Prólogo

Era uma noite chuvosa em Washington e Charlie olhava mais uma vez o relógio, impaciente.

02h00min da manhã – murmurava ele, ansiosamente.

– Calma, vai dar tudo certo meu amigo – Billy o consolava. – Elas ficarão bem.

– Mas já faz tanto tempo.

– Essas coisas são demoradas.

Charlie olhou em volta da sala de estar – sala que deveria aparentar conforto e, agora surpreendentemente, se tornara agourenta. As janelas eram enormes com cortinas beges, em tom mais claro do que o carpete grosso no chão, com uma mesa no centro com cor de vinil.

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De repente, eles ouvem um grito de ferir os ouvidos, vindo do outro lado da sala.

Charlie assustado e com as penas bambas andou até seu quarto.

– Charlie! – Billy o repreendeu. – Acalme-se homem.

– Eu preciso fazer alguma coisa. Ela deveria estar em um hospital – seu tom beirava a histeria.

– Agora é tarde de mais, só podemos torcer para que tudo de certo.

Charlie sentou no banco rigidamente, tentando se acalmar. O silencio se pendurou até ser interrompido por um choro de criança.

– Ela nasceu – Charlie colocou-se de pé, o alivio saturando sua voz – Deus seja louvada.

Ele entrou no quarto numa corrida para logo em seguida paralisar-se no batente da porta.

– Não! – Seu lamento era só um sussurro. – René, não.

Charlie chorava seu nome em soluços interrompidos.

– Calma, meu amor. Ficará tudo bem. – As palavras de René mal eram audíveis.

– Você vai ficar bem René – Charlie chorava em seu pescoço angustiado.

– É claro que vou – concordou para consolá-lo. – Mas preciso que me prometa uma coisa

Os olhos azuis violetas de René que estavam sem vida – como toda sua bonita fase devastada pelo parto difícil –, ganharam um brilho intenso.

– O que você quiser – Charlie afirmou sem hesitar.

– Salve-a! Salve nossa filha, não importa o preço.

Ao dizer essas palavras sua voz tornou-se mais clara. Ela segurava a mão de Charlie com todas as suas sobras de força. Mas aos poucos seu aperto foi afrouxando-se.

– Salve-a. – Essas foram as ultimas palavras de René Swan

Sua mão caiu flácida na cama ao lado de seu corpo, enquanto seus olhos marcantes azuis violetas saíram do foco, mortos.

– NÃO! – o grito de Charlie era agonizante. – Volte!Você não pode me deixar.

Ele abraçava seu corpo sem vida soluçando seu nome.

– Sr. Swan – a voz da empregada soou no quarto. – O bebe... A respiração do bebe.

A senhora beirava ao pânico, mas sua voz era controlada.

Charlie colocou-se de pé, olhando uma ultima vez para a mulher morta na cama, hesitando em sair do lado dela.

– Pelo amor de Deus! A menina esta morrendo.

Finalmente a empregada rompeu sua fachada calma, o pânico claro em sua face.

O homem levou um segundo antes de compreender o que estava acontecendo, se lembrando do ultimo pedido de sua mulher.

– Onde ela esta?

– No outro quarto.

Ela mal completou a frase e Charlie já estava correndo para o lugar que lhe havia sido indicado.

O bebe estava flácido e muito pálido, em cima da cama. Sua respiração muito fraca.

– Não pode ser. Não posso perdê-la também.

A cabeça de Charlie girava, enquanto ele tentava pensar, arrumar um jeito de salvar sua única filha e atender o ultimo pedido de sua mulher.

– Um médico! Precisamos de um médico.

Ele já estava indo em direção ao telefone quando a empregada murmurou:

– Não vai dar tempo. Não nesse fim de mundo e com essa neve. – Ela olhou ansiosamente a expressão do homem torturado

– Preciso fazer alguma coisa, preciso salvar minha filha, de qualquer maneira.

– Na verdade, há um modo dela curar-se rapidamente. – A empregada media cada uma de suas palavras.

– Como? – Perguntou ele, olhando-a nos olhos, sua determinação beirando a loucura.

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– Fazendo um ritual, mas um sacrifício terá que ser feito.

– Me diga o que fazer, não importa o preço a ser pago. – Charlie já estava ao seu lado, com os olhos em brasa e o queixo trincado.

– Muito bem, traga sua filha. Vou pegar alguns materiais.

A empregada já estava em movimento, enquanto Charlie ninava a criança em seus braços delicadamente.

Billy esperava na sala de estar. Olhou cautelosamente para Charlie com a criança nos braços.

– Charlie! O que esta acontecendo? Cadê René?

– René não sobreviveu. – Sua expressão era de dor.

– Oh! Meu amigo. Eu sinto tanto.

– Eu também – exalou um profundo suspiro de lamento. – Mas não posso pensar nisso agora, o bebe corre risco de vida. Tenho que salva-lo. E preciso de sua ajuda.

Charlie fitava um Billy horrorizado, olhando para seu bebe no colo.

– Mas o que...

– Não posso explicar agora, mas preciso que vá ao quarto de empregadas e leve minha filha para um lugar seguro, tudo bem?

– Você esta pretendendo o que?

– Não importa, só me ajude. Pode fazer isso por mim?

Eles se fitaram por alguns segundo enquanto Billy tomava sua decisão

– Tudo bem – respondeu ele com um suspiro de resignação

– Rápido... Não podemos perder tempo. – A empregada passou entre os homens sem encará-los em sua pressa.

Billy olhava tudo sem entender.

– Charlie...

– Obrigado meu amigo, por tudo – Charlie se despediu de seu amigo, pressentindo que seria a ultima vez que o veria.

Seguindo a empregada, eles entraram num quarto pequeno e escuro, com apenas uma cama e um armário cor de madeira.

– Agora, coloque-a no chão em cima dos cobertores – murmurava a empregada em quanto desenhava um pentagrama em volta da menina.

– O que você ira fazer? – Perguntou Charlie apreensivo, assistindo a mulher ascender às velas.

– Eu não vou machucá-la – disse impaciente – Quer salva-la ou não?

Ela parou sugestivamente erguendo uma sobrancelha bem feita.

Charlie hesitou por um momento, se lembrando das ultimas palavras de sua mulher,

‘Salve-a’. Suspirando derrotado, somente assentiu com a cabeça.

A empregada acendeu as ultimas velas em volta da estrela de seis pontas. Em seguida, encontrou um livro preto e grosso dentro do armário, parando em frente à criança no centro.

– O.k., agora me de seu braço. – Com uma faca ela estendeu a mão.

Ele a fitou de olhos arregalados.

– Eu não vou cortar seu braço fora, só quero um pouco de sangue. — ela suspirou com impaciência estendendo a mão uma outra vez.

Olhando seu bebe, que estava imóvel demais ele estendeu o braço, a hesitação dando lugar à determinação.

– Eu vou salvá-la – ele prometeu.

A empregada cravou a faca no começo do cotovelo até o pulso, tomando cuidado para não cortar nenhuma veia artéria. Charlie reprimiu um gemido de dor em quanto à moça o arrastava em torno da estrela, jorrando seu sangue ponta a ponta.

Terminado, ela lhe passou um pano e segurou o livro novamente.

– E agora? – Perguntou ele, ignorando a dor latejante em seu braço.

– Preciso encontrar a magia certa – disse ela, enquanto folheava algumas paginas.

– Magia de que?

– Magia negra. – Sua voz era sombria – Só uma coisa salvará sua filha. – Ela deu uma pausa dramática – O diabo.

Charlie fitou a moça duvidando de sua saúde mental. A chuva e os trovões servindo de trilha sonora para seu pesadelo.

– Você só pode estar louca. – disse Charlie, fora de si.

– O evocando será sua única chance, ele não ira fazer mal a sua filha.

O choro de sua filha tirou suas duvidas

– Rápido com isso, ela não agüentará muito tempo. – O homem lhe implorou num murmuro desesperado.

Não podia perder sua menina, nem que lhe custasse a vida.

A moça começou a falar outra língua, palavras desconhecidas para Charlie que fitava sua criança. Ele só percebeu que a evocação chegara ao fim quando ela fechou os olhos e as velas se apagaram, sem vestígios de vento.

O silencio tomou conta do lugar.

Charlie logo percebeu que estava tremendo, enquanto fitava a mulher imóvel. Por fim ela abre os olhos e o fita com franca curiosidade.

Charlie pestanejou ao encarar os olhos da mulher, o medo tomando conta em cada célula de seu corpo.

A empregada não era mais a empregada. Aquele só era um corpo, cujos olhos eram totalmente enegrecidos. Encarar seus olhos era como encarar o fundo de um calabouço - horripilante e medonho. Não existia outra cor para provar que seus olhos eram humanos, porque aquele ser que estava diante de Charlie, não era humano.

O demônio assistia com malicia o medo possuir o homem a sua frente.

– O que? Invoca-me e agora esta com medo? – Ele deu uma risadinha baixa e sombria – isso sempre acontece.

Ele balançou a cabeça fingindo pesar.

– O que é você? – Charlie era incapaz de falar mais alto que um sussurro.

– Oh! Por favor, vamos pular as perguntas e ajudar essa linda criança.

O demônio virou para a menina e a encarou com os olhos negros com um brilho cobiçoso.

– Sim, eu lhe peço. Salve minha criança. – Charlie, desesperado, se esqueceu momentaneamente que esta falando com um demônio.

– Eu vou ajudá-la, mas tenho meu preço.

– Faço o que for necessário.

– Admiro sua coragem, humano – Ele sorriu com gentileza. – Sua alma deve valer muito.

– Minha alma? – Charlie não estava entendendo.

– Sim. Sua alma em troca de minha ajuda. Aceita?

– Eu... – Seus olhos castanhos caíram sobre sua filha – Sim.

Seu tom era firme.

– Muito bem. – Lúcifer sorriu satisfeito – Sua filha será a criatura mais poderosa que já criei – Seu sorriso abriu ainda mais. – Fará grandes feitos sob comando.

– O que você? ... – mas Charlie não conclui sua frase.

No momento seguinte as velas ascenderam enquanto o Demônio se aproximou do homem sugando-lhe a alma.

E o bebe deu seu último suspiro humano.