Fernand passou as mãos pelos cabelos enquanto entrava em sua casa. Ainda estavam molhados e ele temia que se continuasse a dormir imediatamente após tomar banho, como fazia quase todos os dias, acabaria estragando o sofá onde sempre se deitava. Porém, não havia muito o que fazer, o rapaz sempre treinava sua irmã até altas horas e, após um dia longo de trabalho, não conseguia vencer o sono.
Sim, Fernand dormia no sofá velho da sala, pois sua casa tinha apenas dois quartos e ele acreditava que deveria conceder um mínimo de privacidade à sua mãe e à sua irmã. Não se incomodava em dormir lá, pois enquanto soldado já teve de dormir em lugares muito mais desconfortáveis.
Enquanto isso, Clarice cobria-se com seu lençol, aguardando o sono. Como de costume, ela deixava sua janela aberta e admirava o céu noturno imaginando como seria sua vida quando finalmente conseguisse se tornar parte do exército. Por mais que seu irmão fizesse questão de lembrá-la do quão árduo é ser um soldado, isso não a impedia de sonhar com batalhas emocionantes e, quem sabe, um pouco de glória.
Contudo, algo inesperado aconteceu. Um vulto surgiu diante da janela e rapidamente adentrou no quarto.

Fernand já roncava quando um grito agudo de socorro o fez cair do sofá. Esfregando sua cabeça enquanto tentava assimilar o que acontecia, o soldado grunhiu.
-Fernand: Eu sei, capitão, eu já estou...
Ele então se lembrou de que não estava no quartel, mas sim em sua casa. Um novo grito quebrou o silêncio, mas foi abafado um segundo depois. Fernand percebeu que ele vinha do quarto de sua irmã e não perdeu tempo, correu para lá mesmo sem ter seu machado em mãos.
Em questão de segundos o guerreiro da terra já está no quarto de Clarice, mas não havia sinal da garota em lugar nenhum. Porém, a janela aberta tornava um tanto evidente o que acontecera. Fernand saltou através dela e notou uma figura que corria pelas ruelas, carregando algo.
-Fernand: Clarice!
Depois de alguns passos, Fernand foi detido por um grupo de quatro encapuzados que surgiram de trás dos muros, construções e montes de entulho existentes no local. Obviamente eram aliados do seqüestrador e pretendiam impedir que o soldado resgatasse sua irmã.
-Fernand: Vocês mexeram com o cara errado, vão se arrepender!
-Encapuzado: Pelo contrário, você que mexeu com quem não deveria!
O indivíduo misterioso removeu seu capuz e revelou um rosto familiar, era um dos encrenqueiros derrotados por Fernand mais cedo naquele dia.
-Bitto: Pela sua cara posso ver que lembra de mim, eu sou Bitto, da gangue Granmali Lupus!
A gangue Granmali Lupus era bastante conhecida naquela região, uma das mais perigosas e organizadas que Fernand conhecia. Arrumar confusão com eles era garantia de sofrer algum tipo de retaliação e o manipulador da terra sabia muito bem que não conseguiria resolver seu problema com diálogo.
-Bitto: Como compensação pelo que você fez conosco hoje mais cedo ficaremos com a sua irmã. Ela é uma gracinha mesmo, tenho certeza que quando crescer um pouco mais nos servirá muito bem.
Fernand pressionou seus punhos e cerrou os olhos em resposta ao comentário, pronto para arrancar a língua do tal Bitto.
-Bitto: Não precisa me olhar desta forma, eu estou apenas brincando. A verdade é que apanhar faz parte da vida de qualquer membro de gangue, portanto vamos pegar leve com você e a sua família. Basta nos entregar cem moedas de ouro dentro de cinco dias e libertaremos sua irmãzinha sã e salva.
-Fernand: Então é isso? Para compensar o que eu fiz querem que eu pague a sua gangue?
-Bitto: Exatamente, e veja que somos compreensivos. Outras gangues cobrariam, no mínimo, quinhentas moedas.
-Fernand: É uma pena, mas eu não conseguiria tantas moedas nem mesmo após um mês trabalho, portanto terei de oferecer um tipo diferente de pagamento.
-Bitto: Como?
-Fernand: Isto é o que vocês merecem como pagamento!
Dezenas de rochas saltaram do chão, atingindo Bitto e seus aliados. Confusos e doloridos, eles mal tiverem tempo de pensar em se defender quando Fernand avançou, atacando-os com os punhos.
Em poucos minutos todos quatro membros da Granmali Lupus estavam caídos, Bitto era o único ainda consciente e tentava limpar o sangue que escorria de sua boca.
-Bitto: Idiota, o que pensa que pode fazer? Você não tem como saber onde levamos a sua irmã!
-Fernand: Por que acha que eu fiquei aqui perdendo tempo com vocês ao invés de seguir o desgraçado que levou a Clarice?
-Bitto: Hã?
-Fernand: É porque você vai me falar onde ela foi levada, por bem ou por mal.

Sete minutos depois, Fernand voltou para dentro de sua casa e a primeira coisa que viu foi sua mãe, assustada, pressionando as costas contra uma das paredes. O rapaz se sentiu culpado pela situação, mas agora não era o momento para desculpas, ele as pediria quanto sua irmã estivesse de volta. Portanto, pegou seu machado que estava pendurado na parede e, enquanto saía, fez um pedido à sua mãe.
-Fernand: Avise os soldados sobre o que aconteceu, diga que devem prender os homens que amarrei na árvore do nosso quintal e que os outros bandidos se escondem num túnel a oeste do condor de uma asa.
A mulher acenou a cabeça positivamente.

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