Eu segurei Rose pela cintura e, num rápido gesto, a levantei até o telhado de uma pequena construção. Não era uma situação romântica, mas o contato físico com ela sempre era um caso à parte. Depois que ela subiu, eu corri até a esquina, me escondendo nas sombras, tentando me manter longe da luz. Os minutos se arrastaram, até que finalmente vi Sydney se aproximar com mais três figuras. Eu reconheci de imediato Donovan. Ele era alto, tinha sido um Moroi, antes de se tornar um Strigoi e tinha cabelos pretos que contrastavam com sua pele extremamente branca. Ele tinha vindo com outros dois Strigois, que eram seus capangas. Era de se esperar, ele sabia que eu era perigoso demais para ser enfrentado sozinho. Eu sentia o meu corpo todo pronto para o combate, meus sentidos estavam todos atentos, estava ansioso para acabar com ele. Com todos eles. Mas eu tinha que me controlar. Ele tinha que nos dizer onde Sonya Karp estava. Apertei a estaca na mão e esperei que eles se dirigissem até a mim.

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"Belikov?" ele chamou "Onde está você?"

“Estou aqui" respondi, tentando deixar a minha voz o mais fria e calculista possível. Saí das sombras. Ele relaxou brevemente, me reconhecendo, mas logo se tornou rígido de novo. Ele havia se dado conta da minha verdadeira aparência ou do meu cheiro.

“Dhampirs!" ele gritou.

Vi uma sombra cruzar o chão e percebi que Rose tinha saltado do telhado em cima de um Strigoi. Vi Sydney se esgueirar pelo canto do muro e de repente eu já estava ocupado com dois Strigois. Donovan lançou-se para mim, então eu bloqueie o seu ataque e chutei o outro no estômago, eu sentia meus os movimentos rápidos e fortes, e revidava os ataques com muita precisão e, sentia, também, uma grande fúria tomando conta de mim. Eu precisava acabar com aqueles monstros, eu não podia permitir que eles continuassem cometendo tantas maldades. Eles não teriam mais nenhum minuto nesse mundo. Me ocupei de um dos capangas de Donovan. Bati mais e mais nele e depois lhe acertei um soco no peito, que fez ele voar contra parede. Sem perder tempo, enfiei minha estaca em seu coração e ele começou a desfalecer. Eu o empalei novamente, novamente e novamente, sentindo a estaca atravessar seu corpo e bater o muro. Cada acerto era como se eu tivesse vingado uma pessoa que ele matou. Ou cada pessoa que eu matei quando era daquele jeito. Eu tinha vontade de cortar cada pedaço dele, por mais que eu o empalasse, não era o suficiente. Fui contido com um grito de Rose.

"Dimitri! Vem me ajudar! Eu preciso de você!"

Virei e vi que ela estava lutando com Donovan e ele era bem mais forte do que ela. Ver que ele estava atacando Rose me fez agir com uma fúria ainda maior, ago incontrolável cresceu dentro de mim, um grande instinto de proteção e uma grande sede de vingança. Com um único golpe, eu derrubei Donovan no chão e alinhei a minha estaca para acertar seu coração. Eu precisava matá-lo. Ele não podia existir por mais nenhum minuto. Olhar para ele, assim, frente a frente, fez com que eu me lembrasse de mim mesmo. Todas as atrocidades que cometi foram materializadas nele. E, imediatamente, eu precisava destruir tudo aquilo.

"Não! Nós precisamos dele! Não o mate!" Rose gritou, mas aquilo não fazia sentido para mim, era tudo que eu acreditava, naquele momento, que todos os Strigois não mereciam existir. Eram monstros que deviam ser exterminados.

Um tapa no rosto chamou minha atenção. Olhei para o lado, de onde o tapa tinha vindo. Era Rose.

"Não o mate!" Eu, de fato, ia matá-lo sem ter a informação da qual precisávamos. Aquela nossa distração deu uma vantagem a Donovan que começou a reagir, tentando levantar. Com um único impulso, eu e Rose nos jogamos em cima dele, o prendendo novamente no chão.

“Quando nós estávamos interrogando costumávamos-" Rose começou a falar, mas não era algo que eu estava ouvindo. Parti logo para o que interessava.

"Onde está Sonya Karp?" Eu rosnei, sacudindo seus os ombros com força, fazendo com que a cabeça dele batesse várias vezes violentamente contra o asfalto.

“Eu não-" Donovan começou.

"Onde ela está? Eu sei que você a conhece!" Eu levantei a voz, sentindo novamente aquela fúria tomar conta de mim. Eu me sentia transtornado e sabia que não ia ter controle por muito tempo, eu iria acabar com ele logo, se ele não me desse as informações que eu queria.

"Eu-" Ele se esquivou, fazendo com que a minha raiva aumentasse ainda mais e minha paciência se esgotasse. Eu sabia que a minha expressão estava denunciando tudo aquilo que se passava dentro de mim.

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“Onde ela está?" Perguntei com todos os meus sentidos ardendo de ódio. Ele arregalou aqueles olhos vermelhos. Ele pareceu aterrorizado. Mas do que isso, ele estava em pânico e desesperado. Foi uma expressão que eu não vi nele nem quando eu era um Strigoi. Assumi que ele estava assustado demais para mentir agora.

"Paris!" ele gritou "Ela está em Paris!"

“Cristo" Rose gemeu "Nós não podemos viajar para Paris."

Ele balançou a cabeça em negação, sua voz estava desesperada "É uma pequena cidade, há uma hora daqui. Perto de um pequeno lago. Dificilmente alguém não saberá sobre ele. Numa casa azul". Eu não precisava de mais informações além dessas. Meu limite estava sendo extrapolado. Eu não conseguia mais suportar ficar ali olhando para a cara daquele Strigoi.

“Você tem um endere-" Rose começou a perguntar, mas eu não tinha mais controle.

Eu tirei minha estaca e o empalei no coração. Ele gritou de dor e começou a desfalecer, eu não conseguia assimilar que tinha terminado, que ele já estava morto. Eu o empalei novamente. E mais uma vez. E novamente. Ele merecia morrer de forma pior do que essa. Eu precisava acabar com aquilo, eu precisava acabar com tudo aquilo que estava dentro de mim. Eu estava enfiando a estaca nele aleatoriamente e com força, em muitos pontos do corpo, de forma que a pele ficou dilacerada. A visão era terrível. Era como se aquilo pudesse me redimir de todo mal que eu causei.

"Ele está morto, Dimitri! Ele está morto. Pare com isso, por favor!" Senti alguém segurar o meu braço, mas não me importei e continuei com os golpes.

"Ele está morto! Pare com isso! Por favor. Ele está morto!" Era a voz de Rose. A voz da minha Roza. Ela gritava de forma horrorizada, seu medo me fez perceber que ela achava que ainda tinha perigo ali. Notei que o perigo estava sendo eu mesmo, naquele momento. A consciência disso me fez parar. Deixei sua voz entrar docemente dentro de mim e soltei meu braço ainda segurando firmemente a minha estaca.

“Acabou. Você já fez o suficiente" ela sussurrou, me puxando para perto dela.

"Nunca será suficiente, Roza" eu suspirei. "Nunca vai ser suficiente." Eu nunca me libertaria daquele sentimento de culpa. Nunca. Nem matar um Strigoi me fazia sentir melhor. Tudo aquilo ainda estava dentro de mim como um furacão.

"É por agora." Ela falou e sua voz, apesar de preocupada, era suave e carinhosa. Ela me abraçou e eu senti que era tudo que eu precisava, naquele momento. Soltei a estaca e me apertei nos seus braços, descansando minha cabeça no seu ombro, sentindo seu cheiro, sentindo a sua vida, era um grande alento para mim. Era como se ela fosse um porto seguro, era como voltar para casa. Somente ela poderia me dar isso. Somente ela poderia entender o que eu estava sentindo naquela hora. Eu precisava dela, mais do que qualquer outra coisa na minha vida.

"Você é a única. A única que entende. A única que viu como eu era. Eu nunca poderia explicar a ninguém... você é a única. A única com quem eu posso contar..."

Naquele momento eu não estava mais me importando com nada. Era só eu e ela ali. Nós éramos cúmplices, ela me conhecia bem, ela me entendia e entendia aquelas palavras. Ela entendia tudo, eu sabia disso. Eu podia abrir meu coração para ela.

"Está tudo bem. Está tudo bem agora. Estou aqui. Eu sempre estarei aqui para você."

Eu sabia que aquilo era verdade. Ela jamais me abandonou. Eu olhei para o corpo dilacerado de Donovan e disse “Eu sonho com eles, sabe. Todos os inocentes que morreram. Eu fico pensando... talvez se eu destruir Strigois o bastante, os pesadelos poderão ir embora. Eu posso ter certeza que eu não sou um deles."

Ela puxou meu queixo para ela e falou “Não. Você tem que destruir Strigois, porque eles são maus. Porque é isso que fazemos. Se você quiser mandar os pesadelos embora, você tem que viver. Esse é o único caminho. Nós poderíamos ter morrido há pouco. Mas nós não morremos. Talvez vamos morrer amanhã. Eu não sei. O que importa é que estamos vivos agora. Lembra do que você disse antes, em Rubysville? A vida está nos detalhes. Você tem que apreciar os detalhes... Esta é a única forma de derrotar o que ser um Strigoi fez para você. A única maneira de trazer de volta quem você realmente é. Você mesmo disse: você fugiu comigo para ver o mundo mais uma vez, ver sua beleza."

Eu me virei para Donovan de novo mas Rose me puxou novamente para ela "Não há nada de bonito aqui. Só há morte" Falei.

"Isso só será verdade se você deixar que eles tornem isso verdade. Encontre uma coisa. Uma coisa que seja bonita... Qualquer coisa. Qualquer coisa que mostre que você não é um deles."

Um leve desespero saiu da sua voz que me fez olhar diretamente para ela. Ela era tudo para mim. Tudo que existia de mais belo no mundo. Olhei em volta, pensei em algo. Nada superava Rose. Olhei para ela novamente e seu belo rosto estava com uma expressão determinada e segura, apesar da preocupação. De repente, lembrei de quando estávamos na Academia, quando Rose falou que não queira cortar o cabelo. Ela não podia cortar. Era lindo demais. Eu adorava seus cabelos.

"Seu cabelo" eu respirei suavemente com a lembrança doce daqueles tempos.

"O quê?" ela falou tocando numa mecha solta.

“Seu cabelo. Seu cabelo é lindo." Eu falei, naquela hora, o que eu queria ter dito naquele dia lá no ginásio da St. Vladmir, quando prendi seus cabelos nos meus dedos. Eu queria poder voltar no tempo e poder fazer tudo a ser como era antes. Eu queria minha Roza de volta.

Ela pareceu satisfeita por eu ter dito aquilo "Você vê? Você não é um deles. Um Strigoi não vê beleza, só a morte. Você encontrou algo bonito. Uma coisa que é bonita."

Estendi a mão para tocar os fios soltos e segurei a vontade de tocar neles inteiros. Eu estava começando a recobrar o meu controle. Eu tentei vencer o meu desespero, focando a sensação sedosa dos cabelos dela. Se ela soubesse que tão pouco dela tinha surtido tanto efeito em mim...

"Mas isso é suficiente?" Perguntei ainda hesitante.

“É por agora" ela me disse, dando um beijo na minha testa e me ajudando a levantar. "É por agora."