindo de seus olhos azuis. Miguel suspirou com as palavras e deu um sorriso sarcástico, pensando em um jeito de fazer a loira se acalmar, ou pelo menos desistir da ideia de se matar.

-É eu fiz sim, mal para muita gente, só que eu não poderei concertar esse mal se você se matar, e acho que o meu irmão ficaria triste, e sofreria muito – Miguel respondeu, vendo Aisling, engolir em seco, e desviar o olhar do dele. Ele ainda segurava a mão dela, e passou seu outro braço em volta da loira, que sem pensar muito, o abraço, e começou a soluçar. Estava com dor por todo o corpo, e no coração também.

-Eu não quero magoar ninguém Miguel, eu só quero deixar as coisas mais fáceis, para todo mundo, Tiago seria mais feliz sem mim – ela falou entre soluços, recostada ao peito dele. Miguel suspirou o que diabos ele havia feito com aquela garota? A culpa que ele sentia era indescritível, como ele iria fazê-la parar de chorar? Como poderia fazer com que ela o perdoasse?

-Se você se matar, não vai deixar as coisas mais fáceis para ninguém Aisling, Tiago seria infeliz sem você, e eu não poderia viver mais – ele se assustou com o que disse, e Aisling o encarou assustada, ainda com lágrimas nos olhos – Eu te fiz ficar assim pequena, e eu não sei o que faria se soubesse que se matou por que eu te fiz ser infeliz – ela parecia ser tão frágil em seus braços, era a impressão que Miguel tinha de Aisling, e viu o rosto dela ficar corado quando falou essas palavras, as quais ele não fazia a menor ideia de onde estavam vindo.

-Você... Você realmente disse isso? – Aisling perguntou assustada, achando que estava sonhando, aquilo não poderia estar acontecendo, ela deveria ter desmaiado, em culpa da dor que estava sentindo, ou aquilo era uma alucinação, simplesmente não podia ser real.

-Eu disse sim, e isso é real. Eu pediria perdão se pudesse ser perdoado, mas até para um canalha que nem eu sei que tudo o que fiz simplesmente não pode ser esquecido. Eu sinto muito Aisling, por tudo o que aconteceu por tudo o que fiz, e por tudo o que fazem com você. Pequena, você não merece isso, merece ser feliz, então não se mate por culpa deles – Miguel falou isso sem saber como, depois de ter fechado seus sentimentos, e virado um cara totalmente frio, e arrogante, aquelas palavras eram difíceis e fáceis de serem pronunciadas. Ele não sabia de onde elas estavam vindo, mas sabia que estavam acalmando a sua pequena.

-Miguel... – Aisling murmurou olhando para os olhos que sempre temera, e agora sentindo algo diferente, e confuso, ela engoliu em seco, não sabia o que dizer. Ele estava pedindo perdão, mesmo sabendo que tudo o que fez não poderia ser esquecido, mas ela o perdoaria, ela acreditava nas pessoas, acreditava no bem apesar de tudo o que fizeram com ela. Mas Aisling estava simplesmente sem palavras. O pensamento de acabar com a sua vida estava esquecido, as palavras de Miguel haviam feito com que ela esquecesse tudo – Eu... Sinto muito – ela falou confusa, não tinha pelo que se lamentar, mas lá estava ela, desculpando-se pelo erro dele. Miguel suspirou, e a abraçou.

-Não sinta, eu fiz tudo isso, eu sou o culpado, não tome essa culpa para si minha pequena – ele murmurou para ela. Aisling deu um sorriso singelo, limpando as lágrimas. E assim que Miguel a largou do abraço, ela deu um gemido de dor, seus machucados ardiam apesar de seu coração estar mais leve com as palavras do garoto que fora seu demônio, e agora se transformava em algo diferente, não um anjo, esse era o papel de Tiago, apesar dela não ver as coisas exatamente desse jeito. Mas Miguel estava mudando, e se tornando alguém melhor, e de certa forma, sem que ela soubesse, aquilo tudo era por ela.

-Não tomarei a culpa para mim, se você prometer que vai tentar ser alguém melhor, posso perdoar seus erros Miguel, mas você tem que se perdoar antes de tudo, tem que querer ser perdoado, e tem que merecer isso – Aisling sussurrou, a voz estava fraca, e Miguel viu que ela estava morrendo de dor, apesar de não querer falar. As palavras de Aisling ecoaram em sua cabeça, ele não merecia ser perdoado, pelo menos era isso que ele achava de si mesmo. Miguel estava tendo cada vez mais a certeza que merecia sofrer pelo que havia feito com Aisling, que era um demônio, um crápula, um idiota, alguém que não poderia ser perdoado, por mais que quisesse.

-Não mereço seu perdão Aisling – ele sussurrou – Você está machucada, e precisa ver um médico, ou alguma coisa assim... – ele começou a falar rapidamente, isso significava que estava nervoso. Aisling não queria médico e não queria preocupar mais pessoas, com o que tinha acontecido ali, havia sido uma besteira, e não precisava de um médico.

-Por favor, não envolva médicos, e mais ninguém nisso... – ela sussurrou mais uma vez, a voz estava fraca, e quase falhando, agora ela tinha certeza de que estava com muita dor, não havia quebrado nada, mas deveria estar cheia de hematomas.

-Aisling, o que esse monstro fez com você? – Tiago gritou, ele estava procurando Aisling, ficou preocupado com a demora dela, e resolveu procurá-la, ele sentiu que algo ruim havia acontecido com ela, quando passou por trás do palco, e viu-a chorando, e Miguel ali. Sem saber o que tinha acontecido, Tiago presumiu que o irmão havia machucado a garota.

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-Nada meu amor – Aisling sussurrou vendo Tiago se aproximar deles, e quase dar um soco no irmão, foi interrompido pelas palavras da loira, que o olhou com um sorriso frágil no rosto, ela estava com o rosto vermelho das lágrimas que não caíam mais, e com um hematoma na bochecha direita. Tiago a tirou dos braços de Miguel, e a acolheu nos seu.

-Aisling não minta para proteger esse idiota... – Tiago ia terminar a frase quando viu o irmão suspirar, e revirar os olhos, de um jeito que ele fazia quando eram pequenos. Tiago evitou um sorriso, poderia estar enganado, mas viu o Miguel que costumava chamar de irmão naquele gesto despreocupado, e preocupado ao mesmo tempo.

-Ela não está em sua totalidade mentindo, fiz mal a ela, por muito tempo, mas dessa vez quem o fez foi Jane, umas vadias, e uns imbecis, que vão ter o que merecem – Miguel falou dando um sorriso sarcástico e estalando os dedos da mão – Cuide dela Tiago, ela está bem machucada, eu resolvo isso.

-Seja lá o que aconteceu com você meu irmão, só não vá fazer mais besteiras do que tem feito ultimamente – Tiago falou assustando, enquanto aninhava Aisling em seus braços, e olhava espantando a mudança repentina de atitude do irmão.

-Não vou não meu irmão, mas o que irei fazer não é tão certo assim – Miguel deu uma piscada marota para o irmão, e levantou dali, deu uma última olhada em Aisling, que estava com os olhos fechados, e um sorriso suave no rosto. Fez um gesto com a mão para o irmão, e deu um sorriso macabro, ele iria dar uma lição para uns garotos idiotas. Ele já fora um daqueles garotos, o pior deles, mas não importava se o que fosse fazer seria hipócrita, estava com tanta raiva que aquilo parecia ser a única solução.

Tiago olhou o irmão assustado, um milagre tinha acontecido ali, deu um sorriso, e voltou o olhar para a sua namorada, que parecia estar muito machucada. Ele viu o violão que ela mais gostava quebrado, e suspirou, porque ainda faziam aquilo com ela?

-Meu amor, você está bem? – ele sabia que ela não estava, mas não podia deixá-la dormir, se tivesse batido a cabeça, seria perigoso. Tiago sabia disso muito bem, afinal de contas, ele queria ser médico, não queria?

-Estou com muita dor, minha irmã me deu uma bela surra – Aisling falou com um sorriso no rosto, apesar de dar um gemido de dor, ao se virar para olhar o namorado – Mas estou ficando bem, o que aconteceu com Miguel? – ela perguntou com a voz fraca. Tiago deu um sorriso para ela, tentando fazer com que Aisling sorrisse novamente.

-Eu não sei meu amor, mas eu diria que agora eu posso acreditar em milagres – Tiago sussurrou para a garota que recostou a cabeça no peito de seu anjo, e suspirou.

-Eu também acredito, e espero que tudo o que ele tenha dito seja verdade – Tiago não respondeu, apenas abraçou um pouco mais forte a namorada. “Eu também, eu também espero que seja verdade, e que ele tenha voltado a ser quem era”, foi o que Tiago pensou. Ele suspirou, e cuidadosamente ergueu Aisling, precisava tirá-la dali, e tratar dos machucados dela – Eu posso caminhar Tiago – Aisling falou dando uma risadinha nervosa, sentindo o namorado a erguendo, e tentou se por de pé, contendo um gemido de dor.

-Acho melhor eu te levar meu amor, você se machucou bastante, e enquanto eu estiver cuidando de você, espero que me conte exatamente o que aconteceu – Tiago falou já caminhando, com a loira nos braços, Aisling suspirou, e mordeu o lábio inferior.

-Tem certeza que quer saber? – ela perguntou em um sussurro, ele assentiu, e Aisling revirou os olhos – Eu te conto se você me der um beijo – Tiago sorriu, era a primeira vez que ela lhe pedia um beijo, e Aisling sentiu o coração bater forte assim que fez a pergunta.

-Então vai ter que contar tudo – ele sussurrou em resposta, vendo um sorriso lindo nos lábios carnudos da garota que ele amava, e sem pensar muito, Tiago beijou Aisling, mais uma vez, e durante o beijo, o amor dos dois preencheu cada centímetro do lugar em que estavam.