Verão preto e branco

“Baile funk na comunidade. Não vou poder entrar”. Quinn Fabray não acredita no minúsculo recado deixado em sua página no Facebook. Senão bastasse estar há mais três semanas separados, agora, o namorado preferia comparecer em uma festa sacrificando o contato diário através do skype. A loira bufa indignada e nem se dá ao trabalho de responder a mensagem.

O som ensurdecedor e o falatório dos antigos amigos confundem Daniel. Há dois anos morando no exterior, o ambiente da favela Santa Marta estava irreconhecível. Com sucessivas missões policiais, o trafico fora desmantelado e o sossego só era quebrado pelos infindáveis bailes. Era a primeira vez que o forasteiro retornava a sua comunidade. Os 30 dias passados no Rio de Janeiro estavam sendo fantásticos e Willian Schuester era ávido por conhecer os quatro cantos da Cidade Maravilhosa. Entretanto, o professor preferiu permanecer no quarto alugado para organizar a bagagem. A volta para Lima estava programada para as próximas setenta e duas horas. Tempo suficiente para praia, roda de capoeira e Maracanã. A canção “Bonde do Mengão Sem Frio” estoura as caixas de som e leva a turma de adolescentes a euforia. As diversas ligações da namorada são totalmente ignoradas. O celular só é descoberto novamente na manhã seguinte, entretanto, o atraso para o compromisso marcado com o professor na orla carioca anula a possibilidade de contato internacional. Futevôlei, praia e caipirinha... O que mais Daniel poderia desejar para as férias de verão? Bom, o toque do berimbau ecoa e o chamado dos amigos lhe conduz para a improvisada roda de capoeira. Will se espanta com a agilidade dos jogadores e acaba achando graça nas artimanhas usadas durante a “brincadeira”. Com dificuldade, o maestro tenta capturar a atuação do “afilhado” e se assusta com a queda do rapaz após uma eletrizante seqüência de chutes laterais trocados pelos “capoeiristas”. Entretanto, o próprio adversário oferece ajuda para que o rapaz se levante e o jogo continua normalmente.

Mercedes observa a porta do Breadstix sendo aberta com violência e sinaliza para Quinn. A expressão furiosa da sister só poderia ter um significado. Apesar do breve relacionamento com Rachel, o brasileiro não era exatamente alguém acostumado as regras informais de um namoro e a simples mensagem desmarcando o compromisso com loira parecia inofensiva. Contudo, não para a garota em questão. Finn entrega os pedidos dos amigos e escuta parcialmente a cômica narração da primeira briga do casal formado em Nova Iorque. O garçom temporário aproveita a distração do chefe e rouba um selinho da namorada antes de retornar ao trabalho. Mentalmente, o rapaz agradece por não ter que lidar mais com os acessos de raiva de Quinn. O rostinho angelical de “bonequinha de porcelana” não passara de apenas aparência. Por sua vez, a atual namorada do quarterback se diverte com a falsa indignação da antiga concorrente e arrisca a ação em defesa do rapaz ausente. A discussão entre as garotas prossegue com a conversa paralela entre Sam, Puck e Mike, que relatava as modificações no sistema de vigilância da empresa do pai. O encrenqueiro lamenta pelo termino do contrato de verão e do dinheiro extra. Puck aceitara de bom grado o pedido para substituir o amigo brasileiro durante a pequena viagem. Artie escutava pacientemente o tema se concentrando em seu milk-shake. O calor estava infernal em Lima. Tina chama a atenção do namorado e Brittany retira a máquina implorando para mais uma sessão de fotos. Quinn revira os olhos para a atitude infantil da amiga e critica novamente o namorado pela falta de tato. Puck também reclama da ausência de Lauren Zizes, treinando em algum acampamento específico para lutadores, e da diversão vivenciada pelo comparsa, enquanto “mofavam” na estúpida cidade do interior de Ohio. Em contrapartida, Sam se mostra satisfeito pela mudança para o pequeno apartamento no centro, os empregos formais conseguidos pelos pais, o ótimo salário na empresa Chang e a consolidação do namoro com Mercedes. A tentativa de segredo ruiu semanas após as Nacionais. A negra exibe um largo sorriso pela adorável declaração do seu garoto e decide matar as saudades do seu homem, ou seria cunhado? Enfim, com o seu irmão realizando intercâmbio na Inglaterra, a família Jones contava com um plano especial para ligações internacionais.

Will escuta o enjoativo Funk do Mengão Sem Freio soar incessantemente e trata de avisar o dono do escandaloso celular. O rapaz atende a ligação e solta uma estrondosa risada. Mercedes Jones era impagável. Além de lhe telefonar para arrancar detalhes da noitada fez questão de acionar a viva-voz para incluir o Glee Club inteiro. Daniel não sabia dimensionar a sua enrascada.

_ Então, gato, o Rio de Janeiro continua lindo? – brinca Mercedes.

_ O Rio é a cidade maravilhosa, minha querida! New Directions reunidos? – os gritinhos indicam que sim _ Você pode adiantar o tamanho da minha bronca? – gargalhadas ao fundo. Ele pode imaginar perfeitamente a namorada revirando os olhos.

_ Relaxa, Dan. Me conta, como que foi o baile funk?

_ É, na comunidade que eu me criei... A Favela Dona Marta... Foi dez! A primeira vez que eu pisei no morro desde a pacificação. Agora ta tranqüilo, sossegado demais em andar... – o silêncio estarrecedor recoloca os colegas na dimensão da problemática infância.

_ DANIEL! – a voz imperativa de Quinn rompe a tensão _ Você pode lembrar a data da sua volta para o Puck? Ele ta insuportável e eu não quero dividir o meu namorado com esse marmanjo.

_ To chegando em 3 dias, cara. Justamente na véspera do retorno da recuperação...

_ O que você ta planejando para as últimas horas no Brasil? – questiona a negra.

_ Minha mãe pegou folga nestes dias...

A ligação entra em assuntos mais amenos e as risadas se proliferam naturalmente. O integrante ausente anuncia que estava sendo convidado para jogar futebol e que estaria na internet durante a noite. A loira se acalma depois do contato e acaba sendo alvo da gozação do grupo inteiro. Finn se aproxima dos amigos trazendo mais uma rodada de refrigerantes e porções de fritas. O relato de Artie sobre as novas sessões de fisioterapia se torna o assunto principal e o rapaz explica que o esforço auxiliaria para o aumento de seus movimentos e por isso, os pais investiram na construção de uma pequena piscina em casa. A hidroginástica também era recomendada em casos semelhantes. A ideia de “inauguração” da piscina da família Abrams partiu do maior bad boy da Escola Willian Mckinley. O dia combinado coincidiria com o retorno do brasileiro, a viagem dos pais de Artie para um Congresso e o último final de semana de liberdade dos alunos em recuperação. A sugestão é aprovada por unanimidade.

“Cheguei”. Quinn Fabray não acredita na minúscula mensagem que lhe desperta praticamente na madrugada de sexta-feira. O relógio marcava apenas 7h26min. A resposta da garota é imediata e, para facilitar a indignação matinal, nada saiu conforme suas expectativas. Depois de trinta e dois dias distantes, o namorado preferia inicialmente organizar o apartamento. A loira bufa furiosa e nem se dá ao trabalho de responder a segunda mensagem. Jamais um garoto deixou escapar a oportunidade de estar a sós com Quinn Fabray. Agora, nenhum garoto jamais se comparou ao peculiar estrangeiro. Quinn levanta da cama e se encaminha para a cozinha com a sensação de derrota. Em menos de vinte minutos estava pronta e se dirigindo para a casa do professor de espanhol. Afinal, um mês com o adorado estrangeiro fora de suas vistas era demais. Estacionar o carro no costumeiro local e o tradicional sorriso do porteiro do modesto prédio. Velhos hábitos nunca deveriam mudar.

Três batidas na porta e passos acelerados. A abertura e segundos de silêncio puramente devotados à observação mutua. Os cabelos raspados, a gasta camisa da seleção brasileira e uma bermuda não combinando em nada com o modelito. O rosto mais sereno e os olhos com poucos resquícios de olheiras. Atordoado. Daniel parecia não assimilar a presença da garota tão cedo em sua porta e sequer se solta da maltratada vassoura retida na mão esquerda. Quinn encontra motivos suficientes para sorrir por ter sido acordada em plena “madrugada” de sexta-feira.

_ Sério? Você me trocou por uma vassoura? – o tom travesso da voz recoloca o garoto em órbita. A atitude apanha a visitante de surpresa. O abraço que praticamente lhe arranca do chão. Os braços que se encaixam perfeitamente ao seu corpo. O abraço. O gesto que mais sentira saudade nos dias separados. Saudade. A primeira palavra que ele lhe dirige em português. A resposta é no mesmo idioma. Saudade. O beijo é sutil, desprovido de pressa e recheado de saudosismo. Os rostos se afastam e forasteiro lhe brinda com um sorriso. _ Então, o senhor Schuester fugiu da faxina e sobrou para você? – debocha a loira selando a pequena distancia.

_ Não, a dispensa ta vazia e padrinho correu para comprar o básico... – a sobrancelha da loira arqueada. A nomenclatura exigia esclarecimento _ A minha mãe começou com essa história de “padrinho” e acabou pegando... Mas, entra! – o rapaz cede passagem para o interior do apartamento.

_ Você termina de varrer e eu tiro o pó, pode ser? – ele ri da ordem _ O que? Eu sempre ajudei em casa, Daniel. Anda, vai fazer a sua parte!

As gargalhadas são compartilhadas e, aos poucos, o recinto se torna novamente habitável. Will retorna com três sacolas e grita por ajuda. Os adolescentes correm para socorrer o professor, que cumprimenta a aluna e trata de guardar as compras. A primeira refeição do dia é preparada em um rodízio de tarefas rápidas. Os homens devoram as guloseimas e Quinn se esforça para não rir da cena bizarra. A conversa se limita as experiências de verão e o maestro se mostra satisfeito pelo entrosamento dos integrantes do coral fora da escola. Bem nutridos, é hora de retomar a arrumação da moradia. A manhã se encerra com a ligação do adulto para um restaurante da vizinhança e com o casal jogado no sofá da sala. O convite para o improvisado almoço é aceito de bom grado pela loira e os três se deleitam com a simples refeição. No primeiro horário, Will se retira para acertar detalhes na escola e pagar as contas mais atrasadas.

O jovem “faxineiro” se queixa do cansaço e do cheiro impregnado de suor em sua camisa “favorita”. O rapaz corre para uma ducha rápida, enquanto a namorada troca incessantemente os canais da televisão. O extravagante “Bonde do Mengão Sem Freio” ecoa pelo apartamento e a loira se apressa em atender o celular alheio após checar o número.

_ Ei, Quinnie. Pelo visto, o gato já está em casa! – brinca Mercedes.

_ É, o Dan ta no banho agora... – o risinho debochado do outro lado da linha envergonha a loira _ Nós estávamos limpando o apartamento, certo?

_ Sério? Faxina? Eu não teria tanta criatividade para pensar em algo tão inofensivo... Desculpa, sister! Você já comentou sobre a festinha no Artie? Seu namorado está intimado a fazer várias caipirinhas!

Namorado. A denominação tão recente ainda não havia sido incorporada ao vocabulário do casal. O telefonema é encerrado e o rapaz aparece na sala perguntando sobre os planos para o final de semana. A oportunidade ideal para colocar os assuntos totalmente em dia. A programação para a pequena “reunião” na casa do cadeirante é comemorada e a tradicional carona de Mercedes está no pacote noturno. Entretanto, o único compromisso plausível para o forasteiro encarar nas próximas horas seria a companhia da loira, do aconchegante sofá e de um filme qualquer. Daniel estava exausto. O colo da namorada é perfeito para conceder o repouso necessário para a longa badalação que teriam logo mais. Realmente, unir o Glee Club fora dos domínios escolares sempre acarretaria altas doses de emoção e insanidade.

As horas se passam, Quinn retorna para se arrumar em casa e o buzinaço promovido pela negra em frente a morada do professor de espanhol apavora os residentes. O brasileiro dispara pelas escadas para checar o motivo da barulhenta chegada. Mercedes praticamente agarra o amigo a primeira vista. A euforia pelo reencontro justifica a balburdia. Abraços trocados e a negra ruma para o novo endereço do seu namorado. O forasteiro se mostra contente pela melhoria na condição financeira da família Evans. Desta vez, a moça prefere o padrão civilizado de bater na porta e cumprimentar os sogros e os adoráveis cunhadinhos. A mãe de Sam recepciona Mercedes afetivamente e as crianças correm ao reconhecer o vozeirão. O quarterback reserva do Willian Mckinley aparece minutos depois arrumando o volumoso cabelo e caindo nos braços da sua garota. Um discreto beijo serve de cumprimento para o casal e, finalmente, o terceiro adolescente é apresentado. O nome de Daniel provoca o aumento do sorriso no rosto da mulher, que recordava perfeitamente do responsável pela indicação ao excelente trabalho do filho. Stacy também demonstra se lembrar do “menino do samba” e exige um abraço. O brasileiro cede gentilmente ao infantil pedido. A mãe recomenda juízo ao trio e pergunta novamente se o primogênito dormiria fora. Sam confirma, mas, garante que ficaria apenas na companhia dos garotos. Mercedes cora levemente pela informação extra. O trajeto se encaminha para apanhar a última passageira e a situação foge totalmente do embaraço. Os meninos engatam uma conversa sobre futebol e Quinn se acomoda no banco da frente. A temática muda radicalmente para a estadia do rapaz em solo tupiniquim e os relatos sobre os trinta e dois dias de viagem se tornam o centro das atenções no inicio da confraternização.

Puck aguardava os amigos com drinques variados. Artie, Tina e Mike se revezavam organizando os pratos com petiscos e doces escolhidos especialmente pela elevada dosagem de açúcar. A música eletrônica estoura as pequenas caixas de som do computador do dono da casa e desespera Rachel, assim que a pequena notável pisa na residência juntamente com Finn, Blaine e Kurt. Dois braços enlaçam a cintura do forasteiro e a grata surpresa atende por Brittany S. Pierce, que estava auxiliando o bad boy a organizar o acervo alcoólico. A latina e a lutadora continuavam ausentes devido a viagens de verão. Após relatar diversos episódios protagonizados no Rio de Janeiro, Daniel é encurralado pelos companheiros de coral e jogado na piscina sem a menor piedade. Quinn tenta inutilmente interceder pelo namorado, porém, se limita a gargalhar do estado deplorável do atleta após o pequeno trote.

Finn Hudson jamais demonstrou habilidade como grande observador. O caso é que não precisaria de muito esforço para compreender o atual estado de espírito da antiga companheira. Quinn nunca se pareceu tanto consigo mesma. O sorriso nunca esteve tão sincero e freqüente e a feição tão relaxada. E ele se sentiu péssimo ao constatar o responsável pela estrondosa transformação. Não, Finn não estava infeliz com Rachel. Na verdade, as mudanças perceptíveis na ex também podiam ser notadas nele. A dificuldade era compreender que Quinn não lhe mencionara mais como o “primeiro amor”. A judia nota a expressão tensa do amado e sussurra qualquer bobagem em seu ouvido. O grandalhão se remexe e abre timidamente o sorriso. Besteira. Ele amava Rachel Berry e aprovava o relacionamento Quinnel. O pavor era que futuramente a situação se repetisse e a baixinha, que agora gritava com Puck pela escolha de uma canção horrível, encontrasse outro alguém. O cutucão e a face irritada da namorada eram os sinais para retomar ao convívio dos amigos e afastar o encrenqueiro do som. Dois berros, o pequeno sermão e o chamado do brasileiro para que Noah lhe ajudasse a servir a próxima rodada de drinques. Pronto. O sorriso mais exuberante da Terra somente para a sua adoração. Sim, Finn Hudson amava perdidamente Rachel Berry e aprovava o envolvimento de Daniel com Quinn Fabray.

Puck corre ao escutar o pedido do comparsa para ajudar na produção das fabulosas caipirinhas. A loira também se voluntária para participar do preparo, apesar de estar mais interessada em se divertir as custas da dupla. Três rodadas da típica bebida brasileira são suficientes para dilacerar o bom senso da maioria dos adolescentes. O alvo dos garotos é a piscina e mesmo Artie adere ao passatempo flutuando em um colchão de ar. Brittany também acaba saltando na água sendo imitada por Mercedes. Mesmo com a noite abafada de verão, o banho fora de hora não empolga todas as meninas. Logo, o foco se direciona para realizar um antigo desejo do anfitrião. Carregar o som, o videogame e a televisão para a beira da piscina e virar a noite curtindo com os amigos ao ar livre. Pratos de comida e garrafas de cerveja são inseridos no delírio de diversão e rapidamente, o circo está montando e a discussão se instaura para a escolha do jogo. A roda em torno do aparelho aumenta e Daniel prefere apanhar mais doses de tequila e voltar para dentro da água. A loira estranha a recusa do namorado para a primeira partida do adorado game de futebol e resolve seguir o exemplo retornando para a piscina. Entretanto, se molhar estava terminantemente proibido. O rapaz se apóia na borda ao avistar a garota lhe observando.

_ Eu nunca imaginei que você recusaria uma partida de Fifa.

_ Eu nunca imaginei que você decoraria o nome de um jogo de videogame. – o brasileiro sai da água e quase encharca a namorada.

_ Não se atreva a me molhar, Daniel! – grita a loira autoritária segurando o riso.

_ Achei que você tinha aprendido a lição em Charleston... – ele agarra a cintura da menina e cola seus corpos _ Você nunca vai conseguir fugir de mim! – o forasteiro gargalha atraindo os olhares dos amigos.

_ E quando eu disse que queria? – a felicidade explode no rosto forasteiro.

A ação é automática. A queda. O espirro da água e a sensação imediata de frio, substituída rapidamente pela plenitude do contentamento. O casal volta para superfície para contemplar a nova debandada dos colegas para dentro da piscina. Os incessantes saltos agitam totalmente o cenário, contudo, a calmaria prevalece no carinhoso toque da mão do estrangeiro na face da namorada. Mais um beijo e a tradicional enxurrada de gozações. Mercedes se agarra no pescoço de Sam e Mike e Tina intensificam o abraço. Rachel conspira com Brittany e Puck a fim de azucrinar ainda mais os novos casais do Glee Club: Samcedes e Quinnel. Finn desiste de prolongar a estadia na piscina ao perceber a movimentação suspeita e a feição insana da sua adorável baixinha. O sinal vermelho dispara ao avistar o melhor amigo retornando do interior da casa de posse do seu velho violão. Ele não podia ficar de fora da pequena armação. Artie discretamente chama Tina e Mike para colocá-los a par do improvisado plano. Blaine e Kurt precisam de esforço extra para contar as risadinhas de euforia pelo número recheado de deboche. O primeiro acorde ecoado por Puck concede a deixa perfeita para que judia inicie a “operação”.

Você me acha bonita mesmo sem nenhuma maquiagem,

Você me acha engraçada quando conto a piada errada

Eu sei que você me entende, então, deixei as paredes caírem

Os casais percebem imediatamente a ironia encoberta pelo número musical com a canção de Katy Perry. A bizarra dancinha de Mike Chang aumenta o grau da brincadeira e Brittany se entusiasma e a combinação de passos arranca risos generalizados. Tina e Kurt engrossam o coro da canção “Teenage Dream”, ou seja, Sonho de Adolescente, exatamente o que os recentes casais estavam protagonizando pelo excesso de “fofura” nos carinhos trocados. Daniel aceita com bom humor a provocação inofensiva da turma e salta para fora da piscina, auxiliando a namorada. Os braços instintivamente circulam a cintura da menina até ser puxado por Brittany para formar o tradicional quarteto de dançarinos do Glee Club. Quinn supera a “separação” forçada e procura por blindagem da pegadinha ao lado do outro par “homenageado”. Sam e Mercedes não se preocupam com a graça dos amigos e continuam o leve namorico a beira da piscina. Repentinamente, Blaine apanha a bola oval e grita chamando a atenção do brasileiro. O arremesso é razoável para o único rapaz sem qualquer experiência no futebol americano. Dan passa a curta distancia para o quarterback titular e salta na piscina exibindo mais um salto mortal de seu extenso repertório acrobático. Puck larga o violão para apanhar a bola e grita provocando a maior balburdia da noite.

_ Ei, quem topa uma partidinha de futebol? Garotos contra garotas?

Os urros ganham os ares e as meninas, surpreendentemente, se apresentam eufóricas prometendo acabar com os respectivos adversários. Em um duvidoso “cara ou coroa”, Finn vence a namorada e tem direito a começar com a posse de bola. Kurt prefere ficar ao lado das garotas, enquanto Blaine vira a casaca e integra a equipe masculina. Gargalhando, o quarterback explica a jogada mais simples do esporte e lança para Mike, que é interceptado por Tina.

_ Mike Chang, eu exijo que você me entregue essa bola, senão prometo que começo agora mesmo uma greve de... – a palavra seguinte é sussurrada e o asiático nem cogita desrespeitar a ordem da namorada. Os companheiros de time xingam o pobre rapaz.

Artie recupera a posse depois de um horrendo arremesso e rapidamente liga o contra-ataque com o bad boy, que não encontra dificuldade ou ameaças pela frente. Touchdown. Rachel grita histericamente. A cômica cena desconcentra o time rival, que erra grotescamente o chute. Blaine é bastante zoado pelos colegas. Sam assume a posição de capitão e encontra o brasileiro completamente livre no campo adversário. 12 à 0. Não havia a menor possibilidade de permitir que o principal solista da Academia Dalton repetisse a ação. A escolha é por furar o bloqueio feminino. A improvisada barreira surte o efeito depois de Mercedes disparar três ou quatro gritos no ouvido do indefeso loiro. Sam não acha alternativa e entrega a bola nas mãos da negra. Finn implica com a atitude “covarde” até ser calado pela assustadora reação da baixinha. Ponto para as meninas. Puck se irrita com a “patética” submissão dos companheiros e se escala como quarterback ligando o ataque com Artie e, finalmente, nas mãos do imigrante. Daniel percorre somente quatro metros e se depara com Quinn de braços cruzados e parada em sua frente. O rapaz interrompe o pique e encara a loira confuso. O sorriso recheado de segundas intenções que surge na expressão da namorada assusta o estrangeiro, que se rende ao sentir o gosto memorável do beijo de Quinn Fabray. A menina comemora o “desarme” e joga a bola para Brittany, que não tem nenhuma dificuldade em fintar Artie e igualar o marcador. Na seqüência, o brasileiro devolve o truque “irregular” agarra a namorada pela cintura lhe arrancando brevemente do solo. O gritinho de surpresa distrai e diverte os companheiros. Estranhamente, os humores explosivos da dupla se completavam perfeitamente. Quinn aprendeu a relaxar e se entrosar realmente com os verdadeiros amigos e o forasteiro não demonstrava mais nenhuma reserva emocional.

Antes de você me conhecer, eu estava bem

As coisas estavam pesadas e você me trouxe à vida

Agora em todos os fevereiros, você será meu namorado

Tina acerta um belo chute e o jogo é encerrado com a vitória feminina. As garotas deliram pelo triunfo e caem na piscina para extravasar. Puck e Daniel correm para a cozinha a fim de preparar mais rodadas de caipirinhas. Blaine se responsabiliza em religar o som e escolher um repertório musical mais digno para a presença de uma diva, como fez questão de ressaltar a pequena notável. Finn releva o devaneio de grandeza da e se ocupa em depositar inúmeros beijinhos no rosto da garota. A madrugada se estende com intermináveis disputas no videogame, no karaokê e em sessões controladas de amassos. A exaustão se anuncia e a maioria opta em tomar o rumo de suas respectivas moradas. As meninas haviam combinado de pernoitar na casa de Mercedes para desgosto dos rapazes, que esperavam terminar a noite acompanhados. Finn, Kurt, Blaine e Mike também se despedem e partem antes que o relógio indique 4 da manhã. Puck, Dan e Sam ficariam para auxiliar o cadeirante e agilizar o compromisso do sábado. Um belo churrasco a beira da piscina. Antes de irem, as garotas tentam suavizar a bagunça descomunal na cozinha e no quintal. Totalmente embriagado, Puck se acomoda em uma cadeira na área externa da casa e adormece profundamente. Cansado pela festa e pela longa semana de trabalho, Sam se apossa de um colchão e desmorona. Artie mal agüenta manter os olhos abertos até alcançar a própria cama. Daniel se compromete em se despedir das meninas e trancar devidamente a residência. O silêncio do rapaz durante a rápida limpeza desperta a curiosidade da namorada. As garotas se encaminham diretamente para o carro de Mercedes para conceder a privacidade necessária para a conversa entre o casal. Escorado na porta, o garoto leva a mão direita ao cabelo raspado e disfarça o olhar desanimado. Ele estava ressabiado pela escolha da namorada em dormir na casa da sister.

_ Você realmente quer passar essa noite na Mercedes? – questiona timidamente o brasileiro. A mão livre do rapaz busca por contato e repousa no rosto da loira.

Vamos até o fim nesta noite

Sem remorsos, apenas amor

Nós podemos dançar, até morrer

Você e eu seremos jovens para sempre

_ Dan... Você sabe exatamente o que vai acontecer se eu ficar aqui... – Quinn comenta corando imediatamente por assumir a dúvida em partir ou permanecer e lidar com as obvias conseqüências.

_ O que? – pergunta divertido _ Nós já dormimos juntos duas vezes... E nós dormimos mesmo... – ele abraça a menina e cola a testa na dela. A incerteza feminina corroi a empolgação do adolescente _ É bobagem, ta? Só preciso entender que nos vemos em algumas horas... Não daqui a um mês... Então, boa noite? – o sorriso contido e sincero desarma Quinn, que se limita em corresponder ao beijo e o caloroso abraço.

Daniel mantém a porta entreaberta até que a loira feche a porta do carro de Mercedes. Ambos suspiram longamente ao concretizarem a nova separação. As meninas estranham a reação da loira e silenciosamente aguardam por esclarecimentos após o protesto no momento em que a negra fez menção de ligar o veiculo.

_ Eu acho que quero ficar com o Dan... – confessa a antiga cheerio gerando gritinhos absurdos em Rachel, Tina e Brittany. Mercedes muda o semblante e tenta combater a súbita mudança no cronograma. A black diva suspeita que o rapaz tenha dito algo para provocar tamanha transformação _ Não precisa se preocupar, Mercedes. É que... Nós... Bom... Parece tão... Ah, vocês me entendem... Pelo menos, a Tina e a Brittany entendem...

_ Tão certo? É, eu entendo perfeitamente. – comenta a asiática extremamente sorridente _ Mas, será que ele ainda ta acordado? Os meninos pareciam tão destruídos.

Quinn alcança o celular e digita rapidamente um texto para o namorado. O brasileiro estava estirado no sofá da sala assistindo a um episodio aleatório de Friends e lutando para permanecer acordado. A série sempre foi a sua favorita. O celular denuncia o recebimento de um SMS e o rapaz se assusta pela hora. “Acordado? Abre a porta, por favor?”. Ela teria esquecido alguma coisa? O menino olha para os cantos atrás de algum pertence da loira e se apressa em abrir a passagem. Outro susto. As meninas acenam do carro e Mercedes acelera e some de sua vista deixando Quinn para trás. O que diabos estaria acontecendo? A loira demora para formular a explicação por estar concentrada na visão bem a sua frente. A adorada camisa do Flamengo estava jogada na mesa da sala e os tênis esquecidos debaixo da estante. O peitoral poderia não ser tão exuberante na proporção de Sam ou Mike, contudo, era capaz de arrancar suspiros. O rapaz quebra o silêncio e lhe recoloca em órbita.

Você me faz sentir como se estivesse vivendo um sonho de adolescente

O jeito que você me excita

Eu não consigo dormir, vamos correr e

Nunca olharemos para trás, jamais olharemos para trás

_ Você esqueceu alguma coisa? – ele simplesmente pergunta. A ingenuidade mesclada com a ponta de preocupação no timbre de voz convencem a menina definitivamente. Os lábios são colados inesperadamente.

De qualquer jeito, o forasteiro tranca a porta e tenta processar a postura da namorada. Ninguém poderia exatamente explicar como os beijos se tornavam mais intensos, os toques mais urgentes e as peças de roupas se acumularam pelo chão. Não havia muito que raciocinar depois de acordar pela terceira vez nos braços do estrangeiro trajando apenas a camisa do idolatrado time de futebol. Abrir os olhos é a tarefa mais constrangedora do novo dia. A primeira visão é do braço do namorado enlaçando a sua mão esquerda. Os flashes do inusitado acontecimento se repetem e a menina tenta conter o principio de dor de cabeça pelo exagero na noite anterior. Mesmo lidando com os estágios iniciais de ressaca, Quinn acorda plenamente feliz. O quase casal, finalmente, havia se tornado concreto. O semblante muda ao imaginar a reação das amigas no reencontro. Ela seria motivo de chacota por meses. A garganta seca desconcentra os pensamentos da loira, que se desvencilha sutilmente do abraço do adorado brasileiro e se encaminha para a cozinha atrás de líquidos sem resquícios de álcool. A movimentação perturba o pesado sono do adolescente, que preguiçosamente absorve o recente panorama. Bermuda no corpo? Confere. Tênis embaixo da estante? Confere. Camisa do Flamengo em cima da cadeira? Não confere. Barulho na cozinha às 7h42 de sábado? Estranho... O forasteiro leva as mãos a cabeça e tenta manter o equilíbrio nas curtas passadas. A linha de raciocínio do rapaz é dissipada com a visão de Quinn vestida somente com a sua camisa predileta... Apesar da iminente ressaca, o desfecho da noite havia sido extraordinariamente bom.

_ Eu vou ter que mudar de time de futebol... – a voz mansa pega a menina de surpresa _ Porque não rola mais torcer para um bando de marmanjo depois de te ver com essa camisa... – a loira vira-se para encarar o namorado e receber o primeiro beijo da manhã _ Bom dia, branquinha.

Quinn enlaça o pescoço do brasileiro rindo com o apelido recentemente adquirido. Algum sentido realmente existia na denominação. A sua pele clara combinava perfeitamente com o tom excessivamente moreno do imigrante. Ela repousa a testa na dele e tenta amenizar a vergonha em encontrá-lo depois de tamanha ousadia.

_ Desculpa se te acordei, Dan... – diz a menina em um fiapo de voz mirando o chão. O acanhamento depois do ocorrido era visível _ Eu tava morrendo de sede e começando a sentir uma leve dor de cabeça... Me lembra de dispensar as suas caipirinhas de agora em diante, ta? – sorri forçosamente.

_ Você... Você bebeu... Muito? – o semblante masculino torna-se contraditório _ Quero dizer... O que... Nós... O que... Rolou... Então? – ele teme completar a sentença.

_ Eu tava bem ciente, ta bom? E... Foi... Incrível... – o rosto da menina é tingido de vermelho e ele deixa escapar uma risadinha _ O meu rosto deve ta queimando... Mas... Simplesmente... Pareceu certo. – ele beija levemente os lábios da namorada e lhe abraça.

_ Certo? Eu trocaria a eternidade por esta noite! – cantarola encantadoramente o trecho da canção Relicário arrancando um exuberante sorriso da loira _ Agora... Acho que vou preparar um café para diminuir o efeito dessa ressaca. Você vai querer? – ela acena positivamente e deposita um selinho nos lábios do rapaz antes de se encaminhar para banheiro da residência. Por lapso de sorte, nenhum dos garotos acordou durante a madrugada. Contudo, não havia motivos para abusar da situação.

_ Você não vai mesmo devolver a minha camisa do Flamengo, né? – fala o rapaz ao avistar a garota arrumada e ainda trajando o “manto rubro-negro”.

_ Você não vai mesmo me oferecer café preto, né? – devolve a menina apanhando a xícara da mão do estrangeiro.

_ Café preto ajuda a cortar o efeito da ressaca, Fabray. To pensando em dar um mergulho depois... – a loira revira os olhos _ Eu tenho que movimentar o meu ombro... Aqueles arremessos não fizeram nada bem. Além disso, certa pessoa resolveu usar o meu braço como travesseiro... – provoca comicamente a namorada.

_ Ah! Você roncou a noite inteira, Daniel! – dispara a menina entre risadas.

_ Eu só ronco, quando to cansado... E você sabe direitinho, porque eu...

Diversos tapas no braço dolorido impedem que o rapaz termine a frase comprometedora. A face de Quinn é tomada novamente pela vermelhidão e sonoras gargalhadas são abafadas pelo menino para evitar represarias. A paz selada com um demorado abraço e a aceitação em, pelo menos, permanecer na beira da piscina enquanto o brasileiro relaxava dentro da água. No entanto, o exercício é temporariamente esquecido após confrontar Noah Puckerman totalmente largado em uma das cadeiras do quintal. O comparsa se aproxima e interrompe o barulhento sono do amigo bad boy, que desperta desorientado e irritado por receber o escaldante sol diretamente em seu rosto. Quinn se compadece pelo estado torpe do cafajeste e se dispõe a buscar uma xícara de café. O espírito de “solidariedade” não contagia o namorado, que se farta em debochar da apatia matinal do amigo.

_ Dormir na rua... É uma ideia retardada mesmo para você, Puck!

_ Eu fui até onde minhas pernas agüentaram... – a dupla explode em gargalhadas _ Parece que eu perdi o melhor da noite, não é? – devolve a gozação, o brasileiro desconversa _ Qual é, cara? Eu sou o rei do sexo desta cidade! Sei exatamente quando duas pessoas fizeram... E você tem praticamente um letreiro na sua testa! – o imigrante mira o chão incomodado.

_ Eu não vou falar sobre isso, justamente, com o cara que engravidou a minha namorada. – dispara contendo a risada.

_ Espero que vocês tenham sido mais cuidadosos... – a loira escuta o comentário e olha indignada para o forasteiro. Encrenca a vista _ Café preto? Fala sério, Quinn! – o rapaz diverte o casal com a horrenda careta ao ingerir o liquido quente _ Isso é horrível!

_ Café preto sem açúcar... Ajuda a cortar o efeito do álcool no organismo... E um banho de piscina também cai bem, você topa? – convida o brasileiro. O moicano aceita imediatamente.

Quinn revira os olhos para a empolgação descomunal dos eternos meninos depois de tamanha agitação e escassas horas de sono. A menina apanha a xícara vazia e se encaminha de volta para a cozinha a fim de lavar a pouca louça, que haviam usado para preparar o bendito café. Depois de encerrar a breve tarefa, ela mira o relógio e resolve procurar pelos únicos seres acordados na casa. O brasileiro relatava mais um episodio dos dias no Rio de Janeiro, enquanto o ouvinte soltava piadas e risadas eventuais. Com o cenário mais calmo, a garota se arrisca e acomoda-se na beira da piscina. Ela troca olhares com Puck, que percebe a intenção e logo se aproxima. A seriedade impera nos pais adolescentes. Dan demora a diagnosticar o motivo da mudança e trata de sair da água e sentar-se ao lado da namorada esperando pelas devidas explicações.

_ Vocês estão sóbrios o bastante para conversarmos? – os dois confirmam, a loira prossegue _ Eu e o Puck queríamos falar contigo, Dan, a respeito da nossa filha... – a peça que faltava é revelada _ Você sabe... Bem... Nós encontramos a senhorita Corcoran morando em Toledo com a Beth... – a comoção corroi o esclarecimento e o judeu rapidamente se compromete em continuar a explanação.

_ Toledo fica a uns 130 quilômetros daqui... Duas horas de viagem... Bom, o importante é que temos visitado a pequeninha, sabe? – a felicidade irradia na feição do encrenqueiro _ É surreal a semelhança dela com a Quinn.

_ Eu sei... Recebi algumas fotos por email... E fiquei contente por vocês... Mas, o que aconteceu agora?

_ A Shelby falou que esperava que entrássemos em contato e que aprova a nossa aproximação... Só que decidimos não apressar as coisas... Por isso, decidimos visitar a Beth a cada quatro ou seis semanas... O caso é que desta vez a própria Shelby nos convidou... Parece que ela e a Rachel estão voltando a se falar... E, bem... A ideia seria que a Rachel nos acompanhasse desta vez... No próximo domingo... Mas, eu queria que você também fosse... Eu queria que você conhecesse a Beth... – finalmente, o mistério é desvendado. O garoto se mostra surpreso pelo inusitado pedido.

_ A senhorita Corcoran pediu para que cuidássemos da pequeninha, enquanto ela tenta se acertar com a Berry... Vai ser dez, cara! – o comparsa engrossa a suplica. O choque é parcialmente absorvido.

_ Eu vou junto, sim. – sela o compromisso o brasileiro sendo agarrado pelos braços da namorada _ Agora... Acho que sobrou para a gente adiantar os preparativos para o churrasco... Porque o Sam e o Artie estão ferrados no sono!

_ Beleza... Eu vou trocar de roupa, pegar a chave do carro e nós jogamos para o mercado, pode ser? – sugere Noah.

_ Podemos passar no apartamento do senhor Schuester antes? Eu tenho que pegar mais uma muda de roupa... Já que a minha camisa foi confiscada! – o garoto do moicano estapeia a cabeça do amigo ao levantar e sumir no interior da casa. Quinn confere o desaparecimento e respira profundamente. Embate a vista.

_ Por que diabos você contou ao Puck sobre essa noite? – ela censura a revelação ainda aninhada nos braços do namorado.

_ Eu não disse nada... Ele percebeu por conta própria... Não tenho culpa se você me faz exalar felicidade, branquinha! – a declaração rouba o ar e o embaraço se instaura ao imaginar a postura das meninas no reencontro.

_ As garotas vão me azucrinar por semanas... Só espero que, por enquanto, não chegue aos ouvidos do Artie. Eu morreria de vergonha... – ela esconde o rosto no peito do brasileiro, que gargalha pela reação.

O encrenqueiro retorna e o trio se desloca inicialmente para a casa do professor de espanhol. Will estava inadvertidamente exausto pelas horas de vôo, faxina e organização do mês fora da realidade de Lima. Contas, prazos, aulas de recuperação e afazeres atrasados por causa da viagem de verão. Entretanto, nada que não pudesse contornar. Naquela manhã, o sono atrasou ainda mais as intenções matinais de iniciar o planejamento do próximo ano letivo e os estranhos barulhos oriundos da entrada de sua morada obrigam o docente a levantar de uma vez. O afilhado descamisado, Quinn Fabray levemente corada por ser flagrada pelo maestro utilizando a camisa do namorado e Noah Puckerman com fisionomia bastante sonolenta. O afilhado justifica a pequena invasão pela necessidade de roupas secas, já que a nova piscina da família Abrams era praticamente irresistível. O rapaz ainda apanha duas sacolas repletas de lembranças trazidas do Brasil. O semblante de Puck se ilumina ao receber como presente uma bola de futebol e a camisa oficial do Santos com o nome do idolatrado Neymar. A loira gargalha pela reação descabida do bad boy diante dos simples agrados. Os adolescentes se despedem e o homem exige uma ligação mais tardia para confirmar se o protegido legal pousaria novamente fora. Will Schuester balança a cabeça totalmente atordoado pelo excesso de informação trazido com os alunos. Realmente, era ótimo estar novamente em casa.

Daniel conduz as compras para um “verdadeiro churrasco” e o resultado são quatro sacolas com os mais variados itens. Sam e Artie já se mostravam serenos ao ponto de colaborar nas tarefas para o início do almoço. A churrasqueira é colocada próxima a piscina e aos aparelhos eletrônicos. Com parte das carnes já devidamente inseridas no fogo, as respectivas recordações do solo tupiniquim são entregues para a dupla recém-acordada. Camisas da seleção brasileiro e vários cd’s e dvds brasileiros. Sam e Artie agradecem a lembrança e o dono da residência se apressa em escolher um dos novos discos para tocar. A preferência coincide com a dica de ícone branco do rap brasileiro: Gabriel, o Pensador.

O loiro anuncia que recebeu uma mensagem da namorada confirmando que estavam a caminho e que precisariam utilizar a cozinha da casa para preparar os pratos que acompanhariam o churrasco. A aflição pelas prováveis brincadeiras preenche o pensamento da única garota do local, que tem noção da cilada adquirida ao escutar o deboche tradicional de Santana Lopes. A latina havia retornado para Lima naquela manhã e se informado com as garotas sobre os planos para o final de semana. Obviamente que Mercedes, Rachel, Brittany e Tina sentiram-se totalmente a vontade para contar detalhadamente o curioso encerramento da pequena reunião do New Directions. Puck não consegue conter a gargalhada ao ouvir a provocação da antiga paquera.

_ Você, finalmente, justificou o seu apelido, não é? Pode comemorar, Ligeirinho, você recuperou um terço do meu respeito! – dispara a latina ao trocar abraços com o brasileiro. O rapaz evitou engrossar as piadinhas e julgou mais adequado conceder suporte abraçando a namorada.

Logo, a velha caminhonete dirigida por Finn é estacionada e o quarteto ausente se apresentada, cumprimentando devidamente a amiga recém-chegada da América Latina. Daniel retoma a distribuição dos simbólicos presentes aos companheiros de coral e consegue uma folga das provocações. A última coisa que pretendia era que o ocorrido chegasse aos ouvidos do anfitrião ainda naquele fim de semana. Rachel corre para saudar o namorado e reclamar com Noah sobre a falta de opções vegetarianas no cardápio principal. Rapidamente, o judeu exibe o espeto recheado de pães e rodelas de abacaxi com canela. A menina sorri pela gentileza e agradece os responsáveis pelo churrasco calorosamente. Finn ri da afobação da baixinha e teme ao notar o olhar fixo de Quinn no instante do abraço de Dan e Rachel. Entretanto, a única ação da loira é convidar a pequena notável para auxiliar na escolha dos pratos extras para o almoço. Na cozinha, as meninas tem mais privacidade para arrancar da antiga capitã das lideres de torcida a desfecho da noite anterior. Quinn cora pelas perguntas invasivas, principalmente, de Santana e não entra em detalhes sobre a primeira noite com o adorado brasileiro. Para sorte da loira, a entrada de Kurt e Blaine muda drasticamente o tema da conversa. O extravagante solista estava eufórico pela novidade do dia. Os pais de Blaine, enfim, haviam concordado com a transferência para o Willian Mckinley. O solista da Academia Dalton é praticamente obrigado a jurar que realizaria as audições para o Glee Club. No quintal, Artie, Mike, Finn e Sam disputavam uma partida de truco, enquanto Puck e Dan revezavam a vigília sobre o churrasco com rápidos mergulhos na piscina.

Blaine deixa o namorado na companhia das amigas e se junta aos garotos, assumindo no carteado a vaga de Artie, que preferiu atender aos pedidos insistentes da ex-namorada e iniciar a primeira partida de videogame da manhã. Com certo desgosto, Santana acompanhava a provável tentativa de reaproximação protagonizada por Brittany. A ausência no verão culminou em um distanciamento inevitável das melhores amigas e total liberdade para que o garoto engatasse a reconciliação. Contudo, a tristeza era imensamente superior ao testemunhar que a iniciativa partia da confusa menina.

O celular toca incessantemente e o dono do moicano corre para atender a ligação. Sorri ao perceber o nome no visor. Lauren Zizes. A peculiar namorada avisa que estaria de volta em uma semana e que faria o rapaz em pedaços se soubesse de qualquer escapulida. O encrenqueiro garante fidelidade e esclarece que a “desordem local” se resumia a mais uma reunião dos integrantes do grupo musical. Ela relaxa e tenciona repassar lembranças aos amigos. Noah encerra a ligação e relembra ao comparsa a tarefa mais importante antes do almoço. A produção de caipirinhas. O imigrante sai da água e se encaminha para o cômodo ocupado pela ala feminina do New Directions.

_ Eu preciso concordar com a Santana neste caso. – ressalta Kurt no instante da entrada do brasileiro na cozinha _ A camisa de futebol ficou muito melhor na Quinn... E você, se torna mais interessante sem camisa, Dan. – o rosto do rapaz é tingido de vermelho _ Ele não fica uma graça envergonhado, garotas? Só sinto falta dos cachinhos. – o soprano passa a mão pelo cabelo raspado.

_ Eu cansei de dizer isso, mas, parece que o Dan resolveu apoiar a moda lançada pela minha sister em Nova Iorque. – Mercedes refere-se ao corte mais curto adotado pela loira durante as Nacionais.

_ Prometo pensar em deixar crescer denovo, ta? – compromete-se o rapaz, a dupla aplaude _ Vocês vão ficar aqui a manhã toda? Só vim fazer caipirinha e já to voltando pra piscina... A água ta ótima!

_ Estamos decidindo os últimos detalhes para o almoço, Dan. Revanche no Fifa depois? – ironiza Tina, ele aceita o desafio. A asiática, a latina e o extravagante garoto se retiram.

Mercedes e Rachel terminam de ajeitar o cardápio para agradar os diferentes gostos da turma e solicitam se o rapaz precisaria de ajuda para preparar a bebida. Ele recusa educadamente. O casal tem novamente um momento a sós e a aproximação é imediata. Os braços dele repousam na cintura da garota, que enlaça o seu pescoço. A ação dele é acabar com a milimétrica distancia com um beijo.

Meu coração para quando você olha para mim,

Apenas um toque agora, baby, eu acredito

Isto é real!

_ As garotas pegaram muito pesado? – ela nega colando a sua testa na dele _ Que bom! Eu não queria que as coisas acabassem fora de controle ou que você se sentisse constrangida... – ela assegura estar bem _ Porque eu não consigo parar de sorrir... E ainda tenho que aturar o Puck me enchendo por causa disto! – ele leva a mão livre para escasso cabelo. Gesto típico de embaraço.

_ O Kurt ta certo. – ele estranha a afirmação _ Você fica muito fofo com vergonha! – ela deposita um beijo inocente nos lábios do namorado e resolve apressar a produção do drinque tropical. A manhã estava exuberante demais para ser passava na clausura de uma cozinha.

O casal retorna para o quintal com duas caipirinhas prontas. Os urros de comemoração são generalizados e os adolescentes correm para desfrutar da bebida. As cervejas são abandonadas temporariamente. Rachel implicava com Puck e Finn pelo jeito descuidado em supervisionar o desenvolvimento do churrasco e clama pela presença de Daniel. Quinn brinca com a urgência na solicitação da judia, que dispara mais critica ao trio de cozinheiros. A rivalidade entre as garotas estava praticamente enterrada. Finn tenta conter o ímpeto da namorada lhe convidando para um mergulho. A menina aceita a sugestão, não sem antes descarregar ordens na dupla responsável pela carne. Sam e Artie perdem mais uma partida de truco para Mercedes e Brittany, enquanto Mike sofre para apenas empatar com a namorada em uma partida de Fifa. Santana releva as pretensões de revanche masculina e se aproxima do trio nas mediações da churrasqueira. A latina palpita no cozimento dos alimentos e se entretem relatando os pontos visitados durante a sua viagem familiar. Blaine e Kurt seguem o exemplo Finchel e decidem relaxar na água. A temperatura em Lima beirava os 35°C.

O almoço é servido e a algazarra aumenta consideravelmente com a união dos treze adolescentes em uma improvisada mesa. O churrasco é aprovado e a nova remessa de caipirinhas trazida por Dan e Puck é recepciona com uma salva de palmas dos colegas. Pratos são repassados indefinidamente, bebidas solicitadas, temperos atravessam os ares e conversas paralelas se misturam a total falta de ordem. O som no máximo extravasa mais uma lembrança do solo tupiniquim e o samba embala o almoço do New Directions. Rachel questiona sobre a opção musical e não entende o nome “Exaltasamba”. A tentativa frustrada da moça em repetir corretamente o nome arranca risadas e a brincadeira é adotada pela maioria. O bom humor é interrompido com o susto de Finn ao constatar que possuía mais duas horas de folga antes de se encaminhar para o trabalho. Puck também pragueja pela necessidade em abandonar a curtição e pergunta sobre a programação noturna. O vozeirão de Mercedes se propaga e a sugestão é ovacionada.

_ Nesta noite, a comunidade da minha Igreja vai promover uma quermesse para arrecadar dinheiro para algumas obras sociais. Vai ser bem simples e comportado, mas, acho que podemos nos divertir! Podemos emendar com uma maratona de Friends, não é?

A refeição é consumida e a debandada dos “trabalhadores” esfria a exorbitante bagunça na casa da família Abrams. Mercedes e Sam também se despedem com a intenção de auxiliar nos preparativos para o evento da noite. O restante se divida na arrumação da cozinha e do quintal. Artie se acomoda na sala e aguarda pelo termino dos afazeres domésticos escolhendo o jogo ou o filme para distrair durante a tarde de sábado. Tropa de Elite é eleito pelo anfitrião e os casais remanescentes se acomodam na sala de estar. O ventilador não era suficiente para aplacar o crescente calor de Ohio e a preguiça começava a se manifestar entre os adolescentes. Elogios ao filme brasileiro e a piscina serve brilhantemente para refrescar a ensolarada tarde de sábado. O entardecer marca o temporário abandono da casa para o programa da noite. Caronas previamente combinados e a maioria se encaminha para as respectivas moradias. Mike se dispõe a fazer companhia para o dono da residência.

Will mudava os canais da televisão sem encontrar nada interessante. A empolgação do professor desapareceu em paralelo a elevação da temperatura durante o dia em Ohio. O barulho de carro e a subida apressada das escadas denunciavam a chegada do elétrico “afilhado”. O rapaz abre a porta e cumprimenta animadamente o adulto, que interroga sobre o almoço do coral. O adolescente simplifica com um “excelente” e se encaminha para o chuveiro. O maestro releva a falta de vontade em detalhar o encontro e apanha um livro qualquer. Minutos depois, o garoto se apresenta mais sossegado e senta-se ao lado do guardião legal. O rapaz conta entre risadas o alvoroço na casa de Artie e a proposta de prestigiar a quermesse da igreja de Mercedes.

_ Você não acha que seria legal aparecer por lá? Todo mundo do coral vai e, bem... Seria a oportunidade perfeita para convidar a senhorita Pillsbury! – atiça o jovem recebendo uma bela almofadada do adulto.

_ Você não está muito novo para me dar conselhos amorosos, Daniel? Mas, obrigado pela sugestão... Eu posso considerar pensar a respeito! – o brasileiro gargalha com a insegurança do “padrinho” e se espreguiça no sofá prestando a atenção no filme. Will oferece a bacia de pipoca e o rapaz se esbalda. Nunca foi tão bom estar de bobeira em casa.

Casa. A denominação não passava da porta na residência, atualmente, ocupada apenas pela mãe e a filha mais jovem da família Fabray. Quinn tinha perfeita noção de que a família sempre viveu de aparência, que culminaram com a sua expulsão, a separação e a adoção da pequena Beth. O pedido comovido da mãe após as Regionais do ano passado para retornar para o conforto do lar não passou da porta. Dali para dentro, pouco dialogo e muita, muita falsidade para reestruturar o aparente lar. Pela falta de apoio, Quinn quase perdeu a companhia dos amigos, quase sabotou o Glee Club nas Nacionais, quase arruinou o quase romance com o estrangeiro. Quase desistiu de tudo. Quase. Agora, ela havia feito às pazes com quase todo mundo. Quase, porque não fazia questão alguma de se acertar com a arrogante mulher que preferia se contentar em dirigir-lhe a palavra para futilidades do que para perguntar como estava a filha. Quinn abre a porta cuidadosamente e corre para subir as escadas. Contudo, é interceptada diante da porta do próprio quarto. Quase. A voz distante da mãe pede um minuto de atenção. Ela bufa e, pela primeira vez em 48 horas, retira o sorriso do rosto.

_ Onde você estava, Quinn? Liguei milhares de vezes para o seu celular! – a garota revira os olhos_ Bem, sua irmã acabou de ligar nos convidando para passarmos juntas o restante do fim de semana. Eu arrumei rapidamente as coisas para sairmos imediatamente. Então, pegue apenas o necessário e... – a frase é cortada.

_ Eu não vou! – a mulher fecha o semblante _ Eu passei o último mês inteiro praticamente em casa, porque meu namorado estava viajando e meus amigos ocupados! A senhora sabia disto e nunca me convidou para nada. Agora, que todos estão em Lima... Eu não vou abrir mão dos meus planos para sair correndo no seu primeiro chamado, mãe. – a adulta tenta manter a compostura _ Sinto muito, mas, já combinei de sair com o pessoal do coral.

_ Você praticamente odiava essas crianças e agora não pode passar um único final de semana longe? Seja razoável, Quinn. Estamos falando em visitar a sua irmã ou você não tem mais tempo para sua família?

Quase. Quinn estava quase perdendo a paciência com a insistência descabida da mãe. A primeira resposta que surgiu em sua mente seria responder raivosamente sobre o papel de sua família. A família de aparência havia sido bem objetiva desamparando-a no momento mais critico de sua recente trajetória... Reação completamente oposta a adotada pelas crianças do coral e, principalmente, pelo namoradinho. Como a mãe gostava de nomear o forasteiro. Quinn respira fundo e ajeita a camisa do Clube de Regatas Flamengo tentando organizar os pensamentos. Judy Fabray sequer tinha reparado na exótica vestimenta utilizada pela filha, na verdade, a mulher sequer tinha se interessado em saber a identidade do atual namoradinho. A garota argumenta racionalmente com a mãe, que consente com a estadia em Lima. Quinn desconta a raiva pela postura surreal da mulher na porta do quarto.

A ação automática é apanhar o celular e buscar o número do adorado brasileiro. Porém, o menino deveria estar esgotado. Mercedes? Ocupada com os preparativos para a quermesse. Kurt? Agarrado com Blaine. Com o avançar dos minutos e a saída anunciada da mãe, os nervos se acalmam e ela se entretém ao verificar a página pessoal no Facebook. O alarme do chat virtual soa denunciando o recebimento de uma mensagem de Rachel Berry? Estranho. Não havia mais inimizade ou rancor desde o ajuste de contas na noite do baile, todavia, a amizade ainda engatinhava e não havia sequer intimidade entre as garotas. “Você e o Dan precisam de carona para a noite?”. A loira gargalha diante do monitor. Somente a inconseqüente solista seria capaz de lhe arrancar gargalhas após o embate com a mãe. Apenas imaginar a chegada na quermesse com Finchel parecia surreal, cogitar a proeza era impossível. Surpreendentemente, dividir o carro com Puck e Artie se tornara bastante agradável depois da fatídica viagem para Charleston. “Obrigada Rachel, mas, nós já combinamos com o Puck”. A judia ainda pergunta quatro ou cinco coisas sem a menor importância antes de se despedir.

O horário voa e na seqüência, as incessantes buzinas do carro do bad boy lhe tiram a paciência. Ela desce as escadas e tranca a casa antes de cumprimentar os amigos. Noah reclama do cansaço pela jornada extra na empresa de monitoramento Chang e o cadeirante enumera as farras efetuadas na ausência do “trabalhador”. A loira não leva a sério e trata de mudar o rumo da conversa para a música sendo tocada no momento. Artie esclarece se tratar de uma banda brasileira épica: Legião Urbana. A levada de rock agrada aos ouvidos do trio, que logo estão parados na porta do apartamento de Will Schuester. O brasileiro entra no veiculo, elogia o repertorio musical, cumprimenta os amigos, beija a namorada e rindo excessivamente relata a provável aparição do professor de espanhol e da conselheira estudantil na quermesse.

Mercedes irradia alegria ao avistar os amigos chegando á formidável quermesse. A mãe da garota faz questão de receber calorosamente a gentil “irmã branca” e o melhor amigo da filha. Quinn caiu nas graças da afetiva senhora no período em que residiu com a família Jones e a dedicação com que Daniel reservara a jovem negra nos últimos meses cativara a agradável senhora Jones, que agendou para a noite de quarta-feira um jantar com o casal e o tímido genro. Aos poucos, Sam era introduzido no convívio da família.

O grupo se reúne e procura pelas melhores opções de diversão. Brincadeiras, jogos de sorte, guloseimas e muitas risadas recheiam a noite de sábado. Respirando brevemente e devorando uma porção de fritas, Dan, Quinn, Sam e Mercedes vislumbram Will e Emma entrando disfarçadamente no recinto. O quarteto se apressa em acabar com o sossego do potencial casal. O professor se alegra ao encontrar o grupo predileto de alunos e Emma se constrange parcialmente pelo flagrante.

Os adolescentes devoram metade das possibilidades gastronômicas do pequeno evento e partem da quermesse diretamente para a casa de Artie beirando às 11 da noite. O maestro recomenda juízo extremo para os estudantes e a dupla de encrenqueiros aconselha justamente o aposto para o adulto. A sala de estar se transforma em um verdadeiro campo de guerra. O plano era que todos pernoitassem na casa e a repetição de qualquer coisa que lembrasse o acontecido entre o casal Quinnel estava estritamente proibido. A primeira algazarra é para a acomodação geral no cômodo. Moveis são arrastados, colchões são jogados e almofadas voam pelo ar. Na seqüência, a gritaria se estende para a votação da temporada escolhida para iniciar a maratona de Friends. O obvio vence. Primeiro ano na tela da televisão. Puck reclama da sobriedade e se levanta para buscar uma cerveja. A infeliz ideia resulta em minutos servindo de garçom para os companheiros mais folgados. Daniel se solidariza e relembra os tempos como funcionário do Breadstix e auxilia o comparsa na tarefa. Bacias de pipoca são espalhadas pelo local, refrigerantes rolam se misturam aos drinques alcoólicos e Santana não precisa repetir a ordem no momento em que o sexteto mais famoso das séries entra em ação. Silêncio. Ninguém ousa contrariar a enérgica latina.

As horas se arrastam, os episódios se desenrolam, as risadas diminuem e se torna cada vez mais difícil manter os olhos abertos. A gargalhada de Mercedes e a incessante tagarelice de Kurt, Blaine e Rachel interrompem o cochilo de Quinn. A primeira visão nítida da loira é da feição eufórica da sister negra sussurrando uma piada no ouvido do sonolento namorado. Sam estava genuinamente se esforçando para permanecer consciente. Ela devolve o sorriso de “boas-vindas” da black diva. O segundo movimento é estranhar a ausência do imigrante. Inicialmente, o casal havia se acomodado em um monte de almofadas no chão da sala. Certamente, que a garota contou com a gentileza do namorado em “servir” novamente de aconchego extra. A antiga líder de torcida tinha pegado no sono antes do décimo episódio e, agora, suspeitava que teria se recostado sobre o ombro contundido do forasteiro. Situação que justificaria o sumiço do rapaz. Mercedes percebe a inquietação da amiga e revela o paradeiro do cunhado. Quintal. Silenciosamente, a menina se levanta e precisa executar uma verdadeira empreitada para não esbarrar em ninguém. Os adolescentes se acumulavam pelo chão ou desajeitadamente pelos improvisados assentos. Ela ri por conhecer tão bem o adorável brasileiro. Ele estava sentado em uma das cadeiras, alongando o braço esquerdo. Ela sorri por parecer tão certo se encantar com as simples peripécias do seu estrangeiro.

_ Você ta bem disposto para alguém que mal pregou os olhos nas últimas 48 horas. – dispara Quinn chamando a atenção do imigrante, que lhe recepciona com um largo sorriso e os braços abertos. Típico convite para se aconchegar no abraço estrangeiro.

_ Não quero fechar meus olhos, eu não quero adormecer. Porque eu sentiria a sua falta, querida. E eu não quero perder nada. – cantarola o forasteiro levando a menina a um exuberante estado de contentamento. Ele deposita um casto beijo nos lábios da sua garota, que reforça o enlace das mãos.

_ Eu adoro isso em você. O seu abraço. E eu amo isso na gente. – ele transparece confusão, ela exibe o entrelace de mãos do casal _ Preto e branco. – refere-se a mescla das peles _ Combinação perfeita, como café com leite. – a loira joga com as palavras para fascínio do namorado.

_ Ou arroz com feijão. – ela desconhece a famosa formula brasileira _ Fala sério, vocês nunca comeram? É o melhor prato do mundo!

_ Eu soube que abriu um restaurante brasileiro em Lafayette. A gente poderia almoçar lá amanhã, né? Acho que o pessoal toparia.

_ Almoço brasileiro? Arroz com feijão? Vai ser dez! – ele reforça o laço sobre a namorada e escuta os risinhos debochados das divas em treinamento do Willian Mckinley.

_ Vocês não conseguem se controlar? Santo Deus! – ironiza Mercedes _ Nós estamos avançando para a segunda temporada de Friends! – o casal estranha a velocidade para encerrar os diversos episódios _ Nós pulamos os episódios sem graça!

_ MERCEDES! – protesta energicamente a baixinha _ Não existe episodio sem graça em Friends! – o casal gargalha da defesa nada ponderada e Quinn toma a palavra planejando se divertir à custa da mais recente amiga.

_ Não existe momento sem graça com o Glee Club reunido... Principalmente, com você obsessivamente no controle, Rachel. – a loira tenta tirar sarro do perfeccionismo da solista. Entretanto, o resultado fica longe do esperado.

_ Oh! Obrigada, Quinn. – Rachel sorri interpretando a declaração de maneira positiva. Mercedes compreende a real intenção do comentário e gargalha pela falha. Daniel segue o mesmo exemplo.

_ Inacreditável! Ela realmente encarou o que eu disse como elogio?! Essa garota só pode ser maluca! – Quinn se levanta e arrasta o namorado de volta para a sala.

_ Você quer realmente discutir com Rachel, a rainha dos monólogos, Berry às três horas da manhã de sábado? – analisa o forasteiro, ela nega aceitando a derrota. A movimentação desperta a maioria dos adolescentes e o intervalo entre as sessões de Friends conspiram para programar o domingo _ Ei, o que vocês acham de conhecer o tempero da minha terra amanhã? A Quinn sugeriu que almoçássemos em um restaurante brasileiro em Lafayette.

_ São apenas 16 quilômetros... Deve valer a pena. Sempre escutei maravilhas sobre a culinária brasileira. – concorda Kurt, recebendo o apoio imediato de Blaine.

Artie pressiona o botão iniciar e o seriado mais engraçado de todos os tempos tem continuidade. A bagunça é contida e as conversas paralelas extintas. Dan se acomoda no mesmíssimo lugar e oferece novamente o abraço para aconchegar a namorada. Desta vez, Quinn tem o cuidado de se apoiar unicamente no ombro direito e recebe um sorriso como grata resposta. Kurt havia escutado maravilhas sobre a culinária tupiniquim, Puck se viciara na tradicional bebida dos trópicos e Quinn estava plenamente consciente e satisfeita de seu posto na complexa formula de atração pelo exótico país. Simplesmente parecia certo. Simples assim. Encontrar algo tão extraordinário como à sensação de felicidade no abraço estrangeiro. Tão simples. Tão certo.

Eu finalmente encontrei você

A peça que faltava no meu quebra-cabeça

Eu estou completa!