Faça Um Desejo

Capítulo 1 - Olhar de uma estrela


O mundo estava cinza quando minha mãe morreu. Ou ao menos assim me pareceu, pois as luzes estavam em um tom fraco, pastel, sem nenhum nome ao certo, o máximo que posso me aproximar é de um cinza extremamente pálido, tom entre branco e amarelo. Mas vejamos, creio que estou apressando de mais as coisas, é melhor começarmos do começo, certo? Pois bem, meu pesadelo teve início nove anos atrás, na véspera de meu aniversário, quando mamãe acordou com um brilho anormal no olhar. Era como se a luz refletisse em seus olhos, iluminando-os por dentro. No princípio me assustei, mas logo, confesso, passei a apreciar aquele estranho olhar... Mamãe, porém, mostrou-se ligeiramente preocupada, e logo foi à farmácia de Dr. Selligan, um amigo da família, que lhe receitou simplesmente um colírio amarelo-canário.

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A partir daquele dia, ela começou a se sentir mal. Parecia se cansar mais facilmente e era atacada por freqüentes dores de cabeça (isso além das febres altíssimas), mas nenhum sinal evidente da provável causa da doença. Eu era pequena, tive medo, medo de perder a pessoa que mais amava nesse mundo, e a que mais me amou, também. Quando via aquela mulher mirrada, de longos cachos loiros e incríveis olhos reluzentes lacrimejar com as fortes dores que sentia em seu corpo, não podia evitar, a acompanhava nesse coral de lágrimas. Os dias iam e vinham, mas a situação só piorava. Se formou um clima de tensão em minha casa, mamãe havia parado de trabalhar, e papai lutava para conseguir comprar seus remédios.

_Ela está melhor? - Eu sempre perguntava, ao chegar da escola.
_Sim, meu bem. - Dizia papai, tentando esboçar um sorriso no rosto.
Naquela época, isso era meu único conforto, mas eu não conseguia deixar de perceber a tristeza em seus olhos. Tentava tirar isso de minha cabeça, iludindo-me ao dizer que era apenas excesso de trabalho. Quando me via sozinha, então, uma lágrima traidora escapava dentre tantas outras firmemente presas a meus olhos, rolando pelo rosto e molhando minhas vestes. Sim, eu chorava. Por que? Bem, apesar da insistência de meu pai, mamãe apenas piorava, sua pele se tornava cada vez mais flácida e pálida, e seus olhos marejados tentavam inutilmente esconder a dor que sentia. Sua dor era a minha dor, mas não no corpo: Na alma.