A Garota da Capa Vermelha

Um novo morador


Muitas luas se passaram em Daggerhorn, mas tudo se mantinha exatamente igual. O medo reinava nos olhos dos moradores e as histórias dos últimos acontecimentos se espalhavam com o vento por toda a região. Alguns diziam que a fama do vilarejo havia se espalhado pelo continente. Muitos moradores deixaram a vila, poucos se arriscavam em morar lá, de vez em quando alguns forasteiros apareciam, trazendo com eles promessas de vingança ou salvação.

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Valerie continuou morando na antiga casa de sua avó, mas as coisas não estavam bem, com tantos forasteiros metidos a valentões, Peter a visitava cada vez menos, até que um dia simplesmente deixou de vê-la. A cada dia que passava, ela acreditava que algo terrível poderia ter acontecido a ele, a agonia da espera e da falta de noticias, só aumentavam sua desesperança.

- Valerie? – gritou Roxanne do lado de fora da casa. Depois de entregar a amiga ao padre Solomon, Roxanne se sentia em débito com Valerie e desde então se tornou sua leal amiga, na verdade sua única amiga.

- Bom dia Roxanne! – Gritou Valerie da janela.

- Bom dia? Acho que não, em poucas horas teremos uma grande nevasca – Roxanne olhava para o céu tentando decifrar o clima, que há muito tempo não era mais agradável. Os dias no vilarejo quase nunca tinham sol, fazia tempo que os raios de sol não davam o ar de sua graça.

Valerie não costumava ir muito à vila, só andava até lá para visitar sua mãe. Às vezes passava um tempo na praça central do vilarejo conversando com Claude, mas as pessoas não gostavam da presença dela, e só não a expulsaram da vila por consideração a sua mãe e em memória de seu pai e avó. Na verdade os moradores de Daggerhorn acreditavam que Valerie mantinha contato com forças demoníacas e por isso tinham medo de expulsa-la, eles acreditavam também que por algum motivo o lobo não atacava mais a vila devido à presença de Valerie e de sua mãe no vilarejo.

Valerie e Roxanne caminhavam em meio à arvores da floresta, Roxanne contava tudo o que acontecia no vilarejo, dessa maneira Valeria sempre estava a par de tudo o que acontecia por lá. Enquanto passeavam, Valerie recolhia lenha para a lareira.

- Hoje é noite de lua cheia Valerie. Você não deve ficar afastada de todos, sem proteção – Roxanne disse num tom de preocupação.

- E vou para onde? – Valerie disse de forma debochada.

- E sua mãe? Talvez... – Roxanne foi atropelada pela as palavras de Valerie antes mesmo de terminar.

- Minha mãe já sofre demais sozinha, ela não precisa que eu piore as coisas. As pessoas a toleram no vilarejo, mas comigo as coisas são diferentes – As palavras de Valerie eram acompanhadas por muito ressentimento.

- Desculpa-me, mas me preocupo com você – Roxanne tentou concertar as coisas.

- Não se preocupe, assim como nas outras luas, vou ficar bem.

- Talvez sua mãe devesse lhe fazer companhia durante estes dias? – Roxanne argumentou.

- Se algo acontecer, ela não poderá fazer nada, e então serão nós duas a se dar mal – Valerie disse deixando escapar um sorriso de seus lábios.

- Tem razão – Roxanne murmurou e ambas caíram no riso.

Henry apareceu do nada em cima de seu cavalo, interrompendo o passeio de Valerie e Roxanne.

- Olá garotas – Disse ele, direcionado seu olhar principalmente a Valerie – Há muito tempo que não te vejo! – Henry disse a Valerie.

- Olá Henry – ambas falaram juntas. Valerie percebeu que Henry havia mudado, havia muito mais coragem em seu rosto que antes. O tom da sua voz havia mudado também, sua voz era forte e as palavras saiam de sua boca com muita firmeza.

- Acabo de me encontrar com Claude, ele está a sua procura – Henry disse a Roxanne, olhando diretamente em seus olhos – Acho melhor encontrá-lo, ele pareceu ter problemas.

- Sim, já estou indo. Roxanne se precisar de algo é só ir até minha casa. Pense naquilo que te disse – Roxanne correu entre as arvores a procura de seu irmão.

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Henry e Valerie acompanharam Roxanne com os olhos. Depois disso, um breve momento de silêncio se instalou. Valerie manteve sua cabeça baixa, evitando olhar nos olhos de Henry.

- Pensar em que? Desculpe a intromissão – Disse Henry, descendo de seu cavalo e ficando cara a cara com Valerie.

- Ela tem medo que eu fique sozinha na cabana nas noites de lua cheia – Valerie disse sem olhar para ele, enquanto passava o pé sobre um graveto no chão.

- Ela tem razão – Henry disse se aproximando ainda mais de Valerie.

- Vou ficar bem – Valerie tentava falar com firmeza, tentando disfarçar a voz tremula.

- Venha, vou levá-la para casa – Henry disse entendendo uma das mãos a Valerie.

- Não precisa – Valerie falou secamente.

- Precisa sim – Disse ele num tom de superioridade.

Os dois seguiram caminhando em silêncio até chegar a cabana de Valerie. Henry olhou ao redor e viu que o mato estava tomando conta do pequeno jardim que rodeava a casa.

- Sei que está precisando de ajuda para cuidar da casa. Talvez devesse chamar alguém para morar aqui, assim teria ajuda e companhia – Henry argumentou.

- Quem? Ninguém gostaria de morar com uma bruxa que fala com lobos – Valerie disse usando um tom irônico – Se souber de alguém é só avisar.

- Existe algo mais que eu possa fazer para te ajudar? – Henry disse enquanto ajeitava a lenha de volta para os braços de Valerie.

- Isso é tudo. Obrigada – Valerie tentou esboçar um sorriso de gratidão.

Num gesto rápido Henry segurou o queixo de Valerie e se aproximou. O coração dela bateu mais forte naquele momento, com medo de que ele lhe roubasse um beijo. A outra mão de Henry deslizou entre os fios do longo cabelo de Valerie, arrepiando a pele de sua nuca.

- Não se preocupe. Hoje à noite você não estará sozinha Valerie, eu nunca te deixei sozinha – Henry murmurou em seu ouvido.

Henry subiu em seu cavalo e saiu em disparada em direção ao vilarejo. Valerie ficou parada ali, em frente a sua casa por um momento, quando recuperou o fôlego caminhou para dentro da cabana.

Valerie passou o dia a pensar nas últimas palavras de Henry, até que um pensamento tomou conta de seu corpo, fazendo com que derruba-se no chão uma tigela que estava lavando. Se Henry nunca havia a deixado só, ele poderia saber sobre Peter? Talvez a fonte da sua confiança fosse à morte de Peter? Valerie estremeceu ao pensar nas possibilidades. Para se livrar dos pensamentos ruins, decidiu visitar sua mãe antes que a noite caísse.

- Querida como você esta magra! Você não está a comer? – Enquanto falava a mãe de Valerie a apertava com as mãos e a olhava de cima a baixo tentado entender o que havia acontecido com a filha.

- Estou exatamente igual a ultima vez que você me viu – Valerie não escondeu sua chateação.

- Tudo bem. Assim que voltarmos da praça eu irei fazer uma sopa.

- O que haverá na praça? – Valerie perguntou.

- Um novo morador está chegando. É bom ver novos rostos, vou oferecer nossa casa para ela ficar, há muito espaço por aqui e me sinto sozinha sem você por perto.

- Você nem a conhece mãe! – Valerie se irritou com a falta de cuidado da mãe.

Todos estavam na praça, a espera do novo morador de Daggerhorn, todos estavam animados com sua chegada, mas as horas se passaram e ninguém apareceu, a luz do dia estava indo embora e todos foram para suas casas. Aquela noite seria de lua cheia e ninguém ousaria a sair de sua casa. Valerie não deu ouvidos aos apelos de sua mãe, mesmo após a escuridão tomar conta de tudo, Valerie seguiu ao caminho de casa, munida de uma tocha que iluminava seu caminho. A única coisa de ruim que poderia lhe acontecer seria se o lobisomem aparece-se em sua frente, mas para que se preocupar, se isso era a coisa que ela mais queria.

Valerie estava perdida em seus pensamentos quando algo apareceu em seu caminho. Seu coração saltou do peito e o medo que sentiu fez seu corpo paralisar. O fogo em sua tocha não era suficiente para iluminar todo o seu caminho, aquela figura estranha continuava imóvel bem a sua frente, escondida pela escuridão da noite.

- Quem é você? – Valerie não conseguia esconder o desespero em sua voz, pois sabia que ninguém ouviria seus pedidos de socorro e mesmo que ouvissem ninguém se arriscaria a ajudá-la.

De repente uma mão tocou a costa de Valerie, mas ela estava tomada pelo medo e não conseguiu se mover para tentar ver o que era.

- Não se mova! – Alguém sussurrou por de trás dela.

Num movimento rápido Henry se colocou na frente de Valerie e a chama de sua tocha, mas forte de que a chama da tocha de Valerie, iluminou a silhueta daquela figura desconhecida. O medo foi embora dando lugar à perplexidade. A criatura misteriosa era apenas um jovem, mas não um jovem qualquer.

- Não queria assusta-los – Disse o jovem, sem demonstrar qualquer emoção.

- Não assustou – Henry disse encarando-o – Quem é você?

- Sou o novo morador de Daggerhorn, desculpas por chegar atrasado – O jovem deu um sorriso muito irônico, mas intrigante.

- Não deveria andar sozinho por aqui. A floresta é perigosa – Henry avisou o novo morador.

- Então o que a bela jovem faz aqui? – O novo morador sorriu e olhou para Valerie, examinando-a por completo. Henry não gostou do que viu.

Valerie não sabia o que estava sentindo naquele momento, suas emoções estavam misturadas umas nas outras. Mas quando seu olhar cruzou com o do novo morador, sentiu algo diferente, algo que a fez perder o ar por um momento.

- Então qual é o seu nome? – Perguntou Henry.

O novo morador olhou novamente para Valerie, mas dessa vez, olhou bem no fundo de seus olhos e respondeu:

- meu nome é Damon.